25 de Agosto 2022

Eixo 2 - Questionamentos conceituais: políticas de reconhecimento: discursos de autoridade e a construção social da diferença

9H BR

Apresentação do eixo 2

Monica Rahme (UFMG) / Marcelo Silva de Souza Ribeiro (UNIVASF)

10H BR

Plenária


10H30 BR


Pausa


Apresentação dos.as estudantes



11H BR

Oficinas de Libras: qual protagonismo surdo? Quais aprendizagens para os ouvintes?

Fernanda Cilene Moreira de Meira (UFMG)

Breve descrição : As experiências de socialização de crianças e adolescentes surdas no ambiente familiar e escolar são fundamentais para o seu desenvolvimento cognitivo, emocional, social. A linguagem dos surdos se desenvolve por meio de mecanismos de compensação e superação (VYGOTSKY, 1989), estratégias de comunicação com gestos e pela língua de sinais, seu principal meio de comunicação e fator decisivo no desenvolvimento das funções psíquicas superiores (pensamento, memoria, abstração, dentre outras). A língua de sinais é composta de estrutura e organização similar às línguas orais, apresenta gramática própria e possibilita a comunicação de conceitos concretos e abstratos entre os surdos, e entre surdos e ouvintes (QUADROS, 1997). Como toda linguagem, juntamente às relações sociais, a língua de sinais integra os processos fundamentais para a constituição do sujeito (VYGOTSKY; LURIA, 1988), ao mediar a troca de experiências, conhecimentos e o acesso a culturas diferentes. Com base nesses pressupostos, entende-se que a interação para os surdos, por meio da língua de sinais, será a base para seu desenvolvimento social, cognitivo e psicológico. Em síntese, a defesa do uso da língua de sinais nos processos educativos formais e não formais fundamenta-se do trabalho de diversos autores que enfatizam: 1. A aquisição da linguagem deve privilegiar a atividade discursiva do sujeito com e sobre a língua para a constituição do pensamento (GUARINELLO, 2007); 2. A importância da linguagem para o desenvolvimento do pensamento e das funções executivas superiores (TONIETTO, 2011); 3. A relação entre desenvolvimento do pensamento verbal e o modo de o sujeito operar a realidade (WERNER, 2015); 4. A relação entre atividade educativa, comunicação e apropriação da produção cultural humana elaborada historicamente (BERNARDES, 2011); e 5. A importância das relações sociais e linguísticas na constituição do indivíduo (GOLDFELD, 2002). Assim, a questão norteadora desta pesquisa é: Em que medida a comunicação entre surdos e ouvintes no ambiente familiar e na escola, mediada ou não pela língua de sinais, afeta a aprendizagem e as relações sociais dos surdos? A hipótese é que a privação ou uso de estratégias de comunicação informais e precárias fazem com que os surdos tenham dificuldades nas relações interpessoais, baixo desempenho escolar, estigma e prejuízo das interações sociais. A metodologia é a pesquisa-ação, por meio da qual “se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela.” (TRIPP, 2005, p. 446). Os dados serão analisados por meio de abordagem qualitativa através da delimitação de categorias de análise, definidas, a princípio, em: caracterização dos sujeitos; evolução e transformação na forma de pensar, sentir e agir em relação à surdez, comunicação e percepção de si; posicionamento ao longo do processo e outras categorias que se fizerem pertinentes no momento da análise.

Justificativa eixo : Considerando o Eixo 2 – Questionamentos conceituais: políticas de reconhecimento: discursos de autoridade e a construção social da diferença, a presente pesquisa visa aprofundar a reflexão sobre a inclusão de pessoas surdas no ambiente escolar, por meio da promoção da língua de sinais, compreendida aqui como meio fundamental para o respeito às especificidades linguísticas da pessoa surda. As limitações nos processos comunicativos e o convívio exclusivamente com ouvintes impedem a criança surda de perceber-se como participante do grupo familiar, e o não compartilhamento das vivências sociais e linguísticas podem influenciar na construção da identidade dessa criança. Assim, por meio da proposição de oficinas de Libras, denominadas Escola de Libras, espera-se estimular a aprendizagem da língua de sinais e a comunicação entre surdos e ouvintes. As oficinas permitem aos surdos, aos seus familiares e professores engajarem-se em um projeto democrático e coletivo que, gradativamente, através da contribuição de cada participante, pode “concorrer ou convergir para a transformação real de nossas condições de existência, de modo que o verdadeiro sujeito humano venha à existência” (CIAMPA, 1989, p.74) e contribuir para superação das desigualdades econômicas, políticas, sociais e culturais historicamente produzidas.


