Não é apenas sobre salvar ursos polares ou suportar dias sufocantes de calor. Quando alunos de Jornalismo falam sobre mudanças climáticas, estão contando histórias que podem definir o presente e moldar o futuro. Isso porque acreditamos que o clima não é só uma condição meteorológica; é política, economia, saúde, cultura e, acima de tudo, questão de sobrevivência.
A Terra está 1,5°C mais quente desde o século XIX. Parece pouco? Não é. Esse aumento já fez da última década a mais quente da história, e mudou a forma como vivemos ou o que podemos esperar do amanhã. Mais importantes que os números, no entanto, são as histórias: quem narrará as lutas de comunidades costeiras ameaçadas ou o impacto do calor extremo nas vidas mais vulneráveis? E quanto às vitórias de projetos de energia limpa que transformam realidades?
Na Universidade Santa Cecília, o jornalismo climático encontrou espaço e voz na Revista Viral, trabalho editorial de caráter experimental. Esta edição de 2025 apresenta histórias climáticas que dialogam com a Baixada Santista: uma região que aprendeu a viver “torta”, a resistir a chuvas torrenciais, a lidar com o avanço do mar e com desafios como o Dique da Vila Gilda.
Fique tranquilo e entenda que este projeto – repleto de pesquisa e talento –, não busca apenas discutir problemas, mas também trazer propostas. Soluções sustentáveis, análises de políticas públicas e cobranças a governos e empresas ganham espaço para inspirar e mobilizar. Informar é só o começo. Inspirar e agir, claro, completam o ciclo. Que estas páginas sejam um convite para refletir, participar e fazer parte da mudança. Boa leitura!
por Renan da Paz
Edição impressa que será lançada em agosto, com painel
Renato Prado
Paulo Ricardo
Cleiton Jordão
Bruno Lima
por André Luiz - 2º ano de Jornalismo
A equipe da revista Viral foi até a Câmara de Santos para conhecer o posicionamento dos representantes do Legislativo sobre as consequências das mudanças climáticas para a cidade e as medidas tomadas até agora para enfrentar essa questão.
Para realizar a enquete com os vereadores sobre o tema, os estudantes Raicka Marszolek, Guilherme Ferraz, Matheus da Silva, Orlando Matioli, Erick Vieira, Leonardo Cruz, Manuela Jakab, Leonardo Cabral, Yasmin Gady, Leonardo Matos, Miguel Grzywacz, Iago Gomes, Daniela Oliveira, Clara Gomes, Luiz Henrique da Silva, Luiz Gustavo Santos e Victória Santana foram à sede da Câmara em dois dias de sessão. Dos 21 vereadores, foram entrevistados 19.
O vereador Adriano Piemonte (União Brasil) recusou-se a participar da enquete; sua assessoria disse que ele não costuma dar entrevistas. Já Marcelo Téo (PP) esquivou-se mais de uma vez, alegando estar ocupado, e também não respondeu as três perguntas feitas aos demais parlamentares.
Imagem gerada por IA
Chico Nogueira (PT) – “Acredito, porque já está ocorrendo. No último verão, percebemos que não foi só na Zona Noroeste que encheu. Houve enchente no canal 2, canal 3, na Ponta da Praia. A maré já vem avançando há um bom tempo. Precisamos discutir medidas para prevenir o avanço do mar e pensar em políticas públicas que protejam as pessoas que podem ser atingidas por essas mudanças climáticas.”
Allison Sales (PL) – “Acredito sim e como mandatários na fiscalização e gestão da cidade, precisamos escutar esses cientistas e especialistas para executar, com maior atenção e da melhor maneira possível, os serviços em prol das questões climáticas no município de Santos, especialmente na Ponta da Praia e no Dique da Vila Gilda.”
 Paulo Miyasiro (Republicanos) – “A gente vê que hoje o clima está muito mas descontrolado, tempestades muito fortes, como a que ocorreu em fevereiro, e isso nos preocupa muito. Podemos pensar que 2050 está longe, mas  são apenas 25 anos. Uma coisa dessas até causa um certo alarde, mas realmente tem que se preocupar,  o cientista não vai dar uma previsão dessas sem fundamentos. É importante acompanhar e tomar medidas importantes para evitar.”
