LIÇÃO 1: O papel do controle
nas organizações
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Olá, estudante! Seja bem-vindo a mais uma disciplina do Curso Técnico em Agronegócio. Primeiramente, quero parabenizar-lhe por estar cursando o segundo ano deste curso e, portanto, já ter absorvido uma série de novos conteúdos importantíssimos para o seu desenvolvimento pessoal e, principalmente, profissional.
Esta disciplina é uma continuação da que você cursou em seu primeiro ano: Administração e Economia Rural. Nela, foram vistos vários conceitos, fórmulas, assuntos, com o propósito de formar uma caixa de ferramentas de análises úteis para as tomadas de decisões. Ao longo desta lição, e da disciplina de maneira geral, vários temas serão lembrados, bem como serão introduzidas novas ferramentas, para que possamos seguir juntos nesta construção coletiva de conhecimento.
Nesta lição, o objetivo principal será o de demonstrar o papel do controle sobre a tomada de decisão nas organizações, principais impactos ou vantagens possíveis. Para tanto, será necessário demonstrar quais são os principais elementos do controle, bem como sua inserção na tomada de decisão ou reconhecimento por parte dos participantes do processo.
Ao final desta lição, você estará apto a entender o papel do controle na vida das pessoas, nas atividades econômicas e empresariais, bem como poderá compreender os mecanismos utilizados para que esse controle seja efetivo. Também saberá como se comportar frente às mais diversas situações relacionadas à gerência, execução ou participação em um projeto ou empreendimento. Vamos lá?
Você pode estar se perguntando por que desenvolver uma lição “apenas” sobre controle. Bom, talvez isso já seja fruto do próprio controle que a sociedade como um todo tem sobre nossas vidas. Como assim, professor?
Não estou querendo levantar nenhuma teoria da conspiração ou algo assim, mas vivemos em um mundo em que toda ação gera uma consequência. Já diziam isso para gente nas aulas de física com nosso querido Newton e suas leis. Mas o que eu quero dizer a você é que, se sabemos que nossas ações refletirão em consequências, então devemos sempre analisar a situação e decidir da maneira mais assertiva possível qual ação tomar.
Dito isso, se soubermos que as pessoas preveem os resultados de suas ações e, a partir dessas previsões, elas decidem qual será sua maneira de agir, hoje, talvez, os incentivos que recebemos no presente e as ações que tomamos sem premeditar sejam fruto das intenções de outras pessoas, que estão no controle da situação.
Não entenda isso como algo ruim. Eu te convido a entender um pouco mais sobre esse controle, e passar para o outro lado da situação: o de assumir suas decisões, e até influenciar outras pessoas, por meio de ações premeditadas, conscientes e assertivas para o alcance do domínio sobre as circunstâncias da vida e daquilo que nos rodeia.
Imagine a seguinte situação: seu Arnaldo sempre trabalhou em uma empresa de tecidos em seu município e procurou ser um ótimo funcionário, respondia sempre aos comandos de seus superiores quando solicitado, empregava sempre muito boa vontade e dedicação ao seguir as ordens e pedidos. Pelo seu ótimo comportamento e excelência no trabalho, vivia ganhando prêmios, como funcionário do mês, entre outras bonificações.
Certa vez, ele chegou ao seu trabalho e encontrou uma mensagem colada no mural de notícias da empresa referente a uma vaga de emprego como coordenador financeiro. Ao analisar a oportunidade, avaliou o potencial de atuação nesse importante cargo, como salário mais elevado, vários benefícios, carro da empresa à sua disposição, horário reduzido, sala individual junto à Diretoria, maior status e até um plano de carreira promissor. Começa então a desenvolver várias ideias de possíveis boas práticas e resolve se candidatar à vaga.
Bom, seus superiores, após entrevista, consideram conceder essa oportunidade a seu Arnaldo. Então, após alguns dias, ele assume o cargo administrativo. Logo ao assumir, surgem os primeiros desafios: como administrar os gastos com cada atividade; como manter os funcionários motivados, coordenando os custos envolvidos no processo; e demais atividades exigidas pelo cargo.
É nesse momento que, além de várias de suas percepções sob esse novo olhar, ele percebe que seu comportamento de bom funcionário, que parecia ser algo tão natural e pessoal, talvez tivesse sido fortemente induzido por essas bonificações financeiras, por recompensas que, ainda que não percebidas tão claramente, moldavam ou influenciavam seu comportamento.
Nesse momento, seu Arnaldo começa não a renegar tais atitudes tomadas por seu antigo coordenador, mas sim, a potencializá-las para que o comportamento, que ele tinha enquanto funcionário operacional, torne-se uma meta para todos os funcionários da empresa. Com base nesse exemplo, você consegue perceber como o papel do controle bem direcionado não implica necessariamente em algo ruim ou que abale a liberdade pessoal das pessoas?
