Jean-Jacques Rousseau

Dados Biográficos 

"O homem nasce livre e por toda a parte se encontra acorrentado." O contrato social

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi importante filósofo, teórico político e escritor suíço. Teve uma vida bastante atribulada: ao nascer, morreu-lhe a mãe; foi educado por um pastor; teve Madame Warrens como amante; foi preso e refugiou-se na Inglaterra. Além de escritor político e social, dedicou-se também à música e à poesia. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo, sendo que suas ideias influenciaram a Revolução Francesa.

Resumo de seu pensamento: O homem num "estado de natureza" é fundamentalmente bom. ==> Quando a ideia de propriedade privada se desenvolveu, a sociedade teve de criar um sistema para protegê-la. ==> Esse sistema evoluiu como leis impostas por proprietários sobre aqueles que não tinham propriedade. ==> Essa leis vinculam as pessoas de forma injusta. ==> O homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado. (1)

O Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens, em 1754, trata da desigualdade e da injustiça como frutos de uma hierarquia mal constituída. Nessa obra, Rousseau afirma que a organização social não corresponde à verdadeira natureza humana, corrompendo-a e sufocando o seu potencial. A Nova Heloísa, em 1761, exalta o direito da paixão, mesmo quando ilegítima, contra a hipocrisia da sociedade. A mentira seria um produto social. É romance filosófico que exalta a pureza em luta contra uma ordem social corrompida e injusta.

Dentre os vários escritos de Rousseau, sobressaíram os Do Contrato Social e Emílio ou da Educação, em 1762. No Contrato Social, retrata o Estado ideal alicerçado na vontade geral, onde cada um, através de um pacto social, cede, de si, para a felicidade da nação. No Emílio ou da Educação, há um questionamento sobre o método da educação vigente na época. Imagina, assim, um pretenso aluno — Emílio — que faz o seu aprendizado, partindo de sua própria natureza, ou seja, de "dentro para fora" e não de "fora para dentro", como era o convencional.

A liberdade foi amplamente veiculada em todos os seus escritos. Para Rousseau, a liberdade era tão importante que toda a sua teoria foi designada para assegurá-la a todos; não na forma de remover coação, mas como uma liberdade positiva para participar na atividade de legislar sobre o bem comum. Assim, em seu pensamento, a lei mais do que a anarquia é que mantém o povo livre. No Contrato Social ele investiga os pressupostos desta liberdade examinando "os homens como eles são" e as "leis como devem ser".

A influência de Rousseau foi tamanha que, no período que antecedia a Revolução Francesa, havia um grupo de intelectuais, pertencente ao Círculo de Ferro, que estudaram exaustivamente cada um dos capítulos do seu livro Do Contrato Social, com o objetivo de formar a opinião da população. Como Rousseau era pessimista, e dizia que todos os homens nascem livres mas em toda a parte se veem acorrentados, eles reelaboram esse conceito, dizendo que se Rousseau estivesse vivo, a revolução seria o único meio libertar as pessoas dessas correntes. (2)

(1) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(2) COLLINSON, D. Fifty Major Philosophers: a Reference Guide. London and New York, Routledge, 1989

Outros Detalhes

Rousseau, Jean-Jacques. Foi um importante filósofo, teórico político e escritor suíço. Nasceu em 28 de junho de 1712 na cidade de Genebra (Suíça) e morreu em 2 de julho de 1778 em Ermenoville (França). É considerado um dos principais filósofos do iluminismo, sendo que suas ideias influenciaram a Revolução Francesa (1789). (1) 

O homem num "estado de natureza" é fundamentalmente bom.

Quando a ideia de propriedade privada se desenvolveu, a sociedade teve de criar um sistema para protegê-la.

Esse sistema evoluiu como leis impostas por proprietários sobre aqueles que não tinham propriedade.

Essa leis vinculam as pessoas de forma injusta.

O homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado. (2)

Nascido em Genebra, cidade calvinista (estritamente protestante), Jean-Jacques Rousseau teve uma infância conturbada. A mãe morreu poucos dias após dar à luz, e dez anos depois o pai teve de fugir para evitar a prisão, deixando Rousseau aos cuidados de um tio. O menino teve pouca educação formal e saiu de Genebra em 1728, quando passou a vagar pela Itália e a Saboia antes de se estabelecer em Paris, em 1742.

