Transe. Estado de dissociação da consciência caracterizado pela suspensão dos movimentos voluntários, e às vezes pelo automatismo da atividade ou do pensamento. Na parapsicologia, trata-se de um estado de inconsciência mais ou menos profundo, no transcurso do qual pode manifestar-se uma atividade paranormal. No espiritismo, um particular estado psicológico e de consciência, que permite a conexão com inteligências desencarnadas e a passagem de mensagens delas originadas. O estado de transe é sinônimo de estado mediúnico, estado hipnótico, etc. (1)
Transe. É um estado de baixa tensão psíquica com estreitamento do campo da consciência e dissociação. (2)
Transe Mediúnico. No espiritualismo e em algumas formas de religião pré-literária, tipo de estado de transe caracterizado pela supressão dos padrões de comportamento conhecidos da personalidade consciente normal e pela sua substituição por uma personalidade secundária, que age como se fosse uma outra personalidade e tomasse "posse" do corpo do médium. Essa personalidade secundária é chamada, no espiritualismo, de comunicante e, nas sociedades pré-literárias, é em geral interpretada como uma divindade ou espírito ancestral.
Os médiuns não costumam ter nenhuma lembrança da "transformação" psíquica ocorrida durante o estado de transe e geralmente não tem consciência dos pronunciamentos e afirmações que fazem enquanto estão nesse estado. (3)
Transe Hipnótico. Estado alterado de consciência em que os poderes de concentração do sujeito são mobilizados e lembranças e percepções subconscientes vêm à superfície. Os hipnoterapeutas relaxam os sujeitos progressivamente, geralmente usando a contagem regressiva ou relaxando paulatinamente os membros do corpo desde os pés até a cabeça. Os pioneiros hipnoterapeutas europeus reconheceram a importância da imaginação em termos terapêuticos e combinaram técnica de relaxamento com a visualização orientada. Por exemplo, Alfred Binet incentivava os pacientes a "conversar" com as imagens visuais que surgiram no que ele chamava de "introspecção provocada", e Wolfgang Kretschmer definiu o processo em 1922 como bilderstreifendenken - "pensar na forma de um filme". (3)
Transe. As formas de transe - um estado anormal da mente caracterizado por certo grau de dissociação da consciência - são várias. Os mais familiares aos leigos são o transe hipnótico e o mediúnico, mas além desses existem outros tipos induzidos por debilidade física, por drogas, pela música e a dança, e por literalmente centenas de outras coisas. Na raiz, porém, todos os tipos de transe são idênticos. As diferenças são de grau, variando do "transe leve" da pessoa que consegue lembrar-se de tudo que aconteceu durante o estado anormal até a possessão extática de um devoto do vudu, que não tem qualquer lembrança do que ocorreu enquanto esteve "dominado" por uma divindade. Há também diferenças nos padrões de comportamento culturais, mas apesar do aparente abismo profundo entre, digamos, as atitudes de um frenético pai-de-santo dançando no Brasil e o porte digno e as declarações solenes de um oráculo tibetano, os dois estão passando pela mesma experiência, uma dissociação da consciência e um esvaziamento das camadas subliminares da mente.
Não há dúvida de que o homem primitivo descobriu o transe por acidente, pois uma concussão cerebral provocada por uma pancada na cabeça frequentemente vem associada a um estado indistinguível do transe - uma situação em que parte da mente se "separa" do resto. A pessoa pode continuar a falar e mover-se ou ficar estendida meio comatosa, pode agir de maneira inteiramente compatível com seu padrão usual de comportamento ou de maneira muito diferente, mas na maioria dos casos não terá lembrança total do que ocorreu durante o período de dissociação. Na certa foi esse fenômeno, não inteiramente compreendido hoje e inteiramente misterioso para o homem primitivo, que motivou a teoria de que no transe a alma deixa o corpo, que é então momentaneamente ocupado por outro morador - deus, demônio ou fantasma (ver possessão).
Assim que se aceitou o transe como coisa desejável, um meio de pôr os seres humanos em contato direto com forças supra-humanas, era inevitável que os homens começassem a buscar métodos de induzi-lo deliberadamente. É possível que a trepanação - abertura de buracos em crânios de homens vivos - praticada com perícia por homens na Idade da Pedra fosse uma dessas técnicas de indução ao transe, mas, se era, as drogas, a privação física e os exercícios respiratórios a substituíram.