Benedito Furtado (PSB) - “Eu acredito na ciência. Porém, as previsões são previsões, eu diria que catastróficas, mais possíveis de ocorrerem com toda a certeza.”
Renata Bravo (PSD) – “Sim, acho que todas as decisões, principalmente para quem está no Poder Público, precisam ser baseadas em conhecimento técnico. um estudo científico tem um valor extremo. Temos visto que nos últimos meses essas chuvas fugiram do padrão, e a gente precisa ter medidas para que a gente esteja à frente, antes que esses desastres aconteçam.”
Rui de Rosis Jr (PL) – “Claro que acredito, já vem ocorrendo. É só observar a Ponta da Praia, que antigamente tinha uma faixa de areia muito maior. Com a elevação da maré, temos cada vez menos faixa de praia. Isso é um fato.”
Lincoln Reis (Podemos) – “Acredito, porque a gente vem sofrendo ano a ano. Em 2020, tivemos até mortes com deslizamentos de terra. Recentemente, os alagamentos que vêm acontecendo com as fortes chuvas. As chuvas têm um volume muito grande e o escoamento da água está demorando. Precisamos de estações elevatórias na Zona Noroeste, melhorar aqueles bags da Ponta da Praia, porque são as primeiras regiões a serem afetadas. Nas visitas que fazemos por lá, a gente vê o povo sofrendo com as enchentes, mesmo em dias que não tem chuva.”
Chita Menezes (PSB) – “Acredito! Está cada vez aumentando mais o número de chuvas e cada vez mais fortes. Olha o que tá acontecendo com a nossa cidade. Acredito realmente no que os cientistas estão falando, essas mudanças climáticas vão afetar a cidade sim, com certeza.”
Fábio Duarte (PL): Olha, veja bem, eu acredito muito na ciência, mas também há contestação. Então, se houver um degelo nos polos aí há realmente a probabilidade de ficarmos abaixo do nível do mar.”
Marcos Caseiro (PT) – “Não tenho dúvida disso. Sou médico, pesquisador e a gente observa essas alterações climáticas, por exemplo, na questão da transmissão de doenças infecciosas. Estamos vendo uma expansão desse vetor, o Aedes, em países que não tinham, o sul dos Estados Unidos e a Itália, por exemplo. Isso tem a mão do homem, que é responsável por essas mudanças climáticas. Tivemos o ano passado um grau de aumento das temperaturas globais, isso favorece o degelo nos extremos e aumenta todo o nível das marés. A Ponta da Praia já era uma área de mangue, foi graças ao aterramento e à questão da construção dos canais que se tornou uma área salubre. Então não tenho dúvida que o nosso destino é ter áreas alagadas, se medidas não forem tomadas em curto espaço de tempo.”
Débora Camilo (PSOL) – “Acredito. A ciência sempre precisa ser ouvida, a gente precisa utilizá-la como parâmetro. Essas ameaças já vêm sendo alertadas há muito tempo, as mudanças climáticas estão causando extremos no mundo. A previsão para 2050 é algo que está próximo, são 25 anos somente. A gente precisa entender que a espécie humana está correndo risco e que precisamos minimamente reduzir esses impactos.”
Cacá Teixeira (PSDB) – “Não acredito nessa profecia — ou estudo, né? — mais assim, criterioso, com relação à questão da subida do nível do mar. Nós temos um problema muito sério: o Porto de Santos. Para que tenhamos progresso e tenhamos o maior porto da América Latina, que é para receber navios de maior porte, tem a necessidade do calado. Então, com isso, vai mexer também nessa questão do mar, né? É uma preocupação? Sim, claro. Nós estamos aí quase no nível do mar, então é uma preocupação constante.”
Zequinha Teixeira (PP) - “Vejo com muita preocupação. Vemos cada vez mais o calado profundo e a água vem vindo, temos que fazer essa contenção, assim como já foi feito em algumas cidades do Brasil. Na Zona Noroeste já estão fazendo as contenções, 7 ou 8, e acredito que isso vai dar uma melhorada. Foram colocados bolsões na Ponta da Praia, se não o mar já teria invadido.”
