Olá, estudante! Espero que esteja bem, dando-se bem no entendimento das lições e dos conteúdos nelas abordados bem como conquistando boas notas nas provas também. Você, com certeza, já percebeu que essa parte da disciplina acabou ficando com as questões mais voltadas para a contabilidade do que para economia, ou administração, não é mesmo?! E, talvez, você esteja se perguntando o porquê de estar estudando tais conteúdos, ou qual sua relação com o agronegócio.
Bom, sendo assim, na lição de hoje, trarei as aplicações desses conteúdos acumulados, sobretudo nas questões contábeis, referentes ao agronegócio. Meu objetivo aqui é que você consiga visualizar, não apenas comparações e exemplos como costumamos abordar em nossas lições, mas as reais aplicações no dia a dia do produtor rural ou empresário do setor de agronegócio.
O agronegócio tem desempenhado papel importante na composição das demais atividades, sendo assim, torna-se extremamente necessário entender sua aplicação e as estruturas contábeis que o regem bem como a forma de aplicar os conhecimentos contábeis adquiridos nas últimas lições para esse tão importante setor.
Imagine, hoje, algum produto ou alimento que você tenha ao seu redor. Provavelmente, uma parte dele tenha sido gerada em algum setor específico que faz parte do agronegócio, muitas vezes, do brasileiro aqui mesmo, outras vezes, sendo importado de outros países. Além disso, você já parou para pensar como o agronegócio é complexo? Não possui tempos muito padronizados, seus investimentos são altos e arriscados.
Dessa forma, quanto mais entendermos sobre ele, suas técnicas de registros e contabilização, melhor será para tentarmos driblar todos esses fatores imprevisíveis, não é mesmo?! Então, venha comigo entender e visualizar um pouco mais sobre essa aplicação da contabilidade rural no agronegócio, ou em seus agronegócios.
Como estudo de caso dessa aplicação no agronegócio dos conteúdos abordados pela contabilidade rural, trago aqui um caso real, abordado por Hofer et al. (2006). Esse estudo é interessante, pois reflete uma grande maioria dos produtores rurais, sobretudo de médio e grande portes. Fazer o sistema de rodízio entre soja e trigo, ou soja e milho, ou seja, cultivar duas safras ao ano numa mesma propriedade rural, apesar de recorrente e natural a nossos ouvidos, reflete em uma série de implicações contábeis, pois, muito provavelmente, parte da safra ficará em um ano civil, e a outra, em outro ano, isso de ambas as culturas. Ou seja, às vezes, no ano em questão, tem-se a colheita da safra que foi plantada no ano passado e realiza-se o plantio da que será colhida no ano seguinte. Percebeu, aqui, como pode se complicar essa situação se não for bem administrada?
No estudo em questão, foi desenvolvida uma análise para a plantação e a colheita de trigo, depois, da mesma forma, para o plantio de soja, e, ao final, uma composição dos custos e das receitas, incluindo as duas culturas. Para efeitos de demonstração de como se aplica a gestão de custos no agronegócio, acho que o mais importante que lhe digo é: os custos são muito elevados, difíceis de se mensurar, e o retorno, variável, no entanto esse ramo segue crescendo, principalmente no Brasil. Isso indica que profissionais como você, enquanto Técnico(a) em Agronegócio, e mais diversas vertentes que você possa se especializar serão cada vez mais necessários para o setor. Se ficou curioso(a) pelo estudo, clique aqui e acesse o estudo na íntegra.
A contabilidade está presente nas mais diversas áreas ou atividades econômicas, possibilitando sua especialização de acordo com o setor ou atividade desejada. Isso inclui as áreas do agronegócio e das atividades agroindustriais e agrícolas se adequando às particularidades desse segmento. Acontece que essas áreas, também, possuem necessidade de contabilização, apuração de resultados e gestão de patrimônio; na verdade, necessitam ainda mais, devido às suas particularidades, principalmente em relação a dificuldades de mensurar seus reais custos, estoques, períodos de receitas e despesas, grande necessidade de financiamento e sensibilidades a condições climáticas.