Na capital francesa, trabalhou como secretário e copista de música. Depois de escrever sua própria ópera, chamou a atenção de Voltaire e, em seguida, de Denis Diderot. Como resultado, contribuiu para a Encyclopédie, primeiro escrevendo verbetes sobre música (1749) e, mais tarde, sobre economia política (1755). No premiado ensaio Discurso sobre as ciências e as artes, de 1750, Rousseau argumentava que os avanços nessas áreas não eram benéficos, pois corrompiam a bondade natural dos indivíduos e limitavam a liberdade deles. Já no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1754), ele defendia que as pessoas são essencialmente boas, para não dizer livres, em estado natural, mas acabam corrompidas e tornando-se infelizes por conta das experiências em sociedade - sendo a sociedade nada mais do que uma construção artificial que remonta à primeira pessoa cercando um pedaço de terra e gritando: "É meu!" Essas ideias apareceriam de novo em sua obra mais importante sobre filosofia política, O contrato social (1762).

Nesse livro, Rousseau defende que haja um acordo - o contrato que aparece já no título - segundo o qual, em troca da proteção dada pela sociedade, os indivíduos abrem mão de seus direitos naturais em prol de uma "vontade geral", coletiva. A soberania, que para Rousseau significa o poder de criar leis, reside na vontade geral das pessoas e, portanto, só pode representar o bem comum. As leis resultantes são então promulgadas pelo governo. A liberdade e a igualdade automaticamente servem para todos, uma vez que a vontade geral protege uma pessoa contra a vontade da outra. Ao mesmo tempo, as leis que foram criadas de forma coletiva não podem bater de frente com as liberdades individuais (embora fique claro que qualquer um que discorde será "obrigado a ser livre" - de acordo com os seus próprios interesses, é claro). Contudo, Rousseau admitiu que o tipo de governo republicano que estava defendendo funcionaria melhor em uma cidade-estado pequena - um lugar com Genebra, por exemplo - do que em um grande país, mas a concepção de um Estado com vontade coletiva e prioritária acabou sendo aceita por vários países grandes desde então.

As ideias de Rousseau sobre educação também se tornariam muito influentes. No livro Emílio (1762), ele recomenda que as tendências naturais das crianças sejam estimuladas e não freadas ou disciplinadas. Além disso, afirma que o aprendizado deveria vir do exemplo e não dos livros ou aulas, o que parece um tanto estranho quando sabemos que ele abandonou os cinco filhos em orfanatos. (3)

(1) http://www.suapesquisa.com/biografias/rousseau.htm

(2) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(3) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

Rousseau: Em Forma de Palestra

"O homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado."
O contrato social 

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Dados Pessoais. 3. Considerações Iniciais. 4. O Sentimento à frente da Razão. 5. Natureza e Cultura. 6. O Contrato Social. 7. Rousseau e a Linguagem. 8. Rousseau e o Estado. 9. Influência de Rousseau. 10. A Pedagogia de Rousseau. 11. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

Quem foi Jean-Jacques Rousseau? Qual sua contribuição para a história da filosofia? O que nos legou? O Contrato Social e Emilio ou Da Educação são as suas principais obras?  

2. DADOS PESSOAIS  

Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico político e escritor suíço. Nasceu em 28 de junho de 1712 na cidade de Genebra (Suíça) e morreu em 2 de julho de 1778 em Ermenoville (França). É considerado um dos principais filósofos do iluminismo, sendo que suas ideias influenciaram a Revolução Francesa (1789).  A mãe morreu poucos dias após dar à luz, e dez anos depois o pai teve de fugir para evitar a prisão, deixando Rousseau aos cuidados de um tio. O menino teve pouca educação formal e saiu de Genebra em 1728, quando passou a vagar pela Itália e a Saboia antes de se estabelecer em Paris, em 1742. (Levene, 2013) 

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 

O iluminismo francês está centrado em Voltaire, Montesquieu e Rousseau que, apesar das diferenças de abordagem, têm dois pontos em comum: confiança na razão e repúdio à religião.  

O expoente mais radical do iluminismo político encontra-se em Jean-Jacques Rousseau, que acredita na bondade natural do homem, o qual foi pervertido pela sociedade. Para ele, a natureza e a cultura se opõem. 

Para que o homem possa se reconciliar com a sociedade, há necessidade de um novo contrato social baseado na igualdade democrática, e uma nova pedagogia que respeite a natureza livre do ser humano. 

