24 de Agosto 2022

Eixo 1 - Questões geopolíticas: território, centro-periferia e diversidade situada



9H BR

Abertura

Comitê científico

Apresentação do eixo 1

Gustavo Bruno Bicalho Gonçalves (UFSB) / Corina Borri-Anadon (UQTR)

10H BR

Plenária


10H30 BR


Pausa


Apresentação dos.as estudantes



11H BR

Planejamento e políticas linguísticas na educação: incidências sobre estudantes de origem imigrante em contexto regional quebequense

Danial Nabizadeh (UQTR)

Breve descrição : O Quebec possui características sociolinguísticas peculiares, pois a população imigrante no Quebec, os povos autóctones, as comunidades anglófonas e a maioria da população francófona atestam a diversidade linguística e cultural dessa província. Essas características sociolinguísticas estruturam a integração e o acolhimento dos imigrantes. A diversidade cultural e linguística do Québec também se reflete no ambiente escolar. Nesse sentido, o desenvolvimento de uma política linguística é uma das estratégias básicas para controlar e manter uma língua em um determinado território.

Por um lado, a educação é uma questão política fundamental considerada como um fator crucial para garantir a produtividade e a competitividade econômicas. De fato, as escolas, enquanto poderosas ferramentas políticas para o ensino de idiomas, desempenham um papel crucial na gestão da situação linguística de uma sociedade. Isso significa que os governos podem desempenhar um papel fundamental na gestão da diversificação linguística, adotando políticas linguísticas na educação.

Por outro lado, supõe-se que as políticas educacionais têm impacto no conjunto do sistema educacional, incluindo a experiência dos estudantes, a prática dos profissionais, os serviços oferecidos aos estudantes e a colaboração entre escolas e famílias. Em outras palavras, as políticas desempenham um papel central no que acontece nas escolas e têm uma influência direta e indireta no sucesso educacional dos estudantes oriundos da imigração.

Além disso, é preciso notar que a especificidade sociolinguística e sociocultural no Quebec também varia de acordo com a região da província. No sentido de que a distribuição dos imigrantes em diferentes regiões influencia a diversidade cultural e linguística em cada região da província. Por exemplo, a quantidade de imigrantes que se estabelecem em uma cidade como Montreal é muito maior do que em uma cidade como Trois-Rivières. A esse respeito, supõe-se que os centros de serviço escolar para a adaptação da política linguística nas diferentes regiões levem em consideração essa variação. Portanto, dependendo do contexto, o impacto das políticas linguísticas sobre os estudantes imigrantes é diferente.

À luz dessas considerações, meu projeto busca principalmente analisar as políticas linguísticas de centros de serviços escolares. Assim, sabendo que as políticas educacionais podem afetar o sucesso educacional e a integração dos estudantes oriundos da imigração, tentamos encontrar uma resposta científica para a seguinte pergunta: "qual é o impacto das políticas linguísticas dos diversos centros de serviços escolares sobre o sucesso educacional dos estudantes oriundos da imigração?”

Nessa perspectiva, o objetivo desta pesquisa é compreender como as administrações escolares elaboram políticas linguísticas e as implementam a nível institucional, e como elas influenciam o sucesso educacional e a integração de estudantes oriundos da imigração. Acreditamos que tal estudo permitiria encontrar direcionamentos inovadores para ajudar as administrações escolares a melhorar a implementação de políticas linguísticas no Québec.


Justificativa eixo : Gostaria de me inscrever no eixo 1, questões geopolíticas: território, centro-periferia e diversidade situada, pois meu projeto de tese está intimamente ligado a este eixo.

De fato, a temática desse eixo se baseia especificamente na análise das relações de poder na educação de um ponto de vista territorial, que é o que meu projeto de tese se propõe a fazer. Consequentemente, fazer parte desse eixo pode me auxiliar a aprofundar minhas reflexões sobre esse assunto na estruturação de meu projeto de tese.

