Platão

Dados Biográficos 

"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida." (Platão)

Platão (428-347 a.C.) viveu no final do "século de ouro" da cultura grega, período em que começou a vigorar uma postura mais crítica e autônoma em relação à tradição. Esse período estava associado ao aparecimento da democracia – o novo regime político –, em que foi possível também o surgimento da retórica e da sofística, modos de utilização da palavra intimamente associados à democracia.

Os escritos filosóficos de Platão basearam-se em diálogos e não em tratados. Esses diálogos foram classificados em três tipos: juventude, maturidade e velhice. Os diálogos de juventude ou socráticos representam o questionamento que Sócrates fazia aos sábios da época; nos diálogos de maturidade, Sócrates não aparece interrogando, mas proferindo afirmações que podem ser do próprio Platão; nos diálogos de velhice, Sócrates ainda é personagem, embora nem sempre a principal.

Como todos os outros jovens de sua época, Platão tinha sido introduzido na retórica. Contudo, teve a oportunidade de conhecer Sócrates, chamado por ele o "mais sábio homem de sua época". A morte de Sócrates, de forma injusta, provocou-lhe uma profunda mudança de concepção. Passou, daí em diante, a escrever os ensinamentos de Sócrates e a defender a filosofia como sendo a única que poderia salvar a cidade dos sofistas. Para ele, somente os filósofos eram capazes de conhecer a verdade, o sumo bem, e, com isso, dirigir corretamente os destinos da cidade, porque não agiriam em causa própria, mas segundo o interesse geral.

A premissa básica da filosofia de Platão é a distinção entre a realidade e a ilusão. Essa tese foi lançada em virtude de ter sido discípulo indireto de Heráclito, que afirmara que todas as coisas fluem e que, por isso, não é possível entrarmos duas vezes no mesmo rio, porque tanto nós quanto o rio se modificaram. Para resolver esta questão, queria achar um ponto fixo, uma forma perfeita e imutável. A "Teoria das Formas" seria esse mundo imutável, o mundo real. Em contrapartida, o mundo sensível seria o ilusório. É uma verdadeira inversão do senso comum, que tem por real o que é sensível.

Assim, a "Teoria das Formas ou das Ideias", que aparece no Livro VI de A República, é a trave mestra de sua filosofia. É, ainda hoje, muito comentada. Lembremo-nos de que "Forma" não é silhueta, figura ou contorno e "Ideia" não é gestação mental, pensamento. Para Platão, tudo o que vemos no mundo visível tem sua forma perfeita no mundo das ideias. Exemplificando: há vários tipos de mesa, de cadeira, de automóvel. Esses vários tipos de mesa, cadeira e automóvel têm, cada qual, uma única forma ideal. É uma espécie de modelo mental que identifica um objeto, classificando-o como tal.

Costuma-se dizer que não se sabe quando Platão fala por ele e quando fala pelo Sócrates histórico. Hoje, de acordo com vários estudos hermenêuticos, pode-se distinguir onde começa o Sócrates histórico e onde começa o Platão verdadeiro. Sócrates, por exemplo, não se preocupava com a metafísica e a epistemologia. Ele estava interessado na ética, mas não na ética dos valores; ele queria descobrir o método, o método da refutação, o elencus. A maiêutica, que é fruto da metafísica e da epistemologia, já pertence a Platão.

Platão é um opositor dos sofistas. Os sofistas eram professores de retórica. Eles percorriam as cidades para vender o seu saber, que era o de ensinar a persuadir pela palavra, não importando muito com o caráter moral da questão. A palavra "sofista" assemelha-se à palavra "filósofo", pois ambas têm origem na palavra grega sophia, que significa "sabedoria". O que diferencia um do outro? O sofista é o "sábio", enquanto o filósofo é "aquele que aspira à sabedoria". Platão passa a combater os sofistas, porque achava que estes dificultavam o livre exercício da justiça no regime democrático.

Platão é um filósofo clássico. Muitas de suas ideias permaneceram no tempo, principalmente aquelas que dizem respeito à reencarnação e à imortalidade da alma. Eis aí uma verdade que deve ser sempre propagada.

