Olá, estudante! O objetivo desta lição é apresentar algumas das ferramentas da qualidade que podem ser utilizadas no planejamento estratégico. Ao final desta lição, você será capaz de aplicar indicadores de desempenho, como o MASP e o 8D, e conseguirá apoiar atividades de planejamento e organização bem como identificar, desenhar, racionalizar e dividir tarefas com o uso de ferramentas e tecnologias administrativas.
Mesclando as ferramentas com os conhecimentos agregados nas lições anteriores, você, como futuro(a) Técnico(a) em Administração, poderá propor soluções, incluindo as atribuições simples, tomando por base os conceitos de eficiência e eficácia, além de compreender as aplicações de cada uma das ferramentas estudadas, conhecendo suas vantagens e limitações bem como quando e em qual circunstância utilizá-las.
Um dos fatores determinantes de um planejamento estratégico de uma organização é a qualidade, por isso, ao longo da História, diversos profissionais estiveram sempre procurando criar ou melhorar ferramentas que buscassem a qualidade dos produtos e dos processos organizacionais. Talvez, neste momento, você se perguntou: o que a qualidade tem a ver com o planejamento estratégico? Então, explicar-lhe-ei!
Imagine que um dos fatores analisados para definir o planejamento estratégico de uma empresa seja diminuir custos. Como saber quais custos podem ser diminuídos? Uma forma de identificar e diminuir custos desnecessários é a gestão da qualidade, ainda que o foco de uma organização sejam seus produtos ou serviços em destaque em seu segmento. Por exemplo, uma lanchonete que tem como visão ser reconhecida por ter os melhores hambúrgueres da região, o primeiro fator que ela adotará é a qualidade. Por isso, é tão importante o(a) Técnico(a) em Administração conhecer as ferramentas que auxiliam os gerentes a alcançar maiores patamares de qualidade.
Para o case desta lição, apresentarei um fato (fictício) que ocorreu com a empresa Canecamix. Esta recebeu uma reclamação de um dos seus clientes que atuava como revendedor das canecas e alegou ter recebido um lote apresentando dois problemas: falha de impressão no desenho e alça trincada, o que resultava na impossibilidade da venda das canecas.
Diante da reclamação, a Canecamix solicitou o recolhimento do lote e, ao receber as peças, constatou que, realmente, o problema reportado pelo cliente existia, sendo assim, de imediato, foram tomadas ações de contenção, com o objetivo de assegurar que o cliente não recebesse mais nenhum lote com defeito. Para que se desse início ao processo de melhoramento na produção, como primeiro passo, houve a definição do time multifuncional com um representante de cada departamento-chave da empresa.
Após a identificação do problema, o time partiu para as fases de observação e análise. Todos foram até o setor de sublimação das canecas, onde foi percorrido todo o processo, buscando por potenciais modos de falha que poderiam causar os problemas identificados pelo cliente. Após essa primeira análise, chegou-se à definição das causas raízes do problema: erro de projeto na alça da caneca, por parte do fabricante, e um dos componentes de uma das máquinas de sublimação com problema. As ações de contenção definidas foram:
Interditar e inspecionar o estoque produzido e a produzir.
Verificar a possibilidade de o fornecedor de canecas corrigir o problema, caso não, procurar um novo fornecedor.
Criar um controle de qualidade e orientar os operadores sobre o problema e a ação de contenção implementada.
Incluir, na estação de verificação, a inspeção da presença da mola prato a arruela (componente de máquinas de sublimação).
Todas as ações foram aplicadas com sucesso, não foram detectados novos problemas nem houve mais reclamações do cliente para a empresa. As medidas implementadas para esse evento foram padronizadas e estendidas às demais linhas de produção da Canecamix, garantindo que falhas semelhantes não ocorram com outros clientes ou em outros produtos. Sendo assim, a Canecamix poderá economizar custos de qualidade a longo prazo.
Ao longo dos anos, surgiram vários métodos com o objetivo de solucionar problemas. Perpétuo e Teixeira (2001) apontam a dedicação ao estudo da solução de problemas no trabalho de diversos profissionais, como gerentes, cientistas e engenheiros. O MASP (Método de Avaliação e Solução de Problemas) foi estruturado segundo o PDCA (Plan, Do, Check, Act), mas possui algumas particularidades que o diferenciam do PDCA (FREITAS, 2009).
Hora e Costa (2009) indicam que, no contexto do planejamento estratégico atual, a gestão da qualidade é um fator determinante da sobrevivência das organizações no mercado competitivo. Por isso, os autores afirmam a necessidade de as empresas adotarem os métodos e a filosofia das ferramentas de qualidade como componentes do planejamento estratégico. Para os autores, surge, então, no contexto da qualidade total, o Método de Análise e Solução de Problemas (MASP), que, a partir do ciclo PDCA, estrutura os passos a serem seguidos para abordar uma não-conformidade (HORA; COSTA, 2009).