11H40 BR

A idealização do falante nativo no ensino de segunda língua: uma fonte de tensão na construção identitária de futuros professores

Andréanne L.Nolin (UQTR)

Breve descrição : O número crescente de estudos internacionais que versam sobre o desgaste dos docentes novatos (Alava, 2015; Hernandez e Méard, 2014; Karsenti, Collin e Dumouchel, 2013; OECD, 2020; TALIS, 2018) atesta uma preocupação científica e institucional com a condição daqueles que iniciam na profissão. Tanto no Quebec como a nível internacional, essa saída da profissão representa uma perda de capital financeiro e humano para o setor educacional devido ao alto custo da formação (Barnes, Crowe e Schaefer, 2007; Kamenzi, Tardif e Lessard, 2015; OECD, 2020). A decisão individual de deixar a profissão está em grande parte relacionada com a percepção que o docente tem de sua profissão. Para este fim, Kamanzi, Barroso Da Costa e Ndinga (2017), em sua pesquisa sobre desengajamento profissional, demonstra que a relação negativa com a profissão está ligada à identidade. Essa relação negativa com a profissão pode, numa dialética entre si e outrem, influenciar negativamente os colegas em sua relação com a profissão. As dificuldades dos futuros professores em moldar sua identidade profissional podem estar por trás de sua saída precoce da profissão (Beijaard, Verloop e Vermunt, 2000; Zimmerman, 2016). A construção da identidade profissional dos docentes é um processo complexo (Dubar 1996; Gohier, Anadón, Bouchard, Charbonneau e Chevrier, 2001; Zimmerman, 2016). Os desafios são ainda mais numerosos para os docentes de segunda língua (L2), já que tensões identitárias são vivenciadas, seja o docente nativo ou não do idioma que leciona (Varghese, Motha, Trent, Park e Reeves, 2016). Ater-se à dicotomia entre falantes nativos e não nativos reduz e desvaloriza a riqueza das interações e habilidades pelas quais os docentes da L2 negociam sua identidade profissional (Matsumoto, 2018). As pesquisas que fazem uso dessa lente binária para abordar a identidade profissional não têm como compreender a complexidade do conceito (Rudolph, Selvi e Yazan, 2015). Essas tensões vividas pelos futuros docentes vêm se juntar a seu processo de construção identitária, podendo fragilizá-lo. A presente pesquisa busca melhor compreender as representações dos futuros docentes de L2 no que diz respeito à construção de sua identidade profissional.

Justificativa eixo : Meu projeto de pesquisa está posicionado no eixo 2: discurso de autoridade e construção social da diferença. Mais especificamente, sobre a tensão identitária entre falante nativo (FN) - falante não-nativo (FNN) vivenciada pelos futuros docentes de segunda língua. Para Chomsky (1965), o FN do idioma é a única fonte confiável de informação linguística e o objetivo do ensino de uma segunda língua seria o de atingir uma proficiência linguística próxima à do FN. Para Muni Toke (2013), por ser mais política que científica, FN não é uma categoria válida em linguística, já que estaria acima de tudo relacionada a uma ideologia de estado-nação. Por mais que o modelo FN-FNN seja altamente criticado nos círculos acadêmicos (Freeman, 2016), ainda hoje, as práticas de contratação revelam que o FN continua em vantagem sobre o FNN junto aos empregadores (Karas e Faez, 2021), reforçando o sentimento de incompetência e marginalização dos FNNs. De acordo com Hyme (1996), é precisamente essa dimensão idealizada do falante nativo que é politizada na busca de uma universalidade artificial. A comunicação lança um olhar crítico sobre a idealização do FN no ensino de segunda língua e sobre as tensões que o fato gera para os futuros docentes.



12H20 BR

Ensino das realidades indígenas e de temas sensíveis: práticas e desafios na formação preuniversitaria

Léa Lefevre-Radelli (UQTR)