O contexto pode desempenhar um papel crucial para a adaptação de uma política educacional e linguística. Dada a variação na quantidade de estudantes oriundos da imigração nas diferentes regiões do Québec, a forma como as políticas são implementadas é diferente. Por exemplo, se compararmos a política linguística do CSS de Laval com aquela de Chemin-du-Roy, entenderemos que o plurilinguismo é menos legítimo na política linguística do CSS de Chemin-du-Roy do que a do CSS Laval. Assim, a relação territorial e regional é importante para a análise das políticas educacionais e linguísticas.

Por essa razão, as questões colocadas nesse eixo, "Como podemos pensar a relação entre educação e território?", "Como a pesquisa pode contribuir para o reconhecimento do caráter situado da diversidade e das desigualdades sobre as quais se debruça?" ou "Como os modelos de gestão na educação consideram as especificidades territoriais e a relação escola-comunidade?”, são de particular interesse para meu projeto.


11H40 BR

Praticas de ensino e aprendizagem para a construção com terra em comunidades de resistência - tecnologia, tradição e agroecologia

Raphael Augusto Vasconcelos Carneiro Nascimento Pachamama (UFMG)

Breve descrição : O Assentamento Terra Vista é uma conquista da luta por terras organizado pelo Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra, o MST. Este assentamento de Reforma Agrária está localizado no sul da Bahia na cidade de Arataca e foi o primeiro território conquistado pelo MST na região, consolidando-se em 1994, após 3 anos de ocupação e 5 despejos. A área tem cerca de 900 hectares onde hoje vivem aproximadamente 55 famílias (SANTOS, 2016). este território está passando pela transição agroecológica há 20 anos e atualmente tem discutido soluções para suas demandas construtivas que sejam mais compatíveis com seu projeto político.

A utilização de materiais naturais e técnicas locais embasadas na sabedoria popular e tradicional de se fazer arquitetura no Brasil, como a utilização da terra argilosa tem se consolidado como a principal opção, em detrimento de materiais industriais de construção comprados nos grandes centros urbanos.

Apesar de todas as qualidades das construções com terra, para o sucesso da sua performance, é muito importante investigar e entender o comportamento das argamassas de terra e a influência das adições, bem como sua composição e a escolha correta dos materiais a serem utilizados. As argilas são um dos principais componentes dos solos tropicais e possuem distintas composições mineralógicas que lhes conferem diferentes classificações e comportamentos. Amostras de solos que possuem pouca resistência mecânica e durabilidade em relação a ação da água, no entanto, podem ter seu desempenho para uso na construção facilmente otimizado através da adição de materiais estabilizantes adequados como as fezes de vaca, a areia e a cal hidratada.

Nesse sentido, a formação técnica dos construtores é fundamental para desenvolver estratégias e metodologias eficazes e contextualizadas. A Abordagem Situada (Lave; Wenger, 1991), bem como os conceitos de comunidades de prática, comunidade de aprendizagem e participação periférica legitima, podem contribuir bastante para esta pesquisa. Assim este trabalho se inspira de reflexões de Paulo Freire sobre educação e ensino territorializadas e outras abordagens que partem do pressuposto de um engajamento comunitário na resolução de problemas comuns (Freire, Fals Borda)

Portanto, o foco deste projeto de pesquisa são as práticas de ensino e aprendizagem para a construção com terra em comunidades de resistência, visando promover autonomia e moradia digna. O foco está no desenvolvimento de práticas territorializadas, e como a arquitetura de terra pode ser uma interface para abordar a agroecologia a partir de demandas reais: a falta de recurso financeiro para comprar materiais de construção industrializados; e a preservação do meio ambiente aliando boicote a materiais de construção industrializados com valorização de saberes e tradições construtivas com melhoramentos simples para aumentar durabilidade e resistência.

A pesquisa está em curso. Pude identificar no território fartura de terra argilo-arenosa, madeira manejada agroecologicamente e bambu da espécie Bambusa vulgaris. Pude também levantar uma demanda construtiva pelos assentados e pela coordenação da comunidade que é o espaço coletivo para comercialização de produtos feitos no Terra Vista e em outras comunidades parceiras. Estou organizando grupos de aprendizagem para formação teórica e prática daqueles que querem acompanhar todo o processo da obra desde a fundação até a cobertura.