Fonte de Consulta

BOLZANI, Roberto Filho. Platão: Verdade e justiça na cidade. In: FIGUEIREDO, Vinicius de (Org.). Seis Filósofos em Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertechia, 2006.

Formas e Ideias 

Ele acreditava que o mundo era feito de objetos, aos quais denominava formas (os pássaros, as árvores etc. E ideias (a virtude e a igualdade). As formas são eternas, imutáveis e predeterminadas. São padrões aos quais se podem comparar coisas ou atos, encontrando assim seus valores. Em seu estado mais puro, a contemplação das formas constituía o que Platão entendia por conhecimento, e conhecimento na Grécia antiga era o mesmo que virtude. Platão argumentava que a maior parte dos governantes não compreendia as formas de nossa existência, e por isso faltava-lhes virtude, uma qualidade que lhes devia ser essencial. (OLIVER, Martyn. História Ilustrada da Filosofia. Tradução de Adriano Toledo Piza. São Paulo: Editoria Manole, 1998.)

Amor Platônico 

Sobre o amor platônico. Platão não afirmava, do ponto de vista filosófico, que os relacionamentos não deviam comportar atração física, mas que o desejo sexual devia ser controlado em nome do bem maior do todo. Essa ideia faz parte de sua concepção de comunidade ideal descrita em uma de suas obras mais famosas e de maior influência a República (c. 375 a.C.). Nessa comunidade ideal, os desejos e talentos das pessoas devem ser aproveitados para o bem de toda a comunidade. (OLIVER, Martyn. História Ilustrada da Filosofia. Tradução de Adriano Toledo Piza. São Paulo: Editoria Manole, 1998.)





Outros Detalhes

"A filosofia tem origem na admiração." Teeteto

Platão (427-347 a. C.). Filho de pais nobres. O maior discípulo de Sócrates. Viajou muito, tinha uma boa renda e viveu no mais alto estilo. Era íntimo de Dionísio I, tirano de Siracusa. Dizia-se que esperava fundar um Estado ideal, em Siracusa. Fundou a Academia num bosque de Atenas. (1)

O mundo real é o mundo das ideias, que contém as formas ideais de tudo. 

Nascemos com os conceitos dessas formas ideais em nossa mente.

O mundo ilusório em que vivemos - o mundo dos sentidos - contém cópias imperfeitas das formas ideais.

Reconhecemos as coisas do mundo como cães, porque reconhecemos que são cópias imperfeitas dos conceitos em nossas mentes.

Tudo nesse mundo é uma "sombra" de sua forma ideal no mundo das ideias. (2)

Desiludido pela morte de Sócrates, Platão deixou Atenas em 399 a.C. e viajou pela Grécia, Egito, sul da Itália e Sicília. No entanto, por volta de 387 a.C., voltou para a sua cidade natal, onde fundou a Academia, chamada por alguns de primeira universidade. O lugar era dedicado ao estudo filosófico, matemático e científico, com o objetivo de melhorar a vida política nas cidades gregas. Platão presidiu a escola até o fim da vida. A maior parte de suas obras chegou até nós sob a forma de diálogos entre Sócrates e uma série de outras pessoas.

Nos primeiros diálogos, Sócrates tenta extrair definições de virtudes morais, interrogando os indivíduos quanto a suas crenças: assim, por exemplo, discute sobre piedade com Eutífron, um especialista em religião, e sobre coragem com Laques, um general. Ele realiza a tarefa de forma tão rigorosa e implacável que as seguras afirmações iniciais de seus interlocutores vão sendo desmanteladas uma por uma, mostrando-se inconsistentes. Todos, inclusive Sócrates, acabam desnorteados. Aquilo que para ele podia ser um exercício intelectual gratificante, certamente enlouquecia os outros.

Os diálogos intermediários - entre eles o Fédon (uma discussão em torno da morte de Sócrates, que acaba levando a uma conversa sobre imortalidade) e A República (reflexões sobre a justiça, no que diz respeito ao indivíduo e ao Estado) - exibem uma abordagem mais positiva, mais construtiva. Neles, Platão esboça várias ideias importantes: que a alma é imortal; que o conhecimento é uma recordação de uma época antes de nossa alma imortal ser aprisionada em nosso corpo; que o mundo material é sombra do mundo espiritual. 

