Taxonomistas: última parada antes da rodoviária!
Quando viajava de ônibus entre algumas cidades aqui em Santa Catarina, o motorista sempre parava em algum determinado lugar, poucos quilômetros antes da rodoviária, e anunciava: “última parada antes da rodoviária”. Era oportunidade para que alguns passageiros desembarcassem, caso o ponto de ônibus estivesse perto de suas casas, sem ter a necessidade de ir até a rodoviária (geralmente no centro da cidade). Não sei se isso ocorre em outras regiões do Brasil, mas aqui em Santa Catarina, pelo menos quando viajava de ônibus muitos anos atrás (geralmente para visitar parentes), isso era comum. Por que menciono este fato? Como taxonomista de FMAs, tenho esse sentimento: sou chamado por colegas para participar de algum trabalho na última hora, na última parada antes da rodoviária, somente quando necessitam identificar as espécies de FMAs para que o trabalho siga adiante e tenha condições de ser publicado. Para tirar a dúvida se isso era apenas neurose minha, consultei dois colegas taxonomistas; um deles não tinha essa experiência, o outro relatou também que geralmente é consultado apenas na hora de identificar as espécies.
Talvez essa prática seja porque os taxonomistas são vistos por alguns colegas não-taxonomistas como “aqueles que identificam espécies apenas e ficam discutindo (e as vezes discordando) qual o nome certo para qual espécie”. Os taxonomistas de FMAs, pelo menos os que eu conheço tanto aqui no Brasil quanto no exterior, são profissionais que vão além de “olhar as paredes dos esporos e dar nome para espécies”. Eles têm experiência no que diz respeito ao delineamento amostral em estudos ecológicos, ao número de amostras necessárias para uma análise significativa das comunidades de FMAs, ao procedimento de amostragem, transporte e armazenamento, ao procedimento de extração e montagem de esporos em lâminas, e claro, na identificação morfológica das espécies de FMAs. Assim, a experiência dos taxonomistas deve ser levada em consideração no início e durante o desenvolvimento de um projeto de pesquisa, e não somente no final.
Identificar FMAs pela observação dos esporos no microscópio demanda tempo, leitura, comparação, mensuração, por mais experiente que o taxonomista seja. Por isso, a orientação de um taxonomista de como proceder, uma vez que os esporos são extraídos e os mesmos montados em lâminas, é crucial para que o trabalho seja bem feito e tempo não seja perdido. Eu sempre lembro de um colega que pediu auxilio para identificar espécies e prontamente aceitei...para minha surpresa, me deparei com 8 caixas com lâminas, com 100 lâminas em cada caixa, para identificar os esporos num período de duas semanas, algumas lâminas contendo um ou dois esporos apenas, os quais estavam, em sua grande maioria, degradados!
Escrevo esse ensaio para sensibilizar os colegas que procurem os taxonomistas de FMAs não apenas quando necessitam de uma lista de espécies para poder dar continuidade aos trabalhos dos seus estudantes de graduação e pós-graduação. Contem com os taxonomistas para discutir o delineamento amostral, para orientar na extração e montagem dos esporos, para a identificação das espécies e para auxiliar na discussão e interpretação dos resultados. Tenham o taxonomista durante toda a viagem e não apenas naqueles momentos finais do trabalho, naquela última parada antes da rodoviária!
Cordial abraço,
Sidney Stürmer