Justificativa eixo :

A pesquisa busca analisar estratégias para o desenvolvimento de uma formação técnica situada na disponibilidade de recursos locais e se inscreve no eixo de questionamento um. Em convergência com os questionamentos sobre a relação entre educação e território, a pesquisa parte da premissa que a relação pedagógica e os saberes são situados e contextualizados, logo o desenvolvimento de conhecimentos sociais de técnicas de construção contra-hegemônicas deve se dar em ressonância com projetos comunitários e de sociedade que permitam uma posição crítica a métodos baseados no uso de materiais de construção industrializados. Deste modo, para o sucesso da relação pedagógica que visa promover os saberes necessários para e executar um empreendimento contra-hegemônico, faz-se necessário compreender os processos de legitimação dos saberes territorializados e sua relação com saberes exteriores.

A relação entre a ocupação territorial do assentamento terra vista e a utilização de saberes contra hegemônicos é aqui investigada. Nesse sentido o projeto se desenvolve com a imersão/residência no território onde se desenvolvem os cursos, a obra e a pesquisa de modo a desenvolver maior sensibilidade sobre as dinâmicas de poder que ali operam. No território também são levantadas informações sobre demandas construtivas, materiais disponíveis, técnicas de construção recorrentes e tradicionais na comunidade e na região. São também identificados os pedreiros e os jovens interessados e as pessoas mais velhas na comunidade que ainda dominam a prática da construção com barro.


12H20 BR

As narrativas das experiências socioescolares de estudantes negros refugiados do Mali durante sua trajetória peri-migratória no Brasil: efeitos sobre suas experiências secundárias no Québec

Moussa Diabate (UQTR)

Breve descrição : As migrações internacionais são ainda hoje um grande fenômeno social e tem sido objeto de muitas pesquisas em ciências sociais em diversas áreas de estudo. De acordo com o ACNUR (2019), estima-se que 272 milhões de pessoas no mundo são consideradas migrantes internacionais. Entre elas, há 26,4 milhões de refugiados, dos quais quase 50% têm menos de 18 anos. Em 2022, o número de refugiados é muito maior devido ao conflito no espaço europeu entre a Rússia e a Ucrânia. Entretanto, o continente africano, em particular o Mali, localizado na zona sahel-saariana, é uma das regiões mais afetadas pelo fenômeno migratório devido à instabilidade política, aos conflitos intercomunitários e ao terrorismo em seus territórios (ACNUR, 2021). Além disso, a diversificação das trajetórias migratórias, em que os movimentos sul-sul se somam aos movimentos sul-norte, gera desafios específicos relacionados à integração dos refugiados nas sociedades que os acolhem (UNICEF, 2018). De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OEA, OIM, 2016, p. 11), as trajetórias migratórias estão se diversificando cada vez mais: a migração de emigrantes da África para a América do Sul cresceu 35% entre 2000 e 2013.

Ademais, diversos estudos realizados em sociedades onde os refugiados se estabelecem destacam os obstáculos encontrados pelos refugiados (Bertot e Jacob, 1991; TRCI, 2007). De acordo com Papazian-Zohrabian (2016), as questões relacionadas às trajetórias e aos desafios de integração dos migrantes no Quebec também têm repercussões nas experiências socioacadêmicas dos alunos refugiados. Daí nossa pergunta de pesquisa: como a experiência socioescolar de alunos refugiados do Mali durante sua trajetória peri-migratória no Brasil influencia sua experiência escolar no Québec? Para responder a essa pergunta, estabelecemos dois objetivos específicos: por um lado, o de descrever os efeitos educacionais da trajetória peri-migratória no Brasil de alunos refugiados do Mali. Por outro lado, o de identificar os vínculos que os estudantes refugiados do Mali constroem entre suas trajetórias migratórias e suas experiências escolares no Québec. A análise será baseada no pensamento decolonial a partir do arcabouço teórico e metodológico do pensamento fenomenológico de Frantz Fanon (1925-1961). Numa abordagem qualitativa, utilizaremos autores oriundos dos povos subalternos da África, América e Caribe como Dussel, E; Mignolo, W; Grosfoguel, R; Maldonado-T, N; Santos, M; Lewis R., G; Krenak, A; Nilma Lino, G; Santos, B; Mbemba, A; Diop, C.A; e muitos outros.

