Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) a mais uma lição da disciplina de Administração e Economia Rural II do curso Técnico em Agronegócio. No dia de hoje, abordaremos os tipos de risco existentes e quais deles se aplicam ao agronegócio.
Já vimos muito em nossas lições, até o momento, a importância do setor rural para a economia bem como a sua grande exposição a fatores de risco. Sendo assim, torna-se necessário identificar os principais riscos existentes nesse setor, com o objetivo de minimizar ou eliminar as situações que causam esse risco. Também se torna necessário tentar classificá-los de acordo com os seus tipos e incidência.
Venha comigo conhecer um pouquinho mais esses riscos e como podemos melhor administrá-los.
Bem, como já disse a você, o setor rural está exposto a vários riscos. Imagine você acabar de plantar determinada cultura e não receber a quantidade necessária de chuva para a germinação ou, ao contrário, você decide colher uma safra, e as condições climáticas não são favoráveis naquela janela de tempo, sendo assim, boa parte da sua produção pode vir a se perder.
Da mesma maneira, imagine, agora, que você fez o seu planejamento financeiro baseado numa projeção de receitas e custos futuros que não se concretiza. Isso pode levar a situações de insustentabilidade econômica da empresa ou, até mesmo, pessoal.
Você, provavelmente, está se lembrando que vimos situações parecidas em nossas lições e as denominamos análise de sensibilidade. Esta, com certeza, já reflete uma série de fatores de risco existentes, quer seja num projeto agropecuário, quer seja no próprio agronegócio como um todo. Mas digo a você que conheceremos vários outros tipos de riscos na lição de hoje.
Bom, no estudo de caso de hoje, trago a você uma situação real: logo no início do ano de 2020, as empresas ou um produtor rural ou Técnico em Agronegócio projetavam determinado cenário para o ano de 2020 como um todo. Nas projeções de janeiro ou fevereiro, um exemplo de fator de risco existente era a existência de algum evento de grandes proporções globais que pudesse afetar as demandas pelos produtos estipuladas, no entanto sua previsão de acontecimentos era muito baixa, frente ao histórico observado até o momento.
Em meados de março desse mesmo ano, aconteceu o que, provavelmente, você deve se lembrar, que foi chamado de pandemia da Covid-19 ou do Coronavírus. Sem entrar muito em detalhes quanto às características técnicas ou sanitárias dessa situação ou época, nem nos diversos efeitos irreversíveis que a pandemia causou, imagine esse cenário apenas pelo lado da realização ou não das demandas projetadas pelas firmas ou produtores rurais.
É claro que houve uma série de fatores na previsão realizada no mês de janeiro ou fevereiro, mas, talvez, a quantidade de questões ou efeitos de mudanças sanitárias, provavelmente, não foi considerada, pelo menos, não nessa magnitude. Isso deixa claro que, embora existam vários fatores de risco, a nossa previsão sempre estará condicionada às nossas expectativas sobre a aparição ou a amplitude desses fatores.
Além da alteração da demanda causada pela pandemia, ocorreram diversos efeitos pelo lado da oferta, inclusive com a alta do preço dos fertilizantes, o que já representa mais um fator de risco. A dependência internacional de insumos básicos mostrou-se mais clara ainda quando, pouco tempo depois, outro evento de proporções internacionais, que ficou conhecido como a guerra Rússia-Ucrânia, afetou novamente esses valores.
Em relação à guerra, apenas deixo aqui como um exemplo, não me alongando muito nesse assunto. Espero que você tenha conseguido visualizar, um pouco, como esse setor é arriscado e como podemos nos proteger, pelo menos parcialmente, desses riscos aos quais estamos expostos.
Bom, primeiramente, antes de falar dos riscos incidentes sobre o agronegócio, torna-se necessário definir a própria palavra “risco”. No sentido analisado na lição de hoje, podemos defini-lo, no setor do agronegócio, como qualquer evento incerto que possa causar oscilações de produção ou preço. O que muda nesse processo é a probabilidade de concretização desses riscos, sua ocorrência. Em se tratando do agronegócio, a lista relacionada a eles é extensa, mas direi a você, na lição de hoje, os principais riscos ou os seus grupos mais comuns ou com mais incidência.
Esses fatores de riscos podem vir de diversas fontes, como: fatores sistêmicos, climáticos, de mercado ou, até mesmo, liquidez. Há também os riscos ambientais, os quais ganharam bastante atenção nas últimas décadas, inclusive sendo considerados por outros países uma condição necessária para realizar ou não a importação brasileira.
