Meus irmãos e irmãs em Cristo, olhamos hoje para uma joia escura, mas de inestimável valor, no tesouro do Saltério – o Salmo Seis. Este é o lamento de um coração esmagado, a oração de um homem que se sente entre a bigorna da ira justa de Deus e o martelo de seu próprio sofrimento e iniquidade.
O salmista, o fiel Davi, não vem com a toga de um rei, mas com o cilício de um penitente. Ele não sussurra a Deus; ele grita de uma caverna escura da alma.
O texto é claro, a súplica é urgente: “SENHOR, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor.” Ele não nega a justiça do castigo; ele apela à Misericórdia!
O nosso tema hoje é extraído daquele verso de lamento poético e agudo, no qual o fiel descreve o excesso de sua dor: “Todas as noites faço nadar o meu leito de lágrimas.” Que figura assustadora! Não são meras gotas, mas um dilúvio pessoal!
Analisaremos este poema de dor e triunfo em três grandes lições para a nossa alma neste dia:
A Profundidade do Desespero: Onde a Dor Transborda.
O Questionamento da Alma: O Clamor Escatológico do "Até Quando?".
O Triunfo Súbito da Fé: A Certeza do Ouvido Divino.
Amados, vejam a descrição da angústia de Davi. É um sofrimento tridimensional:
Ele está fraco, seus ossos estremecem. Isto não é uma dor de cabeça passageira; é a própria estrutura de seu ser que está abalada.
Ilustração: Imaginem um grande navio no meio da tempestade. Não são apenas as velas que se rasgam, mas a própria estrutura de carvalho estala e geme, ameaçando a submersão total. Davi é este navio. Ele sente o castigo não apenas na consciência, mas na medula de sua vida. Lição: O sofrimento do crente, quer seja fruto do pecado ou da prova, não é uma fantasia; é uma realidade penetrante que afeta o corpo e a mente.
Essa é a pior de todas! É fácil suportar a dor de um membro quebrado quando o coração está em paz com Deus. Mas aqui, a alma – o santuário do homem – está perturbada. O homem sente o terror de estar sob o olhar desagradável do Soberano.
Ah, aqui está a imagem de gelar o sangue! O leito, que Deus ordenou para o repouso e a paz, torna-se uma piscina de amargura. A noite, que traz silêncio e cura para o mundo, traz para ele apenas a repetição torturante do sofrimento. Ele chora tanto que seu próprio leito, o último refúgio humano, flutua em sua própria tristeza.
Aplicação: Que ninguém aqui imagine que o cristão é imune à dor, ao lamento e à depressão. Há noites em que a almofada se molha, não por gotas casuais, mas por fontes de amargura. Nestas horas, é a honestidade do Salmo 6 que nos salva: a permissão para sermos francos com Deus sobre a nossa miséria!
No meio da escuridão, surge o clamor mais humano e, paradoxalmente, mais divino: “mas tu, SENHOR, até quando?”
Este é o clamor da paciência esgotada. O crente sabe que Deus opera, mas o relógio de Deus não se move no ritmo do pulso humano. O "até quando" é um misto de:
Reconhecimento: "Tu tens o poder para mudar isso!"
Súplica: "Seja rápido, ó Deus, pois não aguento mais!"
Confiança: "Tu me livrarás, mas que seja AGORA!"
Ilustração: O "Até Quando?" é como a criança que se perdeu na feira. Ela confia que o pai a encontrará, mas cada segundo de espera é uma eternidade de terror. Ela não duvida do amor do pai, mas anela pela presença do pai. O crente anseia não apenas pelo livramento, mas pela revelação da Face de Deus novamente!
Que argumento audacioso! Davi não se apoia em seus méritos, mas na glória de Deus! Ele diz, em essência: “Salva-me, não por minha causa, mas pela TUA causa, ó Deus! Quem no silêncio da sepultura cantará as Tuas misericórdias? A morte é um silêncio para o louvor; por isso, preserva-me para ser um arauto do Teu nome!”
Isto nos mostra que a oração mais eficaz não é aquela que se centra em nosso conforto, mas aquela que se apoia na honra e glória do Redentor!
Eis a virada! O milagre da fé opera em um único verso e transforma o cenário inteiro. Do lamento e da inundação de lágrimas, o salmista salta para a certeza do livramento!
Ele não sente a resposta ainda, mas ele sabe que ela está a caminho. E a certeza se expressa em dois comandos gloriosos:
Antes, os adversários o cercavam e oprimiam (v. 7). Agora, ele se torna o rei novamente e lhes dá uma ordem de expulsão!
O que mudou? Não a situação externa, mas a posição interna! Ele não está mais olhando para o problema, mas está olhando para o Deus da Solução!
Quando o coração do crente ouve a resposta de Deus, não precisa mais temer os inimigos, sejam eles externos (pessoas más) ou internos (dúvida, culpa). A fé ergue uma placa que diz: "Propriedade de Deus. Proibida a entrada de Iníquos e Demônios!"
O Lamento (a dor) foi ouvido.
A Súplica (o pedido) foi ouvido.
A Oração (o ato de fé) foi acolhida.
Ele repete a certeza para que nem a sua própria alma duvide!
Ilustração: Não é maravilhoso que o Deus que ouve o trovão das estrelas, que governa o mar com um sussurro, pare e incline seu ouvido para ouvir o gemido fraco de um pecador sobre um leito molhado de lágrimas? Ele ouviu! Se a resposta é lenta, não é porque Ele é surdo, mas porque o tempo dEle é perfeito!
E o resultado final? Os inimigos serão envergonhados e baterão em retirada! A vitória do crente não é um mero empate, mas a derrota vergonhosa do mal!
Meus amados, o Salmo 6 é o mapa da alma que sofre. Começa no Desespero – “estou fraco”. Passa pela Oração Aflita – “até quando?”. E termina na Certeza Victoriosa – “o Senhor acolhe a minha oração!”
Para aquele que hoje está com seu leito regado por lágrimas de arrependimento, de luto, ou de dor:
Ore com Sinceridade Absoluta: Não use frases religiosas ocas. Diga a Deus o quão perturbados estão seus ossos e sua alma. Ele anseia pela sua honestidade.
Clame pela Graça, Não pelo Mérito: O apelo de Davi foi à misericórdia, à graça (v. 4). Você não merece nada, mas Deus lhe dará tudo por amor a Cristo!
Descanse no Ouvido de Deus: Se você tem fé para orar, tenha fé para crer que Ele ouviu. A resposta pode não ser o que você planejou, mas será perfeita.
O caminho da penitência termina no triunfo. Que o Senhor transforme hoje o seu leito flutuante em uma ilha de descanso e o seu lamento em um novo cântico de louvor!
A Ele seja a Glória, Amém!