Adriano Catapreta (PSD) – “Na verdade, eu não tenho conhecimento científico pra isso. Mas a gente vê que isso já está acontecendo. A gente vê que as mudanças climáticas têm influenciado bastante no nível do mar e que, no futuro, isso poderá causar problemas maiores aqui na nossa cidade. Mas também a gente sabe da capacidade de Santos pra poder se reorganizar e tomar as medidas necessárias e suficientes. A gente acredita que isso será feito no tempo certo.”
Sérgio Santana (PL) – “Acredito que algo está acontecendo. Se realmente a situação climática vai trazer esse prejuízo para a cidade, eu já não posso confirmar. Mas durante muitos anos a gente tem percebido que parte da praia a gente já perdeu. Isso para nós é preocupante. E logicamente que cientistas, políticos, governantes precisam tomar alguma atitude.”
Cláudia Alonso (Podemos) – “Essa questão da urgência climática, como a própria palavra diz, é urgente. Desde o começo do mandato, tenho feito uma série de solicitações e requerimentos no sentido de entender se a cidade está se preparando para isso. A gente vive praticamente todo dia uma crise climática. Você tem um pico extremo de calor, um pico extremo de frio, você tem uma superluminosidade por um sol que resseca e que vem acompanhado de chuvas devastadoras. Muitos anos atrás, eu morava na frente da praia, uma quadra antes do Aquário, e na comemoração do meu aniversário, minha família não conseguiu chegar. Foi uma coisa devastadora como a gente nunca tinha visto aqui. As muretas da praia foram totalmente destruídas. Olhando de cima do meu prédio, eu via os caras andando de caiaque pela rua, salvando geladeira, bicicleta, salvando o que dava. Então, há muito tempo que isso vem ocorrendo e não consigo entender porque que se demora tanto para que algumas medidas sejam tomadas. “
Bispo Maurício Campos (Republicanos) – “Sim, acredito. A gente já tem uma amostra disso pelas erosões, pelas inundações, pelo calor extremo, pelas tempestades. Previsão é previsão, mas ela é fundamentada em estudos. A gente sabe que tudo isso tem a mão de Deus para prevenir e para remediar. Mas eu acredito que é o fim dos tempos. A Bíblia já fala sobre isso. Se Jesus não voltar antes, daqui até 2050 a gente vai ter realmente muita peleja.”
Rafael Pasquarelli (União Brasil) – “Eu acredito. Porque quando a maré sobe há muita enchente. Na Ponta da Praia foram colocadas aquelas barreiras, não sei se de cimento ou areia, para evitar o avanço das ondas, mas a Prefeitura precisa buscar parcerias com universidades daqui e até de fora para podermos ter mais barreiras. Quanto ao Dique da Vila Gilda, lá não tem ondas, mas quando a maré sobe acaba prejudicando as moradias.”
Adilson Jr (PP) – “Sem dúvida. Tanto é que Santos vem tentando se preparar ao longo do tempo, não para tanto impacto. Há anos atrás foram instalados moles na Ponta da Praia, que são barreiras submersas para evitar justamente o impacto das ondas para que essa água não chegue, como chega em alguns momentos, na via ou até dentro da parte adensada, onde estão os prédios. E no dique da Vila Gilda, a mesma coisa. Santos está, em alguns pontos, a 30 centímetros abaixo da linha do mar. Quando você tem os dois fenômenos, chuva elevada e alta da maré, é inevitável que as ruas fiquem alagadas.
Chico Nogueira (PT) – “Não, são medidas paliativas. Em um primeiro momento, os geobags na Ponta da Praia trouxeram solução. Mas a velocidade do aumento do volume do mar é muito grande. As geleiras estão se derretendo há muitos anos por conta do aquecimento climático e isso faz com que, não só Santos, mas toda região litorânea do Brasil sofra com isso. É preciso, de fato, criar uma política de prevenção das encostas, tirar os moradores das palafitas, que são os mais atingidos, e planejar ações de sustentabilidade nesses territórios, que venham a mitigar os impactos ambientais. Mas a Prefeitura de Santos não pode agir sozinha, deve ser uma execução coletiva.”
