Ditaduras Latino-Americanas
A música e a poesia cantam e recitam as ditaduras latino-americanas.
A música e a poesia cantam e recitam as ditaduras latino-americanas.
Objetivo do laboratório
Descortinar o universo da música de protesto latino-americana, contextualizando e analisando produções de músicos e bandas que lutaram contra os regimes militares que se instalaram na América Latina pós 1960.
Esforço por um breve antecedente... o que levar em conta.
Independência sob a dominação das oligarquias rurais (início do XIX);
Economias dependentes de países industrializados;
Imigração europeia > incipiente classe operária e entrada de ideologias políticas;
Nacionalismo latino-americano (1910 – México – Muralismo Nacionalista);
Crise de 1929 e Ascenção do populismo na América Latina;
Caminhando para a industrialização;
Guerra Fria e Comunismo de Guerra (Organização dos Estados Americanos; apoio ianque às ditaduras implantadas na América Central; Revolução Cubana (1961) e Aliança para o Progresso (EUA).
A música como fonte histórica: “Tempo e Circunstância” - Orientações
A música também é uma fonte histórica poderosa para o entendimento de determinado contexto histórico. Pertencente ao rol da documentação sonora, a música precisa ser compreendida em sua amplitude e no tempo e circunstância em que foi criada.
O foco, inicialmente, deve recair sobre a história de vida do (a) compositor (a), cantor (a) e/ou banda, levando em conta a posição social e política destes. Lembrando que podemos dar margem para fazer uso concomitante de um outros tipos de fontes, inclusive documentos encontrados em arquivos pessoais desses indivíduos.
O contexto histórico do período de atuação do (a) cantor (a) ou banda também é de suma importância. Pesquisar o que estava acontecendo no mundo e no país em que viviam na época da produção musical. Essa vivência irá influenciar profundamente a constituição musical desses grupos e cantores.
É chegado o momento de explorar as músicas selecionadas pelo laboratório e pelo estudante. Com relação à (s) música (s) temos que pesquisar e analisar a concepção do álbum, a gravadora, o ano e local de produção do LP, a arte da capa, os envolvidos na feitura do disco e, principalmente, o contexto de produção do disco.
As letras das músicas também são importantes e dão notícia sobre crenças, angústias, modos de vida e aspectos da vida política, social e cultural de uma sociedade.
Bandas e músicos escolhidos pelo laboratório
Taiguara Chalar (Brasil)
Filho de músico brasileiro e mãe uruguaia, nasceu em Montevidéu, mas ainda criança veio para o Brasil. Aluno de Direito, abandou o curso em nome da carreira musical, iniciada em plena Bossa Nova. Cantando o amor, a beleza e a flor, temas comuns ao gênero, ganhou prêmios, festivais e sucesso comercial. Após o golpe civil-militar de 1964, vendo o governo autorizar o horror, a morte e a dor aos colegas artistas, passou a criticá-lo em suas composições. Contratado por uma grande gravadora, nos anos 70 pagou caro por sair de cima do muro, sendo o músico mais perseguido da época, com centenas de canções censuradas, discos recolhidos em lojas e algo inédito dentre os artistas perseguidos: a proibição de prensar um disco gravado no exílio na Inglaterra. Nos anos 80 atuou pela redemocratização do país. Faleceu em 1996.
Texto de André Teixeira - Jornalista e servidor público (UFS), colecionador de vinis e pesquisador.
Billy Bond y La Pesada del Rock and Roll (Argentina)
Giuliano Canterini nasce na Itália em 1944 e migra com sua família para a Argentina em 52. Inicia na música nos anos 60 com os grupos Los Bobby Cats e Los Guantes Negros, sob influência de Elvis Presley e Little Richard. Ao final da década, rebatizado Billy Bond por um executivo da gravadora que acabara de contratá-lo, reúne músicos, poetas e loucos da contracultura local no La Pesada del Rock and Roll, um dos responsáveis pelo nascimento do “Rock Argentino”, que passou a ser perseguido com mais força mesmo antes da ditadura iniciada em 1976, após incitar o público a enfrentá-la durante um concerto musical. Com seu nome numa lista de pessoas a serem desaparecidas, se exila no Brasil em 1974, onde passou a produzir discos e shows de outros grupos, e hoje dirige musicais de expressivo sucesso comercial.
