SALMO 1 - COMENTÁRIO
VERSO 1
· Bem-aventurança significa que tudo irá bem com os servos que progridem no estudo da Lei de Deus.
· Os ímpios dentro e fora da igreja são aqueles que ridicularizam o zelo dos fiéis, considerando um trabalho inteiramente inútil.
· Por isso, é importante que os justos sejam confirmados no caminho da santidade, pela condição de todos os homens serem miseráveis sem a bênção de Deus, e pela convicção de que Deus só é favorável àqueles que se dedicam zelosamente ao estudo da verdade divina.
· Observe que a corrupção sempre prevaleceu no mundo, de maneira que o caráter geral da vida dos homens nada mais é do que o contínuo afastamento da Lei de Deus.
· Por essa razão, o salmista admoesta os estudantes da Lei Divina a terem cuidado para não serem levados pela impiedade da multidão ao seu redor, antes de afirmar a bem-aventurança dos estudantes dessa Lei.
· É impossível dedicar a mente a meditar na Lei de Deus, antes de se separar da companhia dos ímpios.
· São muitos os que se lançam nas armadilhas de satanás, ou pelo menos os que se precaveêm contra as tentações do pecado.
· Para que estejamos plenamente cientes de nosso perigo, é necessário lembrar que o mundo está repleto de corrupção mortal, e o primeiro passo para viver bem é renunciar a companhia dos ímpios.
· Caso contrário, certamente os ímpios nos infectará com a sua própria corrupção.
· Assim como o salmista ordena os verdadeiros crentes a que tenham cuidado com as tentações do mau, devemos seguir a mesma ordem.
· O Salmo afirma que é bem-aventurado quem não tem comunhão com os ímpios, mas o mundo reprova essa posição. Há tantos argumentos ardilosos para impor a corrupção dos crentes e reprovar a falta de comunhão do cristão com os ímpios, como por exemplo: impor que devemos respeitar a todos, significando apoiar o errado; mas o juiz respeita o justo, condenando o injusto, a sociedade respeita a verdade condenando a mentira; o pai respeita o filho obediente corrigindo o desobediente; o marido respeita a fidelidade condenando o adultério; a polícia respeita o cidadão de bem, prendendo o criminoso; o médico respeita o saudável condenando o doente através da cura.
· Embora todos os homens desejem e busquem a felicidade, podem se entregar naturalmente aos seus pecados. Tanto que, aqueles que mais se afastaram da justiça de Deus e se entregaram aos seus pecados, são considerados felizes, porque obtiveram os desejos de seus corações.
· Já o salmo afirma que todos os que não se afastam de seus pecados são miseráveis; que são aqueles que não se dedicam a meditar diariamente e ininterruptamente na Lei de Deus.
· Mas, como não é fácil nos afastar completamente dos ímpios, neste mundo, o salmista emprega três expressões, para dar maior ênfase à sua admoestação: primeiro, não devemos andar no conselho deles, segundo, parar/deter nos caminhos deles, e terceiro, de sentar-se com eles, ou onde eles se sentam.
· Os justos devem se esforçar para abominar a vida dos homens ímpios. E devemos saber que satanás seduz os homens para desviarem do caminho certo. E o declínio dos justos não começa com um desprezo orgulhoso por Deus, mas um passo a passo na sedução de satanás, dando ouvidos aos maus conselhos, sendo levados cada vez para mais longe de Deus, até que se precipitem de cabeça na transgressão aberta.
· É por isso, que o salmista começa prevenindo sobre a maldade que ainda não se manifesta abertamente. Em seguida, ele fala do caminho que deve ser entendido como a maneira costumeira de viver. E destaca o assento, como metáfora de uma vida pecaminosa. Da mesma forma, devem ser entendidas as três frases: andar, parar em pé (caminhar) e sentar.
· Quando alguém caminha voluntariamente em busca da satisfação de seus desejos corruptos, a prática do pecado o enfeitiça de tal forma, que, esquecido de si mesmo, ele se endurece na maldade. Resultando em se atrapalhar com os pecadores. Por fim, vem a obstinação desesperada, que é se sentar com os pecadores.
· Escarnecedores são aqueles que, tendo abandonado todo temor a Deus cometem pecado sem restrição, na esperança de escapar impunes. E sem remorsos ou medo, divertem-se com o julgamento de Deus como se nunca fossem prestar contas a Ele.
· O caminho dos pecadores significa o hábito perverso.
· A intenção do salmista é advertir aos verdadeiros adoradores de Deus a se afastarem do caminho dos perversos, afim de estruturar as suas vidas corretamente. Quanto mais, no tempo presente, quando o mundo se tornou mais corrupto, para que possamos ser mantidos imaculados de suas impurezas.
· Devemos nos manter afastados dos ímpios para não sermos infectados por eles, e não nos corrompermos, nem nos abandonarmos à impiedade.