Allison Sales (PL) – “Não são suficientes e não são eficazes. Nós estamos sofrendo com a perda do dinheiro público, que deve ser utilizado da forma correta referente às questões climáticas.”
Paulo Miyasiro (Republicanos) - “As estações elevatórias na Zona Noroeste, que é uma área abaixo do nível do mar, são importantes porque elas absorvem a água, para depois jogar no retorno do rio. Se todas estiverem funcionando bem vai ajudar e muito, a não ser no caso de uma tempestade como aconteceu algum tempo atrás."
Benedito Furtado (PSB) - “Não, em absoluto. As únicas ações tomadas foram a colocação daqueles bolsões ali na Ponta da Praia, mas acho que a Prefeitura tem que investir muito mais. Primeiro compreender esse fenômeno, para nos prepararmos para ele. Não é um fenômeno só, são vários os fenômenos climáticos que estão acontecendo no planeta.”
Renata Bravo (PSD) - “Sim, as informações que a gente tem na Câmara Municipal são de que as medidas da Prefeitura sempre estão nessa linha da prevenção. Secretaria de Meio Ambiente, Defesa Civil e Secretaria de Governo atuam em conjunto.”
Rui de Rosis Jr (PL) – “Infelizmente, eu acredito que as medidas tomadas — ou não tomadas — pela Prefeitura nos últimos anos não são suficientes. Como santistas, estamos passando por momentos difíceis, com alagamentos recorrentes. Como vereador, noto que não temos medidas suficientes em drenagem e em macrodrenagem. A Zona Noroeste sofre historicamente com alagamentos e hoje a Zona Leste também sofre. Temos uma zeladoria responsável pela desobstrução e limpeza de galerias, e isso não tem sido feito nos últimos anos. Precisam ser tomadas medidas urgentes para que o santista pare de sofrer e ter prejuízos a cada chuva.”
Lincoln Reis (Podemos) - “Precisamos de mais. Acreditamos muito no governo que está aí, até por conta das estações elevatórias para a Zona Noroeste, mas precisamos de mais. Temos um sistema de escoamento de águas da época de Saturnino de Brito, e é um trabalho magnífico — se não fosse isso, a gente estaria sofrendo ainda mais. Precisamos de zeladoria na ponta, limpeza das bocas de lobo, fazer esse trabalho de forma eficaz. Nossa esperança são as estações elevatórias.”
Chita Menezes (PSB) – “Eu acredito muito no trabalho do nosso prefeito Rogério Santos. Está fazendo um ótimo trabalho, só que é complicado, né. Nossa cidade, tanto a área da Zona Noroeste quanto a da Ponta da Praia é tipo uma areia movediça. Tem que fazer um trabalho bem específico.”
Fábio Duarte (PL): “Não são suficientes. Tentaram os bags na Ponta da Praia, gastaram com estudo do impacto e não conseguiram resolver. Mas existem tecnologias, a Holanda é um país que está abaixo do nível do mar e nós temos que copiar algumas coisas de lá.”
Marcos Caseiro (PT) – “A Prefeitura não fez nada, ou se fez, fez muito pouco. O que nós precisamos é juntar as universidades, os pesquisadores e discutir a ocupação do solo. A cidade cada dia está mais verticalizada. Lamentavelmente, não vejo nenhuma atividade da Prefeitura no sentido de diminuir o impacto dessas alterações climáticas.”
Débora Camilo (PSOL) – “Não, o que está sendo feito é algo somente pelos estragos causados pelas chuvas, pelos alagamentos... Ao longo dos anos a cidade tornou-se mais impermeável. São várias obras, arranha-céus, cimento para tudo que é lado. Não há um trabalho para que isso seja modificado. Santos tem essas ilhas de calor, nós tivemos picos de calor que chegavam à sensação térmica de 50 graus. Santos não tem árvores, não tem uma política de plantio, de manutenção das árvores que já existem. A administração pública vem fazendo o contrário do que deveria ser feito.”
