História do Carnaval

O Carnaval é uma tradicional festa popular realizada em diferentes locais do mundo, sendo a mais celebrada no Brasil. e na cidade de Veneza (Itália). Apesar do forte secularismo presente no Carnaval, a festa é tradicionalmente ligada ao catolicismo, uma vez que sua celebração antecede a Quaresma. O Carnaval não é uma invenção brasileira, pois sua origem remonta à Antiguidade.

A palavra Carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é “retirar a carne”. Esse sentido está relacionado ao jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também ao controlo dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de controlar os desejos dos fiéis.

Conhecido tradicionalmente como mês da folia, fevereiro de 2021 será diferente. A pandemia de covid-19 afetou a comemoração em praticamente todo o território nacional, já que o nosso país, suspendeu (e bem) as principais festas e desfiles em virtude da possível escalada no número de infeções pelo novo coronavírus. "Entramos" no segundo ano consecutivo, que o carnis levale não se festeja, tanto no nosso país, bem como, no Mundo em geral.

Mas...na alma fica-nos o espírito folião e rebelde que esta festa está associada. Como Membros de um povo resiliente, iremos ultrapassar este caos, com a esperança de voltarmos à normalidade e quiça para o ano comemoraremos todos juntos e unidos.

Em solidariedade a todos os foliões que ficaram em casa, o Clube Europeu, presta a sua homenagem.

Assim aqui vai a História do Carnaval.

Fiquem bem e cuidem-se...

História do carnaval


Alguns estudiosos entendem o Carnaval como uma festa cristã, pois sua origem, na forma como entendemos a festa atualmente, tem relação direta com o jejum quaresmal. Isso não impede que sejam traçadas as origens históricas que nos mostram a influência que o Carnaval sofreu de outras festas que existiam na Antiguidade.


Na Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que conhecemos como Carnaval. As Sacéias eram uma celebração em que um prisioneiro assumia, durante alguns dias, a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado.

Outro rito era realizado pelo rei no período próximo ao equinócio da primavera, um momento de comemoração do ano novo na Mesopotâmia. O ritual ocorria no templo de Marduk (um dos primeiros deuses mesopotâmicos), onde o rei perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk. Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele novamente assumia o trono.

O que havia de comum nas duas festas e que está ligado ao Carnaval era o carácter de subversão de papéis sociais: a transformação temporária do prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao seu deus. Possivelmente a subversão de papéis sociais no Carnaval, como os homens vestirem-se de mulheres e outras práticas semelhantes, é associável a essa tradição mesopotâmica.

A associação entre o Carnaval e as orgias pode ainda relacionar-se com as festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos). Seriam eles dedicados ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), marcados pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.

Havia ainda, em Roma, a Saturnália e a Lupercália. A primeira ocorria no solstício de inverno, em dezembro, e a segunda, em fevereiro, que seria o mês das divindades infernais, mas também das purificações. Tais festas duravam dias, com comidas, bebidas e danças. Os papéis sociais também eram invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus senhores, e estes colocando-se no papel de escravos.

Cristianismo e Carnaval


As festas citadas eram, naturalmente, celebrações pagãs e eram extremamente populares. Com o fortalecimento de seu poder, a Igreja não via com bons olhos essas celebrações nas quais as pessoas entregavam-se aos prazeres mundanos. Nessa conceção do cristianismo, havia a crítica da inversão das posições sociais, pois, para a Igreja, ao inverter os papéis de cada um na sociedade, invertia-se também a relação entre Deus e o demónio.

A Igreja Católica, então, procurou dar um significado, com um senso mais cristão.


Durante a Alta Idade Média, foi criada a Quaresma — período de 40 dias antes da Páscoa caracterizado pelo jejum. Tempos depois, as festividades realizadas pelo povo foram concentradas nesse período e nomeadas carnis levale.

A Igreja pretendia, dessa forma, manter uma data para as pessoas cometerem seus excessos, antes do período da severidade religiosa. Nesse momento, o Carnaval estendia-se durante várias semanas, entre o Natal e a Páscoa.

Durante os carnavais medievais, por volta do século XI, no período fértil para a agricultura, homens jovens que se fantasiavam de mulheres saíam às ruas e aos campos durante algumas noites. Diziam-se habitantes da fronteira do mundo dos vivos e dos mortos e invadiam os domicílios, com a aceitação dos que lá habitavam, fartando-se com comidas e bebidas, e também com os beijos das jovens das casas.


Durante o Renascimento, nas cidades italianas, surgia a commedia dell'arte, teatros improvisados cuja popularidade ocorreu até o século XVIII. Em Florença, canções foram criadas para acompanhar os desfiles, que contavam ainda com carros decorados, os trionfi. Em Roma e Veneza, os participantes usavam a bauta, uma capa com capuz negro que encobria ombros e cabeça, além de chapéus de três pontas e uma máscara branca.


