Com base na obra de João Calvino e no pensamento reformado aplicado ao Salmo 10, segue um resumo da densa exposição do reformador em lições práticas e teológicas:
Calvino frequentemente "re-traduz" o sentido para enfatizar a intenção do autor. Para ele, o Salmo 10 pode ser lido como:
"Senhor, por que finges não ver quando o mal nos cerca? O ímpio, em sua arrogância, acredita que és cego ou indiferente. Ele arma laços contra os pobres como se Tu não reinasses. Mas Tu vês, Tu anotas a maldade e serás o defensor daqueles que não têm ninguém por eles."
Calvino ensina que a queixa do salmista não é rebelião, mas uma honestidade piedosa. Deus muitas vezes retira o sentido de Sua presença para que nossa fé seja exercitada na escuridão.
A tese: O "esconder-se" de Deus é um artifício pedagógico para provar a paciência dos santos.
Para Calvino, o ímpio do Salmo 10 não é necessariamente alguém que nega a existência de Deus intelectualmente, mas alguém que vive como se Deus não interviesse.
A tese: A raiz de toda injustiça social é o orgulho espiritual que remove o temor de Deus do horizonte cotidiano.
O opressor diz: "Deus esqueceu". O salmista responde: "Tu o viste". Calvino destaca que Deus guarda um "livro de registros" das aflições dos humildes.
A tese: A impunidade é uma ilusão temporal; a justiça divina é uma realidade eterna e cumulativa.
"Nada é mais difícil para nós do que ver o ímpio prosperar e Deus silenciar."
"O orgulho é a mãe de todas as crueldades."
"Deus não exerce Seu julgamento a cada momento para que possamos aprender a esperar."
"A felicidade dos maus é como um banquete de um condenado antes da execução."
Contra a Indiferença Social: Calvino via na opressão dos pobres uma ofensa direta ao Criador. Hoje, isso nos chama à responsabilidade ética: ignorar a injustiça é, na prática, concordar com o ímpio que diz "Deus não vê".
O Perigo do Sucesso Sem Deus: O sucesso que gera soberba e desprezo pelo próximo é um sinal de julgamento divino, não de bênção. Calvino nos alerta a examinar a fonte de nossa prosperidade.
Oração como Protesto: O Salmo 10 nos autoriza a levar nossas indignações políticas e sociais a Deus. A oração não é apenas refúgio, é o tribunal onde apresentamos a causa dos desamparados.
A Realeza de Cristo no Caos: Mesmo quando as instituições humanas falham (o "homem da terra" que aterroriza), a Igreja deve proclamar que "O Senhor é Rei para todo o sempre".
Tese da Providência: Deus governa as ações dos ímpios, limitando-as até o momento em que decidir manifestar Seu braço forte.
Tese da Depravação: Sem o freio do temor de Deus, a mente humana é capaz de maquinar crueldades indescritíveis sob o manto da impunidade.
Tese da Defesa do Oprimido: Deus se identifica especialmente como o "Pai dos órfãos", tornando a causa dos vulneráveis a Sua própria causa.
Calvino conclui que este salmo é o nosso "escudo" contra o escândalo da injustiça. Ele nos impede de desfalecer quando vemos o mal triunfar, assegurando-nos que o julgamento de Deus, embora às vezes lento aos nossos olhos, é inevitável e perfeito.