O trabalho inédito “mães são artistas são filhas são”, da artista visual Viviane Gueller, será exibido pela primeira vez de 19 de julho a 18 de agosto de 2024 no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, em Caxias do Sul (RS). Projeto selecionado pela Convocatória de Artes - Exposições 2024, é resultado de uma imersão no universo materno.

Em período de pandemia, Viviane passou a registrar proposições em fotografia e vídeo com sua filha, notando beleza e espontaneidade em suas criações. A atenção ao cotidiano e às possibilidades que nele se desvelam quando se esculpe um lugar para acolher o acontecimento, tornando-o mais espesso, rugoso, acidentado, praticando uma imagem situada, permeada pelo contexto. Mais tarde, ao rever as imagens, ela refletiu sobre este tema associado à questão “o que é arte” - seus parâmetros legitimados pela academia, pela crítica e pelo mercado, em uma problematização em torno dos recortes atribuídos pelo campo das artes visuais.

De acordo com Flavio de Carvalho, os desenhos das crianças têm uma importância que não apreendemos bem porque trazem para a nossa meditação o drama anímico dos homens das cavernas e a magnifica agitação de uma fauna. Quando são espontâneos, recordam toda a animosidade da espécie, mais ou menos do mesmo modo como o desenvolvimento do feto recorda todas as fases da evolução das espécies, “e parece ser o livro de uma história que não está mais ao nosso alcance”.

Ao supor um aspecto poético e político na maternidade, nas situações que se produzem ao inventar-se mãe e cuidadora, a artista entende este deslocamento subjetivo como lugar de vivência única, singular, inaugural, em constante tensionamento com um território de experiência social e política. O trabalho de mulheres-mães-artistas-pesquisadoras-domésticas-etc embora ocorra sem remuneração e exija muito física, mental e emocionalmente, não tem seu devido reconhecimento; no senso comum, “mães não fazem mais do que a sua obrigação”. Trata-se de um trabalho não mensurado pelo modelo capitalista-patriarcal que se manifesta na própria criança. Neste sentido, é importante observar que no Brasil grande parte das casas é de responsabilidade das mulheres, elas são as gestoras e cuidadoras, e muitas vezes a única referência da família.