Nesse sentido, a fim de implementar a metodologia, realizaremos conversas em língua materna bambara (do Mali) com alunos negros refugiados do Mali seguindo as premissas do método freiriano de "Rodas de Cultura" (Freire, 1967). Essa abordagem foi utilizada por Paulo Freire nos processos de educação popular entre os povos oprimidos no Brasil e buscava valorizar a oralidade dos sujeitos que participavam das rodas, compartilhando experiências únicas e realidades de sua vida cotidiana.

Justificativa eixo : Nosso estudo, que trata das narrativas dos estudantes negros refugiados do Mali a respeito de sua experiência socioescolar durante sua trajetória peri-migratória no Brasil, nos permitirá questionar as noções de desterritorialização e reterritorialização no âmbito das fronteiras coloniais e geopolíticas, num contexto de diversificação das trajetórias migratórias sul-sul e sul-norte em nível internacional. De fato, no Quebec, a maioria dos estudos sobre migração tem se concentrado no período pós-migratório, ou seja, no período em que os imigrantes estão dentro do território de estabelecimento final. Em educação, esses estudos focam principalmente nas políticas educacionais de integração dos alunos recém-chegados ao sistema escolar quebequense e na dimensão linguística da integração, ou seja, no aprendizado do francês como língua de escolarização. Entretanto, alguns desses estudos, como o realizado no Quebec por Papazian-Zohrabian (2016), afirmam que, para além da questão linguística, as questões relacionadas às trajetórias migratórias e os desafios de integração de migrantes no Quebec também têm repercussões nas experiências socioescolares dos alunos refugiados.

Assim, de acordo com nossa revisão bibliográfica, poucos estudos se interessaram pela trajetória migratória anterior à chegada ao território de destino, e buscaram melhor compreender os efeitos dessa trajetória sobre as experiências na sociedade de estabelecimento.

Nosso estudo, que se baseará nas histórias de vida de alunos negros refugiados do Mali durante o período peri-migratório no Brasil, nos permitirá descrever suas experiências socioescolares a fim de enriquecer as políticas educacionais públicas nos diversos territórios de sua trajetória migratória. Além disso, buscaremos analisar como esses estudantes refugiados do Mali mobilizam suas identidades etnoculturais e raciais no ambiente socioescolar brasileiro e os tipos de vínculos que estabelecem entre essas experiências socioescolares e seu projeto de imigrar para o Canadá.



13H BR


Pausa para o almoço


Apresentação dos.as estudantes



14H BR

(Re) existência Warao: Indígenas Venezuelanos em situação de refúgio, na baixada fluminense, Rio de Janeiro

Carla Soares de Souza Sampaio (UERJ)

Breve descrição : Este trabalho apresenta dados iniciais de uma pesquisa em andamento, sobre a diáspora de crianças Warao, povo indígena de origem venezuelana, que se encontram em situação de refúgio com suas famílias no Município de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Algumas indagações iniciais: qual é a concepção de criança e importância da escola para os indígenas Warao? Como foi a travessia desta família até o território sob o qual estão abrigados? Há políticas públicas no atendimento desses sujeitos?

Com a intenção de transpor os rios que tentam silenciar suas vozes, procuramos reconhecer o lugar da criança neste território, bem como procurar conhecer a produção de conhecimento relacionada aos estudos migratórios, refúgio, identidade indígena, interseccionalidade e colonialidade do saber, tendo as crianças como foco. Com esses objetivos pretendemos realizar um estudo de caso para identificar os marcadores de diferença (mais ou menos mobilizados) para a garantia de seus direitos à educação. Bem como, compreender o olhar das famílias e escola sobre as crianças/infâncias e delas em relação a si e aos outros.