 Cacá Teixeira (PSDB) – “Foi apenas aquela intervenção dos bags na Ponta da Praia. Isso evitou alguma questão do consumo ali da areia. Às vezes, a maré pega toda aquela faixa de areia. Ainda é um trabalho que precisa melhorar, é claro. Só aqueles bags não dão a retenção da maré quando ela vem e ocupa toda aquela parte da Ponta da Praia. Há necessidade de um investimento maior.”
Zequinha Teixeira (PP) - “Não, por enquanto não, pois precisa de um investimento muito grande. Temos que olhar para o lado do mar, como iremos sanar isso. A população também tem que fazer a parte dela, não descartar o lixo nos canais, nas ruas. Se isso for feito de maneira correta pode ajudar muito”.
Adriano Catapreta (PSD) – “Até agora, não. Mas a Prefeitura tem estudado bastante isso. A gente tem conversado bastante, cobrado a Prefeitura. Eles estão bem pra realmente ver o que fazer, o que o resto do mundo está fazendo pra conter essa maré. Alguns países colocam até muralhas de contenção pra realmente diminuir a força dessa maré. Acredito que a gente tenha capacidade pra correr atrás disso e resolver o problema.”
Sérgio Santana (PL) – “Logicamente que não. Nós tivemos tempos atrás a colocação de bags na Ponta da Praia e a gente percebe que não
resolveu. Ainda precisa ser feito muito mais.”
Cláudia Alonso (Podemos) – “As ações do governo municipal, estadual e federal precisam ser de forma mais veloz. A gente subestimou a natureza, as necessidades da natureza, os ciclos da natureza.Então, a gente está pagando por aquilo que a gente não fez, que foi cuidar, única e exclusivamente cuidar do nosso meio ambiente, ser responsável. A gente precisa urgentemente não deixar mais que isso aconteça, pelo menos na nossa cidade e que ela seja exemplo para outras cidades.”
Rafael Pasquarelli (União Brasil) – “Não são suficientes. Até 2050 automaticamente vai aumentar a maré, querendo invadir a cidade. Repito, temos que buscar parcerias tanto com universidades daqui de Santos ou do Estado, no Brasil, ou até de fora para gente poder amenizar os problemas da invasão do mar.”
Bispo Maurício Campos (Republicanos): Não, a gente precisa de muito mais. Eu acho que a Prefeitura — não só a de Santos, mas de todas as cidades — se esforça para fazer o melhor. Uns com mais, outros com menos condição. Mas acredito que há um interesse dos nossos governantes — e aí, independente de partido, porque às vezes o partido atrapalha, não ajuda — todos têm o interesse de morar e viver numa cidade melhor. O prefeito, os vereadores, todos pensam em melhorar a sociedade. Isso não é fácil, porque temos meio milhão de pessoas esperando nossas ações. Duzentos e cinquenta mil, estou arredondando, votaram no Rogério. E duzentos e cinquenta mil votaram na Rosana. Todos os dois, acredito, tinham e têm bons interesses para fazer com que a cidade seja um lugar melhor para viver.”
Adilson Jr (PP) – “Por enquanto não. Além dos moles da Ponta da Praia, vamos ter um conjunto de dez estações elevatórias na Vila Gilda. É preciso criar piscinões ligados a estações elevatórias. Já temos uma estação funcionando, está sendo licitada uma segunda e talvez uma terceira na entrada da cidade.”
Chico Nogueira (PT) – “Sim. Não tenho dúvidas que ter um espaço na área continental para realocar essas pessoas seria uma ação estratégica melhor. Mas as pessoas também possuem senso de pertencimento nas regiões em que elas já vivem. Se o projeto do Dique da Vila Gilda for o de canalizar os canais, desassorear aquele território e fazer o congelamento de novas habitações poderemos prevenir a degradação do meio ambiente. Com o projeto de urbanização, as pessoas terão água encanada, esgoto tratado e toda a infraestrutura. As sete estações elevatórias que estão sendo planejadas na urbanização do Dique da Vila Gilda também permitirão o melhor escoamento da água nessa região da cidade."