As ideias políticas de Rousseau produzem em sua época um impacto enorme, e em 1789, ao explodir a revolução francesa, ajudam a inspirar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.  

4. O SENTIMENTO À FRENTE DA RAZÃO 

Jean-Jacques Rousseau ocupa lugar singular no iluminismo francês. Ele se diferencia de outros pensadores, como Voltaire, Diderot e D'Alembert, pela importância que dá ao sentimento em relação à razão. Esta superioridade está vinculada à religiosidade. Sendo deísta convicto, a religião natural constitui uma ligação profunda que brota da harmonia do Universo e que une o homem a Deus, o Ser supremo. (Temática Barsa) 

Rousseau dizia: “Todas as nossas paixões são boas quando nos tornam senhores; todas são más quando nos tornam escravos”. 

5. NATUREZA E CULTURA 

Para Rousseau, "tudo é perfeito ao sair das mãos do Criador, e tudo degenera nas mãos dos homens". Ele foi o primeiro pensador moderno a defender uma oposição entre o homem e a sociedade. Assim, crê que a sociedade é má porque é baseada na desigualdade, em que o forte impõe sua vontade ao fraco. Isso porque arrancou o homem de seu originário "estado de natureza" em que vivia em harmonia com sua bondade primitiva.  

O Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens, em 1754, trata da desigualdade e da injustiça como frutos de uma hierarquia mal constituída. Nessa obra, Rousseau afirma que a organização social não corresponde à verdadeira natureza humana, corrompendo-a e sufocando o seu potencial.  

6. O CONTRATO SOCIAL 

Alguns pensadores políticos, como Tomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau, desenvolvem a idéia de que a sociedade deve ser regida por um contrato social, em que cada indivíduo renuncia algo de si em prol do bem comum. Tomas Hobbes, por exemplo, defende a tese de que o homem é lobo do próprio homem; Rousseau, por outro lado, diz no começo do seu contrato social que o homem nasce livre, mas em toda a parte se vê acorrentado. A partir daí, prescrevem a maneira de se constituir a sociedade, onde o todo seja contemplado e os direitos dos cidadãos defendidos. 

J. J. Rousseau, no seu Contrato Social, diz que a vontade geral supõe que cada um (e não grupos, facções, partidos) se dê inteiramente, no ato de formação do povo pelo qual a vontade geral se engendra, e cuja soberania exprime a legitimidade. 

Para Rousseau, o homem, nascido livre, está acorrentado. No seu Contrato Social, evoca a necessidade de cada pessoa renunciar a sua liberdade em prol da sociedade. “Somente um homem não mais educado na escola do egoísmo e da propriedade privada poderá fazer escolhas políticas com base não nos seus interesses particulares, mas tendo em vista o bem-estar do conjunto da sociedade, segundo o princípio da vontade geral”. 

7. ROUSSEAU E A LINGUAGEM 

Para Rousseau, a linguagem nasceu sob o estímulo das emoções, não da utilidade social, como sustentava Demócrito. “Para resolver todos os problemas práticos da vida bastam os gestos e as ações; é somente para significar o amor e o ódio que as palavras se tornam imprescindíveis. A primeira linguagem dos homens era, portanto, poética, expressiva, ligada aos estados de ânimo. Depois vieram as gramáticas: ganhou-se em clareza, mas perdeu-se em poesia”. 

8. ROUSSEAU E O ESTADO 

Para Rousseau, o Estado deve pautar-se pela vontade geral, e não a da maioria. É uma posição contrária à democracia: “O bem comum não pode ser estabelecido pela simples soma estatística das opiniões individuais – por exemplo, pelo voto, posto que somando tantos egoísmos não se obtém absolutamente altruísmo e consciência civil”. 

9. INFLUÊNCIA DE ROUSSEAU

A influência de Rousseau foi tamanha que, no período que antecedia a Revolução Francesa, havia um grupo de intelectuais, pertencente ao Círculo de Ferro, que estudaram exaustivamente cada um dos capítulos do seu livro Do Contrato Social, com o objetivo de formar a opinião da população. Como Rousseau era pessimista, e dizia que todos os homens nascem livres mas em toda a parte se vêem acorrentados, eles reelaboram esse conceito, dizendo que se Rousseau estivesse vivo, a revolução seria o único meio libertar as pessoas dessas correntes.

