LIÇÃO 5: Importância e aplicação
do Fluxo de Caixa
do Fluxo de Caixa
Olá, aluno(a)! Seja muito bem-vindo(a) à mais uma lição. Estamos empenhados nessa importante missão de passar a você os conhecimentos necessários para seu desenvolvimento profissional, em sua atuação como Técnico(a) em Agronegócio, em alguma empresa em que você for trabalhar, ao empreender em alguma área de atuação ou, ainda, tocar uma propriedade rural.
Espero que tenha entendido as noções básicas de contabilidade, o que são ativos e passivos e como é composto o patrimônio das empresas. Na lição de hoje, abordaremos a importância do fluxo de caixa para as empresas e como seria a vida se ele não existisse bem como os diferentes tipos ou abordagens de fluxos de caixa e suas funções. Veremos, também, a aplicação que isso tem e que, até mesmo, o produtor rural e as organizações sem fins lucrativos têm obrigação de realizar a construção e manutenção atualizada constante do fluxo de caixa, ainda mais que as empresas privadas podem ser beneficiadas por essa prática. Vamos entender mais sobre esses assuntos?!
Já pensou como seria a vida se nós não registrássemos nada do que ganha ou paga? Às vezes, você pode estar pensando: mas, na minha vida, é exatamente assim! E eu digo-lhe que, na minha, houve momentos assim também. Mas, com certeza, falo-lhe que essa não é a melhor situação. Imagine uma empresa com esse tipo de comportamento ou, então, que seus pais, como agricultores, enfim, alguém que tenha grandes fluxos de entradas e saídas diariamente, com compromissos a pagar a todo tempo e, ao mesmo tempo, dependendo de entradas, receitas, que podem ter sido provenientes de vendas, muitas vezes, parceladas, e teve que repor o estoque no exato momento em que vendeu aquela mercadoria.
Já deu um nó na sua cabeça, não é?! Por isso, convido-o(a) a conhecer um pouco mais sobre os fluxos financeiros que acontecem em uma atividade econômica de uma empresa ou empreendimento qualquer e sua importância para a tomada de decisão dos gestores ou donos do negócio.
O estudo de caso que apresento hoje é real, trata-se do trabalho intitulado: “O fluxo de caixa como instrumento de gestão financeira: um estudo de caso em uma microempresa de customização têxtil”, de Ribeiro e Souza (2019). Neste trabalho, foi feita uma breve introdução sobre o tema abordado nesta lição: fluxo de caixa, e, também, apresentado um caso aplicado a essa empresa de pequeno porte, microempresa. Nele, ficou claro que o fluxo de caixa é um item obrigatório para a própria sobrevivência da empresa no mercado, devido à crescente concorrência e à uma expectativa de crescimento do setor em que a empresa atuava.
Para tentar entender melhor o fluxo de caixa da empresa analisada, foram necessárias várias análises de documentos da empresa, relatórios, entrevistas com pessoas que estavam envolvidas com essa empresa, funcionários, gestores, a fim de se entender a real aplicação e uso do fluxo do caixa analisado. Como resultados, tiveram que os dados, por mais que atualizados e organizados em tabelas do Excel, não possibilitavam uma visualização adequada da real situação da empresa ou eram necessários muitos cruzamentos de informações, para que se pudessem tomar as decisões na empresa, e, consequentemente, era muito grande a possibilidade de se tomar decisões erradas, devido a informações mal interpretadas.
Como solução dos problemas, as autoras propuseram uma readequação do fluxo de caixa para um sistema automatizado, com quadro de indicadores facilmente interpretáveis, que possibilitaram melhor orientação na tomada de decisão dos sócios em momentos futuros. Foi possível, ainda, perceber a real necessidade do fluxo de caixa e da adequação à quantidade ótima indicada. Viu como esse conhecimento pode ser totalmente aplicado e gerar resultados muito positivos?!