Sem falar nos riscos à saúde pelo uso de agrotóxico, não apenas em relação aos efeitos de curto prazo com alimentos contaminados e externalidades de defensivos, ao transbordarem para as propriedades vizinhas, mas também em relação ao desenvolvimento de doenças e de questões sanitárias em longo prazo.
Considerando esses elevados riscos, é necessário que se desenvolva a gestão de risco, considerando algumas etapas essenciais em sua concepção, como identificação, classificação, avaliação, tratamento e monitoramento dos riscos:
Na primeira fase, a de identificação, é fundamental que o gestor de risco identifique todos os possíveis fatores de risco associados ao negócio, para depois organizá-los de acordo com o grau de incerteza.
Na segunda fase, a de classificação, os riscos já foram identificados, agora, é possível avaliar seus principais impactos no setor e pensar em soluções para cada um deles.
Na terceira fase, a de avaliação, é a etapa que identifica como cada risco impacta o negócio, priorizando, assim, mais esforços aos riscos com maior probabilidade de incidência ou prejuízo ao negócio. Algumas ferramentas ajudam nesse processo.
Na quarta e última fase, a de tratamento e monitoramento dos riscos, já com as prioridades estabelecidas, faz-se a gestão de riscos e calculam-se os custos e impactos de cada um deles. Dessa forma, é escolhido o gerenciamento de maior impacto e menor custo ao negócio.
Para o agronegócio, é possível caracterizar os principais custos, nas seguintes categorias: operacionais, agronômicos, de mercado, financeiros, ambientais e institucionais.
Estão ligados ao processo de produção e gestão da empresa. Por exemplo: falhas no plantio, acidentes de trabalho, problemas nas máquinas e equipamentos, entre outros.
Trata-se de eventos biológicos e físicos que impactam o cultivo e a produtividade das lavouras. Exemplos seriam secas extremas, granizo ou pragas.
Refletem as flutuações de preços, custos e receitas, taxa de juros e taxa de câmbio.
Estão muito atrelados ao risco de mercado, podendo incluir, ainda, dívidas da empresa ou sua facilidade de obter crédito e liquidez.
Possuem relação com as ações e metas estipuladas internacionalmente sobre questões relacionadas a desmatamento, diminuição de carbono no plantio e uso de agrotóxicos .
Estão relacionados às legislações, políticas fiscais e tributárias, normas de saúde ou adequação aos padrões da empresa.
Portanto, fica claro que a gestão dos riscos envolvidos no agronegócio é complexa, mas necessária tanto para minimizar esses riscos ou eliminá-los quanto para entendê-los e se preparar em relação a eles.
Os autores Schouchana, Sheng e Decotelli (2013) classificam em três os grupos de riscos enfrentados pelo produtor rural diariamente, sendo eles:
Os riscos inerentes ao próprio negócio, por exemplo, as condições edafoclimáticas e seus efeitos, como: geada, seca, chuva em excesso.
Desequilíbrio entre oferta e demanda, afetando diretamente o mecanismo de preços.
Riscos que afetam a todos de alguma maneira, como: taxa de juros ou o câmbio .
Sendo assim, o produtor está exposto aos mais diversos tipos de riscos, constantemente. Por exemplo, não consegue nem definir nem projetar, com segurança, o preço da sua produção a ser vendida. Acontece que existem maneiras de se proteger, mas isso é assunto da próxima lição.
Ainda sobre a classificação de riscos inerentes ao agronegócio, Moreira (2009) diz que os riscos são classificados em:
Riscos de produção.
Riscos de mercado.
Riscos institucionais.
Riscos financeiros.
Moreira (2009) afirma que o agronegócio — sobretudo a agricultura — está sujeito a alguns riscos incontroláveis, por exemplo, o clima, as doenças, as pragas e os desastres naturais. Esses riscos são classificados pelo autor como riscos de produção. Se pensarmos no clima, por exemplo, são várias as ocorrências que podem acontecer, como: chuvas excessivas, longos períodos de seca, granizo e mudanças bruscas de temperatura, com possibilidade de levar a geadas, no caso de temperaturas muito baixas.