Breve descrição : Le projet proposé vise à mieux comprendre les perceptions et les pratiques des professeurs et membres du personnel du milieu collégial québécois, dans un contexte de sensibilisation aux réalités autochtones. Ainsi que le soulignent Fast et Drouin-Gagné (2019 : 96), « teachers may (…) avoid introducing Indigenous knowledges and pedagogies into the classroom because they don’t know where to begin and are intimidated by the prospect of facilitating difficult discussions ». L’histoire des pensionnats indiens et de la colonisation font ainsi partie des « savoirs difficiles » (Britzman, 1998 : 755). Ceux-ci font émerger des traumatismes sociaux et historiques et exigent une réelle préparation des enseignants en termes de contenu curriculaire et de pratiques pédagogiques (Cote-Meek, 2014; Hirsch, 2012). Les défis liés à la mise en place de pratiques liées à l’autochtonisation et la sécurisation culturelle seront examinés à travers les perspectives inclusives et critiques. Celles-ci permettent de prendre en compte à la fois le rôle des institutions dans la reproduction des inégalités et les possibilités de transformation sociale. La perspective inclusive, d’abord développée dans le champ de l’adaptation scolaire et sociale, a ensuite été appliquée dans le domaine de l’éducation liée à la diversité ethnoculturelle (Potvin et al., 2015; Potvin, 2017). Elle aborde l’importance des changements structurels pour faire en sorte que tous les élèves aient leur place de plein droit sans être stigmatisés. Dans le champ des études autochtones, Lachapelle (2017) a montré qu’adopter une perspective inclusive permettrait d’aller au-delà de l’établissement de mesures de soutien aux étudiants autochtones, pour changer les pratiques et représentations de l’ensemble des étudiants et des membres du personnel. La pédagogie critique aborde quant à elle les rapports de pouvoir à l’œuvre dans l’enseignement en classe, la production des connaissances et les structures institutionnelles (McLaren 2000 :35). Elle préconise des pratiques enseignantes basées sur l’approche réflexive, l’examen de ses propres biais culturels, la reconnaissance du rôle des émotions, l’empowerment et la réflexion critique des étudiants (Hooks, 1994; Kincheloe, 2004; Sleeter et McLaren, 1995). La recherche se fondera sur une démarche qualitative et exploratoire. Des entrevues semi-dirigées avec des enseignants et des membres du personnel des cégeps permettront de documenter leur perception des réalités autochtones, ainsi que leurs perceptions de leur rôle, de leurs pratiques et des défis et obstacles liés à une telle démarche. En considérant le contexte étudié et les théories déployées pour l’analyser, la recherche visera à répondre aux questions suivantes : 1) Comment l’ensemble des membres du personnel des cégeps francophones comprennent-ils leur rôle par rapport à la prise en compte des perspectives autochtones? 2) Quelles pratiques les enseignants réalisent-ils concrètement dans leurs classes, selon leurs disciplines ? Quelles pratiques les membres du personnel non-enseignant réalisent-ils? S’ils ne mettent pas en place de pratiques particulières, quelles en sont les raisons? 3) Quels défis se posent dans leur mise en œuvre de ces pratiques?

Justificativa eixo : Mon projet se situe dans l’axe 2. Lors de ma thèse, soutenue en 2019, j’ai réalisé des entrevues avec des étudiants autochtones des universités francophones de Montréal. Mes résultats montraient que les étudiants faisaient face aux conséquences du racisme systémique, reproduit au sein de l’institution universitaire. Suite à ces travaux, dans cette recherche postdoctorale, je souhaite décentrer le regard en tournant l’attention non plus vers les Autochtones, mais vers les enseignants non-autochtones, et plus particulièrement blancs et québécois. Dès le début du XXe siècle, des membres des groupes racisés (non-autochtones) pressaient les Blancs d’arrêter d’étudier « l’Autre » et de tourner leur regard sur eux-mêmes, en explorant ce que signifiait être blanc dans des sociétés si fortement racisées (Sensoy et DiAngelo 2012 : 120). Je m’interrogerai plus spécifiquement sur la pertinence de la notion de « whiteness », issue des Critical racial studies et reprise dans les travaux sur la pédagogie critique, pour contribuer à la compréhension des perceptions des enseignants et de leurs choix pédagogiques concernant la prise en compte des perspectives autochtones. J’émets ainsi l’hypothèse que les travaux portant sur le racisme et la perspective inclusive (pensée prioritairement envers les communautés racisées non-autochtones) peuvent contribuer à la compréhension des réalités autochtones, bien qu’ils aient été très peu mobilisés dans la littérature francophone portant sur les peuples autochtones.