Uma das bases mais importantes para a lição de hoje será o Pronunciamento CPC 29 – Ativos Biológicos. Ele surgiu com intuito de auxiliar o produtor e, portanto, torna-se leitura obrigatória para você, futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio. Publicado em 2009, passa a reger as divulgações, o tratamento contábil, em relação aos ativos biológicos e aos produtos agrícolas. O conceito de produto agrícola creio ser intuitivo nesse momento em nossa jornada do conhecimento, porém o ativo biológico carece de uma definição legal, às luzes do mesmo pronunciamento utilizado aqui nesta lição, que, segundo CPC (2009, p. 4), “ativo biológico é um animal e/ou uma planta, vivos”.
Nesse caso então, os animais e as plantas, por apresentarem possibilidade de venda provável futura e de acréscimo de valor ao longo do tempo, passam a ser considerados uma forma de ativo da empresa rural, assim como são as máquinas e os equipamentos industriais, ou as matérias-primas ou os produtos em processamento para as indústrias. No entanto não são todas as plantas que são consideradas ativos biológicos, a exemplo de algumas árvores frutíferas de longa duração. Para demonstrar um pouco mais sobre exemplos de ativos biológicos, apresentarei, a seguir, o Quadro 1:
Pelo quadro apresentado pelo CPC 29, fica nítida a importância de um(a) Técnico(a) em Agronegócio realizar o estudo de tais pronunciamentos, visto que, para exercer a atividade agrícola, pecuária, entre outras atividades rurais, passa-se por manejo e criação de ativos biológicos ou produtos agrícolas. Nas duas primeiras colunas desse quadro, são apresentados exemplos dos ativos e produtos tratados pelo CPC 29, e a terceira coluna se refere aos produtos acabados, portanto, considerados estoques. Sobre estes, já comentamos em lições anteriores.
Algo que, também, esse mesmo pronunciamento trata é sobre considerar os ativos agrícolas ou biológicos, por seu valor justo, e não por seu preço de compra. Isso, embora pareça simples, surte um efeito muito grande, em relação ao valor dos produtos, e não seu preço.
De maneira simples, o preço justo pode ser definido como o valor que o mercado está disposto a pagar em uma transação natural. Ou seja, representa o poder de compra que aquele ativo possui, ou sua capacidade de venda não forçada. Isso se caracteriza como uma revolução na percepção contábil, ao ser possível trabalhar com valores reais, e não com os preços passados pagos pelos ativos. Esse método, inclusive, é usado por empresas listadas em bolsas de valores que atuam no setor rural (ZANIN, 2020).
Mesmo assim, segundo Zanin (2020), essas empresas acabam por divulgar apenas os itens obrigatórios, que são mínimos, ao passo que poderiam apresentar informações mais claras e objetivas bem como maior detalhamento delas. Já os produtores rurais, sobretudo os registrados na forma de pessoas físicas, muitas vezes, nem possuem conhecimento sobre tais normas ou facilidades de gestão, cabendo ao contador, e estendo a você, enquanto Técnico(a) em Agronegócio, levar à tona sua existência assim como das demais regras contábeis.
É claro que aqui o foco é sobre contabilidade aplicada ao agronegócio, mas não posso deixar de lhe dizer que você pode levar a esse produtor rural desinformado ou mesmo a grandes empresários rurais vários termos, normas, conceitos e técnicas inovadoras que aprendeu, e ainda aprenderá, ao longo desta disciplina e do curso técnico como um todo.
Uma questão também em relação à contabilidade relacionada a atividades agrícola é a questão da diferença entre ano civil e ano agrícola, que já abordamos aqui antes, indicando que, na hora de se fazer alguns cálculos, como o do Imposto de Renda, é necessário que se façam os ajustes necessários, rateios (divisões ou médias históricas), a fim de se apurar os valores mais próximos à realidade encontrada.