Para entender as aplicações possíveis do Fluxo de Caixa, é necessário começar definindo seu significado. Segundo Assaf Neto e Silva (1997 apud LENZI, 2012, p. 7), “’o fluxo de caixa é de fundamental importância para as empresas, constituindo-se numa indispensável sinalização dos rumos financeiros dos negócios’”. Com isso, já começamos a imaginar que ele será responsável por diversas ações dentro das empresas, como evitar um descontrole financeiro, gerenciar os recursos da organização/empresa/agroindústria ou, ainda, do produtor rural, evitando, muitas vezes, uma eventual falência, por exemplo. Segundo Lenzi (2012), o fluxo de caixa está presente em muitas áreas dentro de uma empresa, e não apenas no setor financeiro, e, como exemplo, Assaf Neto e Silva (1997 apud LENZI, 2012, p. 8) citam algumas situações que alteram o fluxo de caixa:
a) A área de produção muda os prazos de fabricação dos produtos, por conseqüência promove alterações nas necessidades de caixa; da mesma forma, os custos de produção têm significativos reflexos sobre o caixa;
b) As decisões de compras devem estar em sintonia com a existência de saldos disponíveis de caixa, ou seja, deve haver preocupação com a sincronização dos fluxos de caixa, avaliando-se a relação entre os prazos obtidos para pagamento das compras com os definidos para recebimento das vendas;
c) Políticas de cobrança mais ágeis e eficientes permitem a disponibilização dos recursos financeiros de uma forma mais rápida, resultando em um importante reforço de caixa;
d) A área de vendas deve manter um controle mais próximo sobre os prazos concedidos e sobre os hábitos de pagamentos dos clientes, de maneira a não pressionar negativamente o fluxo de caixa, ou seja, as decisões envolvendo vendas devem ser tomadas somente após uma prévia avaliação de suas implicações sobre os resultados de caixa;
e) A área financeira deve avaliar cuidadosamente o perfil de seu endividamento, de forma que os desembolsos necessários ocorram concomitantemente à geração de caixa da empresa.
O fluxo de caixa é uma ferramenta muito útil e dinâmica. Ela permite ao gestor, independentemente do tamanho da empresa em que atue, podendo ser grande corporação, média ou microempresa ou, ainda, a área de produção rural que engloba, também, a agroindústria, grande quantidade de informações para sua tomada de decisões. Por meio dele, é possível enxergar as previsões, o controle e o registro de recebimentos e pagamentos que ocorrem em determinado período. Ele contém as informações sobre a “vida financeira” da empresa ou a sua “saúde financeira”.
É possível ver, por ele, também onde estão aplicados os recursos financeiros da empresa no período e sua capacidade de pagamento ou necessidade de busca por recursos de terceiros, por meio de empréstimos ou financiamentos. Isso é importante e, está, extremamente, ligado aos interesses da empresa em expandir ou ampliar suas operações, por exemplo. Mas, para entender mais sobre os diferentes usos dos fluxos de caixa, é necessário entender que existem vários tipos possíveis.
De acordo com Frezatti (1997), o fluxo de caixa é adaptado de acordo com o tipo de empresa, servindo como instrumento tático e como algo mais elaborado e útil, visando maior abrangência e se tornando instrumento estratégico. Se a intenção da empresa é utilizar-se da abordagem tática, então, seu uso é reduzido apenas para confirmar se as intenções da empresa podem encontrar sustentação nos fluxos encontrados, não tendo, como principal, o planejamento estratégico, mas, sim, o acompanhamento das condições momentâneas e atuais da empresa.
Já se a abordagem utilizada é a estratégica, isto é levado bem mais a sério, e as decisões tomadas, utilizando suas informações, afetam todo o negócio, tanto no curto quanto no longo prazo, por isso, o fluxo de caixa tem efeito sobre as tomadas de decisões estratégicas da empresa e, também, é afetado por elas. Pode-se utilizar dessa abordagem para testar ou verificar sua capacidade de colocar suas ideias em ação ou a necessidade de obtenção de uma reserva maior antes de aplicar determinada ação. Dessa forma, foca mais no longo prazo, e não apenas no momento atual, assim como ocorre na abordagem tática.
Você já deve ter percebido a importância do fluxo de caixa para uma empresa ou para um empreendedor, seja rural, ou não. Mas reforço a você que o fluxo de caixa pode ser considerado uma ferramenta de organização de uso diário e em constante atualização. Dependendo do porte da empresa, essa atualização e a quantidade de informações que ele carrega se tornam tão grande que não é mais viável a utilização de planilhas de Excel, por exemplo, para gerenciar essa infinidade de dados e, ainda, conseguir identificar corretamente de onde vieram e para onde esses fluxos estão indo.