13H BR


Pausa para o almoço


Apresentação dos.as estudantes



14H BR

O acesso e a permanência dos estudantes indígenas na Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Francine Cristina de Menezes Nunes (UERJ)

Breve descrição : Este trabalho, ainda em andamento, tem como objetivo investigar o acesso e a permanência dos estudantes indígenas nas universidades no estado do Rio de Janeiro. A partir de suas perspectivas, procurar compreender as dinâmicas de resistência e de sociabilidade dos universitários indígenas, em contexto urbano e universitário, para a manutenção de suas identidades étnicas. Com isso, a investigação contará com os seguintes questionamentos que ajudarão a nortear o processo da pesquisa: Há um silenciamento dos estudantes indígenas nas cidades e universidades? Quais são os desafios que os universitários indígenas encontram? Os indígenas sofrem algum tipo de preconceito ao entrar nas universidades? Nesta pesquisa utilizaremos alguns conceitos-chave: modernidade/decolonialidade (Mignolo,1998), (Santos, 2002), (Quijano,2005); interculturalidade crítica e decolonial (Walsh, 2019); identidade e diferença (Hall, 2006); e o conceito de diáspora (Hall, 2003), para compreender a situação de indígenas em seus diferentes territórios (aldeias, cidades e universidades).

Para este seminário, apresentaremos uma revisão de literatura sobre os temas mais recorrentes no debate sobre ação afirmativa e cotas para indígenas no Brasil; um levantamento estatístico sobre estudantes indígenas cotistas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e procuraremos destacar quais são os atuais desafios e conflitos que estes estudantes encontram para o acesso às universidades públicas brasileiras.


Justificativa eixo : O trabalho está em consonância com o segundo eixo deste evento, que fala sobre políticas de reconhecimento: discursos de autoridade e a construção da diferença. Este eixo aponta para o debate sobre o reconhecimento da diversidade: como discursos institucionais e políticas governamentais também se constituem e confirmam o processo de construção identitária dos públicos que pretendem incluir. Neste sentido, consideramos que as experiências e as dificuldades que os estudantes indígenas encontram ao procurarem acessar a universidade pública brasileira e também os desafios que se deparam para permanecerem nela, permitem uma rica discussão sobre como o contexto da universidade apresenta uma estrutura colonial que acaba por reforçar o preconceito contra estudantes indígenas, mesmo quando utiliza recursos como as ações afirmativas ou cotas para procurar incluí-los Podemos perceber que ainda persiste na universidade uma visão eurocêntrica que dificulta o acesso, assim como invisibiliza, muitas das vezes, a presença destes grupos étnicos dentro das instituições. Esse processo se dá de diferentes formas, como a exclusão da identidade desses estudantes e o racismo institucional imposto por meio da ocultação de dados da Instituição.

Como veremos em nosso estudo, o discurso se autoridade da universidade, as regras para considerar os direitos indigenas na política de cotas muitas vezes acarreta e em uma forma de exclusão ao ingresso dos indígenas que vivem nos centros urbanos, porque ele precisará provar a sua identidade cultural a partir de regras que desconsideram sua condição diaspórica aos centros urbanos que impede uma relação direta com a FUNAI (órgão governamental que reconhece oficialmente a identidade indigena), e por outro lado, também dificulta o acesso de indígenas das aldeias ao não oferecer formas específicas de entrada para a universidade para quem não possui o português como primeira língua.


14H40 BR

Branquitude e maioria: questões conceituais de uma etnografia da escolha da escola no Quebec

Xavier St-Pierre (UQTR)

Breve descrição : Meu projeto de doutorado se concentra no papel da escola na reprodução das desigualdades a partir da posição do grupo majoritário no Quebec, num contexto regional distante dos grandes centros urbanos. Este projeto de pesquisa se baseia no postulado de que é necessário "voltar o olhar para o dominante" (Eid, 2018, p.144), enquanto a pesquisa sobre as desigualdades tende a não analisar a posição do grupo majoritário. Inspirados pelo trabalho de Pinçon e Pinçon-Charlot (2005), podemos assim nos perguntar: é possível compreender a interação dinâmica entre espaço social e espaço escolar sem levar em consideração as escolas ocupadas pelo grupo no topo da hierarquia social?

Neste projeto, foco nas relações sociais desiguais ligadas à classe e à raça em diálogo com os estudos sobre a reprodução das desigualdades e a sociologia das elites, particularmente respaldados no legado de Pierre Bourdieu (Bourdieu e Passeron, 1970). Este projeto de pesquisa propõe preencher uma das lacunas da "sociologia das elites", que está ancorada em um arcabouço bourdieusiano bastante ligado a uma hierarquização social organizada de acordo com a classe, e que não leva em consideração, por um lado, a diversidade das elites e, por outro, as hierarquizações sociais ligadas à raça e ao gênero nas relações de dominação (Cousin et al., 2018).

