NOTA INFORMATIVA

No respeito pelo Plano de Contingência em vigor na Escola Artística António Arroio, o nosso Cineclube e a disciplina de Português informam que as sessões de cinema previstas para o mês de março estarão reservadas apenas às turmas já inscritas e ocorrerão excecionalmente nas diferentes salas de aulas dessas mesmas turmas, não havendo lugar às exibições no Estúdio 213/ Sala 312, por forma a evitar a grande aglomeração de pessoas.

Editorial

Neste mês de março, o nosso Cineclube e a disciplina de Português voltam a associar-se e programam novamente obras da nossa cinematografia que exploram diferentes aproximações entre o cinema e a palavra. Depois da palavra dita e da palavra escrita, é a vez de explorar a primeira pessoa do singular… o eu em palavras.

Dia 10 de março, às 10h15, no Estúdio 213, será projetado JOSÉ CARDOSO PIRES — DIÁRIO DE BORDO (1998), retrato do homem e do escritor por Manuel Mozos. Rodado em Lisboa e na Caparica no outono e inverno de 1997, este filme constrói-se a partir do próprio testemunho de José Cardoso Pires, em várias conversas filmadas com Clara Ferreira Alves (coordenação e entrevistas), e em depoimentos de amigos do escritor. O realizador Manuel Mozos estará presente para uma conversa no final da sessão.

Aos cinquenta anos dei por mim a fumar ao espelho e a perguntar E agora, José. Fumar ao espelho, qualquer José sabe isso, é confrontarmo-nos com o nosso rosto mais quotidiano e mais pensado.

José Cardoso Pires

No dia 11 de março, às 10h15, no Estúdio 213, e em jeito de double bill, serão projetados SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (1969), de João César Monteiro — primeira e justa reposição do nosso Cineclube — e SOPHIA, NA PRIMEIRA PESSOA (2019), o mais recente filme de Manuel Mozos, edificado a partir do espólio pessoal da autora, de imagens de locais onde viveu ou que lhe foram queridos, de imagens de arquivo de televisão ou cinema, associados a excertos da sua prosa e da sua poesia, sempre com testemunhos na primeira pessoa.


Eu sempre procurei escrever os versos que existem. Aqueles que são como que a verdade das coisas. E não a verdade escrita em mim sobre as coisas. Sempre considerei […] que o poeta é um lugar onde o poema se escreve.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Entretanto, no dia 19 de março, às 14h30, na Sala 312, é a vez d’O HOMEM PYKANTE — DIÁLOGOS COM PIMENTA (2018), de Edgar Pêra. Focando-se, mais do que na sua poesia, na sua importância enquanto pioneiro da performance em Portugal, O Homem-Pykante é um filme-performance que homenageia um dos mais importantes criadores portugueses, experimentador por natureza e inconformista político por convicção: Alberto Pimenta.

Quem é que nos conta o princípio? Na Bíblia o S. João diz que o princípio era o Verbo. Mas, o que é que isso quer dizer, não é? O princípio era o verbo… Ora, nesse tal princípio, no meu princípio, foi um princípio… Não! Se eu te for contar esse princípio pronto acaba logo o filme porque dura um tempo enorme. Espero!

Alberto Pimenta

Finalmente, no dia 23 de março, às 14h30, na Sala 312, será projetado BELARMINO (1964), de Fernando Lopes, filme-chave do Cinema Novo Português, nas palavras de José Matos Cruz um filme sobre a «existência marginária e popular de Belarmino Fragoso­­­­­­­ — engraxador, colorista de fotografias — antigo campeão de boxe, através de um "questionário psicológico", que logo salta para o universo social e urbano onde se inscreve: das origens humildes, com a força embargada das palavras cruas — sobre o drama que constitui a sua vida, realçando as irregularidades e explorações de que foi vítima — o inquérito dissolve-se na cadência excêntrica e nostálgica, da Lisboa crepuscular…»

Comecei a jogar boxe como amador, claro. Era a vida. Precisava de ganhar dinheiro, era engraxador, e depois comecei como amador, com um amigo meu, que era engraxador também. Fomos um dia para a porta do Salão Lisboa, com a alcunha «Piolho», e fomos por acaso, para arranjar dinheiro para ir ao cinema.

Belarmino Fragoso

Entretanto, no âmbito do ciclo «Fotografia e Cinema», já no próximo dia 10 de março, às 16h10, no Estúdio 213, será projetado OTHON (2014), de Guillaume Pazat e Martim Ramos. Em Othon, os realizadores entram pelo antigo hotel Othon Palace, localizado no centro de São Paulo, outrora o maior hotel de luxo da cidade, para filmar a entrada de famílias de ocupantes. Destacamos a presença na sessão do fotógrafo e realizador Martim Ramos.

Convidamos toda a comunidade escolar e amigos a participar nestas sessões. A programação deste mês não seria possível sem a generosidade dos realizadores Manuel Mozos, Edgar Pêra, Martim Ramos e Guillaume Pazat, e das produtoras Rosa Filmes e Vende-se Filmes. Agradecemos ainda o apoio dos nossos parceiros de sempre: Abel Ribeiro Chaves (Bazar do Vídeo), Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema e Plano Nacional de Cinema, através da sua coordenadora Elsa Mendes. A todos o Cineclube e a disciplina de Português da Escola Artística António Arroio prestam pública homenagem.

«É algo que todos os realizadores têm em comum, creio, este hábito de ter um olho aberto dentro deles e outro no exterior. (...) Eis uma ocupação que nunca me cansa: olhar.».

Michelangelo Antonioni



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