Histórico

Breve histórico da pesquisa com Micorrizas no Brasil

Nos últimos 45 anos, os estudos das associações micorrízicas por parte de pesquisadores brasileiros tem se tornado uma linha de pesquisa consolidada no país. Os relatos desta associação em território brasileiro datam dos primeiros anos do século XX em plantações de Pinus e posteriormente, entre 1950 e 1970, há relatos para Araucaria e espécies arbóreas da Amazônia (Siqueira et al., 2010).

No inicio da década de 70 houve o primeiro trabalho acadêmico de micorrizas realizado no Brasil produzido pela Dra. Lilian Isolde Thomazini na UNESP de Rio Claro, no estado de São Paulo. Este trabalho resultou numa publicação na Plant and Soil (Thomazini, L.I. 1974 – Mycorrhiza in plants of the “Cerrado”. Plant and Soil 41:707-711). Neste trabalho foi registrado que 56 espécies arbóreas apresentavam a associação micorrizica arbuscular (reportado na época como micorrizas endotróficas), 02 espécies (Campomanesia coeruelea e Bauhinia holophylla) estavam associadas com ectomicorras e duas espécies apresentaram associação ectendomicorrizica. Nesta mesma década em 1976, Tasso Leo Krügner obteve seu doutorado em Fitopatologia na North Carolina State University, nos EUA, cujo titulo da tese foi “Development of ectomycorrhizae, growth, nutrient status, and outplanting performance of loblolly pine seedlings grown in soil infested with Pisolithus tinctorius and Telephora terrestris under different fertilization regimes”. Sua volta ao Brasil impulsionou os trabalhos com a associação ectomicorrízica na ESALQ, em Piracicaba, SP.

Ao final da década de 70, mais precisamente em 1978, foi organizado um curso no Instituto Agronômico de Campinas sobre endomicorrizas e que representa para muitos o marco inicial da pesquisa com micorrizas no Brasil. Este curso foi idealizado pelo Dr. Lourival do Carmo Mônaco, então diretor do IAC, o qual solicitou ao Dr. Eli Sidney Lopes a organização do mesmo. O curso foi ministrado pela. Dra. Barbara Mosse e pelo Dr. David Hayman, dois expoentes na pesquisa com micorrizas da Estação Experimental de Rothamsted, na Inglaterra. Este curso estabeleceu as bases para que a pesquisa com micorriza fosse reforçada nas instituições de origem dos participantes, quais sejam o IAC, a Escola Superior de Agricultura de Lavras (hoje UFLA), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o CEPLAC, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Embrapa e Instituto de Botânica de SP (Siqueira et al., 2010). Alguns participantes deste curso representam as bases que deram impulso a esta área no Brasil (Siqueira e Klauberg-Filho, 2000) e que estão ainda atuando na pesquisa com micorrizas.

O resultado deste curso foi um interesse acentuado na pesquisa micorrízica o que resultou em publicações abordando a potencialidade destes fungos e da simbiose em planta tropicais (Siqueira et al., 2010). A Revista Brasileira de Ciência do Solo passou a ser o principal canal de publicação dos resultados em nível nacional e uma das primeiras revisões publicadas neste periódico foi de autoria de Eli Lopes, Oswaldo Siqueira e Laércio Zambolin em 1983. O entusiasmo com os resultados das pesquisas foi tanta que começaram a ser organizados encontros apenas para discutir resultados de pesquisa em micorrizas, as boas e velhas Reuniões Brasileiras sobre Micorrizas, as REBRAMs (para maiores detalhes, ver página da REBRAM).

A década de 90 foi marcada pela expansão e consolidação da área de micorriza como linha de pesquisa, evidenciado pelo elevado número de publicações no exterior (Siqueira et al., 2010) e pela formação de um número maior de doutores que continuaram suas pesquisa em micorrizas nas Instituições que hoje se encontram. Nesta década podemos ressaltar o livro editado por José Oswaldo Siqueira após um encontro de pesquisadores em Lavras, MG, entitulado Avanços em fundamentos e aplicações de micorrizas e a revisão de Mendonça e Oliveira (1996) avaliando criticamente a pesquisa de micorriza no Brasil (Siqueira et al., 2010).

Atualmente no Brasil contamos com mais de 20 grupos de pesquisa e ca. 400 pesquisadores que se dedicam a pesquisa com micorrizas, embora uma análise mais detalhada demonstre que apenas 20% destes pesquisadores são especialistas na área (Siqueira et al., 2010). Os mesmos autores apontam que em termos Institucionais, as seguintes instituições são as que mais contribuíram para a capacitação na área de micorrizas:

- Universidade Federal de Lavras – UFLA – Lavras, MG

- Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz – ESALQ – Piracicaba, SP

- Universidade Federal de Viçosa – UFV – Viçosa, MG

- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ – Seropédica, RJ

- Embrapa Agrobiologia – Seropédica, RJ

- Universidade Estadual de São Paulo – UNESP – Rio Claro, SP

- Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife, PE

Ao completarmos 4 décadas de pesquisas com micorrizas no Brasil, contando o curso do IAC em 1978 como o marco inicial, ressaltamos dois momentos que coroam os resultados obtidos e os esforços de pesquisadores nesta área tão fascinante.

O primeiro foi a realização do 6º ICOM – International Conference on Mycorrhizae – em Belo Horizonte, MG entre 9 a 14 agosto de 2009, com o tema “Beyond the roots”. O ICOM6 foi organizado pelo grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, e teve como presidente Maria Catarina Megumi Kasuya, que contou com o apoio de vários pesquisadores brasileiros como membros do comitê científico local.

O segundo foi o lançamento em 2010 do livro Micorrizas: 30 anos de pesquisa no Brasil, editado pelos pesquisadores José Oswaldo Siqueira, Francisco Adriano de Souza, Elke Jurandy Bran Nogueira Cardoso e Siu Mui Tsai. Este livro organizado em 22 capítulos contou com a colaboração de 51 autores brasileiros e apresenta 2500 referências. O livro procurou resgatar e avaliar criticamente as pesquisas desenvolvidas no Brasil nos últimos 30 anos.

Siqueira & Klauberg-Filho (2000) exaltaram que, apesar do potencial de aplicação das pesquisas com micorrizas no Brasil e da existência de pesquisadores bem qualificados, o País carece de programas de pesquisa coordenados nacionalmente, que o contingente de pesquisadores em micorizas é insuficiente e que programas de pesquisa de alto nível são raros, resultando num “panorama pouco otimista”. Os autores propuseram também orientações e uma agenda para a pesquisa no Brasil que deveriam ser seguidas. Acima de tudo, o estabelecimento de programas com abordagem integrada e continua (Siqueira & Klauberg Filho, 2000), bem como o desenvolvimento de trabalhos conjuntos, em redes devem ser buscados para que possamos sempre mais consolidar a pesquisa com micorrizas no Brasil.

Bibliografia consultada:

As informações presentes no texto acima foram extraídos das seguintes referências:

Siqueira, J.O. & Klauberg-Filho, O. 2000. Micorrizas Arbusculares: a pesquisa brasileira em perspectiva. Tópicos em Ciência do Solo – Volume I. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG. PP. 235-264.

Siqueira, J.O., F.A. de Souza, E.J.B.N. Cardoso & S.M Tsai. 2010. Histórico e evolução da micorrizologia no Brasil: avanços em três décadas. In.: Micorrizas: 30 anos de pesquisa no Brasil. Eds.: J.O. Siqueira, ., F.A. de Souza, E.J.B.N. Cardoso & S.M Tsai. Editora UFLA, Lavras, MG. Pp 1-14.