Jesus era um mestre em psicanalise

Meire Kusumoto

O americano Mark Baker é PhD em psicologia clínica e mestre em teologia e, assim como seus diplomas, sua vida e carreira também se dividem entre religião e prática clínica. Cristão, Baker usa os ensinamentos de Jesus e da Bíblia para ajudar pacientes que também comungam das suas crenças, dá palestras com toques de psicologia em igrejas, como orador, e, como escritor, combina seus interesses em livros como os best-sellers Jesus, o Maior Psicólogo que Já Existiu e Como Deus Cura a Dor (Sextante), que venderam 2 milhões de exemplares somente no Brasil, e O Poder da Personalidade de Jesus (tradução de Joel Macedo, Sextante, 176 páginas, 19,90 reais), que lança na Bienal do Livro do Rio neste domingo.

Leia um trecho de O Poder da Personalidade de Jesus

Para ele, psicologia e religião são intimamente ligadas, principalmente porque ambas versam sobre coisas parecidas — tanto assim que Jesus provavelmente poderia dar umas lições de psicanálise a Freud. “Estava estudando psicologia clínica na faculdade, quando percebi que tudo o que eu estava aprendendo ali, sobre a importância de relacionamentos verdadeiros para a nossa vida, já havia sido ensinado por Jesus Cristo 2.000 anos atrás. Ele ensinou que, para sermos mais felizes, precisamos construir relacionamentos de coração, genuínos”, disse ele.

Mas, por sua abordagem, Baker acaba criticado pelos dois lados: religiosos não gostam que ele cite a psicologia em igrejas e os colegas de profissão questionam a sua crença, por acreditar muito mais na ciência do que na religião.

Confira a entrevista de Mark Baker.

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Como é sua relação com a religião? Você viveu algum momento decisivo que mudou a forma como via a religião? Sou cristão, mas não tive um momento desses, fui criado como cristão. Meus avós já eram, apenas continuei assim.

Por que Jesus é o maior psicólogo que já existiu? Estava estudando psicanálise, psicologia clínica, na faculdade quando percebi que tudo o que eu estava aprendendo ali, sobre a importância de relacionamentos verdadeiros para a nossa vida, já havia sido ensinado por Jesus Cristo 2.000 anos atrás. Ele, que eu considero ser o maior professor que já existiu, ensinou que, para sermos mais felizes, precisamos construir relacionamentos de coração, genuínos, assim como diz a psicologia.

Quais são os aspectos mais poderosos da personalidade de Jesus? Acho que ele era um homem brilhante, muito inteligente, mas, acima de tudo, humilde. E isso é o mais importante, porque poucas pessoas tão brilhantes são tão humildes, não se gabam de seu brilhantismo.

As histórias que você conta nos seus livros são reais? Como seus pacientes reagiram ao perceber que haviam sido retratados? A maior parte das histórias é real, mas nelas eu geralmente escondo os nomes verdadeiros das pessoas. Os pacientes que se reconheceram no que eu contei em meus livros elogiaram o trabalho, gostaram de se ver ali. Mas nem todas as histórias foram contadas por pacientes. Algumas eu ouvi de conhecidos, amigos etc.

Como você diz na introdução de O Poder da Personalidade de Jesus, as religiões são questionadas em vários aspectos, mas a Bíblia continua sendo o livro mais vendido do mundo. Por que isso acontece? A Bíblia continua a vender muito porque as pessoas conseguem perceber ali uma história reconfortante sobre amor, compaixão e relações humanas.

Qual a reação dos pacientes quando você os trata com lições aprendidas com Jesus? Eu uso a religião para ajudar pacientes que são religiosos e costuma funcionar. Mas não uso os ensinamentos de Jesus com pacientes que não têm inclinação religiosa. Só faço uso daquilo que acho efetivo com os pacientes, acho que não seria útil usar a religião com quem não tem fé.

Você já foi criticado por usar a religião em seus livros? Há um embate antigo entre ciência e religião, porque a ciência é cética e cerebral, tende a deixar a espiritualidade de lado, a não acreditar nessas coisas. Já fui criticado por psicólogos, alguns colegas de profissão que não são religiosos, por usar a religião nos meus livros e no tratamento de pacientes. E já aconteceu o inverso, também, quando estava falando em uma igreja e usei meu conhecimento como psicólogo. Fui interrompido por pessoas que acreditavam que o foco da minha palestra deveria ser a religião, não a psicologia. Mas, ainda bem, outra pessoa presente se levantou e pediu para que eu continuasse, dizendo que não havia nada de errado em falar de psicologia, pois aquilo estava ajudando os outros a resolver problemas.

Você tem algum novo projeto? Sim, comecei há pouco a escrever um novo livro, em que vou tratar de ressentimento e perdão. Acho que é muito comum as pessoas dizerem que perdoaram o erro de alguém sem que isso seja verdade e guardarem ressentimento por muito tempo. Assim como nos livros anteriores, vou usar ensinamentos de Jesus e da religião, pois sei que eles têm muito a dizer sobre o assunto.

Fonte:http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/entrevista/mark-baker-jesus-era-um-mestre-em-psicanalise/