Grupo, achei falta de saber da vida pregressa do Rento. Onde ele nasceu? qual a sua relação com Santos, Por que morou na França? em que lugar? lá trabalhou com o quê? Casou-se? Tem filhos? a Jornada na França contribuiu para o seu "despertar" profissional? Acho que dar mais camadas ao personagem vai melhorar muito o texto.
Na esquina entre a compostagem e a esperança, entre a terra viva e os conselhos municipais, está Renato Prado – 60 anos, olhar sereno e atuação firme. Alguém que deixou para trás o mundo das redes digitais para tecer, com as mãos, as redes humanas e vivas de uma cidade em busca de sua face mais justa, mais verde, mais comestível.
Renato passou por um processo de transição – e talvez seja essa a sua marca mais forte. Não apenas pela guinada profissional que fez ao deixar a área de TI, onde administrava sistemas e softwares (onde trabalhou?) , mas pela forma como vem reprogramando a própria vida, agora com os pés no chão, literalmente. Ele fala da compostagem como quem fala sobre um milagre doméstico: o resíduo que vira vida. A casca da banana que vira flor. O lixo que, bem cuidado, vira insumo. E essa é, talvez, a metáfora perfeita de sua jornada: o que parecia fim, virou começo.
“Atuei (quantos?) anos no mundo corporativo, com tecnologia. Mas em 2015, passei por uma virada. Crise no Brasil, um divórcio, retorno da França depois de 15 anos... E me vi frente a um vazio fértil. Foi quando me aproximei do terceiro setor e dos projetos socioambientais. Nunca mais saí”.
O primeiro passo foi tímido, como um broto ainda buscando luz. Um projeto chamado “Condomínio Sustentável”, financiado pelo Fundo Municipal de Meio Ambiente de Santos. Em 2017, a compostagem ainda era um sussurro. Até que, em uma reunião, surge Dionísio – um senhor de fala mansa, mãos de agricultor e o mantra: “compostagem, compostagem, compostagem”. E Renato ouviu. Ouviu de verdade.
Na Estação da Cidadania, espaço de projetos de impacto cultural e social, em Santos, uma caixinha de compostagem começou a receber restos de cozinha desses dois sonhadores. Depois, vieram mais. A caixinha virou coletivo. O coletivo virou OSC. E, em 2022, nasceu formalmente o Composta & Cultiva – organização que transforma resíduos orgânicos em adubo, comunidades em ecossistemas, ideias em políticas públicas.
“Hoje estamos compostando cerca de duas toneladas por mês. Isso significa evitar a emissão de quase uma tonelada e meia de CO₂. Isso não é pouco. É ciência. É ação climática de verdade”.
Mas Renato não parou aí. De uma visita a uma horta comunitária no bairro Jardim São Manoel, na Zona Noroeste de Santos, nasceu o BAAU – Banco de Alimentos e Agricultura Urbana, iniciativa que conecta hortas comunitárias a cozinhas solidárias. Uma engrenagem simples e poderosa: quem planta alimenta quem precisa.
“O São Manoel foi inspiração. A Horta Bons Frutos produzia, mas faltava estrutura. Então pensamos: e se investirmos ali, melhorarmos a produção e a horta conseguir doar para uma cozinha solidária do bairro? E assim foi. Deu tão certo que o projeto expandiu hoje está em sua terceira fase”.
Com apoio da Autoridade Portuária de Santos, o BAAU passou a levar esse modelo a outros territórios da cidade – do Saboó à Vila Nova. Em cada lugar, algo floresce: viveiros, hortas suspensas, banheiros adaptados, hortelãos remunerados. Mas, acima de tudo, floresce um senso de pertencimento.
Para além dos projetos de base, Renato tem sido uma voz ativa nos espaços de formulação de políticas públicas. Foi presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Santos (Comsea), onde ajudou a reativar o conselho após um ano de inatividade. Hoje, é conselheiro do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema) – e segue costurando a cidade com ideias, indignações e propostas.
Ele não poupa críticas. “Existe muito greenwashing. Sustentabilidade virou palavra de marketing. Falam em plantar 10 mil árvores, mas não cuidam de nenhuma. É preciso parar de fazer maquiagem verde e começar a trabalhar com raiz, adubo e tempo. Senão, nada vinga”.
Renato vê na agricultura urbana uma das chaves para enfrentar a crise climática e alimentar. Cita números, dados, estudos. Fala com paixão, mas também com precisão. A compostagem, por exemplo, além de reduzir emissões de metano e CO₂, é um potente sequestrador de carbono quando aplicada ao solo. “É mágica, mas também é método”, diz. “Precisamos parar de enterrar a vida em aterros. Transformar em adubo, em alimento”.
Na base de tudo, no entanto, há algo mais ancestral: o cuidado. Cuidado com o solo, com o alimento, com as pessoas. Com o futuro. Desde o nascimento da neta, há oito anos, Renato diz que seu olhar mudou. O que antes era urgência profissional, hoje é urgência vital. Legado. Semente.
“Já corri muito atrás de sucesso, poder, salário. Hoje, quero plantar ideias. Quero inspirar. Quero que, daqui a dez, vinte anos, alguém diga: eu comecei por causa de uma conversa com aquele senhor da compostagem”.
E assim ele segue. Palestrando na Petrobras de manhã, revirando minhocário à tarde, participando de conselhos à noite. Um pé no barro, outro na política pública. Um olho na crise climática, outro nas crianças das hortas suspensas. Talvez seja esse o grande software que Renato tem administrado: o sistema operacional da esperança.
Enquanto o mundo se pergunta o que fazer, ele já começou – com uma sacola de terra preta originada de resíduos, uma garrafa de água percolada e uma fé imensa na transformação.
Diogo Andrade
DadosGustavo Pimentel
RedatorGustavo Sampaio
DiagramadorRodrigo Cirilo
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