Este projeto de pesquisa se propõe a registrar, analisar, compreender e refletir sobre o processo de acolhimento e atendimento às crianças indígenas e suas famílias, em situação de refúgio, em uma escola da rede municipal de educação no Município de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro.

Para tanto, organizamos o trabalho em diferentes etapas, a saber: revisão de literatura, análise documental e trabalho de campo. Cabe destacar, que buscarei o equilíbrio entre o lugar como profissional de educação da rede pesquisada e o exercício como pesquisadora, através de uma pesquisa intervenção.

No trabalho de campo pretendemos realizar a escuta das narrativas infantis, por meio de oficinas pedagógicas com as crianças e, também, realizar conversas com a família Warao e profissionais da educação da rede Municipal envolvidos nesse acolhimento.

Ao longo da pesquisa, esperamos oferecer um minicurso de formação docente aos profissionais da educação da escola, estendendo-se à rede, sob a temática indígena e refúgio, a fim de ampliar o debate e conhecimento desses profissionais, que por vezes, invisibilizam essas crianças, reproduzindo um modelo de educação eurocêntrica, universalizando o saber e impondo uma maneira única de produção de conhecimento.

Esta pesquisa inicia-se sob a perspectiva teórico-metodológica sobre diáspora e produção de diferenças (Hall, 2003; 2006), interculturalidade crítica e decolonial (Walsh, 2019), concepções de infâncias e criança (Kramer, 2013), crianças deslocadas e território (Lopes; Motta, 2021) e a importância de uma perspectiva interseccional ao se trabalhar com famílias em situação de refúgio (Mendes; Russo; Dias, 2020; Russo, Mendes e Marcelino, 2021), além do conceito de colonialidade do saber (Mignolo, 2005), que nos ajudará a refletir sobre a hierarquização do saber, que se faz presente no contexto escolar.

Neste seminário, gostaríamos de compartilhar informações sobre o perfil cultural e linguístico das famílias e crianças Warao, aspectos gerais sobre o território onde estão atualmente inseridas e apresentar algumas reflexões teóricas, que surgem no momento inicial desse estudo.


Justification de l'axe : O presente projeto de pesquisa dialoga com eixo 1, por se tratar da diáspora de um povo indígena, originário de um país periférico, da América do Sul, e que traz consigo marcadores de diferença que precisam ser considerados de maneira interseccional. Durante a participação no seminário, buscaremos conhecer outras pesquisas que partam de debates semelhantes, sobre imigração e educação, procurando rediscutir a relação geopolítica hierárquica existente entre países do Norte Global (produtores de conhecimentos ditos "universais" e validados academicamente) e nós, do Sul Global. Repensar o território e a diversidade situada em cada contexto e o debate sobre políticas educativas em uma perspectiva inclusiva e na defesa de direitos poderá contribuir muito para a minha pesquisa, que discute a reprodução colonial, nas práticas educativas da escola pesquisada, e no processo de construção do conhecimento


14H40 BR

Educação, território e questões LGBTQIA+: apontamentos sobre o trabalho do Coletivo LGBT Geni na Costa do Descobrimento (BA)

Ian Lopes de Jesus (UFSB)