Os últimos diálogos voltam ao tema das formas e, em vez disso, investigam mais a fundo os conceitos de conhecimento, revisitam a República ideal e exploram o mundo natural por meio da física, da química, da fisiologia e da medicina. 

Platão ainda é visto como o responsável por ter introduzido o argumento filosófico como o conhecemos hoje, embora a abrangência e a profundidade de seus interesses nunca tenham sido superadas. Como Alfred North Whitehead observou em Processo e Realidade, "o modo mais correto de se caracterizar a tradição filosófica europeia é afirmar que ela consiste em uma série de notas de rodapé referentes a Platão". (3)

(1) FROST JR., S. E. Ensinamentos Básicos dos Grandes Filósofos. São Paulo: Cultrix. 

(2) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(3) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. 

Platão: Em Forma de Palestra

"A filosofia tem origem na admiração."
Teeteto 

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Dados Pessoais. 3. Considerações Iniciais. 4. Filosofia: 4.1. A Teoria das Ideias; 4.2. Mundo Sensível e Mundo Inteligível; 4.3. Mito da Caverna. 5. Platão e Aristóteles: 5.1. Construção do conhecimento; 5.2. Percepção do Conhecimento; 5.3. Aprendizagem. 6. Os Diálogos Platônicos: 6.1. Os Primeiros Diálogos; 6.2. Os Diálogos Intermediários; 6.3. Últimos Diálogos. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

Quem foi Platão? Qual o seu verdadeiro nome? Que legado nos deixou? Qual a importância de Sócrates em sua obra?  O que distingue Platão de Aristóteles?  

2. DADOS PESSOAIS 

Platão (427-347 a.C.). Filho de Ariston e Perictione, que pertenciam a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro é Aristocles, mas devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, que em grego significa “de ombros largos”. Discípulo de Sócrates. Depois da morte de seu mestre, empreendeu várias viagens. Retornou a Atenas, em 387 a.C. Era íntimo de Dionísio I, tirano de Siracusa. Dizia-se que esperava fundar um Estado ideal, em Siracusa. Fundou a Academia num bosque de Atenas. A teoria das ideias, ou como se desenvolve o conhecimento é a pedra angular de sua filosofia. Dentre as suas obras, destacam-se: A República, As Leis, O Político. 

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS  

Platão viveu no final do "século de ouro" da cultura grega, período em que começou a vigorar uma postura mais crítica e autônoma em relação à tradição. Esse período estava associado ao aparecimento da democracia – o novo regime político –, em que foi possível também o surgimento da retórica e da sofística, modos de utilização da palavra intimamente associados à democracia. 

Como todos os outros jovens de sua época, Platão tinha sido introduzido na retórica. Contudo, teve a oportunidade de conhecer Sócrates, chamado por ele o "mais sábio homem de sua época". A morte de Sócrates, de forma injusta, provocou-lhe uma profunda mudança de concepção. Passou, daí em diante, a escrever os ensinamentos de Sócrates e a defender a filosofia como sendo a única que poderia salvar a cidade dos sofistas. Para ele, somente os filósofos eram capazes de conhecer a verdade, o sumo bem, e, com isso, dirigir corretamente os destinos da cidade, porque não agiriam em causa própria, mas segundo o interesse geral. 

Desiludido pela morte de Sócrates, Platão deixou Atenas em 399 a.C. e viajou pela Grécia, Egito, sul da Itália e Sicília. No entanto, por volta de 387 a.C., voltou para a sua cidade natal, onde fundou a Academia, chamada por alguns de primeira universidade. O lugar era dedicado ao estudo filosófico, matemático e científico, com o objetivo de melhorar a vida política nas cidades gregas. Platão presidiu a escola até o fim da vida. A maior parte de suas obras chegou até nós sob a forma de diálogos entre Sócrates e uma série de outras pessoas. 

Costuma-se dizer que não se sabe quando Platão fala por ele e quando fala pelo Sócrates histórico. Hoje, de acordo com vários estudos hermenêuticos, pode-se distinguir onde começa o Sócrates histórico e onde começa o Platão verdadeiro. Sócrates, por exemplo, não se preocupava com a metafísica e a epistemologia. Ele estava interessado na ética, mas não na ética dos valores; ele queria descobrir o método, o método da refutação, o elencus. A maiêutica, que é fruto da metafísica e da epistemologia, já pertence a Platão. 

