apercepção

As representações como modificações na mente (do sujeito) são inconscientes, portanto, é necessário um ato de trazer esse estado interno à consciência (para usa-lo para representar um objeto). Através desse ato, a representação passa a funcionar como um ponto de vista (sobre o mundo) para o sujeito. Usar uma modificação da sensibilidade para pensar um objeto é, segundo Dickerson, o ato de apercepção.

Apercepção é, em suma, o ato pelo qual meus estados internos vêm a funcionar como representações (de objetos) para mim, i.e. ato pelo qual trato minhas representações como representando algo.

Repetindo. Para Kant, existem representações inconscientes. E a mera existência de uma representação em mim (como modificação da minha faculdade de representação), não é suficiente para ela (a representação) apresentar um objeto (para mim). Para isso, um ato de apercepção se faz necessário. É ao aperceber uma representação, ato pelo qual a representação é trazida a consciência, que eu represento (ou percebo) o objeto daquela representação. (p. 87, p. 95)

OBS. Para Dickerson, o termo kantiano 'apercepção' não é (algum tipo de) "autoconsciência" (p. 81).

OBS. Apercepção precisa ser diferenciada do sentido interno. Sentido interno é autoconsciência ordinária, é quando a mente tem consciência de seus estados internos através de um processo de introspecção (p. 89).

OBS. A ‘faculdade da apercepção’ é a capacidade de ‘acompanhar representações com o eu penso’. Para Dickerson, isso não significa nem (A) o pensar sobre a própria representação (i.e. atribuí-la a mim) nem (B) ter uma atitude proposicional em primeira pessoa (i.e. ‘eu penso p’). Para Dickerson, ‘acompanhar uma representação com o eu penso’ significa aperceber aquela representação (pp. 89-93).

OBS. Ao aperceber faço meus estados (representativos) internos os objetos da apercepção; o objeto do pensamento (ou conhecimento) é o objeto apresentado pelo estado interno, e não o próprio estado interno. Ou seja, aperceber a representação r não é pensar (ou conhecer) r (i.e. introspectivamente, ter ‘consciência’ dela). Ao invés disso, a apercepção de r é o que me permite pensar sobre (ou conhecer) o objeto representado por r. Então, podemos dizer que apercepção é um ato que está envolvido em trazer qualquer representação à consciência (p 88). Ou seja, esse ato (de apercepção) é um componente essencial de toda consciência (p. 95).

OBS. Dickerson defende que (i) a apercepção envolve o compreender de uma representação complexa unificada (como apresentando um objeto) e que (ii) a apercepção funciona de maneira holística (i.e. pelo segmentar da representação toda em suas partes), ao invés de atomística (i.e. construir a representação toda a partir de suas partes) (pp. 131-2).

OBS. ‘faculdade da apercepção’ é o próprio entendimento (p. 90).