Voltaire

Dados Biográficos

"A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda." (Carta a Frederico, o Grande, 28 de novembro de 1770)

Voltaire (1694-1778) foi um escritor, poeta e filósofo francês. Voltaire, cujo nome real era François Marie Arouet, é conhecido sobretudo por ter sido o grande promotor da cosmologia newtoniana na França. A partir dos vinte e poucos anos, seus escritos satíricos lhe trouxeram problemas, levando a períodos que acabou expulso de Paris ou até mesmo preso na Bastilha. Foi em uma dessas ocasiões de encarceramento que ele adotou o nome Voltaire.

Resumo do seu pensamento: Todo fato ou teoria na história foi revisto em algum momento. ==> Não nascemos com ideias e conceitos prontos em nossas cabeças. ==> Toda ideia ou teoria pode ser desafiada. ==> A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda. (1)

Voltaire escreveu o Cândido ou o Otimismo por volta de 1758 e o publicou em 1759. Esse livro se insere na história do problema do mal, cujo início é reportado ao dilema de Epicuro: "Ou Deus quer extirpar o mal deste mundo e não pode, ou pode e não o quer; ou não pode nem quer; ou finalmente quer e pode. Se quer e não o pode, é sinal de impotência, o que é contrário à natureza de Deus; se pode e não o quer, é malvadez, o que não é menos contrário à sua natureza ; se não quer nem pode é simultaneamente malvadez e impotência; se quer e pode (o que de todas as hipóteses é a única que convém a Deus), qual é então a origem do mal sobre a Terra?"

Historicamente, várias correntes de pensamento tentaram encontrar uma solução ao problema apontado por Epicuro. Leibniz, no século XVII, dá também a sua contribuição à história do problema do mal. As suas teses fundamentam-se no otimismo filosófico ou no princípio da razão suficiente. O princípio da razão suficiente é aquele segundo o qual nada existe sem uma razão para ser assim e não de outro modo. De acordo com Leibniz, a única razão de este mundo existir e não outro é que este é o melhor. O fim do todo é bom, aquilo que vemos como mal se deve à limitação de nossa perspectiva parcial, sempre limitada e incompleta.

Voltaire era adepto do otimismo filosófico – crença de que há um funcionamento ordenado do universo e de todos os eventos. Contudo, o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, dizimando e ferindo muitas pessoas, fê-lo mudar de ideia. A partir daí, opõe-se a esse pensamento. Primeiramente, ataca a religião cristã quanto ao dogma do pecado original. O filósofo se pergunta: se o otimismo está certo, qual é o lugar do pecado original na organização perfeita? Depois, faz diversas comparações entre o mal que vê e aquela ordem que o otimismo apregoa.

O Cândido ou o Otimismo é uma crítica ao otimismo filosófico. Voltaire pretende mostrar que a causa – tudo que existe tem uma razão de ser –, apontada pelo otimismo filosófico, não é capaz de se sustentar perante o testemunho do mundo. Defende, em contrapartida, o otimismo prático, aquele se expressa no aqui e no agora. A recusa do otimismo global leva-o a recusar, também, a identificação que era feita pelo otimismo filosófico entre ordem e bondade ou beleza. (2)

(1) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(2) BRANDÃO, Rodrigo. Voltaire e as Ilusões da Metafísica. In. FIGUEIREDO, Vinicius de (Org.). Seis Filósofos em Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertechia, 2006.

Outros Detalhes

Voltaire (1694-1778). O escritor, poeta e filósofo francês (nascido em Paris) Voltaire, cujo nome real era François Marie Arouet, é conhecido sobretudo por ter sido o grande promotor da cosmologia newtoniana na França e por ter destruído a crença no poder da encantação sobre o mundo natural. Partidário da Aufklärung e do "despotismo esclarecido", combateu as "trevas" da ignorância e da superstição. Reconheceu explicitamente o único agente capaz de libertar o homem da mais cruel das superstições: "Nunca houve império mais universal do que o do Diabo", declarou. "E quem foi que o destronou?" Sua resposta se limitou a uma palavra: "a razão". (1)

Todo fato ou teoria na história foi revisto em algum momento.

Não nascemos com ideias e conceitos prontos em nossas cabeças.

Toda ideia ou teoria pode ser desafiada.