Platão é um opositor dos sofistas. Os sofistas eram professores de retórica. Eles percorriam as cidades para vender o seu saber, que era o de ensinar a persuadir pela palavra, não importando muito com o caráter moral da questão. A palavra "sofista" assemelha-se à palavra "filósofo", pois ambas têm origem na palavra grega sophia, que significa "sabedoria". O que diferencia um do outro? O sofista é o "sábio", enquanto o filósofo é "aquele que aspira à sabedoria". Platão passa a combater os sofistas, porque achava que estes dificultavam o livre exercício da justiça no regime democrático. 

4. FILOSOFIA  

4.1. A TEORIA DAS IDEIAS 

A teoria das ideias é a trave mestra da filosofia de Platão. Trata da unicidade de Deus, da imortalidade da alma e da vida futura. Diz-nos que a alma, antes de reencarnar, pertence ao mundo das essências e, a ele voltará, após a morte do corpo físico. As almas impuras poderão transmigrar para um novo corpo, enquanto as puras permanecem nas essências.  

A premissa básica da filosofia de Platão é a distinção entre a realidade e a ilusão. Essa tese foi lançada em virtude de ter sido discípulo indireto de Heráclito, que afirmara que todas as coisas fluem e que, por isso, não é possível entrarmos duas vezes no mesmo rio, porque tanto nós quanto o rio se modificaram. Para resolver esta questão, queria achar um ponto fixo, uma forma perfeita e imutável. A "Teoria das Formas" seria esse mundo imutável, o mundo real. Em contrapartida, o mundo sensível seria o ilusório. É uma verdadeira inversão do senso comum, que tem por real o que é sensível. 

4.2. MUNDO SENSÍVEL E MUNDO INTELIGÍVEL 

Platão distingue dois mundos: o mundo sensível, no qual nós seres humanos sentimos, temos percepções, adquirimos um conhecimento particular das coisas e experimentamos que elas são mutáveis; e o mundo das ideias, um mundo separado, transcendente, uma vez que as ideias - em grego, eidos -, são de natureza totalmente diferente da dos objetos sensíveis.  

4.3. MITO DA CAVERNA  

Para Platão, a tarefa do filósofo é posta em forma de metáforas, extraídas do Mito da Caverna. A caverna escura é o nosso mundo; os escravos acorrentados são os homens; as correntes são as paixões e a ignorância; as imagens ao fundo da caverna são as percepções sensoriais; a aventura do escravo fora da caverna é a experiência filosófica; o mundo fora da caverna corresponde ao mundo das ideias, o único, verdadeiramente; o Sol que ilumina o mundo verdadeiro é a ideia do Bem, que conduz ao conhecimento; o regresso do escravo é o dever do filósofo de envolver a sociedade na experiência da verdade; a incapacidade do escravo em readaptar-se à vida na caverna é a inadequação dos filósofos; o escárnio do escravo é o destino reservado ao escravo; a morte final do escravo-filósofo é a morte de Sócrates.  

5. PLATÃO E ARISTÓTELES

5.1. CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

A divergência entre Platão e Aristóteles estava centrada na construção do conhecimento. Platão – idealista – acreditava que as idéias provinham de um outro mundo, o mundo das essências, denominado topus uranus. Aristóteles – realista – acreditava que as idéias provinham das sensações ou do mundo circundante do aqui e do agora. Aristóteles achava que o ser humano não devia ficar preocupado com a contemplação do mundo das idéias, mas viver intensamente o momento presente. 

5.2. PERCEPÇÃO DO CONHECIMENTO 

A percepção do conhecimento implicava modos diferentes de analisar as questões: Poder-se-ia vê-las pelo lado sensível ou pela contemplação. Tomemos como exemplo a felicidade. Segundo Platão, a felicidade diz respeito a uma vida futura, àquilo que o individuo poderia esperar pelo que fez de bom ou de ruim nesta vida; Aristóteles, ao contrário, achava que a felicidade era o bem supremo do homem, pois todo o ser humano que alcançasse o fim pelo qual foi criado atingiria esse estado de felicidade. 