Durante a Idade Moderna, o Carnaval acontecia em diferentes regiões da Europa, mas era particularmente forte na região mediterrânea, isto é, na Itália, Espanha e França. Comemorações semelhantes ao Carnaval — isto é, com festas de rua, fartura de comida e bebida e pessoas fantasiando-se — também aconteciam em outras épocas do ano, como a Festa dos Bobos, que acontecia em 28 de dezembro.

As festas poderiam ter seu início no final de dezembro ou em janeiro e poderiam ser estendidas até próximo do período de Quaresma. Importante considerar que o Carnaval não acontecia da mesma forma na Europa, pois cada região possuía seu modo de comemorá-lo. A festa era marcada pelo consumo excessivo de carne e de bebidas alcoólicas. O insulto, as zombarias e as brincadeiras também eram práticas desse período. "É Carnaval ninguém leva a mal".

O historiador Peter Burke dá exemplos de locais públicos nos quais aconteciam as celebrações: Place Notre Dame, na cidade de Montpellier (França), e Piazza San Marco, em Veneza (Itália). As fantasias também eram um detalhe importante das comemorações, e era comum ver homens vestidos de mulher e mulheres vestidas de homem. As máscaras eram um acessório essencial e muitas tinham um nariz bem grande. Era comum também presenciar pessoas fantasiadas de padre, diabo e animais selvagens.


Não existem registros daquela época que explicam diretamente o que o Carnaval representava para as pessoas da Idade Moderna, mas Peter Burke traz duas informações a respeito de como o Carnaval era visto, a partir de uma análise do pensamento e de outros registros do período. Nesse sentido, o Carnaval era:

1. Um período de oposição à Quaresma.

2. O Carnaval era um período de exageros exatamente porque a Quaresma era um período de privação, marcado pelo jejum e pela abstinência; entendido como uma representação de uma ideia muito comum na Europa da Idade Moderna: “o mundo de cabeça para baixo”.


  • Curiosidades:

- A terça-feira gorda, isto é, a Terça-feira de Carnaval, era referida na Inglaterra como momento de “tanto cozer e grelhar, tanto torrar e tostar, tanto ensopar e fermentar, tanto assar, fritar, picar, cortar, trinchar, devorar e se entupir à tripa forra que a gente acharia que as pessoas mandaram para a pança de uma só vez as provisões de dois meses, ou que lastrearam suas barrigas com carne suficiente para uma viagem até Constantinopla ou às Índias Ocidentais”.

- Em Nuremberg (Alemanha), existia um carro alegórico que desfilava pela cidade chamado Hölle.

- Competições de corrida, luta e corridas de cavalo frequentemente aconteciam no Carnaval. Na Itália, também era realizada a corrida de velhos e judeus.

- Nas comemorações de rua, o Carnaval era representado como um homem jovem e gordo, e a Quaresma, como uma mulher magra e velha.

- Em 1583, noventa açougueiros de Koenigsberg (Rússia) fizeram um desfile carregando uma salsicha de duzentos quilos.

- Foi registado em Nápoles, na Itália, um falo de madeira, que era carregado pelas ruas da cidade durante o Carnaval de 1664.

- O insulto era permitido abertamente durante o Carnaval.

- Era comum que acontecessem agressões a animais durante os dias de Carnaval. Uma das práticas era o apedrejamento de galos.

- A violência aumentava consideravelmente em toda a Europa durante o Carnaval, e roubos e agressões tornavam-se comuns.

- No Carnaval espanhol, era comemorada uma festa para Santa Ágata, na qual as mulheres mandavam e os homens tinham de obedecer.

- O Corpus Christi durante a Idade Moderna era acompanhado de comemorações carnavalescas, e havia grandes banquetes e carros alegóricos.

- Durante o Carnaval, poderiam acontecer cerimônias de execução em que as vítimas poderiam ser enforcadas, decapitadas, queimadas ou esquartejadas.

- O charivari foi uma prática comum na Europa até meados do século XIX.

O que é o charivari?

O charivari, enquanto ato de difamação pública, é uma prática que vem da Antiguidade e muito comum nas regiões mediterrânicas. Além de atentar contra questões relativas ao casamento, também se voltava contra autoridades e pessoas acusadas de desvios — como os hereges. Os primeiros relatos conhecidos do charivari remontam ao século IX e às regiões dominadas pelo Império Bizantino.

O charivari, em alguns casos, também esteve vinculado com mecanismos jurídicos de determinadas cidades e, portanto, foi utilizado como punição ou como parte de uma punição. Um exemplo claro disso é o de que ladrões, em determinadas partes da Europa, eram transportados para seus locais de execução montados de costas em um burro — exatamente como acontecia no Carnaval durante a Idade Moderna.

Panfleto, sobre a História do Carnaval