Além disso, este projeto de pesquisa tem como objetivo dar conta da natureza cotidiana dos sistemas hierárquicos sociais, enquanto, no Quebec, os estudos sobre reprodução social são realizados principalmente de forma quantitativa. Embora estudos quantitativos tenham permitido explicar o sucesso das elites no Quebec e a segmentação do sistema escolar quebequense, estudos qualitativos parecem ser necessários para melhor compreender a reprodução como tal e os contextos em que as relações de poder são construídas.

O objetivo é compreender a maneira como, através da manutenção dos privilégios, a reprodução das desigualdades relacionadas à raça e à classe se desenvolve no cotidiano escolar. Assim, é por meio de uma abordagem etnográfica e sociológica que a tese busca descrever como as desigualdades relacionadas à raça e à classe tomam forma na e em torno da escola.


Justificativa eixo : As políticas de reconhecimento da "diferença" dos grupos "minoritários" se desenvolveram, notadamente, em relação à "cegueira à diferença" (Taylor, 1992). Focar no grupo majoritário permite que se reflita sobre as possibilidades e armadilhas das políticas do reconhecimento, em particular quando se lança luz sobre a forma como a posição social e os marcadores do grupo majoritário permanecem, na maioria das vezes, ausentes, sendo a "diferença" dos grupos minoritários o alvo das políticas. Pode-se pensar nos conceitos de branquitude ou de colono, que são, todavia, pouco utilizados no Quebec, enquanto os conceitos de "minoria visível", pessoa racializada e autóctone são parte integrante dos discursos públicos. Os conceitos de minoria/maioria são relacionais: eles são construídos mutuamente, a partir de uma certa disposição de relações de poder. Juteau (2015) mostrou como a humanidade do outro é descrita como étnica: "enquanto a especificidade cultural é atribuída às minorias, a do grupo dominante passa despercebida porque vale como norma, como universal" (p. 108). Por exemplo, o conceito de colono está intimamente ligado às identidades autóctones e é construído em relação ao grupo que busca substituir no território. Entretanto, ao contrário dos povos autóctones, os colonos podem ser reconhecidos como indivíduos sem passar por uma identidade de grupo. Além disso, as políticas do reconhecimento centradas na "diferença" escondem o fato de que os termos do reconhecimento são definidos pelo grupo majoritário, o mesmo permanecendo indefinido. Isso é particularmente sensível num contexto colonial (Coulthard, 2015). Assim, focar no grupo majoritário permite tratar questões que permeiam demandas de reconhecimento, tais como a meritocracia e a cegueira racial. Minha apresentação discutirá a definição do grupo majoritário e seus marcadores, os conceitos que são usados para defini-lo e o risco de essencialismo de certos conceitos que visam definir o grupo majoritário, tais como a branquitude (Eid, 2018), a partir de uma perspectiva sociológica – ou seja, analisando como a identidade do grupo majoritário também é construída socialmente.


15H20 BR

Identidade, itinerância formativa e atuação profissional: narrativas de mulheres negras fonoaudiólogas em uma pesquisa (auto) biográfica

Suellen Mayane de Paiva Santos (UNIVASF)

Breve descrição : Esta proposta de estudo ancora-se em uma abordagem multirreferencial, implicada e fundamentada no Pensamento Decolonial, tendo como objetivo compreender as histórias constituidoras da identidade de mulheres negras fonoaudiólogas. Para escolha dessa temática de pesquisa fui movida pela inquietude da minha experiência enquanto mulher negra, profissional de saúde, fonoaudióloga e pesquisadora, por observar o quanto os entrelaçamentos entre raça e gênero produzem particularidades no enredo de mulheres negras atuantes no cuidado em saúde.


Desse modo, este trabalho possui a proposição de viabilizar as histórias de mulheres negras que acessaram o ambiente acadêmico e que estão, atualmente, na posição de profissionais de saúde atuando como fonoaudiólogas, para compreender como se compõem suas trajetórias de vida e sua identidade.

A fundamentação desse trabalho a partir do pensamento decolonial busca um comprometimento com a autonomia de mulheres negras trazendo, nesse sentido, uma construção coletiva para escrever a história nos próprios moldes. Da mesma forma, esse compromisso se encaminha para compreender a complexidade da colonialidade e como ocorrem os impactos do seu funcionamento no sujeito.