Como alternativa para lidar com esses riscos, a tecnologia de produção é uma das principais aliadas, pois é por meio dela que se desenvolvem novas variedades de sementes e técnicas de plantio bem como medicamentos e técnicas de nutrição para pecuária. É com auxílio dessas tecnologias que são pensadas alternativas voltadas a melhorar a eficiência da produção e, também, a resistência aos eventos naturais indesejáveis. Outra possibilidade de alternativa para lidar com esses riscos é a contratação de seguros, porém, em nosso país, essa opção ainda não é muito utilizada devido ao alto custo (MOREIRA, 2009).
Em relação aos riscos de mercado, Moreira (2009) diz que são constituídos, em sua maior parte, por variações de preços de venda dos produtos, dos insumos necessários à produção e de seus níveis de demanda. Geralmente, são custos difíceis de prever e que ocorrem após a realização do investimento do produtor para o plantio. Essas variações de oferta e demanda ou, ainda, de alterações conjunturais, seja em âmbito nacional, seja em âmbito internacional, afetam diretamente a rentabilidade obtida pelo produtor, seja pela elevação de preços dos insumos, seja pela redução do preço de venda dos produtos.
Como alternativas para minimizar esses riscos de mercado, tem-se o que será assunto de lições futuras: os denominados hedge, os quais utilizam mercados futuros e contratos de opções. Além disso, tomamos todas as informações disponíveis no mercado para elaboração de planejamentos, diversificação do produto e do mercado de vendas (MOREIRA, 2009).
De acordo com Moreira (2009), outro grupo de custos importante é o que representa mudanças nas legislações, normas sanitárias, restrições ambientais, disponibilidade de crédito subsidiado, políticas fiscais, tarifárias e de juros. São os riscos institucionais, os quais afetam a rentabilidade do produtor por meio de alterações das regras do uso de pesticidas e de medicamentos para animais, pois atuam diretamente nos custos de produção das referidas atividades. Além disso, a colocação ou o controle de barreiras fiscais ou a taxação e as cotas de importação podem afetar os preços bem como a demanda dos produtos e, consequentemente, dificultar a comercialização ou aceitação dos consumidores.
Por último, Moreira (2009) afirma que existem, ainda, os custos financeiros, que tratam do custo do capital necessário para investimento bem como aos demais empreendimentos. Fatores como oscilações nas taxas de juros dos empréstimos e baixa liquidez para arcar com os compromissos financeiros apresentam as principais fontes desse grupo de riscos.
Acho que ficou claro a você alguns dos principais riscos de acordo com a literatura apresentada e o que fazer para mitigá-los, ou reduzi-los. Espero que tenha gostado, pois, nas próximas lições, continuaremos a tratar dessa mesma temática.
Com os conhecimentos abordados na lição de hoje, espero que você tenha conseguido entender que o setor rural possui grande exposição aos mais diversos tipos de riscos. A pergunta que, talvez, ficou em sua mente, é: será que a intenção do professor é desincentivar o trabalho nesse setor?
A minha resposta é simples: é claro que não! O intuito é deixar você, futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, o(a) mais preparado possível para adentrar esse setor e deixá-lo(a) pronto para lidar com os mais diversos tipos de risco e, principalmente, saber reagir frente a cada um deles, tendo capacidade de, inclusive, minimizá-los ou, até mesmo, eliminá-los, em algumas situações.
Como sugestão de aplicação desta lição de hoje, deixo para você o desafio de tentar aplicar esse olhar sobre os fatores de riscos que você, sua família ou algum conhecido encontrar ou, até mesmo, aplique em casos pesquisados na internet. Escolha um setor — se possível, que você ou sua família tenha conhecimento — e tente classificá-lo quanto aos riscos expostos, encontrando os fatores que poderiam representar um risco ou não à atividade agrícola desenvolvida.
É claro que, como se trata de uma lição introdutória ao assunto, suas ações estão limitadas nesse momento, mas te digo que, nas próximas lições, você aprenderá mais sobre os mecanismos que contribuem para reduzir esses riscos ou se proteger totalmente deles.
Espero que você tenha gostado do assunto e te espero na próxima lição. Até mais!
MOREIRA, V. R. Gestão dos Riscos do Agronegócio no Contexto Cooperativista. 2009. 208 f. Tese (Doutorado em Administração) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2009.
SCHOUCHANA, F.; SHENG, H. H.; DECOTELLI, C. A. Gestão de Riscos no Agronegócio: mercados futuros, opções e swaps. Rio de Janeiro: FGV, 2013.