Olá, aluno(a) do Ensino Médio Técnico do Paraná. Seja bem-vindo(a) a mais uma lição da disciplina de Administração e Economia Rural 2. Já estamos na fase de conclusão da disciplina e, consequentemente, do seu curso técnico. Daqui a pouco, você estará totalmente apto(a) a começar a atuar nesta importante profissão pela qual optou. Sendo assim, nestas últimas lições, trago a você alguns temas mais aplicados ao seu dia a dia no exercício de sua profissão. Do mesmo modo, são temas de grau mais elevado de complexidade.
Na lição de hoje, recordaremos um importante instrumento que citamos anteriormente, mas que merece muito mais destaque em nossos estudos, por se tratar, talvez, do método mais utilizado envolvendo o mercado futuro agrícola: o hedge. Também veremos uma nova abordagem sobre nossa análise de investimentos, utilizando o que chamaremos de opções reais. Vem comigo aprender mais sobre estes assuntos!
Imagine-se em uma situação semelhante à que apresentarei: você trabalha como agricultor(a) e deseja vender sua produção de soja para obter dinheiro e investir em outra atividade específica. No entanto levará longos dias para que a safra esteja pronta à colheita, assim, leva mais tempo até que o pagamento seja depositado em sua conta. Esse período pode ser tão extenso que você corre o risco de perder uma importante oportunidade em outro setor.
Já discutimos algumas opções para lidar com esta situação, mas, hoje, nos concentraremos em uma abordagem que nos permite garantir um preço mínimo para a venda da nossa produção. Dessa forma, podemos honrar nosso compromisso de investimento em outra área sem limitar nossos ganhos. Parece quase mágico, não é?
Portanto, nesta lição de hoje, exploraremos como isso é possível e conheceremos a Teoria das Opções Reais, a qual altera a maneira como calculamos a viabilidade de projetos agropecuários que aprendemos no ano passado, no início de nossa disciplina. Vamos lá!
No case de hoje, contarei a história de seu Arnaldo, um produtor de soja: certo dia, após receber algumas informações sobre possíveis oscilações de preços para a próxima safra, seu Arnaldo entra em contato com você, Técnico(a) em Agronegócio, e marca uma reunião.
Chegando à fazenda dele, vocês conversam, fazem vários cálculos e chegam a um valor estimado para a soja no próximo período. No entanto, a fim de se proteger de possíveis falhas de previsão ou de eventos inesperados que possam levar à queda significativa nos preços futuros, seu Arnaldo decide realizar uma operação de hedge. Evitarei a utilização de fórmulas matemáticas, aqui, e focarei mais nos conceitos envolvidos.
Ao adquirir opções de futuros, seu Arnaldo fica com o direito de vender a soja a um valor específico e paga um prêmio representado pelo valor da opção de venda. Nesse cenário, existem duas possibilidades: a redução nos preços futuros ou o aumento.
Se os preços realmente caírem, seu Arnaldo executa sua opção e vende acima do preço de mercado, o que compensará o valor pago pelo contrato de opção, resultando, exatamente, no valor estabelecido anteriormente, ou seja, nosso personagem protege-se contra a queda de preços e alcança o resultado esperado.
Se os preços subirem, no entanto, ele simplesmente não exerce sua opção e vende a soja no mercado físico, mesmo tendo pagado o prêmio pela opção que não foi utilizada. Dessa forma, dependendo do tamanho do aumento, seu Arnaldo pode obter um lucro maior do que o prêmio pago, o que significa que ele ainda sairá ganhando. Em ambos os casos, seu Arnaldo ganha: ao exercer a opção e evitar perdas com a queda de preços ou ao não a exercer e vender no mercado físico, caso o preço suba.
Como você já deve imaginar, seu Arnaldo é um personagem fictício, mas a situação apresentada neste case ocorre com muita frequência entre os agricultores. Dessa forma, compreender as operações que possibilitam a venda enquanto o produto ainda está plantado é de extrema importância para você, futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio.
Bom, já vimos, em nossas lições, que podemos utilizar do mercado futuro para balancear nossas operações e incertezas quanto aos caminhos os quais as variáveis em questão — sobretudo os preços — reagirão às mais diversas situações possíveis de ocorrer na economia. Para isso, um importante mecanismo que conhecemos recentemente em nossos estudos foi o que denominamos hedge, o qual dedicarei a explorar na primeira parte de nossa lição de hoje.
Definindo hedge, podemos dizer que é um mecanismo de atuação que nos permite:
Limitar nossas perdas, derivadas a quedas de preço dos produtos.