5.3. APRENDIZAGEM  

Sobre a relação ensino-aprendizagem. Platão achava que o indivíduo já trazia no seu subconsciente o conhecimento adquirido em outras vidas. Cita Sócrates ensinando matemática ao escravo. As perguntas de Sócrates faziam desabrochar no escravo o conhecimento que já possuía dentro de si mesmo. Para Aristóteles, o conhecimento tem que ser formado no mundo circundante. Ele é como uma tabula rasa que deve encher a sua memória e o seu intelecto de novos conhecimentos.

6. OS DIÁLOGOS PLATÔNICOS  

Os escritos filosóficos de Platão basearam-se em diálogos e não em tratados. Esses diálogos foram classificados em três tipos: juventude, maturidade e velhice. Os diálogos de juventude ou socráticos representam o questionamento que Sócrates fazia aos sábios da época; nos diálogos de maturidade, Sócrates não aparece interrogando, mas proferindo afirmações que podem ser do próprio Platão; nos diálogos de velhice, Sócrates ainda é personagem, embora nem sempre a principal. 

6.1. OS PRIMEIROS DIÁLOGOS  

Nos primeiros diálogos, Sócrates tenta extrair definições de virtudes morais, interrogando os indivíduos quanto a suas crenças: assim, por exemplo, discute sobre piedade com Eutífron, um especialista em religião, e sobre coragem com Laques, um general. Ele realiza a tarefa de forma tão rigorosa e implacável que as seguras afirmações iniciais de seus interlocutores vão sendo desmanteladas uma por uma, mostrando-se inconsistentes. Todos, inclusive Sócrates, acabam desnorteados. Aquilo que para ele podia ser um exercício intelectual gratificante, certamente enlouquecia os outros. 

6.2. OS DIÁLOGOS INTERMEDIÁRIOS  

Os diálogos intermediários - entre eles o Fédon (uma discussão em torno da morte de Sócrates, que acaba levando a uma conversa sobre imortalidade) e A República (reflexões sobre a justiça, no que diz respeito ao indivíduo e ao Estado) - exibem uma abordagem mais positiva, mais construtiva. Neles, Platão esboça várias ideias importantes: que a alma é imortal; que o conhecimento é uma recordação de uma época antes de nossa alma imortal ser aprisionada em nosso corpo; que o mundo material é sombra do mundo espiritual.  

6.3. ÚLTIMOS DIÁLOGOS  

Os últimos diálogos voltam ao tema das formas e, em vez disso, investigam mais a fundo os conceitos de conhecimento, revisitam a República ideal e exploram o mundo natural por meio da física, da química, da fisiologia e da medicina.  

7. CONCLUSÃO 

Platão ainda é visto como o responsável por ter introduzido o argumento filosófico como o conhecemos hoje, embora a abrangência e a profundidade de seus interesses nunca tenham sido superadas. Como Alfred North Whitehead observou em Processo e Realidade, "o modo mais correto de se caracterizar a tradição filosófica europeia é afirmar que ela consiste em uma série de notas de rodapé referentes a Platão". 

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA  

LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. 

TEMÁTICA BARSA (Filosofia). Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005. 

VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011. 

São Paulo, junho de 2013. 




Notas da Temática Barsa Filosofia

A vocação filosófica de Platão acaba por ser determinada a partir do julgamento e condenação à morte de Sócrates. Platão estava destinado, por linhagem, à política, mas renunciou a participar de um sistema que havia sido o causador do assassinato do mais sábio e justo dos homens - e, desiludido, dedicou-se a uma atividade puramente teórica: a filosofa. Nela, tentou encontrar um fundamento objetivo para o interesse do homem pelo conhecimento, assim como para a possibilidade de o alcançar. O conhecimento não tem apenas uma dimensão teórica, mas também uma prática: o conhecimento da verdade permite uma vida justa e eticamente correta, assim como uma organização política que corrija os graves defeitos das já existentes.  