É errônea a crença comum em que existe alguma coisa peculiarmente moderna no uso de drogas psicotrópicas - que produzem alterações na consciência. Ao contrário, o uso dessas substâncias para atingir a dissociação é extremamente antigo. O oráculo de Delfos mascava as "ervas de Apolo", os xamãs da Sibéria tomavam agárico (o "cogumelo sagrado" das teorias modernas) e os heróis semidivinos da antiga Índia bebiam o misterioso soma que era possivelmente uma infusão de agárico, ou álcool - um psicotrópico para quem não tem semi-imunidade genética aos seus efeitos. Hoje, os magos tântricos de Bengala ainda fumam haxixe como uma preliminar para os rituais de indução ao transe, e os médiuns dos cultos semi-espíritas e semi-vudus do Brasil tomam grandes quantidades de cachaça antes e até o fim da duração de seus estados de transe.
Não se sabe ao certo o exato mecanismo fisiológico pelo qual se induz ao transe, mas parece provável que qualquer tensão forte, prolongada, infligida ao cérebro, pelo corpo ou pela mente, seja em última análise capaz de produzir transe. As drogas, por exemplo, em essência produzem efeitos provocando uma falta parcial de oxigênio no cérebro: por outro lado, os exercícios respiratórios, que quase sempre envolvem um certo grau de hiperventilação, inundam o sangue de oxigênio e privam o cérebro de açúcar. Esse é o meio mais fácil de induzir transe, e a respiração suficientemente prolongada, profunda, muito rápida, produzirá transe em quase todo mundo. A prática pode ser extremamente perigosa, e não deve em nenhuma circunstância ser tentada sem aprovação e exame médicos prévios.
Transe mediúnico. O transe mediúnico é às vezes simulado, claro. Sempre houve, e com certeza sempre haverá, médiuns fraudulentos prontos a explorar os enlutados... A existência do dinheiro falso não anula a do artigo verdadeiro, e não há por que desconfiar da autenticidade da maioria dos médiuns.
Os médiuns autênticos parecem ser indivíduos que podem atingir voluntariamente a dissociação da consciência sem submeter-se às tensões que os magos e feiticeiros têm de se impor. Muitos médiuns descrevem a entrada nesse estado como uma passagem por "camadas de transe": em outras palavras, uma dissociação progressiva, começando com alguma coisa muito semelhante ao sonhar acordado, que todos já experimentaram, e passando por um estado em que os comunicadores são "vistos" ou ouvidos. Em alguns, mas não em todos os casos, o processo continua até que se chega ao estado de transe profundo.
Nos últimos anos, parapsicólogos de todas as escolas de pensamento têm demonstrado grande interesse pelo transe e dado as mais variadas explicações sobre ele. Os discípulos de Wilhelm Reich explicaram-no como reação da mente aos efeitos físicos produzidos pela misteriosa "energia orgone". Alguns junguianos veem o transe como "uma descida ao inconsciente coletivo". Os behaviouristas modernos consideram o transe um aspecto do que chamam de inibição transmarginal, o mecanismo protetor através do qual o cérebro, sob tensão, pode alterar radicalmente a forma como responde aos estímulos externos. Os médiuns são pessoas que precisam de relativamente pouca tensão para chegar ao esse estado e sua inibição se torna um padrão condicionado da atividade cerebral. Num sentido, pelo menos, as explicações não têm importância. A pessoa que experimenta o transe em geral não está interessada em seu mecanismo, fisiológico ou psicológico: para ela, é a própria experiência que importa. (4)
(1) PELLEGRINI, Luis. Dicionário do Inexplicado. São Paulo: Edições Planeta.
(2) CERVIÑO, J. Além do Inconsciente. Rio de Janeiro, FEB, 1968.
(3) DRURY, Nevill. Dicionário de Magia e Esoterismo: Mais de 3000 Verbetes sobre Tradições Místicas e Ocultas. Tradução de Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Pensamento, 2011.
(4) CAVENDISH, Ricardo (org.). Enciclopédia do Sobrenatural. Tradução de Alda Porto e Marcos Santarrita. Porto Alegre: L&PM, 1993.