mente discursiva: modelo de mente com duas faculdades

Em contraste com uma mente que possuiria um conhecimento intuitivo (i.e. intuição intelectual, i.e. intuição não sensível, i.e. intuição criadora), uma mente discursiva é uma mente onde há duas faculdades envolvidas no processo de conhecimento: entendimento (i.e. faculdade da espontaneidade, atividade, dos conceitos a priori, do pensar sobre algo) e sensibilidade (i.e. faculdade da receptividade, passividade, da intuição sensível, onde algo nos é dado). (p. 32-3)

Um ser cognoscente cuje o conhecer envolva essas duas faculdades [two-faculty model of cognition] é dito ter uma mente discursiva.

O conceito de mente discursiva, em suma, é uma doutrina que diz que o conhecimento [cognition] envolve tanto receptividade (i.e. faculdade da sensibilidade) quanto espontaneidade (i.e. faculdade do entendimento). (p. 33)

OBS. Dickerson defende que Kant é levado a falar de “faculdades” como resultado da análise do conceito de conhecimento [cognition]. Ou seja, a análise parte do fato [ou hipótese] de que nosso conhecimento envolve receptividade (ao receber impressões, o sujeito é determinado de certas maneiras) [i.e. seres finitos, como nós, não criam objetos pelo mero ato de conhecer, mas são receptivos] e chega a concluir [por argumentos] a necessidade de uma espontaneidade (o sujeito, de alguma forma, determina sua experiência) [i.e. a 'unidade da apercepção' -> a apercepção como holística -> espontaneidade é necessária ao conhecer] (p. 35).

OBS. Sendo mais preciso: Dickerson acredita que a definição de Kant para mente discursiva é "uma mente que, ao conhecer, é receptiva à uma realidade independente" e que, no decorrer da Dedução, Kant argumentaria que tal receptividade implica em certa espontaneidade (i.e. uma síntese espontânea guiada pelas categorias) (p. 167).