Entre-Guerras
A literatura como fonte para o passado – "As Vinhas da Ira" e impressões sobre a Grande Depressão nos EUA.
Objetivos do laboratório
Compreender aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais do período da grande depressão, nos EUA, através do livro “As vinhas da Ira”, de John Steinbeck;
Abordar o livro como fonte e como objeto de análise enquanto documento histórico sobre os anos 30;
Situar o romance no tempo histórico em que foi pensado e escrito, ampliando seu significado e revelando o ambiente no qual foram pensados;
Perceber a importância da literatura como fonte para se acessar o passado;
Perceber a importância do contexto de produção da obra para uma melhor análise histórica.
A literatura como fonte histórica ... breve apontamento
A literatura tem sido um objeto de estudo recorrente de diversos historiadores, tornando esse campo de análises um terreno fértil tanto para o conhecimento historiográfico da literatura quanto para o conhecimento literário da história. (Kölln, 2014) Quando trabalhamos fazendo uso de uma produção literária como fonte para acessar o passado, temos que ter bem claro que a própria escrita literária é histórica e vinculada a um universo social e histórico dinâmico, que ajuda a moldá-la embora não a determine. Assim sendo, pode-se dizer que a literatura é o reflexo da natureza histórica do homem.
Nessa empreita é muito importante situar o romance a ser trabalhado, bem como seu autor, dentro da dinâmica histórica e do conjunto de relações sociais que constituíram o universo de sua experiência, tanto em nível micro quanto macro. É importante ressaltar também que a história narrada sempre (ou na maioria das vezes) fala sobre um grupo social e um conjunto de valores e visões de mundo arraigados na situação histórica.
Nesse esforço de trazer a literatura para a sala de aula também precisamos atentar para a proximidade entre a vida do autor e sua literatura. bem como seu posicionamento diante dessa vida e da realidade que experimentava.
A temática
Para realizar o laboratório apresentado discutimos anteriormente sobre a Quebra da Bolsa de New York e o que engendrou tal processo, assim como os efeitos do fenômeno econômico da Grande Depressão, como por exemplo a exploração a que eram submetidos os trabalhadores itinerantes e sazonais, atraída pela ilusória fartura da região; as leis do progresso identificadas com os interesses dos bancos; o fomento à competição entre os trabalhadores disponíveis e os baixos níveis de salário; o processo de união sindical , greve e repressão; e a questão agrária nos EUA.
O autor - John Steinbeck
"O bardo do trabalhador americano"
Filho de imigrantes irlandeses, John Steinbeck nasceu em Salinas, Califórnia (1902-1968). Herdou a condição de pequeno proprietário da classe média rural. O autor cursou Literatura na Universidade de Stanford, não tendo finalizado a formação. Em 1925, empregou-se no jornal American de Nova York e depois de 1929, muda-se para Monterey, onde começou a focar nos fazendeiros desapontados, trabalhadores e suas famílias.
Nos idos de 1936 foi contratado pelo jornal The San Francisco News para viajar ao Meio-Oeste e investigar as migrações massivas que estavam ocorrendo em direção à Califórnia. Acusado de ser comunista (aproximação com intelectuais e jornalistas de esquerda e filiação a Liga de Escritores Americanos) foi agressivamente investigado pelo FBI, transformando-se em alvo da Receita Federal Americana.
O lugar da narrativa - California (EUA)
Importante ter em mente que a Califórnia foi um grande foco de migração no período durante a grande depressão de 1929. Época que teve a pobreza, migração, nomadismo e instabilidade laboral como características principais.
Nesse período observou-se modos pragmáticos de sobrevivência, atos de generosidade e de humanismo.
A obra - The Grapes of Wrath (1939)
Terceiro livro da trilogia: In Dubious Battle (Luta incerta - 1936), Of Mice and Men (Ratos e homens - 1937) e The Grapes of Wrat (1939), "As vinhas da ira" (tradução para o português) foi construido com base em artigos de jornais escritos pelo próprio autor (literatura com o realismo de reportagem). A obra traz como características primordiais a investigação etnográfica, antropológica, sociológica e historiográfica sobre a situação dos migrantes.
A estrutura literária é simples, apresentando narrativa linear (protagonistas e contexto histórico). A obra foi escrita sob a sombra do longo processo histórico cujos desdobramentos culminaram na Grande Depressão. Por assim dizer, foi nutrida dos valores e experiências proporcionados pelo modo de vida cultivado pelos pequenos proprietários rurais, um grupo social que teve sua trajetória de vida esmagada. Sua moral e sua visão estavam profundamente embebidas no mundo do pequeno proprietário. John Steinbeck buscou interpretar, denunciar e retratar os problemas postos pela evolução histórica estadunidense. Não precisa ler muitas páginas para perceber que o livro é uma pintura negativa do capitalismo.
A obra teve 430 mil exemplares vendidos no seu lançamento, no entanto, foi proibida em alguns estados dos EUA, sob pressão da Associação de Fazendeiros da Califórnia e outras instituições ligadas ao capital e que viram seus interesses prejudicados com a veiculação do livro. Ganhou o prêmio do Pulitzer Prize e vendeu mais de 300 mil cópias anualmente na América durante mais de 60 anos. Além disso, teve um filme homônimo dirigido por John Ford, em 1940.
Para quem tiver interesse, segue o link para o filme.
Para acessar a obra literária completa clique aqui!
Orientação para o laboratório
Com base na aula e nas informações contidas no material enviado (PPT-PDF), analisar o livro, retirando passagens que demonstrem aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais que prevaleceram durante o período da Grande Depressão. É importante deixar claro que o estudante não somente cite os trechos, mas também explique porque os selecionou, analisando a situação discutida, juntamente com o contexto histórico do período.
1- Ler o PDF enviado.
2 - Revisar o tema Entreguerras.
3 - Ler o livro "As Vinhas da Ira".
4 - No momento da leitura selecionar os trechos e fazer a análise.
Bibliografia usada e sugerida
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: breve século XX (1914-1991). São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
LENIN, V. Imperialismo, fase superior do capitalismo. São Paulo, Graal, 1979.
MAZZUCCHELLI, F. Os anos de chumbo: economia e política internacional no entreguerras. São Paulo/Campinas, Unesp/Facamp, 2009.
OVERY, R. J. The nazi economic recovery 1932-1938. 2ª ed. Cambridge: University Press, 2003.
SAES, F. A. M. & SAES, A. M. História econômica geral. São Paulo, Saraiva, 2013.
SERRANO, F. (2004) “Relações de poder e a política macroeconômica americana, de Bretton Woods ao padrão dólar flexível”. In Fiori, J.L. (org,) O poder americano. Coleção Zero à Esquerda. Petrópolis: Vozes, 2004.
TAVARES, M.C. A retomada da hegemonia norte americana. Revista de Economia Política, vol.05, n.02, 1985.
TAVARES, M.C; BELLUZZO, L.G. A mundialização do capital e a expansão do poder americano. IN: FIORI, J. L. O poder americano. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
TEIXEIRA, A. Estados Unidos: a “curta marcha” para a hegemonia. In: FIORI, J. L. (org.) Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. p.155-158; 168-189 .