Para isto, têm sido desenvolvidos vários programas, softwares de computador, para alimentar sistemas capazes de fazer esse tipo de cruzamento de dados e computá-los em grandes memórias que, com facilidade, conseguem produzir indicadores possíveis de serem facilmente analisados para, assim, facilitar a vida dos tomadores de decisão, que podem ser os donos das empresas, o produtor rural ou os funcionários dos diferentes setores que se utilizam desta informação diariamente.
Segundo Marques (2010), é extremamente importante se ter um fluxo de caixa, pois é por meio desta ferramenta que se pode organizar a movimentação numérica diária e perceber sua influência no sistema organizacional da empresa. Segundo ele, a todo o momento, surgem oportunidades para investimento dentro das empresas ou no meio em que elas atuam. Para que possamos saber se esses investimentos são viáveis, torna-se necessário consultar o fluxo de caixa da empresa ou do empreendedor e avaliar o retorno estimado do projeto analisado.
Talvez, nessa momento, você deva ter se lembrado das aulas que teve no ano passado (quando aprendeu sobre Análise de Viabilidade de Projetos, Taxa Mínima de Atratividade e vários outros indicadores e taxas de retorno) e das etapas de um projeto a serem cumpridas para que a ideia apresentada aqui, realmente, saia do papel e se transforme em um projeto. Caso não se lembre, reveja os conteúdos abordados, mas adianto a você que parte deles serão retomados, de alguma forma, no decorrer das lições desta disciplina, afinal, conhecimento é construído e revisá-lo faz parte do aprendizado contínuo e cumulativo.
Zdanowicz (2000, p. 23) apresenta os principais objetivos do fluxo de caixa, descrevendo-os da seguinte forma:
Buscar o equilíbrio entre os fluxos de entrada e saída de recursos; Saldar as obrigações incorridas dentro do prazo estabelecido;
Prever desembolsos de caixa em volumes elevados em épocas de encaixe baixo;
Proporcionar ao gestor financeiro uma visão estratégica da situação da empresa;
Demonstrar em que período a empresa precisa captar recursos ou aplicá-los quando existir excedente de caixa;
Visualização do volume de vendas da empresa;
Análise da situação de inadimplência dos clientes.
Por meio do fluxo de caixa, é possível visualizar a real situação de uma empresa e seus movimentos financeiros bem como ter um suporte de planejamento, para que seja possível reduzir os riscos, ao tomar as decisões, devido à quantidade de informações e direcionamentos obtidos. Sua administração é um instrumento muito utilizado para controle, planejamento e análise de receitas, despesas e investimentos em cada período. Podem ser percebidos, em sua análise, eventuais excessos ou escassez de recursos, possibilitando que se realizem os ajustes necessários.
Sem a utilização de mecanismos para controle e análise de fluxos de caixa, torna-se muito difícil ou, até mesmo, inviável a administração dos custos e das receitas de determinado empreendimento, além dela não ser realizada de maneira mais eficiente. Isso, porém, não deve ser uma preocupação apenas do pessoal que trabalha no setor financeiro ou dos donos do negócio ou propriedade, mas, sim, de todos que trabalham nos mais diversos níveis ou setores da empresa.
Os demonstrativos de fluxo de caixa, segundo Groppelli e Nikbakht (2002), possuem maior detalhamento que outros demonstrativos financeiros, sendo possível perceber áreas que necessitem de maior atenção e a capacidade de supri-las. Geralmente, são divididos, quanto às atividades de entrada e saída de caixa, em três categorias: operacional, financeiro e econômico:
Fluxo de caixa das atividades operacionais: esse fluxo de caixa inicia-se com a compra da matéria-prima e finaliza com o recebimento das vendas. É um indicador de geração interna de caixa utilizado para pagar empréstimos e financiamentos, manter as contas em dia e fazer novos investimentos sem precisar recorrer a fontes externas, apenas utilizando capital próprio.
Fluxo de caixa das atividades de investimento: essas atividades compreendem as operações com os ativos financeiros, como aquisições ou participações em outras entidades, e com os ativos utilizados na produção de bens ou prestação de serviços que estão ligados ao interesse principal da empresa.