Sugiura e Yamada (1995) dizem que o MASP se originou na cidade de Komatsu, no Japão, como um procedimento para a elaboração de relatórios referentes aos resultados das melhorias que obtinham no âmbito da qualidade. Esses relatórios continham informações sobre o histórico do controle de qualidade e da evolução dele. Freitas (2009) indica que, mais tarde, esses relatórios foram incorporados aos manuais de controle de qualidade das organizações, sendo, então, conhecido como MASP.
Assim, Freitas (2009) prossegue ao informar que se notou que os relatórios e procedimentos do MASP serviriam como parâmetros para as pessoas alcançarem melhores resultados. Portanto, as organizações começaram a adotar o MASP na resolução de problemas. O autor, ainda, informa que a utilização do MASP ajudou as empresas a adotarem uma melhor prática de tomada de decisões, agora pautadas em dados, e não apenas em bom senso, que acabavam sendo onerosas para as empresas.
Além de auxiliar na tomada de decisões, Freitas (2009) aponta que o objetivo do MASP é aprimorar produtos e serviços, aumentando a probabilidade de resolver uma situação que tenha causado um problema, tornando, assim, a organização mais lucrativa. Por se tratar de uma metodologia prática, que utiliza ferramentas de forma lógica e ordenada, a análise de um problema, por meio do MASP, pode ser feita de forma individual, setorial ou por toda a organização (FREITAS, 2009).
Freitas (2009), ainda, determina que, para a utilização do MASP, os dados e as informações são de suma importância, pois são esses elementos que contribuirão para a efetividade do processo. A efetividade ocorrerá caso os dados e as informações tenham sido coletados, agrupados e analisados de forma confiável e não tendenciosa, de maneira que possam constituir em novas informações. Freitas (2009) aponta as etapas da aplicação do MASP na resolução de problemas:
Problema: determinar o problema.
Observação: analisar as características do problema.
Análise: identificar as causas principais do problema.
Ação: agir para eliminar as causas do problema.
Plano de ação: elaborar uma solução para bloquear as causas mais prováveis para evitar problemas futuros.
Verificação: afirmar a eficácia da ação.
Padronização: eliminar, definitivamente, as causas do problema.
Conclusão: analisar as atividades desenvolvidas e planejar para o futuro.
A maneira como o MASP é usado é outra variável importante que determina a eficácia de uma equipe em projetos de melhoria. Sem um método estruturado, as equipes podem deixar de coletar e analisar dados, recuperar informações ou formular teorias, comprometendo e dificultando o cumprimento das missões que recebem.
O foco é o trabalho em equipe: além de saber usar ferramentas, os membros da equipe devem estar dispostos a trabalhar em equipe e abordar diferentes perspectivas (JÚNIOR, 2016).
Desenvolvido pela Ford, na década de 1980, o Método 8D — 8 disciplinas mostrou-se um método eficaz na resolução de problemas. Assim como o método MASP, o 8D tem como proposta ajudar a encontrar e eliminar a causa raiz dos problemas (ZARGHAMI; BENBOW, 2017). Seu nome, “8D”, faz referência às oito disciplinas que compõem este método. A figura 1 exemplifica o fluxograma do Método 8D.
Sendo assim, cada um dos Ds corresponde à uma etapa da resolução de um problema e da eliminação da causa dele, sendo elas, segundo Alencar (2021):
Nesta fase, a equipe fica sabendo de questões específicas que precisam ser resolvidas e que podem ser notificadas pelo cliente ou gestor interno. Os gerentes, então, avaliam se o problema é simples, para ser resolvido por um membro da equipe, ou complexo, exigindo a formação de uma equipe 8D para resolver o problema.
Nesta fase, os gerentes são responsáveis por formar uma equipe de indivíduos experientes e qualificados e atribuí-los a tarefas de resolução de problemas. Muitas organizações, normalmente, contratam gerentes seniores para ajudar a quebrar barreiras que podem causar problemas para a equipe. Além disso, os gerentes podem nomear líderes para executar tarefas, como designar pessoas para equipes, e obter os recursos necessários para realizar o trabalho.
As atividades nesta etapa incluem a definição do problema, com o máximo de detalhes possível, de maneira mensurável. Uma das ferramentas que podem ser utilizadas nesta etapa é a 5W2H, para definir o problema.