Considera-se também que o percurso metodológico deste trabalho se dará com enfoque na abordagem (auto) biográfica que pode ser associar com o pensamento decolonial, uma vez que falar e escrever sobre si gera processos (auto) formativos e, consequentemente, pode produzir questionamentos e atitudes sobre as dimensões da colonialidade do ser, do saber e do poder. É pensando nesses processos que este projeto visa discutir questões étnico raciais dentro do âmbito da fonoaudiologia, na perspectiva de mulheres negras fonoaudiólogas.

Em virtude disso, este trabalho tem como objetivos específicos apreender as histórias relacionadas à construção da identidade racial e de gênero de fonoaudiólogas negras; descrever as narrativas de mulheres negras sobre a formação acadêmica em fonoaudiologia; descrever as histórias da prática profissional de fonoaudiólogas negras e apreender as experiências de ser mulher negra profissional de saúde.

Ancorando-se na epistemologia multirreferencial (Macedo, 2020), a realização desta pesquisa se dará por uma abordagem qualitativa interpretativa. Nesse percurso será adotada a metodologia de pesquisa (auto) biográfica, visto que este trabalho coloca uma ênfase nas narrativas de si como ponte para o entendimento do sujeito e da sua coletividade, sendo também um processo reflexivo baseado no encontro com a própria história (Delory-Momberger, 2016).

Para construção do itinerário de informações, o movimento de biografização, nesta pesquisa, será alinhavado na esteira da escrevivência¹ e da entrevista narrativa (auto) biográfica, sendo estes, os dispositivos de produção de informações no decorrer desse estudo. Considerando a perspectiva que estrutura esse projeto e tendo em vista o que se busca através dela, a interpretação das informações que serão colhidas ocorrerá por meio da hermenêutica de Gadamer.


A pesquisa ocorrerá em ambiente virtual e a seleção das participantes será baseada no fato de serem mulheres autodeclaradas negras (pretas e pardas), graduadas em fonoaudiologia, com pelo menos um ano de atuação profissional na área. O presente projeto foi submetido ao Comitê de ética estando ainda em fase de avaliação e o inicio do processo de pesquisa, bem como a colheita das informações ocorrerá após aprovação pelo referido Comitê.

Esta pesquisa traz benefícios indiretos, através dela poderá ser conhecida a realidade das participantes, em uma busca pela visibilidade das temáticas que serão discutidas e fomentará um espaço para relacionar a fonoaudiologia às questões étnico raciais. Também se considera que a dinâmica de pesquisa poderá repercutir no fortalecimento identitário das participantes, visto que as abordagens narrativas (auto) biográficas também possuem um papel autorreflexivo.

Justificativa eixo :

Partindo de uma abordagem multirreferencial, implicada e fundamentada no Pensamento Decolonial, tendo como objetivo compreender as histórias constituidoras da identidade de mulheres negras fonoaudiólogas, esse projeto explicita uma dupla pertinência ao eixo em questão justamente por fazer referência aos aspectos conceituais/teóricos e metodológicos. Essa pertinência se sustenta de um lado pelo fato do projeto envolver questões étnico raciais e de gênero articuladas a formação profissional. Compreendo que se integra ao referido eixo uma vez que traz questionamentos conceituais, colocando o enfoque na constituição da identidade das sujeitas mulheres negras fonoaudiólogas. Há nesse ponto uma convergência de discussões sobre formação profissional, questões de gênero e questões étnicas. Como sinalizado, esse projeto envolve também pertinências metodológicas, visto que busca apreender as histórias relacionadas à construção da identidade racial e de gênero de fonoaudiólogas negras e suas experiências na formação acadêmica e na prática profissional. Aspectos teóricos e do método se dão de modo implicado sobretudo porque há valorização das histórias de vidas, das narrativas apresentadas pelas participantes, inclusive no que diz respeito as chamadas “escrevivências”. Desse modo, este projeto busca visibilizar as histórias de vida de mulheres negras fonoaudiólogas nos âmbitos da construção da sua identidade, das experiências na formação acadêmica e da forma como vivenciam a prática profissional, pensando em retratar em primeira pessoa essas mulheres negras enquanto autoras das próprias trajetórias.


16H BR

Encerramento do dia

  • Como articular princípios de autodeclaração e os chamados “critérios objetivos” de validação?

  • As categorias dos grupos-alvo podem, ao mesmo tempo, assegurar direitos, reificar dinâmicas de poder e posições subordinadas?

  • Como a psicanálise pode contribuir para a “gestão” de populações específicas? A perspectiva clínica pode contribuir para pensarmos os impasses vividos pelos sujeitos nesse processo de construção identitária na atualidade?