O controle pode ser algo percebido ou algo que passa sem ser notado aos nossos olhos. Mas afinal, o que significa a palavra controle? Qual a sua origem? Os primeiros relatos sobre estudos em que o controle passou a ser de fato observado foram os relacionados a experimentos físicos, químicos, matemáticos, nos quais ao se conseguir prever um determinado padrão de comportamento, podia-se então controlar as circunstâncias que o originaram e, assim, tentar replicá-lo. Segundo Florentino (1988), como esses fatores estão ligados a esse tipo de área, o experimento pode ser concretizado de forma mais fácil, devido a sua previsibilidade, ou seja, no experimento, podia-se ter o controle do que ocorria em determinada situação.
Isso já não acontece quando se observa a interação humana, principalmente, pela capacidade de pensamento, emoções, sentimentos e falibilidade (possibilidade de errar) do ser humano. É como se o homem “viesse de fábrica” com alguns defeitos, como, por exemplo: comportamentos que desviem os resultados para benefícios próprios, também conhecidos como fraudes; cansaço físico e mental, que provocam a inabilidade de execução de um determinado comportamento, por conta da perda da capacidade de raciocínio; e também certa propensão a atuar de maneira desorganizada, o que impacta, de maneira direta e negativa, na previsibilidade, no próprio controle da situação ou dos seus resultados e ações (FLORENTINO, 1988).
Por isso, muitas funções de nossa vida estão sendo automatizadas. Desde um controle remoto até um despertador que se conecta à determinada estação de rádio, ou ainda aplicativos e programas de computadores. Assim, temos uma infinidade de ações e objetos à nossa volta que estão sendo controlados por sua própria tecnologia.
É essa capacidade das máquinas e equipamentos saberem se controlar sozinhos por meio de sistemas de aprendizagem automáticos e retroalimentados que vemos, cada vez mais em alta, assuntos, como: artificial inteligence, machine learning, deep learning, entre outros, termos que, em português, significam inteligência artificial, aprendizado de máquina e aprendizado profundo. Mas isso seria uma conversa para outra hora, em momento mais oportuno.
Cabe aqui apenas citar que não é próprio apenas do ser humano tal capacidade de controlar situações, visto que isso pode ocorrer até mesmo com os animais e as máquinas. Mas é nos seres humanos que focaremos. Veremos como o papel e influência das decisões e capacidade de controle humano determinam o sucesso ou fracasso dentro das organizações.
Segundo Chiavenato (2000), a administração é composta por diferentes áreas, como planejamento, organização, direção e controle de todas as atividades que fazem parte de uma instituição. Sendo assim, ao se estudar os aspectos referentes às organizações devemos obrigatoriamente passar por todas essas áreas da administração. Mas, nesta unidade, nosso foco continua sendo o de uma etapa específica: o controle.
Ao longo da História, o papel do controle na vida das pessoas passou por várias etapas. Na fase ainda de escravidão, o senhor feudal ou de engenho tinha total controle sobre seus criados. Depois na fase de liberdade civil, com unidades domésticas de produção e serviços artesanais, oficinas caseiras passaram a ser perdidas. Porém com a industrialização, os proprietários das fábricas conseguiram colocar muitos trabalhadores em um único espaço e controlar seu serviço bem como suas ações. A mecanização do trabalho ocorrida nesse período permitiu a divisão e simplificação do trabalho, possibilitando, assim, que tarefas fossem feitas de forma automatizada e sem a necessidade de qualificações, elevando, portanto, exponencialmente, a facilidade de controle (CHIAVENATO, 2000).
Em sua definição de controle, Chiavenato (2000) conta sobre a origem da palavra cibernética, cuja definição mais antiga remete ao ato de pilotar barcos, que, ao longo do tempo, passou a ser interpretada de diferentes formas, de modo que, nos dias atuais, relaciona-se com o processo de governar algo, seja um navio, um estado ou até mesmo outros homens. Pode parecer estranho aos ouvidos, mas, assim como já vimos em lições anteriores, quer seja na disciplina de Administração e Economia Rural, quer seja na de Associativismo e Cooperativismo, o advento do dinheiro possibilitou tal proeza. Seja por dependência financeira, ou por algum outro tipo de conexão, como, por exemplo, respeito, obediência, relação parental ou hierárquica, sabemos que, em muitos momentos, somos governados, ou controlados, por outras pessoas ou agentes.
