Atlântida. A lenda da Atlântida é, ao que tudo indica, a mais persistente e misteriosa entre os povos do mundo, já há muitos séculos. Milhares de obras foram dedicadas ao estudo da Atlântida, cuja existência, hoje em dia, nem sempre é considerada apenas uma lenda, mas uma realidade. Os vestígios de relatos sobre um continente ou ilha gigantesca, situada em algum local do oceano, e que desapareceu numa catástrofe, são encontrados em povos do mundo inteiro, sob diferentes versões que mantêm entre si semelhanças assombrosas. No entanto, o relato mais conhecido sobre a Atlântida e o que surgiu pela primeira vez na literatura apareceu no Timeu e noCrítias, de Platão, aproximadamente em 380 a.C., no qual a sociedade atlante é relatada em detalhes tanto quanto à localização, quanto à forma de governo e sociedade, situando-a cerca de 9 mil anos antes de sua época. Via-se a Atlântida como uma civilização poderosa e com imensos conhecimentos filosóficos e científicos, um império que estendeu sua influência a todo o planeta e cujo fim trágico teria causado um grande choque. Estaria localizada no oceano Atlântico, entre o que é hoje a América do Norte e a Europa, a nordeste da América do Sul e a noroeste da África.
James Churchward, um pesquisador que durante cinquenta anos perseguiu as provas da existência do continente da Lemúria, fala da existência da Atlântida como sendo muito mais antiga do que Platão contava. Diz-se que Henry Schliemann, o célebre arqueólogo descobridor de Troia, teria encontrado um dos papiros mais antigos do mundo, onde está escrito que o faraó Sent enviou uma expedição à procura de vestígios da Atlântida, de onde seus ancestrais teriam vindo, trazendo seus conhecimentos. Esta informação foi dada por Paul Schliemann, neto do arqueólogo, em 1912, quando teve acesso a uma série de trabalhos inacabados do avô. Ele não só havia descoberto peças onde se lia, em hieróglifos fenícios, uma inscrição referindo-se à Atlântida, como estabeleceu uma relação entre estas peças e fragmentos encontrados em Tiahuanaco, na América do Sul.
Os objetos foram analisados e sua composição mostrou que provinham do mesmo lugar. Henry Schliemann teria descoberto o papiro no Museu de São Petersburgo, o mesmo local onde também teria encontrado outro papiro, de autoria do historiador egípcio Maneton, que situava o reino da Atlântida num período aproximado de 16 mil anos a.C. Muitos pesquisadores parecem concordar com a hipótese de que a Atlântida poderia ter sido um grande centro, do qual emigravam povos em todas as direções. As semelhanças encontradas entre as civilizações dos egípcios e dos maias, em lados opostos do oceano, são impressionantes, chegando a ponto de possuírem diversas palavras em comum na pronúncia e significado, além de uma arquitetura muito próxima, especialmente no que se refere à construção das pirâmides. É comum referir-se também à escolha de Platão pelo nome Atlantis, que não é grego. Por outro lado, a palavra tolteca atlan significa "no meio da água". As lendas maias e incas referem-se a uma grande nação ou império que desapareceu no fundo das águas.
Além dos relatos de Platão, mais recentemente surgiu uma série de relatos visionários, como o conhecido Edgar Cayce, e as narrativas provenientes da Sociedade Teosófica, elaborada por Helena Blavatsky. Fala-se, em termos de doutrinas ocultas, dos grandes conhecimentos psíquicos que os atlantes possuíram, descendentes de seres do céu, ou os Senhores da Chama de Vênus, que já haviam trazido a civilização para a Lemúria anteriormente. Os sacerdotes da Atlântida praticariam o psiquismo, aperfeiçoando-o como ciência, sendo capazes de prever o futuro em certas ocasiões e realizar curas. Uma civilização baseada não no material, como temos hoje em dia, mas no mental.
