Olá, caro(a) aluno(a) do Ensino Médio. Seja bem-vindo(a) a mais uma lição da disciplina de Administração e Economia Rural 2, do curso Técnico em Agronegócio. Na lição de hoje, aprenderemos sobre os tipos de mercado derivativos, como eles são classificados e quais são os participantes desse tipo de mercado. Lembre-se que, na última lição, falamos sobre os riscos existentes nesse setor, no agronegócio, e o mercado derivativo entra como possibilidade de mitigar, ou reduzir, e, até mesmo, eliminar alguns desses riscos. Esse assunto nos acompanhará até o final da disciplina, que termina neste ano.
Entenderemos um pouco mais não apenas sobre o mercado físico no momento presente, mas também o que denominamos de mercado futuro e outros tipos de operações como os que começaremos a aprender aqui, a partir desta lição. Venha comigo entender um pouco mais sobre o que é esse tipo de mercado, o que são derivativos e como se classificam bem como entender um pouco mais sobre cada um dos participantes desse mercado. Vamos lá?!
Bom, imagine que você pudesse negociar hoje uma compra ou venda futura e já definir o seu preço hoje. Com isso, seria possível se proteger de eventuais oscilações? Ou, ainda, pense que, não sabendo como se comportarão os preços no futuro, você pudesse realizar uma operação complementar que fosse exatamente em direção oposta às variações de sua projeção.
Não entendeu ainda?! Bom, imagine que você seja um(a) produtor(a) de soja, inseguro(a) quanto aos comportamentos dos preços em momentos futuros, mas tenha de arcar com seus compromissos que já estão estipulados. Então, decide garantir uma renda mínima no futuro. Se fosse apenas utilizando os métodos tradicionais de negociação, talvez, isso não seria possível, porém, com os métodos que aprenderemos na lição de hoje, isso se torna uma possibilidade. Na verdade, são instrumentos muito utilizados no dia a dia, sobretudo, nas questões agrícolas.
Imagine, ainda, que você pudesse comprar um direito de negociação e apenas usar se ele for mais vantajoso para você; caso não for, você, simplesmente, não executa o seu direito de adquirir o bem ao valor estipulado e recorre ao mercado corrente. Muito interessante, não é mesmo?! Então, vamos ver, na lição de hoje, como esses mecanismos funcionam?!
O case de hoje é uma situação fictícia, mas que ocorre muito frequentemente, de maneira que você já deve até mesmo ter visto ou, pelo menos, sabe algo sobre isto. Trata-se dos contratos a termo. Para isso, imagine um produtor rural que trabalha com a produção de soja e, quando realiza a colheita, negociará a aquisição de sementes para o plantio de uma próxima cultura, por exemplo, o milho. Ele poderia, inclusive, fazer o que chamamos já em nossas lições de operação de bárter, que seria a troca da soja pela semente do milho. Essa operação, porém, não é muito comum nos dias atuais, e a tendência é que ela saia do mercado nos próximos anos.
Como outra opção, porém, ele poderia já negociar, previamente, algumas coisas, como o preço de venda da soja ou, ainda, o preço de compra do milho. Foi exatamente isso que o nosso produtor rural do case de hoje fez. Iniciou seu plantio de soja e já estabeleceu contratos a termo com seus compradores e, portanto, já tinha uma previsão de sua receita futura quando da venda da soja. Da mesma forma, sabendo da necessidade que ele teria de comprar novas sementes de milho, já estabeleceu contratos a termo com fornecedores de sementes de milho.
Acontece que, nesse meio tempo, o preço da soja subiu, mas ela já estava vendida ao seu comprador; e o preço da semente do milho na época da compra, também, estava menor do que o preço negociado pelo produtor. Nesse caso, essa operação pode ter sido considerada não vantajosa para o produtor rural. No entanto ela pode ser considerada satisfatória, pois a previsão que o produtor rural fez se concretizou. Da mesma forma que, se as oscilações fossem para o sentido contrário, também, estaria protegido de maiores perdas.
Bom, primeiramente, relembrando o conceito de risco apreendido na lição passada e sua importância, temos que, quando não se tem perfeitas previsibilidade e certeza dos rendimentos futuros, recorremos a riscos e, tratando-se do setor agrícola, esses riscos são muito elevados.
