Sumário
Introdução
Estudo Contextual
Estudo Textual
Comentário Exegético
Mensagem para a Época da Escrita
Mensagem para Todas as Épocas
Teologia do Texto
Esboço de Sermão
Conclusão
Bibliografia
O Salmo 10 é um lamento individual que transita da angústia profunda perante o silêncio de Deus (v. 1) para uma confiança inabalável na Sua soberania e justiça (vv. 16-18). Caracteriza-se por uma descrição vívida da mente e das ações do ímpio, sendo considerado por Lutero como um dos retratos mais precisos da maldade humana. Kidner observa que, embora o salmo comece com uma pergunta aflita, ele termina com a certeza de que o "homem da terra" não terá a última palavra.
Diferente de muitos outros salmos, o Salmo 10 não possui título no Texto Massorético. Isso levou muitos estudiosos (e a versão Septuaginta) a considerá-lo, originalmente, como a segunda metade do Salmo 9, formando um único poema acróstico. Historicamente, ele reflete períodos de opressão social onde os ricos e poderosos exploravam os vulneráveis (órfãos e pobres), agindo como se Deus não existisse ou não se importasse.
O Salmo 10 encerra o que seria o "poema acróstico do julgamento" iniciado no Salmo 9. Enquanto o Salmo 9 foca na vitória de Deus sobre as nações inimigas, o Salmo 10 foca na ameaça interna: o ímpio que oprime o seu próprio povo. Ele funciona como uma petição urgente para que Deus execute o julgamento prometido anteriormente.
Tematicamente, o Salmo 10 ecoa as denúncias proféticas contra a injustiça social (como em Amós e Miquéias) e antecipa a teologia da "paciência dos santos". Ele dialoga com a promessa de Gênesis de que Deus é o Juiz de toda a terra. No Novo Testamento, Paulo cita o versículo 7 em Romanos 3:14 para demonstrar a depravação universal da humanidade.
(Baseada no interlinear de BibleHub)
Por que, Senhor, Te deténs ao longe? Por que Te escondes em tempos de angústia (baṣ-ṣā-rāh)?
Com soberba, o ímpio persegue o pobre; que sejam presos nas ciladas que maquinaram.
Pois o ímpio se gloria do desejo da sua alma; o ganancioso bendiz a si mesmo e despreza (ni-’êṣ) o Senhor. ...
O Senhor é Rei para todo o sempre; da Sua terra perecerão as nações.
Tu, Senhor, ouviste o desejo dos humildes; fortalecerás o coração deles e inclinarás o Teu ouvido.
Para fazer justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem da terra não espalhe mais o terror.
O salmo divide-se em três movimentos claros:
O Lamento e a Pergunta (v. 1): O clamor pelo aparente distanciamento de Deus.
A Descrição do Ímpio (vv. 2-11): Um raio-X da arrogância, ateísmo prático e violência do opressor.
A Petição e a Confiança (vv. 12-18): O apelo para que Deus "levante a mão" e a proclamação final de Sua realeza.
O texto usa verbos no imperativo (v. 12: qū-māh - "Levanta-te!") para romper o domínio dos verbos no imperfeito que descrevem a ação contínua do ímpio. A mudança de foco do "eu/ímpio" para "Tu (Deus)" no v. 14 marca a virada estrutural do poema.
A unidade é delimitada pela transição da crise de fé (Deus longe) para a resolução cúltica (Deus no trono). A inclusão de temas como o "órfão" e o "pobre" amarra o início e o fim da narrativa.
Calvino destaca que o v. 4 revela a raiz de todo pecado: o orgulho que exclui Deus do pensamento ("Deus não existe"). O ímpio não é necessariamente um ateu teórico, mas um ateu prático que acredita na impunidade (v. 11). Wilson nota que a "redenção" no salmo não é uma fuga do mundo, mas a intervenção de Deus na história para restaurar a ordem e proteger os "humildes" (‘ă-nā-wîm).
Para o Israel pós-exílico ou monárquico, o salmo servia como uma liturgia de protesto contra a corrupção das elites. Era um lembrete de que Yahweh, e não o tirano local, era o verdadeiro Rei da terra.
O salmo valida a honestidade espiritual. É permitido perguntar "por que?". Ele ensina que o silêncio de Deus não é ausência, e que a injustiça humana tem um prazo de validade determinado pela eternidade de Deus.
Demonstra a continuidade do caráter de Deus como Protetor dos vulneráveis, um tema que percorre desde a Lei (Êxodo) até os ensinos de Jesus e Tiago.
Aborda a Doutrina do Homem (depravação total e o pecado do orgulho) e a Providência Divina (o governo de Deus sobre o mal).
Encoraja a oração persistente e a ação social em favor dos oprimidos, fundamentada na certeza do juízo final.
Tema: Do Desespero à Confiança no Governo de Deus
A Crise do Silêncio: Quando Deus parece estar longe (v. 1).
A Anatomia da Impiedade: O orgulho que ignora o Juiz (vv. 2-11).
O Clamor pela Intervenção: Pedindo que Deus mostre Sua mão (vv. 12-15).
A Certeza do Reinado: O Senhor está no trono hoje e sempre (vv. 16-18).
O Salmo 10 não oferece uma explicação filosófica para o mal, mas oferece uma resposta relacional. Ele termina não com a destruição imediata do ímpio, mas com a paz do crente que sabe que Deus "ouviu o desejo dos humildes".
Calvino, João. Comentário Bíblico de João Calvino – Salmos 10. BíbliaPlus (edição online).
Craigie, Peter C.; Tate, Marvin E. Psalms 1–50 (Word Biblical Commentary). Thomas Nelson, 2004.
Kidner, Derek. Psalms 1–72 (Tyndale Old Testament Commentary). InterVarsity Press, 1981.
Wilson, Gerald H. Psalms, Volume 1: Psalms 1–72 (NIV Application Commentary). Zondervan, 2002.
BibleHub. “Psalm 10 – Interlinear, Lexicon and Translations”.
Maré, L. P. “Psalm 10: God’s Glory and Humanity’s Reflected Glory”. Journal article.
Prinsloo, G. T. M. “Polarity as dominant textual strategy in Psalm 10”.
Keener, H. J. “A Canonical Exegesis of the Eighth Psalm”. Baylor University (dissertação).