A função controle, segundo Silva (2002), faz-se presente nos mais diversos níveis de organizações e atua em seus processos. Essa responsabilidade fica geralmente nos postos de comando sendo que quanto mais alto o cargo, maior ela também se demonstra. De acordo com a literatura, a função pode se dividir entre as seguintes fases mais comuns:
Estabelecimento de padrão de desempenho esperado.
Avaliação da execução do processo controlado.
Comparação do resultado da execução com o padrão esperado.
Implementação de ações de correção, quando necessárias.
Todas as funções da administração (planejamento, organização, direção e controle) devem ser observadas em uma instituição, sendo que o controle talvez seja a de maior necessidade ao longo do ciclo de produção como um todo. Silva (2013, p. 10) define o controle como a “função que se encarrega de comparar o desempenho atual com os padrões predeterminados, isto é, o planejado.” Dessa forma, o que se tem aqui é algo próximo do que estudamos em avaliação econômica, mas ao invés de virmos os fluxos financeiros, olhamos mais atentamente ao processo de produção e às condições do empreendimento analisado.
Ao comentar a respeito das definições de cada uma dessas funções, Silva (2013) define o controle como sendo capaz de:
medir o desempenho dos empregados;
estabelecer comparação do desempenho com o padrão;
tomar ações necessárias para a melhoria do desempenho da organização.
Esse controle observado pode ser sobre recursos distintos, e podem ser agrupados nos seguintes grupos:
Humanos;
Financeiros;
Materiais;
Informação;
Tecnologia.
Ou ainda podem ser considerados enquanto o tipo como: controle contábil, controle de estoques, controle de custos, entre outros. Em relação aos níveis de controle, tem-se uma diferenciação em relação à organização que se analisa. Se for relacionado à administração pública, esses níveis são bem mais complexos, envolvendo, segundo Batista (2021, p. 196), algumas fases e seus desdobramentos:
a) quanto ao aspecto em que incide: 1) controle da legalidade, visando à legalidade em geral ou à legalidade contábil-financeira; 2) controle de mérito; 3) controle da “boa administração” (eficiência, produtividade, gestão);
b) quanto ao momento em que se exerce: 1) controle prévio, por realizar-se antes da eficácia da medida ou decisão; 2) controle concomitante, que se efetua durante a realização da medida ou ato; 3) controle sucessivo ou a posteriori, realizado após a edição do ato ou adoção da medida;
c) quanto à amplitude: 1) controle de ato, por incidir sobre atos específicos, considerados isoladamente; 2) controle de atividade, por abranger um conjunto de atuações;
d) quanto ao modo de se desencadear: 1) controle de ofício, por iniciativa do próprio agente; 2) controle por provocação, quando pessoas, entidades, associações, solicitam a atuação do agente controlador; 3) controle compulsório, que se realiza necessariamente no momento oportuno, em atendimento a normas que o disciplinam (BATISTA, 2021, p. 196).
Agora que você já aprendeu sobre a importância do controle sobre as suas ações e a influência que recebemos diariamente das decisões e ações de outras pessoas, que moldam nosso comportamento, que tal pensar um pouco mais antes de agir, nas mais diversas situações?
Sabendo desse potencial enorme de controle que temos sobre as situações que nos envolvem, e nosso papel como agentes transformadores do meio em que vivemos, que tal observarmos as dificuldades das pessoas que nos cercam, das empresas em que iremos atuar ao longo da vida e sermos a mudança que queremos no mundo em que habitamos?
Pense nas situações que você passa a cada dia e responda a seguinte pergunta: eu estou no controle dessa situação, ou estou sendo controlado pelas ações de outras pessoas?
Bom, temos duas possíveis respostas para esse questionamento. Se estou no controle, então o que posso fazer para que a minha influência sobre as pessoas, empresas ou comunidade seja a mais positiva possível? Se estou sendo controlado ou guiado pelas ações de outra pessoa, qual é a intenção dela, qual o meu papel nesse processo e como posso colaborar para que essa decisão reflita em ganhos para todos?
Seja qual for sua resposta lembre-se: para controlar uma situação, preciso saber o máximo sobre ela. Obtenha as mais diversas informações e contribua com a sua parte na situação.
BATISTA, N. C. Controle da administração pública no estado de direito. Revista Internacional de Direito Público, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 191-210, jul./dez. 2021. Disponível em: https://journal.nuped.com.br/index.php/ridp/article/view/779. Acesso em: 3 nov. 2022.
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
FLORENTINO, A. M. Auditoria contábil. 5. ed. São Paulo: FGV, 1988.
SILVA, P. G. K. O papel do controle interno na administração pública. ConTexto, Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 1-16, jan./jun. 2002. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/index.php/ConTexto/article/view/11555. Acesso em: 3 nov. 2022.
SILVA, R. O. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2013.