Breve descrição : O projeto visa analisar a atuação do Coletivo LGBT Geni em Eunápolis-BA entre os anos de 2015 e 2017. Os objetivos incluem a compreensão de aspectos relacionados à movimentos e organizações de juventude no extremo sul da Bahia, a existência de entidades LGBTQIA+ em localidades distantes dos grandes centros urbanos e a colaboração para os estudos sobre juventude e política pós-manifestações de junho de 2013 no Brasil. A pesquisa encontra-se em processo de qualificação no PPGES e já contou com o lançamento do e-book "Memórias Performativas - Trajetórias de um Coletivo LGBTQIA+" (2022) (Prêmio Cultura na Palma da Mão - SECULT-BA, Lei Aldir Blanc Bahia), onde foi publicada uma coletânea de entrevistas com ex-membros do coletivo. Os diálogos teóricos se ancoram na Teoria Queer (Butler, 2003; Preciado, 2000; Louro, 2008; Miskolci, 2012) e nos estudos sobre juventude no Brasil (Gohn, 2018; Vazquez; Pereira, 2020; Sposito, 2018; Apóstolo, 2017; Texeira, 2012). Como processo técnico e metodológico utiliza de levantamento documental (fotografias, atas, cartazes), análise de publicações em redes sociais e entrevistas semi-estruturadas. Neste sentido, espera-se que o trabalho possa se constituir em um dispositivo político/acadêmico de apreciação de possibilidades distintas de organizar e pautar as diferenças em comunidades do interior do Brasil. Em que pese o fato do autor ser um ex-integrante da organização, destaca-se que o interesse pelo trabalho surge como uma forma de analisar as experiências do coletivo pelos viés de participação política da juventude em coletivos e organizações LGBTQIA+ nos interiores, descartando-se assim qualquer intenção de empreender uma narrativa autobiográfica. Sem negar as inúmeras possibilidades que esta modalidade traria, prioriza-se neste momento uma contribuição para a Sociologia da Juventude no sentido de pesquisar as formas de mobilização juvenil em torno de pautas LGBTQIA+ em locais distantes dos grandes centros urbanos, o que parece uma contribuição relevante para o campo, que carece de trabalhos com recortes nesta proximidade. No entanto, para além das intencionalidades presentes, considera-se que a posicionalidade demarcada não é fruto apenas da vontade do autor, mas também denunciada pelos rastros deixados durante a atuação no coletivo. E mais, são colocadas em face nas entrevistas realizadas com ex-membros e as suas escolhas, silêncios e limites diante da presença do pesquisador/participante do Coletivo LGBT Geni. Portanto, o presente estudo dialoga com uma concepção de produção científica que longe de excluir a presença e o papel do pesquisador na interferência com os objetos e sujeitos de pesquisa, busca inserir este elemento como instrumento da própria análise do problema em questão.

Justificativa eixo : Entre os anos de 2015 e 2017 um grupo de jovens que se identificava como LGBTQIA+ formou o Coletivo LGBT Geni. A iniciativa era parte de um processo de transformações ocorridas no Território Costa do Descobrimento a partir dos anos 2010, que culminou na profusão de organizações de caráter horizontal, inovador e juvenil. Ao lado de entidades como o Flores de Dandara e o ColetivAção, o Geni se inseria como uma das possibilidades de ativismo político para jovens do território, concentrando inicialmente suas ações em Eunápolis, partindo em seguida para articulações mais regionais. Dentre as atividades realizadas destacam-se o “Sarau Quem tem Medo de Homofobia – Artivismo Político” e a “Limonada LGBT”, evento de caráter formativo em políticas voltadas para o setor. A interpretação do grupo era de que o território era arraigado por valores conservadores, o que dificultaria a vida plena de pessoas LGBTQIA+. Assim sendo, o enfoque em atividades de caráter educativo aparecia como uma das possibilidades de intervenção naquela realidade, ao tempo em que a realização de eventos e atividades culturais garantiria espaços seguros e de acolhimento para pessoas LGBTQIA+. Apesar das constantes tentativas de diálogo com espaços institucionais, as ações do coletivo pareciam caminhar ao largo dos espaços oficiais, produzindo através das vivências e experiências dos seus membros as demandas que seriam compartilhadas nos espaços em que circulavam cada um dos seus ativistas. Desta maneira, o Geni parecia atestar as possibilidades de rearticulação dos usos do espaço público, colaborando para uma dimensão da política como espaço de aparecimento.



15H20 BR

Etnopesquisa-formação em território indígena Pankará: análise dos saberes experienciais das/os professoras/es e a sua relação com a construção Curricular - uma experiência (Auto) Formativa

Kelly Cintra Gomes (UPE)

Breve descrição : Esse projeto de pesquisa nasce da escuta e observação do cotidiano como educadora que convive diariamente com jovens do povo Pankará no nordeste brasileiro, que presisam sair de seus territórios para darem continuidade aos seus estudos escolares. A frequência nesse novo espaço causa sentimentos contraditórios: revelavam contentamento e ao mesmo tempo estranheza.