A Teoria das Ideias

Sócrates determina a vocação filosófica de Platão, assim como sua pretensão fundamental: chegar à verdade a partir do diálogo, entendido aqui como um autêntico exercício racional, e não meramente como a expressão de um ponto de vista subjetivo, na maioria das vezes obtido de forma irrefletida. A verdade assim encontrada - à diferença de Sócrates, que se conforma em buscá-la, Platão está totalmente convencido de que é possível atingi-la - é o único fundamento legítimo de nosso comportamento ético e político, e só ela constitui o verdadeiro saber. Mas a influência de Sócrates não foi a única decisiva. Heráclito e Parmênides também foram determinantes na elaboração de sua grande contribuição filosófica a teoria das ideias. Heráclito - na realidade, um discípulo dele, Crátilo - leva-o a ver que os objetos materiais estão em contínuo devir, que fluem constantemente e que, uma vez que não permanecem em nenhum estado fixo, é impossível conhecê-los; não se deixam capturar, porque quando os captamos já não são aquilo que eram. Só pode haver conhecimento de algo que não mude, de algo que, ao permanecer sempre idêntico a si mesmo, realmente seja, condição indispensável para ser plenamente inteligível, tal como Parmênides havia determinado. 

Se observamos as coisas que nos rodeiam, notamos que elas mudam continuamente e que, portanto, nunca nos proporcionarão esse conhecimento que Platão considera indispensável para a vida humana. Se há de haver conhecimento, ele terá como objeto outra realidade, de natureza totalmente diferente daquela captada pelos sentidos, que só são capazes de nos mostrar o mutável.  

Mundo Sensível e Mundo Inteligível

Platão distingue dois mundos: o mundo sensível, no qual nós seres humanos sentimos, temos percepções, adquirimos um conhecimento particular das coisas e experimentamos que elas são mutáveis; e o mundo das ideias, um mundo separado, transcendente, uma vez que as ideias - em grego, eidos -, são de natureza totalmente diferente da dos objetos sensíveis. 

O "mito da caverna" é uma bela alegoria dessa duplicidade de mundos. Descrever.  

Características das Ideias

As ideias são as essências das coisas sensíveis, que dizer, aquilo por meio do qual uma coisa (sensível) é o que é. Assim, a ideia de Beleza é a Beleza em si mesma e aquilo por meio do qual as coisas belas são belas. São o comum e universal dos objetos sensíveis, enquanto os objetos sensíveis têm, além disso, características totalmente particulares. Por exemplo: isto é um livro, tem a essência Livro, mas é um livro concreto, com características particulares que o distinguem de outros livros. Cada ideia é única, não há múltiplas ideias de livro; cada ideia é uma unidade. As ideias são imateriais, encontram-se à margem do espaço e do tempo e, por isso mesmo não estão sujeitas ao devir, são imutáveis e eternas - o que as torna perfeitas, em contraste com a imperfeição dos objetos sensíveis e mutantes. Embora imateriais, são totalmente reais, e mais até, são mais reais do que os objetos, a que dão origem porque, se o objeto é como é, é graças à ideia correspondente. É o objeto sensível que depende da ideia, e não a ideia do objeto sensível. Essas são as características que Parmênides atribuía ao ser; as ideias são o ser - o único plena e totalmente inteligível, quer dizer, só cognoscível pela inteligência. Daí a expressão platônica mundo inteligível.  

A relação entre as ideias e as coisas é denominada por meio de diferentes expressões. Do ponto de vista das coisas, diz-se que é uma relação de participação ou imitação; do ponto de vista das ideias, é chamada de presença

O Bem: Ideia Suprema

O mundo das ideias é um mundo perfeitamente organizado e estruturado hierarquicamente. Não há nele o menor indício de desordem, à diferença do que ocorre no mundo sensível. No vértice da hierarquia está a ideia do Bem, que no mito da caverna  está simbolizada pelo Sol que ilumina o exterior. Assim como o Sol é fonte de vida de tudo o que existe, e com sua luz, torna visíveis os objetos, o Bem é o que faz existirem as demais ideias e aquilo que as torna inteligíveis e permite que as conheçamos.

Platão, ao fazer da ideia do Bem, a ideia suprema, tem uma intenção claramente ética - política também -, mas não exclusivamente. A perfeição e a imutabilidade das ideias fazem delas as realidades superiores, são um bem, e por isso a ideia merece ocupar o cume da hierarquia.  

