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Bater a cabeça: Uma forma da criança chamar a atenção
Por birra ou puro prazer, eles batem a cuca para chamar a atenção dos pais
Redação Crescer
Eliana Nunes, 42 anos, advogada, levou um susto com o filho Gustavo, de 1 ano e 3 meses. Durante uma refeição, o garotinho começou a bater a cabeça no encosto do cadeirão. Ao invés de chorar, caiu na gargalhada por ver o sobressalto da mãe. Eliana pediu para ele não repetir. Funcionou como estímulo. Alguns dias depois, Gustavo deu novas cabeçadas – na parede, na mesa de jantar, no sofá e também no joelho, no rosto e na cabeça dos adultos. Quando não conseguia se golpear, batia com as mãozinhas na própria cabeça. "Ele não se agredia por birra, mas sempre que eu aparecia no lugar onde brincava. Ele largava o que estava fazendo e começava", lembra ela. E não adiantava pedir para parar. "Mais ele se batia. Fiquei sem saber o que fazer", conta.
Provocação
Gustavo queria chamar a atenção. Em geral, as crianças recorrem a esse tipo de auto-agressão para isso mesmo. E, quase sempre, conseguem. Descobrem que provocam uma comoção nos pais. "Também se auto-agridem para expressar uma insatisfação. Encontram no corpo uma das maneiras para manifestar um incômodo", diz o pediatra Eric Schussel, membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria. Essa reação pode ou não ser acompanhada de drama, choro ou berros, características da birra. No caso de Gustavo, não era. Ele não batia a cabeça quando lhe era negado um pedido. Muitas crianças, porém, se jogam no chão, abrem os braços e tascam a cabeça no assoalho quando contrariadas. "A criança também pode sentir apenas prazer nesse movimento", avisa a médica Mary Lise Silveira, psicanalista da Escola Paulista de Medicina, de São Paulo. É o que explica as cabeçadas precoces, que às vezes se iniciam por volta dos 8 meses, período em que o bebê está se descobrindo. A atitude não é contínua. Surge e desaparece conforme novos interesses e descobertas. Por vezes se intensificam com o nascimento de um irmão ou a saída de casa de alguma pessoa que a criança goste.
Como agir
O ideal é conter a ação da criança, pois conforme o alvo da cabeçada ela pode até se machucar. Para isso, tente um abraço forte e carinhoso, faça-o se interessar por uma música ou o envolva em alguma brincadeira. Outra opção defendida por especialistas é ignorar o fato. Foi o que a mãe de Gustavo fez. Diz que deu resultado. "Agora, ele chama a minha atenção ligando e desligando a televisão", conta a mãe.
Quando é problema
O ato de bater a cabeça pode sinalizar um problema emocional, que merece muito mais atenção dos pais quando a criança o substitui por outros tiques autodestrutivos como arranhar a pele. "São rituais compulsivos que indicam uma tentativa da criança de não querer entrar em contato com algo que lhe cause sofrimento", avisa o pediatra Schussel. O comportamento também pode refletir um problema neurológico. "É um sintoma que pode estar presente na criança com retardo mental, autismo ou transtornos psicóticos", explica Mary Lise.