É importante separar o problema do consumidor, e isso exige muito esforço na fiscalização do produto ou serviço. Novas medidas precisam ser adicionadas ao processo para garantir a integridade do produto ou serviço, e a equipe revisa, constantemente, as medidas de contenção para garantir que as medidas sejam, de fato, adequadas, e mudar os planos caso não sejam.
Esta é a parte mais complicada do processo 8D, pois a causa raiz, geralmente, está oculta. Portanto, a participação de pessoas experientes é importante na hora de formar uma equipe 8D. A causa pode ser dividida em duas categorias: especial e aleatória.
Causas aleatórias: são variações esperadas em um processo, como o desgaste natural dos componentes de uma máquina mesmo que esteja em boas condições.
Causas especiais: são mudanças realmente inesperadas que podem causar grandes impactos no processo. A intenção aqui é, especificamente, encontrar a causa específica, que é difícil de encontrar e deve ser pesquisada, mais profundamente, no processo.
Uma vez identificada a causa raiz, várias ações corretivas possíveis devem ser selecionadas e implementadas na prática. Para que uma correção seja eficaz, é necessário considerar sua função real, custo e flexibilidade para lidar com as alterações. As equipes devem ter cuidado para não criar soluções que façam mais mal do que bem, como soluções caras sem garantia de qualidade. As correções devem, então, ser aplicadas e avaliadas em pequena escala. Ações corretivas permanentes devem ser documentadas.
Nesta fase, a correção deve ser validada em um grande ambiente de produção. A equipe deve continuar trabalhando para avaliar se a correção não causa falha. Se for preciso mudanças, elas devem ser documentadas, e os procedimentos, atualizados. As pessoas que usam novos métodos precisam de encorajamento e treinamento. A equipe deve estar atenta às sugestões de outros grupos e incorporá-las ao processo quando pertinentes. Uma descrição da ação corretiva deve ser anexada ao documento do processo 8D.
A equipe precisa monitorar, ao longo do tempo, se o novo processo está funcionando conforme o esperado, atendendo às metas definidas pela equipe e não impactando, negativamente, as métricas em andamento. As lições aprendidas até agora devem ser replicadas em outros processos semelhantes, e os esforços para evitar a repetição devem ser documentados.
Nesta fase, a equipe deve ser reconhecida por seus esforços para concluir o trabalho do processo 8D. Os gerentes devem parabenizar, formalmente, os membros da equipe, e esta deve agradecer a todos os envolvidos no esforço. Todos os documentos relacionados ao processo 8D devem ser preenchidos e publicados.
Os pontos fortes da abordagem 8D são: flexibilidade, pois pode ser adaptada à situação; proteção ao cliente da frequente recorrência de alguma não conformidade já presente nas fases iniciais do 8D; e determinação da causa do problema, de forma rápida (ALENCAR, 2021).
Cabe aos técnicos em administração e administradores identificarem quais os principais problemas a serem resolvidos pela empresa. Nem sempre será determinada, pelo planejamento estratégico, a resolução de um problema da qualidade. Na verdade, com maior frequência, os problemas de qualidade são descobertos, assim como no case apresentado, pelos clientes.
Cabe, então, às equipes serem capazes de identificar e determinar qual das ferramentas de gestão da qualidade utilizar, seja MASP, seja 8D. Para pensar isso na prática, pense em você como cliente e avaliador(a) de um processo de melhoria de qualidade de um produto qualquer na sua casa. Escolha determinado produto e identifique algum problema ou ponto de melhoria nele. Exponha esse problema e proponha um roteiro de utilização de uma das duas ferramentas para resolução e melhoria da qualidade ao cliente final.
ALENCAR, J. J. A. da S. MASP Heroes: uma abordagem baseada em serious games para o ensino do método de análise e solução de problemas-MASP. 2021. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Informação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2021.
FREITAS, F. V. M. Estudo sobre a aplicação da metodologia MASP em uma empresa transformadora de termoplásticos. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Tecnologia de Produção com ênfase Plástico) – Faculdade de Tecnologia da Zona Leste, São Paulo, 2009.
HORA, H. R. M.; COSTA, H. G. Tomada de decisão no MASP: uma contribuição para decisões utilizando a matriz AHP. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 24., 2009, Salvador. Anais [...]. Salvador:ABEPRO, 2009.
JÚNIOR, L. C. dos S. B. Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) apoiado no cliclo PDCA: um estudo bibliográfico. Revista Brasileira de Administração Científica, v. 7, n. 1, p. 6-13, 2016.
SUGIURA, T; YAMADA, Y. The QC storyline: A guide to solving problems and communicating the results. Tokyo: Asian Productivity Organization, 1995.
ZARGHAMI, A.; BENBOW, D. Introduction to 8D problem solving: including practical applications and examples. Phoenix: Quality Press, 2017.