O Demiurgo e o Caos Originário

Se o mundo inteligível é o eterno e imutável e, por sua vez, o protótipo do qual deriva o mundo sensível, é o caso de se perguntar por que isso acontece. Quem produz esse mundo material que nossos sentidos captam e que a razão remete a um ser permanente e imutável? Para dar resposta a essa pergunta, Platão introduz a figura do Demiurgo. É a figura da divindade, a expressão da suprema sabedoria, cuja atividade consiste em produzir o sensível a partir da condição perfeita e arquétipa das ideias. O Demiurgo atua, no entanto, sobre o informe, sobre a matéria. A produção do sensível a partir do inteligível, que a atividade demiúrgica efetua, opera sobre um espaço que Platão entende como receptáculo. Trata-se de um "contínuo" que não foi criado nem se pode destruir: é o caos originário, que em virtude da ação fecundadora do Demiurgo se transforma em cosmos, em estrutura ordenada e inteligível do ser.  

Conhecimento Sensível e Conhecimento Inteligível 

O dualismo entre mundo sensível e mundo inteligível é extensivo também ao conhecimento. De uma realidade que não é plenamente real, que é apenas imitação de outra, não pode haver conhecimento no sentido forte da palavra: pelo conhecimento sensível se conhecem coisas mas, uma vez que essas são cópias das ideias, é um conhecimento de segunda ordem. Esse conhecimento vulgar é o da maioria das pessoas, razão pela qual essa maioria vive como em uma espécie de sonho. É o que Platão chama de doxa ou opinião. É o único a que os habitantes da caverna tem acesso. 

Mas é possível também chegar ao reino da verdade, se é que somos capazes de despertar e ascender ao conhecimento das ideias. Essa ascensão esforçada e penosa é factível por meio do amor à sabedoria, isto é, por meio da filosofia, que permite chegar a um saber que já não é mera opinião, mas episteme (ciência), um saber totalmente racional que não admite dúvidas nem disputas.  

Conhecer é Recordar: Teoria da Reminiscência

Nossos sentidos, materiais, só podem ter acesso aos objetos materiais. Como podemos conhecer, portanto, as ideias, se essas são imateriais e estão, além disso, em outro mundo? Por que temos a ideia de igualdade, embora nunca tenhamos visto duas coisas absolutamente iguais? Por que sabe da ideia de justiça, com toda a sua pureza, apesar de nossa existência como seres sociais ter sido sempre injusta?

A resposta é a teoria da reminiscência. Além do corpo, o ser humano tem uma alma, imaterial e imortal, e é ela quem conhece as ideias em uma existência anterior. O conhecimento só é possível para nós se possuímos uma alma imortal. A mesma argumentação serve a Platão para demonstrar a imortalidade da alma e para justificar a possibilidade do conhecimento.

Em sua preexistência, a alma esteve em contato com o mundo inteligível e ali adquiriu um saber. Quando entra em contato com o corpo, dando lugar a um ser humano, a alma esquece todo o seu conhecimento. Sabe, mas não sabe que sabe. Ao longo de sua existência corporal, no entanto, a alma terá oportunidade de ir recordando, e aquilo que nos parece a aquisição de algo novo é apenas a lembrança de um saber esquecido. A passagem do conhecimento sensível ao conhecimento inteligível, a ascensão que conduz da mera opinião ao saber da episteme, a contemplação da verdade, que é concedida a quem é capaz de abandonar a escuridão da caverna - isso se produz como reminiscência de um saber que já se possuía. 

Nesses aspectos da teoria platônica se percebem os vértices das doutrinas órfico-pitagóricas, com sua crença na transmigração das almas - isto é, a metempsicose - que tem uma origem claramente oriental. 

A Teoria da Alma

Embora o ser humano seja constituído por corpo e alma, Platão não lhe concede o mesmo grau de valor. É evidente que Platão, nas diferenças que estabelece acerca da realidade ou acerca do conhecimento, sempre concede prioridade àquilo que tem a ver com a ideia. No caso da relação entre corpo e alma acontece a mesma coisa. O corpo é o cárcere da alma e sua vinculação é um estado transitório. O lugar próprio da alma e a esse lugar a alma espera voltar quando conseguir se libertar do corpo, quer dizer, quando este morrer. Mas o retorno não é automático, pois a alma só pode voltar ao mundo das ideias quando houver se purificado de seu contato com o corpo, e só se alcança a purificação por meio do conhecimento. Enquanto não conseguir se purificar, a alma irá transmigrando até a reincorporação definitiva ao mundo inteligível.