Não limitar nossos ganhos, devido a não obrigação de execução de nossas opções.
Acontece que, para uma operação no mercado futuro ser dita como hedge, torna-se necessário que ela seja antecedida, ou seguida, por outra com a mesma mercadoria (sobretudo commodities, que você lembra termos aprendidos sobre elas no ano passado. Elas são, por exemplo, soja, milho, petróleo, entre outros). Isso porque é como se apostássemos contra o mercado. Se achamos que o produto cairá de preço no mercado físico, então adquirimos contratos futuros para compensar essa queda, nos garantindo preços mínimos estabelecidos. Se apostarmos contra as altas no preço de compra de insumos, adquirimos opções de compra a preços máximos suportados em nossas escolhas.
É claro que isso deve ser muito bem analisado, pois, como vimos em nossas lições, para que haja uma compra, deve existir uma venda, ou seja, se estou apostando em altas dos preços, também estará mais caro o prêmio a ser pago pelo direito de compra a valores relativamente menores, e assim por diante, pois os mercados possuem a tendência de convergir a um preço em comum, de forma que quanto mais nos aproximamos da data de execução ou não desse contrato, os preços também se aproximam, no mercado físico e futuro.
Formalmente, a palavra hedge, ou ainda, quem a executa, chamado de hedger, vem do inglês to hedge, e pode ser definido como aquele que procura proteção. É exatamente isso que os agentes que utilizam desta opção estão procurando: proteger-se das oscilações de preços, fazendo a gestão de riscos e prevendo, assim, com mais assertividade, seus fluxos financeiros futuros.
Os principais agentes que procuram esta ferramenta são:
Produtores rurais.
Cooperativas, comerciantes, armazéns.
Fabricantes de rações e processadores de alimentos, frigoríficos.
Empresas que fazem operações de barter (troca de insumos por produto): defensivos, tratores etc.
Exportadores, importadores.
Como os mercados tendem a se igualar na data do vencimento, administrar seus preços torna-se uma atividade constante e obrigatória. Nesse mercado, existem duas opções de liquidação do contrato quando do vencimento: por entrega e por liquidação financeira.
Normalmente, os produtores compram insumos (terra, mão de obra, capital), utilizam sua capacidade produtiva e entregam o produto. Já uma indústria de ração, por exemplo, pode vender contratos de ração para entrega futura, sendo que, para garantir seus custos baixos, adquire opções de compra no mercado futuro.
Resumindo: assume-se uma posição no mercado futuro contrária a do mercado físico. Se a intenção é proteção contra queda de preço, faz-se um hedge de venda, garantindo a venda pelo preço mínimo aceito, se a intenção é proteção contra alta nos preços, então, faz-se um hedge de compra, garantindo a compra ao preço máximo aceito. Se o preço do mercado físico for maior do que a opção de venda, não se executa a opção e executa-se a venda no mercado físico. Caso o preço dos insumos esteja abaixo do valor da opção de compra, então, da mesma maneira, não se executa a opção e recorre-se ao mercado físico.
Vamos a um exemplo para compreender melhor? Imagine que João é produtor de soja e está começando a plantar as sementes no solo. A análise realizada por ele e sua equipe aponta que, no mercado futuro, a previsão de venda da saca de soja será de aproximadamente R$ 125,00 (valor hipotético), isto é, valor menor do que o praticado no momento, que é de R$ 137,00 (valor hipotético). Dessa forma, para garantir lucros à sua plantação, João faz um hedge de venda, em que a saca de soja será vendida na data futura a R$ 137,00 e, assim, garante a venda pelo mínimo aceito.
Perceba que, neste caso, tudo que aprendemos em nossas lições, sobretudo nas do ano passado, se torna questionável ao incluir o mercado futuro. Ou seja, nossa análise de viabilidade econômica de projetos agropecuários pode ser melhorada ainda mais com os conhecimentos que, agora, você possui, nesse momento.
Agora, apresento a você uma nova teoria: a Teoria das Opções Reais (TOR). É sobre ela discorreremos nesta segunda etapa de nossa lição de hoje! Inicio apresentando a você a evidência de alguns autores que aprimoraram as técnicas de análises, ao incluírem os mercados futuros na análise de viabilidade de projetos.
Os autores Trigeorgis e Mason (1987), há muito tempo, já nos mostravam que a aplicação da Teoria de Opções à análise de projetos poderia ser feita, de maneira prática e objetiva, numa série de situações nas quais a flexibilidade gerencial estava presente. Isso porque, se pensarmos em um projeto executado por etapas, normalmente, uma etapa somente será realmente executada pela empresa se a anterior deu resultados positivos e conforme o esperado. Neste caso, podemos entender a própria execução dessa atividade como algo que pode ou não ser executado, ou seja, que tem a opção de ser executada, mas não sua garantia, como previmos, até agora, em nossas análises.