Texto de André Teixeira - Jornalista e servidor público (UFS), colecionador de vinis e pesquisador.
Tótem - Uruguai
Formado por integrantes de bandas que se dissolveram no final dos anos 60, Totem surgiu no Uruguai no início de 1970 seguindo uma receita já consagrada para ocupar seu lugar na história da música: misturou o rock e a música pop, gêneros já consagrados nacional e internacionalmente, à música tradicional, o candombe, estilo musical e dança criados pelos negros libertos do escravismo uruguaio. Essa mistura ficou conhecida como candombe beat e serviu de base para gravarem já em 71 o primeiro dos 3 discos lançados, trabalhos que lhes renderam sucesso de público e crítica em seu curto período de existência, precipitado pela saída do principal letrista e cantor, Rubén Rada, e pela ditadura militar que eclodira em 73, recrudescendo ainda mais a situação sociopolítica pela qual passava o país. A banda durou até o início de 74.
Texto de André Teixeira - Jornalista e servidor público (UFS), colecionador de vinis e pesquisador.
Los Jaivas (Chile)
Formado em 1963 na cidade de Viña del Mar, é o mais importante grupo musical do Chile e talvez o mais popular da América do Sul no mundo. Começaram interpretando canções de sucesso de outros artistas, mesclando ritmos latinos e música andina ao rock. Com o amadurecimento do grupo, passaram a apresentar suas próprias composições e incorporaram novos sonoridades, como jazz, rock progressivo, música de vanguarda e sinfônica, inserindo também instrumentos antigos da cultura latina. Com o golpe militar no Chile em 1973, se exilaram na Argentina até 77, quando foram para França, onde moraram até 81. Realizaram diversas turnês na Europa, América do Norte e América Latina. Após quase 60 anos de existência, muitos prêmios e várias formações e com uma extensa discografia, o grupo continua em atividade.
Texto de André Teixeira - Jornalista e servidor público (UFS), colecionador de vinis e pesquisador.
Rubén Blades (Panamá)
Nasceu no Panamá em 1948, filho de uma cantora cubana e um percussionista colombiano. Sendo a música algo natural em sua vida, gradua-se em direito nos anos 60, o 1º formado de sua família, igual à grande maioria das famílias humildes de seu país. Sob ditadura militar a partir de 68, mudou-se para os Estados Unidos em 74 para viver com seus pais exilados. Para ajudar nas despesas da casa, começou a trabalhar como office boy numa fábrica de discos, até ser descoberto cantor e compositor, cuja principal característica é traduzir para a linguagem alegre da salsa, sérias denúncias sociais. Com “Tiburun” conseguiu ser banido das rádios americanas por 15 anos, o que lhe deu espaço e sucesso nas rádios latinas. Gravou discos, ganhou Grammys, atuou em filmes e séries, concorreu à presidência e foi ministro em seu país, e ainda teve tempo de fazer mestrado em Harvard. Salswing! é seu mais recente álbum, lançado em abril de 2021.Em breve, colaboração do jornalista (UFS), colecionador e pesquisador, André Teixeira.
Texto de André Teixeira - Jornalista e servidor público (UFS), colecionador de vinis e pesquisador.
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Interdisciplinaridade
O laboratório apresentado foi desenvolvido juntamente com a disciplina de Português, que explorou a poética e a poesia produzida no período. No entanto, pode ser desenvolvido juntamente com as disciplinas de Sociologia, Artes, Música, Espanhol e Jornalismo.
Biografia usada e sugerida
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