Pelo lado das empresas, nas expectativas de retorno dos seus investimentos, é preciso levar em conta, junto aos riscos envolvidos nesse processo, o descasamento da produção com a demanda de mercado bem como seu fluxo de caixa, necessidade de capital de giro, entre outros assuntos que já aprendemos na disciplina.
Pelo lado do formulador das projeções, sua intenção principal se deve ao fato de minimizar esses riscos ou, se possível, eliminá-los do processo. Considerando isso, o mercado desenvolveu alguns mecanismos para transferir esses riscos entre os seus agentes. É o que acontece, por exemplo, com o setor de seguros. Quando você contrata um seguro de vida, você está transferindo os riscos de morte ou de acidente para uma terceira pessoa. Em troca disso, você desembolsa um valor que servirá como recompensa ou compensação da parte que ofertou o seguro a você.
Em relação aos ativos de uma empresa ou operações negociadas em um mercado, também, existe uma espécie desses seguros. Algumas dessas formas são as que aprenderemos na lição de hoje, que são os chamados derivativos. Existem dois tipos importantes de grandes grupos de derivativos: os mercados a termo e os mercados de exercícios contingenciais.
Em relação aos agentes que atuam nesse mercado, destaca-se a atuação majoritária de instituições financeiras e de investidores institucionais nacionais. No Brasil, representavam cerca de 80% do total de derivativos em aberto, sendo que, após isso, investidores não residentes representavam cerca de 11%, e o setor não financeiro, cerca de 6%, em 2013 (CVM, 2015).
Para se ter uma comparação, os dados disponibilizados pela B3 (a bolsa de valores brasileira), para o mês de março de 2023, apresentaram a seguinte composição: investidores institucionais 68,1 %, instituições financeiras 3,36 % e cerca de 24% representavam investidores individuais, demonstrando, assim, uma mudança de patamar em relação aos períodos anteriores, enfatizando a maior procura desses serviços e, consequentemente, a maior importância de seu estudo sobre a temática (B3, 2023).
Fazendo uma relação entre a lição passada que nos trouxe sobre os riscos e o uso de derivativos demonstrado nessa missão, podemos dizer que o uso do mercado de derivativos vem adquirindo grande importância por todos os agentes, principalmente, impulsionados pela necessidade de encontrar mecanismos que sejam uma espécie de controladores de oscilações de preço, um de seus riscos. Sendo assim, derivativos são instrumentos financeiros cujos preços estão ligados ao outro instrumento que lhes serve de referência.
Portanto, fica fácil entender o nome “derivativo”, não é mesmo? Ele se refere a algo que deriva de um ativo, ou seja, sempre deve estar atrelado a um outro instrumento ou produto. Por exemplo: o mercado futuro de petróleo depende das negociações à vista realizadas sobre o petróleo; da mesma forma, o mercado de dólar deriva das negociações realizadas à vista no mercado de dólar. Já trazendo para o mercado agrícola, um futuro do café depende do preço negociado do café no mercado à vista e assim por diante.
Há quatro grandes tipos de participantes nesse mercado e tipos de motivações para se utilizar esses mercados, são eles, segundo CVM (2015):
Tendo como objetivo proteger o participante do mercado físico de um bem ou ativo contra variações de taxas, moedas ou preços. Geralmente, representa uma “aposta” contra o mercado à vista, para minimizar o risco de perda financeira decorrente de alteração adversa de preços.
A opção por demandar esses instrumentos pode representar uma alavancagem, pois o dinheiro aplicado é muito mais baixo do que o valor de transação no mercado à vista. Sendo assim, pode-se aumentar a rentabilidade total desses a um custo mais barato.
É possível especular nesse mercado, possuindo uma posição no mercado futuro ou de opções sem uma posição correspondente no mercado à vista. Nesse caso, tem-se como objetivo seguir a tendência de preços do mercado.
É possível, graças a diferenças de preços dos ativos em mercados distintos. Enquanto essa diferença persistir, é possível obter ganhos ao “comprar mais barato e vender mais caro” em diferentes mercados, até o momento em que essa diferença de preços se dissipar.
Existem muitos termos e tipos derivativos, portanto, limitei-me a definir apenas os principais nesta lição, mesmo que com poucas palavras. Segundo Hull (2016, p.1):
Um derivativo pode ser definido como um instrumento financeiro cujo valor depende (ou deriva) dos valores de outras variáveis subjacentes mais básicas. Muitas vezes, as variáveis por trás dos derivativos são os preços de ativos negociados. Uma opção sobre ações, por exemplo, é um derivativo cujo valor depende do preço de uma ação. Contudo, os derivativos podem depender de praticamente qualquer variável, desde o preço da carne à quantidade de neve que cai em um determinado resort para esquiadores.