Neste caso, segundo os autores Trigeorgis e Mason (1987), é possível que aceitemos um projeto com valor de VPL (Valor Presente Líquido) negativo, o que jamais faria sentido em uma abordagem tradicional. Esta situação ocorre porque consideramos a existência de uma opção que pode anular ou, até mesmo, superar esse valor negativo. Assim, os autores propuseram uma adequação do VPL considerando essa opção somada, o que chamaram de VPL expandido, mas não pretendo me aprofundar a esse nível, aqui, nesse momento de nossos estudos.
Outro ponto em relação à utilização dessa teoria é que fatores como: grande incerteza, altas taxas de juros e horizonte de investimento de longo prazo, não são fatores que, necessariamente, inviabilizam um projeto, novamente, porque podemos compensá-los pelo prêmio de opção proporcionado. Sendo assim, utilizando dessa teoria, torna-se possível adequarmos nossas análises ao permitir que os riscos inerentes ao agronegócio possam ser administrados e minimizados ao flexibilizar as atuações gerenciais e a utilização de mecanismos de proteção proporcionados pelos mercados futuros (NARDELLI; MACEDO, 2011).
Sendo assim, dois grandes problemas encontrados na elaboração de um projeto, que são a queda de preços de venda dos produtos e a elevação dos custos de aquisição dos insumos, podem ser reduzidos ou até eliminados com os mecanismos apresentados na lição de hoje, sobretudo com operações de hedge, e incorporá-las a nossas análises é exatamente o foco da Teoria das Opções Reais.
Quem define bem esta observação dos negócios como estágios ou opções é Myers (1987). Para ele, desde aquela época, considerar que os estágios de um projeto seriam sempre executados, mesmo que os anteriores não dessem resultado, como prevê a utilização do VPL tradicional, não era algo correto de ser suposto. Pelo contrário, para que o projeto continuasse em execução, deveriam ser refeitas, ao final de cada etapa, as projeções das etapas faltantes, já ajustadas às diferenças entre o planejamento inicial e a execução dada até o momento da análise.
Outra crítica à utilização do VPL tradicional é que considerar a TMA – Taxa Mínima de Atratividade fixa e conhecida, também é questionável, porque existem diferentes investimentos ao longo do tempo e pode ser alterado além do idealizado no projeto, para que se fizesse a comparação, o valor dessa que foi vista, em um primeiro momento, como a melhor opção de investimentos. Isso seria possível possibilitando a flexibilidade gerencial defendida pelos autores.
Sendo assim, a flexibilização dessas hipóteses fundamentais dos métodos tradicionais leva à nossa demonstração, na lição de hoje, sobre a existência destes ajustes possíveis quando da sua utilização, aluno(a), em sua rotina diária futura, e não apenas a execução cega do projeto de viabilidade econômica aprendido em momentos iniciais do curso.
Bom, na lição de hoje, espero que tenha sido possível você entender um pouco mais sobre as operações de hedge e como ele pode ser utilizado em seu dia a dia para garantir a estabilidade, ou ainda, a previsibilidade de preços ou margens de oscilação pequenas.
Além disso, foi possível verificar a importância de entender sobre opções reais e de se lembrar, sempre, de incluir, em nossas análises de viabilidade econômica de projetos, as possibilidades encontradas pela utilização dos mercados futuros.
Como se tratou de uma lição mais conceitual, deixo, aqui, como sugestão de aplicação, apenas a leitura da lição novamente, e que você busque anotar eventuais situações ou assuntos que te chamem mais a atenção, para pesquisar e aprender mais sobre eles. Você e seus colegas de sala podem discutir sobre as situações que se destacaram!
MYERS, S. C. Finance Theory and Financial Strategy. Midland Corporate Finance Journal, [s. l.], v. 5, n. 1, p. 6-13, 1987.
NARDELLI, P. M.; MACEDO, M. A. da S. Análise de um projeto agroindustrial utilizando a Teoria de Opções Reais: a opção de adiamento. Revista de Economia e Sociologia Rural, [s. l.], v. 49, n. 4, p. 941-966, 2011.
TRIGEORGIS, L.; MASON, S. P. Valuing Managerial Flexibility. Midland Corporate Finance Journal, [s. l.], v. 5, n. 1, p. 14-21, 1987.