10. A PEDAGOGIA DE ROUSSEAU 

“A sociedade livre e igualitária que Rousseau preconiza é inatingível se não se estabelece uma nova pedagogia. O contrato social é, assim, inseparável de Emílio ou Da Educação (1762), romance em que Rousseau expõe seus ideais pedagógicos. Uma vez que o ser humano é originariamente bondoso e sua perversão é produto da sociedade e da cultura, a educação tem de ser em primeiro lugar negativa, evitando a imposição de qualquer conteúdo religioso, moral ou filosófico. A arte do verdadeiro educador, diz Rousseau, não tem outro fim senão o afastamento dos obstáculos que impedem o desenvolvimento das aptidões e impulsos naturais do indivíduo. O ensino deve preparar o homem para o reino da liberdade, fortalecendo-o fisicamente - em contato com a natureza e longe da corrupção do mundo urbano - e lhe devolvendo esse poder que lhe foi arrancado pela sociedade e pela cultura. Consequentemente, é necessário, antes de raciocinar, aprender a sentir, e, antes de memorizar, dispor dos meios que permitam compreender. Os conteúdos intelectuais devem ser introduzidos o mais tarde possível, e de forma limitada, porque não se trata de conhecer tudo, mas apenas aquilo que será útil ao bem-estar do indivíduo. Nessa apologia da educação natural que se aloja no Emílio, subjazem ideias que foram extraordinariamente fecundas para o desenvolvimento da moderna pedagogia. Uma das mais importantes é a que se refere ao mundo da infância. Antes de Rousseau, a criança era vista como um pequeno adulto; depois de Rousseau, começou-se a compreender que a personalidade infantil tem direitos próprios, e que os primeiros anos de vida constituem uma etapa autônoma e diferenciada, que não pode de maneira alguma ser assimilada às coordenadas da vida adulta”. (Temática Barsa) 

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.  

TEMÁTICA BARSA (Filosofia). Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005. 

São Paulo, maio de 2013. 







Notas da Temática Barsa Filosofia

O pensamento político iluminista tem seu expoente mais radical em Jean-Jacques Rousseau, um pensador que acredita na bondade natural do homem, o qual foi pervertido pela sociedade. A natureza e a cultura se opõem, e o progresso, ao contrário do que defendiam os enciclopedistas, não conduz à felicidade, porque a existência social é baseada na desigualdade.

Para que o homem possa se reconciliar com a sociedade, Rousseau luta por um novo contrato social baseado na igualdade democrática, assim como numa nova pedagogia que respeite a natureza livre do ser humano.

As ideias políticas de Rousseau produzem em sua época um impacto enorme, e em 1789, ao explodir a revolução francesa, ajudam a inspirar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

O Sentimento à frente da Razão

Jean-Jacques Rousseau, cidadão de Genebra estabelecido na França e que durante algum tempo se relaciona com Voltaire, Diderot e D'Alembert, ocupa uma posição singular no seio do iluminismo francês. Aquilo que mais diferencia do restante dos pensadores iluministas é a superioridade que ele outorga ao sentimento em relação à razão.

Esta superioridade, além disso, está vinculada a outro traço diferenciador: a religiosidade. Para Rousseau, deísta convicto, a religião natural constitui uma ligação profunda que brota da harmonia do Universo e que une o homem a Deus, o Ser supremo.

O homem é bondoso por natureza mas, submetido como está ao falso parecer da existência social, descobre justamente por meio dessa religiosidade a genuína condição depositada em seu interior.

Natureza e Cultura

Essa religião natural, que se expressa antes de tudo como sentimento, e não como razão, constitui o núcleo essencial do pensamento de Rousseau e impulsiona a ideia de que "tudo é perfeito ao sair das mãos do Criador, e tudo degenera nas mãos dos homens".

Rousseau se torna, desse modo, o primeiro pensador moderno que observa a oposição radical existente entre o homem e a sociedade, o caráter conflituoso da civilização separada da natureza e a condição opressora da cultura; as ciências e as artes, em lugar de promover as "luzes" da humanidade, fizeram apenas envilecê-las ainda mais.

A sociedade é intrinsecamente má porque é baseada na desigualdade - o forte se impõe sobre o fraco - e porque arrancou o homem de seu originário "estado de natureza" em que vivia em harmonia com sua bondade primitiva.