No mercado a termo, o comprador concorda em adquirir determinado bem numa data futura por um preço preestabelecido na data de negociação do contrato; sendo assim, o contrato estabelecido pode ser livremente negociado entre as partes ou, ainda, padronizado por meio de bolsas de valores. Acontece que, no mercado a termo, as partes têm o compromisso de realizar aquela transação assim como estabelecida no acordo inicial. Sendo assim, não podem desistir do contrato no meio do processo. É o mais simples, mas também o mais inflexível.
No mercado futuro, ambos os agentes assumem obrigação da execução dos contratos a preços e prazos preestabelecidos, porém pode repassar esses contratos a outros agentes durante esse processo, gerando maior liquidez à operação. A diferença está no fato de que, diariamente, esses valores precisam ser ajustados considerando a diferença entre o valor do contrato e o preço no mercado à vista, como garantia da operação.
Já nos contratos chamados de exercícios contingenciais, somente, executam o contrato se lhes convém e, como exemplo, temos um mercado de opções, que é quando quem adquire esse produto recebe o direito de executá-lo mediante o pagamento de um prêmio, ou seja, o seu custo. Nesse contrato, a parte interessada pode exercer, ou não, o seu direito em momento futuro, de acordo com as condições daquele momento. Se as condições atuais estiverem melhores, ele compra no mercado à vista, físico. Se as condições estiverem piores que a de seu contrato, então, ele executa seu direito e compra, ou vende, o estabelecido no contrato de acordo com o preço previamente estipulado.
Este trago aqui apenas para conhecimento, pois se trata de uma operação mais específica, em que empresas ou agentes realizam trocas de índices entre si, por exemplo, preço do dólar por algum índice específico de inflação, ou outras tocas. Possuem prazo de finalização, e as partes possuem o compromisso de estarem vinculadas até o fim desse processo. Como exemplo, a CVM (2015) nos traz a questão dos Estados Unidos e sua colheita de trigo, que é realizada apenas durante algumas semanas no ano, enquanto o consumo do cereal ocorre o ano todo. Nesse caso, alguém precisa carregar a mercadoria, até que seja consumida, mas isso gera custos de armazenagem e transporte, o que fará com que os preços oscilem ao longo do período.
Por meio do mercado de derivativos é possível que tanto o agricultor (que pretender vender sua produção, assim que efetuar a colheita, pelo melhor preço) quanto o processador ou consumidor (que espera comprar o produto no decurso do ano, pelo melhor preço) tenham acesso aos meios de garantir sua necessidade de fixação de preço, por meio dessas operações.
Com os conhecimentos desta lição, é possível que você consiga entender como funcionam os mercados, além dos que habitualmente conhecemos, como mercado futuro, mercado a termo, opções e swap, apresentados na lição de hoje. É possível que, com essa lição, você, também, possa ter entendido um pouco mais sobre como funcionam esses mercados e descoberto algumas possibilidades que, até então, poderia não ter conhecimento.
Sendo assim, como atividade de aplicação dos conhecimentos dos abordados na disciplina de hoje, deixo a você uma tarefa simples: pesquisar e entender sobre quais são as operações de mercado futuro, mercado a termo e demais derivativos existentes e aplicáveis à sua realidade. Por exemplo, se você mora numa área rural, qual se aplica à determinada cultura que você cultiva, ou, se você não tem nenhum contato com área rural, pesquise apenas sobre os mais utilizados. Também já aproveite e veja se aparece, em sua pesquisa, alguns nomes de operações, além daqueles que você viu nesta lição. Caso isso ocorra, anote-os e faça uma busca sobre os significados, pois muitos deles podem ser temas das próximas lições. Até mais!
B3. BDI: Boletim Diário de Informações n. 81. 28 abr. 2023. Disponível em: https://up2dataweb.blob.core.windows.net/bdi/BDI_00_20230428.pdf. Acesso em: 9 maio 2023.
CVM. TOP Derivativos: Mercado de derivativos no Brasil: Conceitos, produtos e operações. 1. edição. Rio de Janeiro: BM&FBOVESPA, 2015.
HULL, J. C. Opções, futuros e outros derivativos. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.