Editorial

Cineclube Fora de Portas — Maio de 2021

Com a reabertura das salas de cinema, o Cineclube da Escola Artística António Arroio – Prof. Edgar Sardinha retoma o ciclo «Cineclube Fora de Portas».

Considerada a impossibilidade de assegurar a projeção em estúdio na nossa Escola este ano letivo, o Ciclo «Cineclube Fora de Portas» pretende promover a visita a salas de cinema que, pela sua história e missão, merecem destaque. Simultaneamente, e em ano do 125.º Aniversário da Primeira Projeção Pública de Cinema realizada pelos irmãos Lumière (28 de dezembro de 1895), continua a privilegiar-se a projeção coletiva em sala.

«Comunidade das pequenas salas de cinema, não muita gente, e a que houver tocada em cheio como o coração tocado por um dedo vibrante, tocada, a pequena assembleia humana, por um sopro nocturno, uma acção estelar.» — Herberto Helder, in «Cinemas», Relâmpago.

Neste mês de novembro, estudantes e amigos da Escola Artística António Arroio são convidados a participar, em condições especiais*, em duas projeções de cinema, na Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema (Rua Barata Salgueiro 39, 1269-059 Lisboa), organismo que tem por missão recolher, proteger, preservar e divulgar o património relacionado com as imagens em movimento, promovendo o conhecimento da história do cinema e o desenvolvimento da cultura cinematográfica e audiovisual.

As duas sessões propostas estão integradas no ciclo «Os Mares da Europa», que tem como leitmotiv o mar — esse elemento singular com inúmeras representações na História do Cinema, seja como assunto, cenário ou elemento simbólico narrativo e formal —, desta feita no cinema europeu, considerada a sua diversidade, quer do ponto de vista geográfico, quer do ponto de vista da história que cada país europeu assume nas distintas relações com o mar (do Atlântico ao Mar do Norte, Mediterrâneo, etc.).

A primeira sessão tem lugar no dia 27 de maio (quinta-feira), às 19h00, e propõe a visualização de BRANDING e ZUIDERZEE, do realizador Joris Ivens, bem como de DRIFTERS, do realizador John Grierson:

«Entre o documentário e a ficção, BRANDING tem como protagonista um marinheiro desempregado de Katwijk, terra que despertou o interesse de Ivens pelo movimento das grandes ondas batendo nos rochedos. Determinado a filmá-las, enfrentou-as com a sua câmara e o resultado é assombroso. ZUIDERZEE simboliza o combate do povo holandês para ganhar novas terras. Trata-se de mostrar a fase terminal da construção de um grande dique que isola definitivamente o Zuiderzee do Mar do Norte. A pesca do arenque no Mar do Norte, filmado nas Shetlands, Lowestoft e Yarmouth, é o tema de DRIFTERS na visão modernista de John Grierson, contemplando a relação entre o homem e a natureza mas também o processo de industrialização que atravessava o Reino Unido e trabalhando essa tensão. É um título seminal do documentarismo britânico, um trabalho inicial de Grierson, sensível ao cinema de Flaherty e à montagem soviética», in Cinemateca, Maio de 2021.

A segunda sessão realiza-se no dia 31 de maio (segunda-feira), às 19h00, com a projeção de LA TERRA TREMA (1948), de Luchino Visconti, uma das obras-primas do neo-realismo italiano sobre o pós-guerra e a luta do povo por uma vida melhor.

«Com o seu olhar inabalável, Visconti traça o retrato da queda e humilhação de uma orgulhosa vila, criando um drama em crescendo no Sul da Itália. Este filme semi-documental conta a história da família Valastro, oriunda de uma pequena vila piscatória na costa da Sicília. Os Valastros são pescadores há gerações. Porém, agora são forçados a aceitar as condições de poderosos comerciantes grossistas, cujos magros pagamentos são insuficientes para sustentar as suas famílias.» — in Alambique.

Este Ciclo é possível graças à colaboração e generosidade de Neva Cerantola e da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.

* Bilhetes: 1,35 euros para alunos da Escola Artística António Arroio. Condições limitadas aos lugares disponíveis e à inscrição prévia, até sexta-feira, dia 21/5/2020, através do e-mail cineclube@antonioarroio.edu.pt
































LA TERRA TREMA (1948) Luchino Visconti














DRIFTERS (1929) John Grierson










ZUIDERZEE (1930) Joris Ivens














RANDING (1929) Joris Ivens

«É algo que todos os realizadores têm em comum, creio, este hábito de ter um olho aberto dentro deles e outro no exterior. (...) Eis uma ocupação que nunca me cansa: olhar.».

Michelangelo Antonioni



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