Fluxo de caixa das atividades de financiamento: inclui as atividades de financiamentos, a captação de recursos dos acionistas ou cotistas e seu retorno, por meio de lucros ou dividendos, bem como a captação de empréstimos e outros recursos, sua amortização e remuneração.
Independentemente da utilização de cada apresentação possível do fluxo de caixa, fica evidente que se mostra um grande aliado na elaboração de indicadores que conseguem mensurar a situação da empresa, sua capacidade de honrar seus compromissos, sua condição, em relação à sua necessidade, ou não, de financiamento por recursos de terceiros, e a sua sustentabilidade ao longo do tempo. No caso do produtor rural, ele servirá como aliado, ao poder observar os fluxos financeiros existentes na propriedade, e demonstrará seus fluxos de financiamentos necessários e a necessidade de recursos financeiros a cada período do tempo. É pelo fluxo de caixa, por exemplo, que o produtor consegue perceber como deve se comportar seu capital de giro e como se darão suas receitas (entradas) e despesas (saídas), devendo ser realizado de maneira correta, mesmo que simples, e orientado de preferência por profissional habilitado, como será seu caso, enquanto Técnico(a) em Agronegócio.
Você aprendeu, nesta lição, sobre os fluxos de caixa e espero que tenha entendido a importância deles para o dia a dia das empresas e para as atividades econômicas realizadas. Deve ter visto também que possui uma aplicação bem forte em seu cotidiano, não é mesmo?! Estudar sobre isso é importante para a sua formação como Técnico(a) em Agronegócio, pois, atuando na área você, terá uma forte ferramenta para controle estratégico e operacional das condições em que se encontra a propriedade rural ou agroindústria, por exemplo, em que estiver prestando serviços. Com ele, você poderá entender os fluxos gerados na atividade em que estiver atuando e como são os prazos em que eles ocorrem. Com isso, conseguirá se planejar, antecipando eventuais desembolsos ou gastos elevados, prevendo suas receitas e despesas e preparando-se para conseguir honrar com seus compromissos nas datas de seus vencimentos, com tranquilidade.
Que tal, agora, você colocar todo esse conhecimento em uma aplicação aí mesmo onde você mora?! Se você está, de alguma forma, recebendo recursos financeiros, por meio de um estágio, programa de menor aprendiz, ajuda informal em algum negócio da família, propriedade rural familiar ou, até mesmo, por meio daquela velha mesada, então, a proposta é a seguinte: em uma folha de caderno mesmo ou se tiver afinidade e disponibilidade de um computador/celular com internet, faça uma planilha registrando suas entradas e como tem gastado esse dinheiro nos últimos meses. Lembre-se de registrar, da forma mais detalhada que conseguir, seus gastos e ganhos, principalmente em relação a valores e prazos. Tente entender o comportamento deles e veja se encontra alguma maneira de melhorar sua distribuição ou organização das despesas. É claro que só isso me renderia um curso inteiro de dicas, mas, com o conhecimento da lição e o que você já reteve de conhecimento ao longo do curso, será possível realizar um ótimo esboço desse fluxo financeiro que você pode ter.
FREZATTI, F. Gestão do Fluxo de Caixa Diário: como dispor de um instrumento fundamental para gerenciamento do negócio. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
GROPPELLI, A. A.; NIKBAKHT, E. Administração Financeira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
LENZI, G. D. G. Qual a importância do fluxo de caixa para micro e pequenas empresas do segmento de mecânica de automóveis? 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em e Administração de Empresas) – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2012. Disponível em: https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/123456789/1041/2/20871405.pdf. Acesso em: 25 nov. 2022.
MARQUES, W. L. CONTABILIDADE GERAL II – segundo a lei 11638/2007 das sociedades anônimas – passo a passo da contabilidade. Cianorte: Gráfica Vera Cruz, 2010.
RIBEIRO, M. L.; SOUZA A. C. de. O fluxo de caixa como instrumento de gestão financeira: um estudo de caso em uma microempresa de customização têxtil. In: CONGRESSO SUL CATARINENSE DE ADMINISTRAÇÃO E COMÉRCIO EXTERIOR, 3., 2019, Criciúma. Anais [...]. Criciúma: UNESC, 2019.
ZDANOWICZ, J. E. Fluxo de caixa: uma decisão de planejamento e controle financeiro. 8. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 2000.