Mar, Direito e o dever de preservar:
Mar, Direito e o dever de preservar:
Por trás do blazer da advogada e do tom sereno de professora universitária, existe uma mulher que carrega o sal do mar no olhar e o senso de justiça no coração. Aos 53 anos, Kátia Domingues Blotta é mãe, surfista, educadora e uma das vozes mais ativas quando o assunto é defesa ambiental no litoral paulista.
Professora na Universidade Santa Cecília (Unisanta) e em outras instituições locais, ela divide o tempo entre as aulas, a advocacia e o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Condema), onde atua diretamente na elaboração de normas e no julgamento de processos ligados à sustentabilidade e à proteção do ecossistema.
“Hoje o papel do advogado de entregar uma justiça, de entregar um direito ao cidadão, não tem dinheiro que pague” afirma, com a convicção de quem faz do trabalho uma extensão dos próprios valores.
Raízes no mar e na cidade
Kátia nasceu em São Paulo, mas foi em Itanhaém que encontrou o lugar que moldaria sua forma de ver o mundo, quando ainda tinha 12 anos. Em sua fase adolescente, trocou as quadras de handebol e as piscinas da infância pelas ondas do litoral e se tornou campeã paulista de surfe feminino. “Naquela época, eram pouquíssimas mulheres surfando. Acho que por isso acabei ganhando”, conta, rindo.
Casada há 30 anos com Renato, também morador da cidade, Kátia construiu uma vida cercada pelo mar e pela família. Mãe de dois filhos, uma menina de 14 e um jovem de 18 anos, ela se orgulha de vê-los seguindo o caminho do esporte. “Os dois são jogadores de vôlei, e eu adoro estar na torcida. Sempre incentivei, porque o esporte traz disciplina, saúde e amizades verdadeiras.”
Entre as aulas, audiências e compromissos com o Condema, Kátia ainda reserva tempo para caminhar na orla e praticar pilates. “Tenho uma pranchinha lá em casa, faz um tempo que não entro no mar, mas sempre que posso, volto. O mar me faz sentir realizada.”
Da OAB às Causas Ambientais
A relação de Kátia com o direito ambiental começou dentro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde foi tesoureira e depois presidente da Comissão de Meio Ambiente. “Quando você assume uma comissão, acaba vestindo a camisa de verdade. Passei a estudar o tema mais a fundo, participei de projetos, eventos e debates sobre sustentabilidade, e acabei levando isso para o meu mestrado”, explica.
A pesquisa acadêmica teve como foco o Rio Itanhaém e a importância dos manguezais da região, ecossistemas vitais para a preservação costeira. “Essas áreas estão sendo degradadas porque as pessoas constroem sobre elas. É assustador ver o quanto se desmata sem pensar nas consequências”, lamenta.
Atualmente, Kátia participa de discussões sobre resíduos sólidos, fiscalização e aplicação de leis ambientais por meio Condema. “Não é fácil, mas é muito gratificante. A gente sente que está contribuindo de verdade.”
Um olhar global
Em 2023, a profissional teve a oportunidade de acompanhar a COP 28, em Dubai, uma das conferências internacionais mais importantes sobre clima. A experiência reforçou seu senso de urgência. “Tudo lá é extremamente organizado e planejado. É impressionante ver como um país que praticamente não chove consegue pensar em sustentabilidade e tecnologia ambiental. Enquanto isso, aqui ainda estamos tentando resolver o básico, como o lixo nas ruas.”
Ela observa que o problema ambiental no Brasil é tão social quanto ecológico. “Muitas pessoas ocupam áreas irregulares, como os manguezais, porque não têm onde morar. Falta fiscalização, mas também faltam políticas públicas. É preciso olhar para o meio ambiente com sensibilidade humana.”
Esperança e educação
Apesar dos desafios, a professora de Direito acredita que a nova geração está mais consciente. “Vejo isso dentro de casa. Meus filhos já sabem separar o lixo, fazer compostagem. Eles têm noção de responsabilidade ambiental, e isso me dá esperança.”
Na universidade, leva o mesmo entusiasmo que demonstra no mar. “Adoro lecionar. Me sinto viva na sala de aula. Faço o possível para ajudar meus alunos e mostrar que o direito pode — e deve — transformar o mundo.”
Kátia Blotta segue provando que defender o meio ambiente é mais do que uma profissão: é um estilo de vida. “Preservar é um dever de todos nós. E quando você vive cercada pela natureza, como aqui em Itanhaém, isso se torna parte da sua própria identidade”.
Redator