O contentamento revela o desejo que começava a se concretizar – a possibilidade de continuidade dos estudos; e, por outro lado a estranheza que causa também sofrimento pela percepção de ruptura e distanciamento entre o que antes era a experiência de aprendizagem e ensino em seus territórios.

Esta pesquisa se orienta pelo objetivo inicial de (RE)conhecer os saberes experienciais das (os) professoras (es) Pankará e a sua relação com o processo de construção curricular dentro de um percurso de (Auto)Formação. Este processo demonstra o reconhecimento ao direito dos povos indígenas quanto a utilização da sua cultura, ritos e rituais, uso de suas línguas maternas na escola, bem como escolher/construir e implementar os processos próprios de aprendizagem. Preservando assim práticas culturais, línguas, crenças e tradições.

Existe também todo um processo de lutas e conquistas que vem nos mostrando uma educação rica de contextos, histórias de vida, construção de identidade e pertencimento que entram em conflito – pessoal e coletivo – quando essas pessoas deixam o seu lugar de produção de existência humana e se deparam – por muitas vezes – com práticas que negam e excluem a sua cultura, modo de vida e de existir.

Desse modo, ao falarmos em educação escolar indígena, é preciso destacar o debate pedagógico – essencialmente vinculado aos modos particulares de construção de conhecimento. Igualmente necessária a no reflexão sobre epistêmologias para compreender as questões conceituais que estão presentes. Nossa sociedade é diversa e por isso mesmo é necessário considerar as suas especificidades, sob pena da escola tratar como iguais os diferentes – aprisionando-os e invisibilizando-os.

Nesta pesquisa fizemos a escolha metodológica da etnopesquisa-formação, de natureza qualitativa, procedimento este que favorecerá uma (Auto)reflexão crítica e acolhedora, a partir da escuta e valorização do lugar de fala de todas as pessoas envolvidas e implicadas na e com o processo (auto)formação.


Justificativa eixo : Com este trabalho, esperamos construir apontamentos que serão disponibilizados e discutidos coletivamente, com as escolas não-indígena, mas que recebem estudantes indígenas na região do Sertão de Itaparica.

Há mais de 15 anos atuo na docência, e a presença de educandos indígenas traz muitas inquietações e reflexões para o campo do Currículo :

1) Como romper com ideia de Currículo enquanto lista de conteúdos contidos em sumários de livros didáticos?

2) Como conceber um Currículo capaz de dialogar com as demandas sociais/locais – em que a escola está inserida, respeitando, portanto, o modo de vida e existência humana das pessoas, seus costumes e cultura?

3) Como contemplar/assegurar no Currículo um conhecimento vivo, humanizado e significativo, capaz de empoderar os sujeitos por ele alcançados – especialmente quando estes deixam o seu território identitário?

O contato com um público tão específico – indígenas – tradicionalmente, culturalmente e historicamente excluídos e/ou marginalizados do processo educacional, acabou por despertar e motivar o interesse pelo estudo das suas especificidades e que por vezes o fazem sentir-se “estranhos” nesses novos ambientes de estudo, justamente pelos equívocos na organização dos seus respectivos Currículos, quando deixam de lado as características do seu público, em detrimento de saberes que desconsideram e não dialogam com a realidade na qual está inserida.

Para isso, o conceito de Currículo será abordado para além dos conteúdos disciplinares e escolarizados. Buscará trazer uma discussão desse importante elemento articulador do processo de ensino e aprendizagem, enquanto instrumento político e pedagógico de empoderamento dos sujeitos.


16H BR

Encerramento do dia

  • Como pensar a relação entre educação e território?

  • O que significa pesquisa enraizada?

  • Como avançarmos para territórios mais sociodiversos e menos injustos em um contexto de convergência de políticas educacionais e de estreitamento dos currículos induzidos por contextos urbanos e centrais?

  • Como os modelos de gestão e as políticas de financiamento e avaliação na educação refletem o lugar dos territórios na definição dos objetivos da escola?