Allison Sales (PL) – “A melhor alternativa seria trazer essas pessoas para áreas secas, em prédios ou casas populares, em locais mais apropriados e não no dique, no meio da maré. Questiono como será a estruturação dessas moradias, levando em conta a questão climática. No papel, tudo é muito bem apresentado: constroem as casas ali em cima e oferecem dignidade para aquelas pessoas, mas por quanto tempo? O correto seria trazê-las para áreas secas."
Paulo Miyasiro (Republicanos) – “O grande problema de Santos são justamente áreas disponíveis. Quem mora ali na Vila Gilda quer ficar lá. Ali vão atender quase cem famílias, a princípio com um valor acessível. Mas se a maré começar a subir, daqui a 25 anos a gente vai saber se a ideia foi boa ou não. Vou até me aprofundar melhor nesses estudos dos cientistas para saber e começar a falar mais profundamente sobre o assunto. Mas quem olha a Ponta da Praia percebe que praticamente não tem mais areia."
Benedito Furtado (PSB) - “Não existe outra alternativa em Santos. A Zona Noroeste está abaixo da maré alta e, todas as vezes que a maré sobe muito, várias áreas daquela região alagam. O mesmo ocorre com os canais, que transbordam. Existe tecnologia para tentar resolver esse problema. Precisamos de contenções, mas conter uma ilha de 39 quilômetros quadrados? É um assunto que precisa ser estudado com muito carinho. Acho que a urbanização do Dique da Vila Gilda, o que a prefeitura está pretendendo é dar dignidade para o povo que mora lá. Não adianta tirar os moradores e vai colocar aonde, se vários bairros da Zona Noroeste alagam? A urbanização é dar qualidade de vida, é adaptar para uma realidade diferente. É isso, mas o que eles enfrentam lá é o que toda a cidade enfrenta.”
Renata Bravo (PSD) – “O prefeito tem um projeto-piloto do Parque Palafitas, uma obra de recuperação ambiental sem que as comunidades do dique sejam deslocadas, aprovada pela Secretaria de Meio Ambiente. Há duas questões importantes: a ambiental e a comunidade. A gente precisa se lembrar dos laços afetivos que aquelas pessoas fizeram na comunidade. O Parque Palafitas tem a preocupação com a preservação ambiental e também com o cuidado de estabelecer as famílias não em áreas de mangue, mas em uma área elevada, que dê segurança para que não aconteça a invasão da maré. Há ainda o desejo do prefeito de transformar aquele espaço em bairro oficial da cidade. O pessoal do desenvolvimento urbano vai ter o trabalho de pensar, elaborar e planejar projetos para que a gente preserve o senso de comunidade entre as pessoas e, ao mesmo tempo, trate da preservação do meio ambiente.”
Rui de Rosis Jr (PL) – “O avanço da maré naquela região pode impactar esse projeto-piloto do Parque Palafitas. Se temos o avanço da maré, isso pode ser perdido. Além disso, o projeto é voltado para um número muito pequeno de famílias. Se levassem essas pessoas para moradias dignas, em regiões mais secas, seria melhor — tanto para as famílias quanto em relação ao custo para o Poder Público.”
Lincoln Reis (Podemos) – “Essa é uma ampla discussão. Tem gente que mora lá há muitos anos, que gosta do bairro, e acho que a iniciativa da Prefeitura é válida, no intuito de dar dignidade, dar o nome ao bairro. Mas bato novamente na tecla: é preciso que as estações elevatórias sejam concluídas por completo, para que não só o Dique da Vila Gilda, mas toda aquela região, não sofra. Transformar o Dique da Vila Gilda em bairro pode causar alagamentos? Já temos alagamentos mesmo sem ser oficialmente um bairro urbanizado. Então, eu acho que a proposta da Prefeitura é para dar dignidade, CEP e vir com a regularização fundiária de toda a área.”
Chita Menezes (PSB) – “Acho que a urbanização do Dique é um ótimo trabalho. Agora vamos ver, né? 2050? Ainda tem tempo, 25 anos. Vamos aguardar né?”
