síntese espontânea

Na interpretação de Dickerson, o ato de síntese é, basicamente, compreender (ou entender) algo nas representações (p. 135).

"Uma síntese é o ato de juntar[combinar, ligar, juntar, unir], umas as outras, diversas [um múltiplo de, uma variedade de] representações e conceber [compreender] sua diversidade [esse múltiplo] num único conhecimento [cognition]." (B 103)

Kant, fala de uma síntese como uma "combinação" ou "ligação" de representações (B 103). Mas, Dickerson pede que entendamos o "combinar" e "juntar" metaforicamente. O essencial é: o ato de síntese que está envolvido no conhecimento [cognition] é o ato de compreender [grasp] um objeto apresentado no meio representacional (i.e. nas modificações na mente). (p. 22)

Isto é, o ato de síntese é o ato de compreender o objeto representado pela intuição. (p. 29)

Espontaneidade é uma atividade do sujeito. O conceito de espontaneidade está em oposição ao de receptividade, i.e. passividade.

Para Dickerson, a afirmação de Kant que nosso conhecimento envolva certa espontaneidade significa, mais precisamente, que nosso conhecimento necessita de uma síntese espontânea. Isto é, o que é espontâneo é a compreensão (que a mente faz) das suas próprias modificações (ou impressões) como representando. (p. 36.) Chamar essa síntese de espontânea nada mais significa que dizer que esse processo de síntese é determinado pela natureza sujeito ao invés da natureza das modificações mentais dadas do sujeito. (p. 37.)

OBS. Dickerson discorda que espontaneidade, para Kant, seja um ato onde o sujeito iniciaria uma série causal sem ser ele mesmo determinado (i.e. causado) a fazê-lo, i.e. uma atividade “causa de si” [“self-causing” activity]. (p. 36.)

OBS. A discussão que Dickerson faz do conceito de espontaneidade não implica necessariamente que haja algum “elemento de escolha”. (p. 36.)

OBS. É a faculdade da imaginação que, por uma ato de síntese, torna a mente consciente de suas próprias modificações como apresentando (ou "colocando") algo diante de si , i.e. como intuições. (p. 25) Grosso modo, os objetos apresentados à mente são frutos de um ato imaginativo de "ver" algo no estado interno. (p. 21) É esse exercício da imaginação que, segundo Dickerson, Kant chamar de "síntese" ou "combinação". (p. 22)

OBS. Objetos (apresentados à mente) não são nem inferidos, nem construídos mentalmente a partir de estados internos. Repetindo: não é por uma ato de inferência causal (ou dedução) que nossa mente representa (i.e. "deduz", "infere") objetos a partir de representações; nem por uma ato de construção (ou composição) que nossa mente, por certas atividades, conecta representações, "construindo" objetos. (p. 21)

OBS. Pela interpretação de apercepção defendida por Dickerson, aperceber uma representação é fazer uma síntese. O próprio ato de apercepção é um ato de síntese (a saber: um ato espontâneo de síntese) (p. 97).

OBS. É importante lembrar que, na interpretação de Dickerson, é somente através do ato de síntese que algum conteúdo representacional determinado pode se tornar disponível para a consciência (p. 135). E o menor ‘pedacinho’ de consciência possível é o conhecimento de um objeto (e, portanto, um juízo). Não existe consciência de nenhuma representação que seja logicamente anterior a isso da onde, supostamente, derivaríamos o conhecimento de um objeto por combinação (p. 137).

OBS. É por uma síntese espontânea, pela aplicação espontânea de regras, que o sujeito compreende uma intuição como um complexo articulado. A concepção holística e espontaneidade da síntese dizem que: o sujeito compreende a intuição como um todo e, espontaneamente, a segmenta em um determinada combinação de representações; ao fazer isso, o sujeito compreende a intuição como apresentando um determinado objeto -- i.e. ele tem a cognição de algo nas modificações da sua sensibilidade (p. 123).