Editorial

Recentemente, no dia 27 de Janeiro de 2020, assinalaram-se os 75 anos da libertação, pelo Exército Soviético, do campo de concentração nazi de Auschwitz.

Na Alemanha, os campos de concentração foram criados a partir 1933. Neles foram presos «elementos indesejáveis» como, por exemplo, adversários políticos e Judeus. Com o decorrer do tempo, o campo de concentração de Auschwitz tornou-se o maior campo nazi. A partir de 1942, desempenhou uma segunda função, passando a ser um centro de extermínio em massa. Auschwitz é para o mundo um símbolo do Holocausto, de genocídio e terror: nele foram assassinados cerca de um milhão e cem mil seres humanos, em consequência da fome, trabalhos forçados, terror, execuções e também como resultado de péssimas condições de vida, doenças e epidemias, castigos, torturas e criminosos experimentos médicos.

No âmbito da programação regular doCineclube Edgar Sardinha da Escola António Arroio, serão exibidos, no dia 19 de Fevereiro, quarta-feira, às 16h10, em sessão dupla, NOITE E NEVOEIRO (1956), de Alain Resnais, e RESPITE (2007), de Harun Farocki.

«Nacht und Nebel»: os nazis serviram-se destas palavras — «noite e nevoeiro» — para designar os deportados que consideravam ser os mais perigosos e que votavam a uma exterminação rápida. Em 1955, a pedido do Comité de História da Segunda Guerra Mundial, Alain Resnais desloca-se aos locais onde milhares de homens, mulheres e crianças perderam a vida: Oranienburg, Auschwitz, Dachau, Ravensbrück, Belsen, Neuengamme, Struthof. Sobre NOITE E NEVOEIRO escreveu Edgardo Cozarinsky ser «o único filme justo sobre o grande horror do século XX […] Também uma meditação sobre o esquecimento natural e o trabalho da memória».

RESPITE constrói-se a partir de vários planos mudos, a preto e branco, rodados em Westerbork, um campo de refugiados holandês criado em 1939 para Judeus em fuga da Alemanha. Após a ocupação da Holanda, tornou-se um «campo de trânsito». Em 1944, o comandante do campo encomendou um filme, rodado pelo fotógrafo Rudolph Beslauer. Ao atentar aos fragmentos e traços dispersos do filme fantasma, Harun Farocki faz-nos questionar o modelo de filme institucional.

Entretanto, no âmbito do ciclo «Fotografia e Cinema», no dia 11 de Fevereiro, terça-feira, às 16h10, será apresentado SOB CÉUS ESTRANHOS, de Daniel Blaufuks, que evoca a experiência de exílio de refugiados judeus em Lisboa, quando a cidade foi um corredor de passagem para a América. Filmado como memória pessoal e familiar (os avós judeus alemães de Blaufuks contam-se entre os que ficaram das cinquenta mil a duzentas mil pessoas que então passaram por Lisboa) e como história colectiva, SOB CÉUS ESTRANHOS constrói-se a partir da investigação de documentos, de imagens de arquivo, de textos literários. Destacamos a presença do realizador Daniel Blaufuks na sessão.

Finalmente, no dia 12 de Fevereiro, quarta-feira, às 10h15, na Sala 312, no âmbito da parceria desenvolvida com a «Semana da Sensibilização e Prevenção de Consumos de Substâncias Psicoativas e Comportamentos Aditivos», será exibido OSLO, 31 DE AGOSTO, de Joachim Trier, filme sobre Anders, um jovem viciado em drogas que está prestes a terminar um programa de reabilitação no campo e que, numa ida à cidade, depara com os fantasmas do passado e com a angústia de um futuro incerto.

Convidamos toda a comunidade escolar e amigos a juntarem-se a esta programação, que não seria possível sem o apoio e a generosidade do realizador Daniel Blaufuks e da distribuidora Alambique, em particular de Hugo Lopes. Agradecemos também a colaboração dos nossos parceiros de sempre: Bazar do Vídeo, na pessoa de Abel Ribeiro Chaves, Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, pela cedência dos textos para as respetivas folhas de sala, e Plano Nacional de Cinema, através da coordenadora Dr.ª Elsa Mendes. A todos o Cineclube da Escola Artística António Arroio — Prof. Edgar Sardinha presta pública homenagem.

Vem e traz outro amigo também!


«É algo que todos os realizadores têm em comum, creio, este hábito de ter um olho aberto dentro deles e outro no exterior. (...) Eis uma ocupação que nunca me cansa: olhar.».

Michelangelo Antonioni



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