Platão distingue três funções ou partes da alma, e essa distinção lhe permite fundamentar o seu estado utópico. As três partes da alma são a racional, a irascível e a concupiscível, e as situa respectivamente na cabeça, no tórax e no abdômen. Essa distinção parece obedecer à constatação de que embora o corpo não possa nada por si mesmo, já que a alma o dirige, na própria alma podemos distinguir inclinações ou tendências. Uma tendência e evidentemente a racional, que permite o conhecimento mas que também é capaz de orientar a ação ética e política. Mas nem mesmo Platão é capaz de ignorar que no ser humano estão presentes inclinações irracionais, no sentido de que não são governadas pela razão. Há paixões nobres, como a ira que, impele o guerreiro no campo da batalha ou o desejo de fama e honrarias. Mas também existem em nós paixões ignóbeis, exclusivamente ligadas ao corpo e dependentes dele: os apetites mais baixos, os mais animais. É preciso dominar essas últimas e colocar as nobres a serviço de nossa parte racional.  

A Ética de Platão

Platão participa da convicção socrática de que os conceitos morais podem ser estabelecidos mediante uma definição rigorosa e procura dotá-la de fundamento e possibilidade, quando postula a existência das ideias. O bem, a justiça  e todos os nossos outros valores morais são ideias. Portanto, sua definição é possível e não um simples desejo. Quando possuímos essa definição, quer dizer, quando conhecemos os valores morais tais como eles são em si mesmos, e não em suas imperfeitas realizações humanas, teremos alcançado a vida virtuosa. 

A virtude superior é a da justiça, vinculada diretamente a sua concepção tripartite da alma. A cada parte da alma corresponde uma virtude, uma disposição que lhe é própria. À parte racional corresponde a virtude da prudência, a virtude própria do sábio, daquele que busca o conhecimento e baseia nele seu comportamento ético-político. À parte irascível corresponde a virtude da coragem ou da força. Essa é a virtude do soldado que põe acima de tudo cumprimento do dever. À parte concupiscível corresponde a virtude da temperança, que consiste em frear todas as tendências instintivas da alma. Além destas três virtudes há uma outra, considerada fundamental por Platão: a justiça. Esta consiste no acordo das três partes da alma, quer dizer, surge no momento em que cada parte faz o que lhe é próprio fazer, o que significa que a parte racional, sendo prudente, deve guiar a parte irascível, que deverá ser corajosa, e ambas devem dominar o concupiscível, que será assim moderada.  

O Estado Utópico

Platão estabelece uma clara correlação entre a alma e o estado: visto que a alma tem essa estrutura tripartite, é preciso que essa estrutura se reflita na organização do estado como sua única forma de garantia. Nessa república utópica existem três classes sociais: aqueles a quem predomina a parte racional, aqueles que possuíam a virtude da prudência e o verdadeiro amor à sabedoria, são os que devem governar. São os governantes-filósofos, e só eles estão capacitados para dirigir a vida política. Já aqueles em quem predominam as paixões nobres e a virtude da força, que consagrem a sua vida à defesa do estado e sejam seus guardiães, sempre dirigidos pelos governantes-filósofos. Finalmente, aqueles que se deixam dominar por seus desejos instintivos, ainda que devam aspirar à virtude da temperança, que sejam os que abasteçam a comunidade tudo o que ela necessita para a subsistência: é a classe dos produtores (artesões, lavradores e comerciantes). Sendo o bem da coletividade o interesse máximo do Estado, Platão prevê um "comunismo" para as classes superiores: abolição propriedade privada e da família. Desse modo, governantes e guerreiros estão a salvo dos perigos da ambição pessoal ou de casta, tão frequente na prática política. 

O Estado será justo quando cada um dos seus membros desempenhar a função para a qual se encontre mais capacitado, para a qual esteja dotado naturalmente. O todo só funciona bem na harmonia das partes. (1)

(1) TEMÁTICA BARSA (Filosofia). Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.