Além disso um que cabe destaque nesse momento aqui é em relação a esses próprios ativos biológicos tratados na lição. De maneira geral, a agricultura ou suas atividades pode ser dividida em culturas temporárias ou permanentes, e isso tem impacto sobre as questões contábeis e econômicas analisadas ao longo da disciplina.
As culturas temporárias são aquelas que necessitam ser replantadas a cada período de tempo, pois, “após a colheita, a planta morre, seja pelo seu corte, seja por ser arrancada totalmente da terra. Temos como exemplo de culturas temporárias o milho, trigo, feijão, arroz, cebola, alface, dentre outros” (ZANIN, 2020, p. 14).
É claro que cada cultura possui um tempo específico de germinação e crescimento até a época da colheita, não sendo possível estabelecer um critério de diferenciação entre temporária ou permanente em relação ao período de tempo, mas, sim, ao tipo de atividade exercida ou ao produto residual após a colheita e à sua possibilidade de continuidade nas demais safras.
Já as culturas permanentes são exatamente as que não necessitam ser arrancadas totalmente ao fim da colheita. Isso possibilita que elas durem mais do que um único ciclo, sendo exemplos mais comuns a cafeicultura, a fruticultura, o reflorestamento, entre outras (ZANIN, 2020).
A questão é que é nítido que os custos para se iniciar uma atividade de culturas permanentes serão muito maiores do que das culturas temporárias, devido a seu alto investimento em plantio das culturas, no entanto esse primeiro plantio terá seu custo diluído de acordo com sua vida útil, muito próximo ao que estudamos sobre depreciação, lembra-se? Mas essas questões mais técnicas sobre a divisão correta será um trabalho que você realizará ao lado de um contador, auxiliando nas interpretações e na coleta de dados, mas nem tanto nas partes burocráticas e técnicas. Que bom, não é mesmo?!
É exatamente nesse ponto então que chamo a sua atenção para que atente à importância de tantos estudos sobre a área contábil, desde o início da disciplina.
Espero que, ao surgir as dúvidas nesse momento, você possa voltar às lições anteriores e, ao relê-las, entender, com mais clareza, como elas exercem impactos sobre as atividades rurais ou auxiliam nas questões relacionadas à gestão de custos e registros da atividade agrícola e ao agronegócio como um todo.
Ao final desta lição, espero que você tenha conseguido visualizar, de uma vez por todas, as aplicações que a contabilidade e tudo que aprendemos desde o início desta segunda parte da disciplina de Administração e Economia Rural possuem em relação às atividades agrícola e ao setor do agronegócio em geral. Como sugestão de aplicação, deixo a você uma tarefa final: olhe para as culturas que você cultiva em sua propriedade, ou em alguma propriedade de algum conhecido próximo a você, se não morar em área rural. Tente identificar as principais culturas existentes em sua região e identifique-as entre temporárias e permanentes.
Se encontrar algumas culturas permanentes, isto lhe permitirá ir um pouco mais além ainda nesta atividade: identifique qual o tempo que elas duram e como é o investimento necessário para iniciar seu plantio para cultivo, muito custoso, de retorno rápido. Tente sempre ir vivenciando tudo o que for aprendendo ao longo de cada lição. Por hoje, isso é tudo. Espero você na próxima lição com uma super revisão. Até breve!
CPC. Pronunciamento Técnico CPC 29: Ativo Biológico e Produto Agrícola. Brasília: CPC, 2009. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/324_CPC_29_rev%2019.pdf. Acesso em: 6 abr. 2023.
HOFER, E. et al. Gestão de custos aplicada ao agronegócio: culturas temporárias. Contabilidade vista & Revista, v. 17, n. 1, jan./mar. 2006. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/contabilidadevistaerevista/article/view/290. Acesso em: 6 abr. 2023.
ZANIN, D. F. Contabilidade de Agronegócios. Curitiba: Contentus, 2020.