Segundo a teoria ocultista, o final da Atlântida começou com uma terrível batalha entre os magos brancos e os negros, os últimos desviando-se para o lado negro da natureza e conjurando os elementais e formas de pensamento demoníacas. (1)
Atlântida. Por volta do ano 590 a.C., o político grego Sólon fez uma visita ao Egito. Ficou intrigado com a narrativa, contada como fato e como prova de que os registros históricos do Egito iam mais longe do que os da Grécia. Há indícios de que teria feito anotações, talvez com o intuito de compor um épico sobre o tema quando voltasse para casa. Se assim foi, nunca levou a cabo tal feito, mas contou a história a seu amigo e parente próximo, Dropides.
Dropides retransmitiu o relato a seu filho Crítias que, já velho e beirando os 90 anos, contou a outro Crítias, seu neto. Este era primo de Platão.
Foi dessa fonte que Platão ouviu a história quando jovem, possivelmente baseada nas notas manuscritas originais de Sólon. Anos mais tarde, decidiu revelá-la ao mundo em duas obras: Timeu e Crítias. O relato, embora incompleto, foi base para um trabalho que se desenvolve até os dias de hoje: tornou-se nossa mais antiga referência escrita sobre a Atlântida.
O fragmento mais perfeito do Timeu começa com as ideias egípcias sobre catástrofes cíclicas...
Seguiram-se tempos difíceis para a Atlântida. Após a derrota militar, a ilha foi sacudida por violentos tremores de terra e inundações e "todos os seus guerreiros foram tragados de um só vez pela terra, e a ilha de Atlântida desapareceu do mesmo modo nas profundezas do mar".
De acordo com o relato de Sólon citado por Platão, a catástrofe ocorreu no espaço de um dia e uma noite, deixando vastas áreas do Atlântico irrevogáveis devido aos resíduos de lama.
Em seu Crítias, Platão dá uma perspectiva mitológica das origens da Atlântida, contando como os deuses dividiram a terra em lotes para que a humanidade nelas habitasse.
Sob o ponto de vista político, a Atlântida era uma confederação de dez reinos, cada qual um Estado autônomo. Contudo, tinham uma aliança para prestar assistência militar em defesa de todo o reino.
O relato de Platão apoderou-se da imaginação tanto do público que lê quanto do que escreve. A estimativa de que mais de mil livros sobre a Atlântida foram publicados é, provavelmente, razoável. Estes trabalhos geralmente recaem em três amplas categorias: a dos que procuram estabelecer uma prova da realidade da Atlântida, aquela (frequentemente originada de fontes inspiradoras) que parece descrever o modo de vida e a história da civilização atlante, e a dos que negam a verdade literal da lenda de Atlântida, mas procuram por acontecimentos históricos genuínos nos quais possa ter sido baseada.
Na 1.ª categoria, o livro Atlantis — the Antediluvian World (Atlântida — o Mundo Antediluviano), de Ignatius Donnelly.
Na 2.ª categoria, estão as obras Madame Blavatsky, que considerava a ilha como parte de uma história humana de 18 milhões de anos, e Edgar Cayce, o famoso "Profeta Adormecido" dos Estados Unidos, que concebeu uma Atlântida semelhante, em muitos aspectos, a um épico de ficção científica.
Cayce acreditava, assim como vários outros escritores esotéricos, que houve na sociedade três afundamentos da Atlântida, e que aquele relatado por Platão foi apenas o último de uma série que causou a fragmentação gradual de uma massa de terra considerável.
A 3.ª categoria (representada pelo livro End of Atlantis (Fim da Atlântida), do professor Luce, baseia-se na descoberta de que o relato de Platão sobre o continente perdido apresenta semelhanças surpreendentes com a civilização da Alta Idade do Bronze, na região do Egeu. (2)
(1) SCHOEREDER, Gilberto. Dicionário do Mundo Misterioso: Esoterismo, Ocultismo, Paranormalidade e Ufologia. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2002.
(2) CAMPBELL, Eileen e BRENNAN, J. H. Dicionário da Mente, do Corpo e do Espírito: Ideias, Pessoas e Lugares. Tradução Elisabete Abreu. São Paulo: Mandarim, 1997.