· Porém, o homem pode não ter contraído contaminação por maus exemplos, e ainda assim, vir a assemelhar-se aos ímpios ao imitar, espontaneamente seus costumes corruptos.
VERSO 2
ü O Salmista declara felizes aqueles que temem a Deus, como a Bíblia faz em outros lugares, e afirma a piedade pelo estudo da Lei, ensinando que Deus só é servido corretamente quando sua Lei é obedecida. Ou seja, a religião não deve ser definida de acordo com o julgamento de cada um, mas o seu padrão é estabelecido por Deus em sua Palavra.
ü Ao citar a Lei, não devemos entender que as demais partes da Palavra de Deus devem ser excluídas, mas que toda a Escritura, tendo a Lei como cabeça, estrutura todo o corpo. Ou seja, todas as partes da Bíblia são de acordo com a Lei de Deus. Logo, quando os profetas recomendam a Lei, consideram todo o restante inspirado. Portanto, os verdadeiros adoradores devem meditar com os Salmos.
ü Os piedosos são os que se deleitam na Lei do Senhor. Isso nos ensina que a obediência forçada ou servil não é de todo aceitável a Deus. E que, somente são considerados estudantes dignos aqueles que a ela se achegam com suas mentes alegres, e que consideram tanto as suas instruções que não consideram nada mais desejoso do que progredir nelas.
ü Desse amor verdadeiro à Lei procede a meditação constante sobre ela, que o profeta diz que medita dia e noite, significando initerruptamente. Pois todos os que são verdadeiramente movidos pelo amor à Lei devem ter prazer no estudo diligente dela.
VERSO 3
ü A árvore junto a ribeiros de águas para representar os justos em sua alegria significa que eles estão numa condição ideal, de alegria verdadeira, diferente daqueles cujas alegrias são passageiras. Já os ímpios, por mais que cresçam em riqueza e poder, e possam ser comparados até com cedros em grandeza e força, com os problemas no solo logo murcham e perdem seu esplendor. Porque, é a bênção de Deus que mantém alguém numa condição próspera. Dá o fruto, as folhas não murcharem e tudo o que fazem, prospera, significa que os justos são sempre assistidos pela Graça de Deus, e tudo o que ocorre serve para a sua salvação. Diferente dos ímpios, que mesmo com aparência de fecundidade, não produzem nada que chegue à perfeição.
VERSO 4
ü Os ímpios são comparados a palha, significando que tudo o que faz serve somente para a sua destruição. Que sua destruição é certa. Que a prosperidade sem Deus não serve para nada. Pois, quando Deus soprar com a sua ira, os ímpios serão levados de um lado para o outro, até a completa ruína.
VERSOS 5 e 6
ü Uma vida feliz depende de uma boa consciência, produzida por Deus. Por isso, os ímpios logo desistem da felicidade que imaginavam possuir. Por isso, vemos muitos ímpios se divertindo publicamente com as desordens, imoralidades, como ladrões em cavernas contando seus lucros injustos quando estão fora do alcance da justiça. Mas, quando a justiça for exercida, esses ímpios verão que estavam cegos por seus prazeres que pareciam felizes. Esses ímpios são miseráveis, porque a verdadeira felicidade está na boa consciência de Deus, em Cristo. Os ímpios só se sentem bem enquanto não são pegos. Já os justos, até quando provados, evidenciam sua verdadeira felicidade.
ü O verso também ensina que Deus faz seu julgamento diariamente, para distinguir o justo do perverso. Mas, como esse julgamento é parcial nesta vida, os jutos olham mais alto, por desejarem a assembleia dos justos prometida por Deus aqui.
ü Mas, mesmo neste mundo, a prosperidade dos ímpios começa a desaparecer quando Deus manifesta o seu julgamento. Nesse momento, os ímpios são levados a reconhecer, querendo ou não, que não têm parte com a assembleia dos justos. Mas, como isso não ocorre sempre, nem com todos os homens, devemos aguardar a separação final, quando Cristo separará as ovelhas dos bodes. Ao mesmo tempo, devemos considerar que os ímpios são derrotados a miséria. Pois suas próprias consciências os condenam por suas maldades, e sempre que são convocados a prestarem contas devidas de suas vidas, seus sonos são interrompidos e eles percebem que estavam apenas sonhando quando se imaginavam felizes, sem olharem para dentro, para o verdadeiro estado de seus corações. Além disso, aprendemos que Deus é o juiz do mundo, mesmo que pareça que tudo está largado ao acaso. Portanto, mesmo que pareça que nada está bem para os retos, como está para os ímpios, os justos devem ser felizes em sua condição, por saber que Deus é o seu juiz e protetor. Afinal, como Deus é o Vingador certo da maldade, no presente e no porvir trará ordem a toda confusão.
ADAPTADO DE CALVINO