Fábio Duarte (PL): “Acredito que podemos ter tecnologias que poderão evitar essas enchentes e não podemos esperar essa probabilidade de 2050. A Vila Gilda é uma área que não deveria nem ter casas, não ter deixado invadir, porque ali é uma área de mangue, é uma área de preservação permanente, berço da vida marinha. O Dique é a maior favela em cima d’água do Brasil. Muita gente de lá, e posso falar porque morei exatamente ali, quer ficar em Santos. Só temos áreas disponíveis na parte continental, não temos outras áreas para explorar.”
Marcos Caseiro (PT) – “Já falei na Câmara sobre isso. É um equívoco o que estão fazendo, ocupar uma área que é de mangue, que historicamente alaga, não tem o menor sentido esse projeto. Você tem muitas áreas que poderiam ser utilizadas para a construção de prédios. Não adianta você construir uma moradia numa área de mangue. Isso não foi discutido amplamente com a população, é uma proposta muito equivocada.”
Débora Camilo (PSOL) – “E tem um outro agravante, que é o aterro do mangue. Porque há essa previsão também. A gente está falando de um local que precisa ser preservado, que precisa ser resgatado. A poluição naquele local tem impacto direto no nosso bioma. A gente precisa garantir que, após essa revitalização, as pessoas não sofram com os mesmos problemas que elas sempre tiveram. Então, o melhor é retirar essas pessoas de lá e que elas tenham a possibilidade de uma moradia digna. E o local que hoje, infelizmente, é degradado, a gente precisa conservar a natureza e fazer com que o mangue retome a sua vida.”
Cacá Teixeira (PSDB) – “Vai ser feito um tratamento naquele espaço,com estações elevatórias para que a maré não venha mais a atingir aquelas casas. É um projeto bem elaborado, que tem uma parceria com os governos do Estado e federal. Aquelas pessoas não querem sair do seu habitat, tanto que vai existir um bairro, o da Vila Gilda. Se não tiver boas condições ali, nós vamos ter problemas de saúde, as pessoas mais doentes estão concentradas naquela região. Eu acredito nesse projeto, que tem um estudo minucioso para que a subida da maré não prejudique. São irmãos nossos que moram ali na Zona Noroeste e que precisam ter maior atenção.”
Zequinha Teixeira (PP) - “Pelo o que eu vi do projeto, ele é maravilhoso, com essas estações elevatórias que vão fazer, 8 mais ou menos. Isso vai ser suficiente para não ter mais essas enchentes.O Dique da Vila Gilda é o pior lugar do Brasil para se morar.Quando eles tiverem uma moradia, preservem, porque é como os vereadores dizem: ser pobre não é ser porco”.
Adriano Catapreta (PSD) – “Esse problema de moradia é um problema muito sério que a gente enfrenta no mundo inteiro. E a gente vê
que, quando se tira a pessoa daquela área de ocupação e dá um apartamento pra ela, com pequenas parcelas pra pagar, geralmente essas famílias não têm condições de ficar nesse novo local, porque é longe do meio em que ela estava acostumada a viver. Porque ela tem que pagar, às vezes, água, luz, que ela não pagava naquela outra área. E a gente vê que ela abandona o apartamento e volta pra aquela área. Então, eu acho que foi bem assertiva essa decisão de fazer esse complexo, que vai ser muito bom, e vai conseguir conter esse problema do avanço da maré.”
Sérgio Santana (PL) – “Com certeza. Todo o valor que está sendo gasto lá naquela área, eu acho que deveria ser usado para revitalizar o Centro com novas moradias, dando uma condição melhor aos moradores. E depois precisaríamos revitalizar toda a região para evitar as inundações nos bairros como acontecem atualmente.”
Cláudia Alonso (Podemos) – “Eu não sou uma grande conhecedora destas questões. Eu sei que lá existe o mangue e que isso faz parte também daquela cultura. Não acredito que os técnicos da Prefeitura planejem algo que possa ser inseguro. Conheço muitas famílias que moram em condições absolutamente precárias e que estão enlouquecidas de alegria porque terão moradia digna. É uma situação extremamente delicada. Eu sei que eles
querem que lá seja um bairro. Quero crer que os profissionais da Prefeitura têm toda a competência técnica para construir algo seguro e digno.”
