Entre Santos e a aldeia indígena (onde?), Catharina Apolinário fez da palavra uma forma de resistência
O personagem é bom, o texto está bacana, mas a entrevista poderia revelar mais sobre a Catharina. Esse espaço onde ela está, descrito logo no começo, é o que, a casa dela? mora só? qual? onde mora? Qual 'e o seu ativismo? o que ela faz pelo meio ambiente? Quais são os projetos? que impactos já causaram? qual é a comunidade onde ela atua. O que pensa das mudanças climáticas? O que pensa sobre o futuro? A frase do "sonho é uma tecnologia indígena"é boa, mas precisa ser explicada no contexto. Enfim, senti falta de saber o que Catharina faz e pensa, a entrevista talvez não tenha sido muito produtiva...
A sala tem cheiro de vida em movimento. Livros empilhados como se guardassem segredos de séculos, brinquedos espalhados da filha que transformam o chão em território lúdico. No canto, um gato (descrever - branco, perto, gordo, peludo), como se fosse o guardião silencioso daquela casa (faltou um verbo nessa frase). O ambiente se enche de energia com a presenç,a de Catharina Apolinário de Souza, 43 anos, dona de uma voz que carrega o peso das ancestralidades e a leveza de quem aprendeu a conversar com o mar.
Nada ali foi pensado para ser grandioso, e talvez por isso transmita uma sensação de imponência, o que não chega a ser um contradição. As paredes guardam mais do que memórias: são reminiscências de batalhas travadas dentro e fora do seu "eu". Entre livros de recortes do jornalismo e um brinquedo infantil, se revela uma mulher inteira, que habita múltiplos mundos — a cidade e a aldeia, a comunicação e o silêncio, o ativismo e a maternidade.
A menina que falava de direitos
Catharina sempre foi comunicadora. Aos sete anos, ainda criança na Ponta da Praia, reuniu colegas da vizinhança para ler em voz alta o gibi da Turma da Mônica que trazia o Estatuto da Criança e do Adolescente. “Vocês têm direito de brincar, de ir e vir”, dizia, como quem já ensaiava seu destino de porta-voz. Ali, a infância se tornava trincheira. “Eu nunca mais me encaixei no processo de apenas aceitar”, lembra.
Criada pelos avós vindos de São Sebastião, viveu entre o concreto de Santos e os quintais do mato. A avó lhe ensinava a plantar mandioca, colher cana, preparar chás como quem passa adiante um segredo. O avô, pescador e navegador, conhecia os segredos do porto e conduzia rebocadores no estuário. Dessa mistura, nasceram memórias de siri pescados para comer, tarrafas lançadas ao mar e um sentimento profundo de pertencimento à natureza.
Mas Catharina também atravessou outros territórios: parte da vida em Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá, temporadas em Ilhabela, Cananeia, Iguape. Entre o mar e a mata, entre o concreto e a areia, aprendeu a se reconhecer no movimento. “Sempre me entendi como nômade, alguém que não gosta de ficar parada”, conta. (checar tamanho da fonte)
Antes de passar para o outro bloco é necessário falar por que Catharina está aqui numa edição de pessoas que tratam de questões ambientais. O que ela faz? qual é o seu ativismo? Como envolve as pessoas na sua cosmovisão?
A vida também a levou até a Aldeia Tapirema, em Peruíbe, onde viveu dois anos. Ali, sentiu a dureza das faltas: a água que desaparecia toda semana, a escola que só chegou após pressão coletiva, a precariedade da estrutura. Foi onde conheceu o pai de sua filha, um homem indígena, neto de mulher que retomou territórios (explicar mulher essa mulher). Mas a relação acabou em ruptura.
“Prefiro estar sozinha do que com alguém que me fere”, afirmou. Recomeçou em Santos, no apartamento da família, enfrentando as dificuldades de ser mãe solo. “A maternidade não é romantizada. É pesada, extremamente difícil. Mas é a minha travessia”.
Aos 17 anos, em campanhas do Greenpeace, começou a falar sobre transgênicos. Descobriu que uma semente podia conter guerras inteiras, leis, venenos, políticas de Estado. Desde então, nunca mais separou vida de ativismo. “O meio ambiente não é uma pauta, é uma forma de viver”, disse. Guardar a bituca no bolso para que não vá parar no mar, plantar na janela, colher com a avó, sonhar com acontecimentos futuros — tudo isso para ela é continuidade da ancestralidade. “O sonho é uma tecnologia indígena”, explica.
Da comunicação nasceu o ofício. (ela se formou? em que escola? chegou a trabalhar nos jornais locais?) Há 12 anos, fundou sua empresa, trabalhando em projetos culturais, comunitários e ambientais. Para ela, o jornalismo não é só profissão, mas promessa. “Eu coloquei o meu trabalho para o ativismo também”, afirma. Cada projeto é escolhido por propósito, cada texto carrega compromisso com direitos humanos e com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Perguntada se se considera símbolo da causa ambiental, (podemos reformular? não é legal remeter à pergunta feita, mas à resposta da entrevistada) responde com cautela. “Eu não me considero representante. Às vezes as pessoas me colocam nesse lugar. Mas, para representar, é preciso ser reconhecido pelos representados”, reflete. Prefere apoiar, dar suporte, fortalecer — sem se colocar acima das vozes que vêm do território.
Na vida de Catharina, tudo se mistura: o mar que embalou sua infância, as roças da avó, os rebocadores do avô, a luta na aldeia, a filha que brinca em meio aos livros. Nada é separado.
E talvez seja esse o fio que une sua trajetória: a recusa em dividir a vida da luta, a comunicação da ancestralidade, o trabalho da espiritualidade. Sentada no sofá simples de Santos, entre brinquedos e memórias, ela não precisa de grandes palcos para reafirmar quem é. Sua existência já é narrativa.