A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda. (2)

A partir dos vinte e poucos anos, seus escritos satíricos lhe trouxeram problemas, levando a períodos que acabou expulso de Paris ou até mesmo preso na Bastilha. Foi em uma dessas ocasiões de encarceramento que ele adotou o nome Voltaire. Em 1726, foi libertado, sob a condição de que iria imediatamente para a Inglaterra. Permaneceu por lá durante três anos, misturando-se a expoentes políticos e literários da época. Ficou muito atraído pelos conceitos de liberdades civis e monarquia constitucional que encontrou e também pela abordagem empírica de John Locke e Isaac Newton, que lhe forneciam um arcabouço racional para desafiar o que enxergava como superstição e ignorância de seus próprio país.

Voltaire já escrevera poemas, peças de teatro e ensaios, mas desse momento em diante seus escritos tomaram um caminho mais abertamente filosófico. De volta à França, começou a trabalhar nas Cartas filosóficas sobre os ingleses (1734), que expressavam sua admiração pelas atitudes liberais com as quais havia se deparado na Inglaterra. Isso contrastava de forma inequívoca com as normas vigentes da França, com sua monarquia absolutista, aristocracia estabelecida e intolerância religiosa declarada, e Voltaire passou a desafiar o poder dominante. Seu livro foi a deixa para que surgissem mais ameças contra ele, que dessa vez se recolheu ao campo, de modo a evitar a prisão. Em 1750, trocou a França pela corte da Prússia, a pedido de Frederico, o Grande, e embora os dois tenham brigado depois de poucos anos, continuaram a se corresponder.

Voltaire fez então da Suíça seu novo lar, estabelecendo-se próximo a Genebra em 1755, e foi durante essa temporada que publicou Cândido (1759). O romance satiriza a filosofia de Leibniz, pela voz do Dr. Pangloss, preceptor de Cândido, que garante que absolutamente tudo - terremotos, guerras, estupros, assassinatos, o que for - acontece pelo melhor "nesse melhor dos mundos possíveis". Em vez de cristão, Voltaire era deísta - acreditava na existência de um ser supremo -, pois já testemunha muitos dos danos que a religião organizada era capaz de causar. Seu Dicionário filosófico (1764), livro de bolso que as pessoas podiam carregar para cima e para baixo, trazia verbetes que mais uma vez se manifestavam contra a Igreja e seu incentivo à superstição, repressão e intolerância, defendendo a liberdade de expressão.

Escritor prolífico, constante pedra no sapato da Igreja e do Estado e defensor da razão, Voltaire personificava o Iluminismo. Suas ideias viriam a influenciar a Revolução Francesa, que estava prestes a eclodir. (3)

(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(3) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

Notas

Voltaire usa o tutor de filosofia, Pangloss, para expor uma versão caricaturada da filosofia de Leibniz, da qual zomba o escritor. Tudo o que acontece, seja desastre natural, tortura, guerra, estupro, perseguição religiosa ou escravidão, Pangloss trata como mais uma confirmação de que eles vivem no melhor dos mundos possíveis. Em vez de levá-lo a repensar suas crenças, cada desastre só aumenta sua confiança de que tudo acontece para o melhor e de que as coisas tinham de ser assim para produzir a mais perfeita situação.

Leibniz ensinou-nos que este é o melhor dos mundos possíveis. As negatividades bastante reais do mundo são sobrepujadas — em termos gerais — por passividades compensadoras de peso suficientemente grande.

Cândido, na novela de Voltaire (Cândido), grita: "Mas se este é o melhor dos mundos possíveis, como, em nome dos céus, serão os outros?" Algo acima e além de uma argumentação sobre o melhor mundo possível seria necessária para abordar esse problema. (RESCHER, Nicholas. Uma Viagem pela Filosofia: em 101 Casos Anedóticos. Tradução André Oídes. São Paulo: Ideias e Letras, 2018.)

O protesto contra a Igreja Católica as 95 teses que Martinho Lutero (1483-1546) pregou na porta da igreja de Todos os Santos em Wittenberg em 1517, continha ataques às doutrinas, aos rituais e à estrutura clerical do catolicismo, dando especial atenção aos clérigos que convenciam as congregações de que, sem a intervenção direta de um padre e o pagamento que inevitavelmente se seguia a tal intervenção, um fiel não seria capaz de se comunicar com Deus e muito menos de entrar no Paraíso. Os argumentos de Lutero alimentaram a obra de filósofos do Iluminismo como Voltaire, que, apesar de não se interessar pela reforma das práticas religiosas, defendia a primazia da razão sobre todo o resto. Pessoas envolvidas com a igreja, portanto, como geralmente não cultivavam o uso da razão, impediam o progresso social.