Rousseau, no entanto, não sonha com um hipotético retorno a esse bondoso estado originário. Discute se teria havido um estado de guerra de todos contra todos, como sustentava Hobbes, e duvida que o progresso possa remediar a degradada condição humana. A partir desses pressupostos, será que ainda o homem pode construir os alicerces de uma sociedade justa e reconciliada consigo mesma? A resposta de Rousseau é afirmativa num duplo sentido. O "coração" do homem - esse caminho do sentimento que o "religa", à harmonia da natureza - diz que é possível viver livremente numa sociedade igualitária. Mas para isso são necessários um novo "contrato social" que mude as regras que comandam a existência coletiva e uma nova pedagogia que transforme o indivíduo.

A Teoria do Contrato

No plano social, o problema é "como encontrar uma forma de associação que defenda e proteja, com a força em comum, a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual cada um, unindo-se a todos os outros, obedeça apenas a si mesmo e permaneça, portanto, tão livre como antes".

Para que isso ocorra, é necessário em primeiro lugar um novo contrato social, graças ao qual o indivíduo finalmente recupere tudo o que cedeu à sociedade, já que, "dando-se a todos, cada indivíduo não se dá a ninguém, e como não há um associado sobre o qual não se adquira o mesmo direito que se cede, ganha-se a equivalência de tudo  que se perde, e maior força para conservar o que se tem".

O contrato é expressão da vontade geral, que vela pelo interesse comum, e se diferencia do pacto social existente, que é o resultado de uma simples das vontades (privadas) de todos. Do exercício dessa vontade geral emana a soberania, que pertence ao povo (e não a um poder autocrático) e que se define como absoluta, indivisível e inalienável.

O governo que deve surgir desse novo estado de coisas vem definido como "um corpo intermediário estabelecido entre os súditos e o soberano para sua mútua comunicação, e a quem corresponde a execução das leis e a manutenção da liberdade tanto civil quanto política". O poder executivo de tal governo é delegado e seus membros poderão ser destituídos pelo povo.

Com essas ideias, que Rousseau traduz em 1762 em sua obra O Contrato Social, o pensamento político do iluminismo se encaminha para formas plenamente democráticas (que estão ausentes, por exemplo, das teorias de Montesquieu). A incidência dessas ideias de Rousseau na revolução francesa é indiscutível, a tal ponto que chegarão a inspirar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Mas a igualdade que Rousseau defende vai ainda muito mais longe: é profundamente antiburguesa e aponta para um horizonte em que já aparecem as ideias socialistas do século XIX.

A Pedagogia de Rousseau

A sociedade livre e igualitária que Rousseau preconiza é inatingível se não se estabelece uma nova pedagogia. O contrato social é, assim, inseparável de Emílio ou Da Educação (1762), romance em que Rousseau expõe seus ideais pedagógicos. Uma vez que o ser humano é originariamente bondoso e sua perversão é produto da sociedade e da cultura, a educação tem de ser em primeiro lugar negativa, evitando a imposição de qualquer conteúdo religioso, moral ou filosófico. A arte do verdadeiro educador, diz Rousseau, não tem outro fim senão o afastamento dos obstáculos que impedem o desenvolvimento das aptidões e impulsos naturais do indivíduo. O ensino deve preparar o homem para o reino da liberdade, fortalecendo-o fisicamente - em contato com a natureza e longe da corrupção do mundo urbano - e lhe devolvendo esse poder que lhe foi arrancado pela sociedade e pela cultura. Consequentemente, é necessário, antes de raciocinar, aprender a sentir, e, antes de memorizar, dispor dos meios que permitam compreender. Os conteúdos intelectuais devem ser introduzidos o mais tarde possível, e de forma limitada, porque não se trata de conhecer tudo, mas apenas aquilo que será útil ao bem-estar do indivíduo. Nessa apologia da educação natural que se aloja no Emílio, subjazem ideias que foram extraordinariamente fecundas para o desenvolvimento da moderna pedagogia. Uma das mais importantes é a que se refere ao mundo da infância. Antes de Rousseau, a criança era vista como um pequeno adulto; depois de Rousseau, começou-se a compreender que a personalidade infantil tem direitos próprios, e que os primeiros anos de vida constituem uma etapa autônoma e diferenciada, que não pode de maneira alguma ser assimilada às coordenadas da vida adulta. (1)

(1) Temática Barsa (Filosofia)