Rafael Pasquarelli (União Brasil)- “Eu trabalho há muito tempo na Zona Noroeste e vejo que as pessoas já estão acostumadas alí. O prefeito Rogério Santos vai mandar pra Câmara um projeto de lei para a transformação do Dique em bairro. As casas ficarão em cima do dique, mas com toda a infraestrutura. Então não vejo o porquê de tirar as famílias de lá, porque eles já estão acostumados ali. O Parque Palafitas é o projeto ideal pra gente urbanizar aquele local.”
Bispo Maurício Campos (Republicanos) – “A revitalização da Vila Gilda, a remoção das famílias, é para uma vida melhor. Eu entendo que tem que ser tomada alguma posição. A gente não pode ficar de braços cruzados, sem nenhuma saída. Eu acho que a Prefeitura está tentando melhorar, tentando ajudar, tentando achar uma saída.”
Adilson Jr (PP) – “Seria. O problema é fazer isso considerando que estamos em uma ilha, não temos áreas para construir. O Parque Palafitas é um projeto piloto para 30 e tantas moradias, no qual você mantém as pessoas no mesmo habitat, só que de uma forma humanizada, com saneamento básico e revertendo o mangue para que ele volte a ter a vida que ele tinha. É um projeto piloto , mas penso que é a tendência para o futuro.”
Adilson Jr (PP)
Adriano Catapreta (PSD)
Allison Sales (PL)
Benedito Furtado (PSB)
Cacá Teixeira (PSDB)
Chico Nogueira (PT)
Chita Menezes (PSB)
Cláudia Alonso (Podemos)
Débora Camilo (PSOL)
Fábio Duarte (PL)
Lincoln Reis (Podemos)
Maurício Campos (Republicanos)
Marcos Caseiro (PT)
Paulo Miyasiro (Republicanos)
Rafael Pasquarelli (União Brasil)
Renata Bravo (PSD)
Rui de Rosis (PL)
Sergio Santana (PL)
Zequinha Teixeira (PP)
As duas faces.
Empreender virou verbo da moda. Quem não tem desejo ou talento para colocar de pé a própria empresa, sente-se um tanto deslocado nesse mundo que hoje classifica profissionais pelo CNPJ. Empreender pode sim ser uma libertação, o mergulho em uma jornada sem patrão, sem horário, sem pressão por prazos e metas, o mito do “self made man”, em sua versão mais bem-acabada.
Mas no plano real não é bem assim que as coisas acontecem. Quem empreende tem que estar preparado para muitos desafios e alguns fracassos pelo meio do caminho. Tem que estar consciente da falta de uma retaguarda de conforto, que vem na esteira de benefícios como Fundo de Garantia, férias remuneradas e 13º salário. Em seu lado mais perverso, a fachada do empreendedorismo esconde trabalho precarizado e sem benefícios.
Estudantes do quarto ano de Jornalismo da Unisanta foram a campo para registrar as muitas faces do empreender e transformaram em matérias jornalísticas, histórias de vitória, superação e também de desamparo legal e jornadas excessivas, retrato de uma sociedade desigual e individualista.
Acompanhe os prós e contras do empreendedorismo nesta edição da revista Viral que encerra o ano letivo de 2024.
Os alunos do quarto ano, como parte do projeto da revista Viral, foram a campo explorar os pontos de convergência entre o Porto de Santos e a cidade, se aprofundando na complexidade desse território de transição tão importante para o funcionamento econômico e social de Santos.
A presença do porto na orla urbana ocorreu quase que acidentalmente, no contexto de emancipação do país, quando o Brasil transitava do Império para a República. Desde então, a cidade cresceu e o Porto ainda mais, transformando-se num dos maiores da América Latina.
Atualmente, com terminais privatizados e crescentes investimentos externos, a discussão sobre o limite e a integração entre o porto e a cidade é reacesa. Nesse contexto, os alunos investigaram a economia portuária, explorando o impacto dos cruzeiros e o turismo; as pessoas que dão vida ao porto; e as questões sociais e de memória, refletindo sobre a vida cotidiana e a identidade de Santos.