Editorial

Neste mês de Janeiro, o nosso Cineclube, em colaboração com os professores da especialização de Fotografia do curso de Comunicação Audiovisual, apresenta uma nova rubrica, o ciclo «Cinema e Fotografia». Mensalmente, ao longo deste ano, será programada uma sessão dedicada a explorar a relação — nas suas mais variadas formas, explícitas e implícitas — entre as artes fotográfica e cinematográfica.

No dia 28 de Janeiro, terça-feira, às 16h10, será exibido BLOW-UP (1966), o célebre filme de Michelangelo Antonioni, sobre as peripécias de um fotógrafo que, de ampliação em ampliação, descobre um crime. Construído a partir de um conto de Julio Cortázar, BLOW-UP é a história de um homem que se confronta, face a face, com as possibilidades da imagem fotográfica.

Considerando a grandeza e transdisciplinaridade da sua Obra, neste mês inaugural do ciclo «Cinema e Fotografia» será realizada uma justa e devida homenagem ao artista Fernando Lemos, ex-aluno da Escola Artística António Arroio — à data (1938-1943), Escola de Artes Decorativas da António Arroio — recentemente falecido.

Fui estudante, serralheiro, marceneiro, estofador, impressor de litografia, desenhador, publicitário, professor, pintor, fotógrafo, tocador de gaita, emigrante, exilado, director de museu, assessor de ministros, pesquisador, jornalista, poeta, júri de concursos, conselheiro de pinacotecas, comissário de eventos internacionais, designer de feiras industriais, cenógrafo, pai de filhos, bolseiro, e tenho duas pátrias, uma que me fez e outra que me ajudo a fazer. Como se vê, sou mais um português à procura de coisa melhor.

Fernando Lemos

No dia 20 de Janeiro, segunda-feira, às 8h45, será exibido RETRATAÇÃO, de Victor Rocha, filme em fase de pós-produção que será exibido na Escola Artística António Arroio, numa sessão inédita, reservada a alunos/turmas participantes. Trata-se de uma reflexão sobre o momento crucial e terminal da vida de Fernando Lemos e a forma lúcida e crua como o artista tenta salvaguardar e organizar todo o seu espólio.

No dia 29 de Janeiro, quarta-feira, às 16h10, será projetado LUZ TEIMOSA (2010). Destacamos a presença do realizador Luís Alves de Matos estará presente para uma conversa no final da sessão.

«O mundo de Fernando Lemos é um mundo ferozmente despojado de qualquer lógica externa, dizia Jorge de Sena. O seu multifacetado gesto artístico confunde-se com a própria existência onde o princípio poético está antes de tudo. E é através da luz que teima em entrar através da porta semicerrada, que se vence o medo da vida no combate travado com a morte. E assim nasce cada palavra dentro de outra palavra e cada imagem dentro de cada imagem. De quantas facas se faz o amor? pergunta o poeta.».

Luís Alves de Matos

A encerrar esta homenagem será exibido, no dia 30 de Janeiro, quinta-feira, às 16h10, FERNANDO LEMOS — COMO, NÃO É RETRATO? (2018), documentário de Jorge Silva Melo construído em duas partes, uma longa entrevista em 2008, aquando da sua passagem por Lisboa, e outra em 2017, em São Paulo. Trata-se do retrato de uma vida, a vida feliz de um homem inquieto.

Convidamos toda a comunidade escolar e amigos a juntarem-se a esta programação, que não seria possível sem o apoio e a generosidade dos realizadores Luís Alves de Matos, Jorge Silva Melo e Victor Rocha, bem como da companhia Artistas Unidos e das produtoras Jump Cut e Real Ficção. Agradecemos também a colaboração da distribuidora Midas Filmes, em particular do produtor Pedro Borges, e dos nossos parceiros de sempre: Bazar do Vídeo, na pessoa de Abel Ribeiro Chaves, Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, pela cedência dos textos para as respetivas folhas de sala, e Plano Nacional de Cinema, através da coordenadora Dr.ª Elsa Mendes. A todos o Cineclube da Escola Artística António Arroio – Prof. Edgar Sardinha presta pública homenagem.

Vem e traz outro amigo também!

«É algo que todos os realizadores têm em comum, creio, este hábito de ter um olho aberto dentro deles e outro no exterior. (...) Eis uma ocupação que nunca me cansa: olhar.».

Michelangelo Antonioni



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