Michel de Montaigne

Dados Biográficos

"O homem não é tão ferido pelo que acontece, e sim por sua opinião sobre o que acontece." (Michel de Montaigne)

Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) nasceu e morreu na França. Seu pai era um rico comerciante de vinho, o qual teve oportunidade de proporcionar-lhe educação esmerada, sendo que, aos 13 anos de idade, sabia mais latim do que francês. Montaigne ficou famoso pelos seus Ensaios, dividido em três livros, escritos de 1580 a 1588.

Montaigne surge num cenário de guerras religiosas. Dessas amargas experiências, escreve a sua obra Ensaios. Foi o primeiro filósofo a inaugurar os ensaios sem classificação alguma. A sua única preocupação era a de registrar a tensão formada em seu ser, em seu pensamento. As suas ideias eram fundamentadas nos grandes escritores do passado, principalmente Plutarco. Os pensadores estoicos influenciaram-no sobremaneira.

Toda a filosofia de Montaigne está condensada no lema socrático: Que sais-je? ("O que é que eu sei?"), que ele mesmo mandou cunhar numa moeda. Este lema explica-se pelo ceticismo. Trata a filosofia como um saber presunçoso. "A presunção é nossa doença natural e original", e a filosofia em seus altos voos metafísicos, é apenas um produto da vaidade humana. A razão, pensa Montaigne, não pode alcançar certeza alguma, mas o homem tem de se acostumar a viver na incerteza, e suportá-la estoicamente.

O tema central dos Ensaios é o conhecimento de si mesmo. Partia de si mesmo, tentando uma generalização do ser humano. Aproveitava o ensejo para combater o egoísmo e o preconceito que grassava na sociedade. Embora acenasse para uma volta sobre si mesmo, não queria de modo algum esquecer o poder dos costumes. Segundo ele, há uma universalidade do costume, que se torna uma segunda natureza; o que não é universal é o conteúdo desse costumes. Criticava, assim, a redução de nossos sistemas de crenças a meros costumes e opiniões pessoais.

Notas

 Segundo Luís Augusto Fischer, escritor, ensaísta e professor de literatura brasileira da UFRGS, na sua apresentação do livro pela L&PM, o que Montaigne é para a França e o pensamento francês, Sócrates foi para a Grécia e o pensamento grego.  

Montaigne é considerado uma das mentes mais originais de que já se teve notícia. Foi humanista e precursor do iluminismo. 

Montaigne: Em Forma de Palestra

SUMARIO: 1. Introdução. 2. Dados Pessoais. 3. Considerações Iniciais. 4. O Que É Que Eu Sei? 5. O Moralismo. 6. Poder do Costume. 7. Alguns Pensamentos Extraídos dos Ensaios. 8. Crítica sobre Montaigne. 9. Hipocrisia do Ser. 10. A Moral de Montaigne. 11. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO 

Quem foi Montaigne? Em que época viveu? Qual a sua contribuição para a filosofia? Devemos levar em conta o seu moralismo? Até que ponto? 

2. DADOS PESSOAIS 

Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) nasceu e morreu na França. Seu pai era um rico comerciante de vinho, o qual teve oportunidade de proporcionar-lhe educação esmerada, sendo que, aos 13 anos de idade, sabia mais latim do que francês. Montaigne ficou famoso pelos seus Ensaios, dividido em três livros, escritos de 1580 a 1588. Muitos usufruíram de suas lições. Na lápide de Auguste Collignon, morto em 1830, aos setenta e oito anos, havia a seguinte inscrição: “vivera para fazer o bem, tendo haurido suas virtudes nos Ensaios de Montaigne”. 

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 

Montaigne surge num cenário de guerras religiosas. Dessas amargas experiências, escreve a sua obra Ensaios: o homem, se pretende escapar à sua limitada condição humana, transforma-se numa besta.  Para ele, tudo é questão de limites: da razão, da moral, da ética... O ceticismo de Montaigne situa-se no lado oposto do otimismo humanista dos primeiros tempos do Renascimento.  

As suas ideias eram fundamentadas nos grandes escritores do passado, principalmente Plutarco. Os pensadores estóicos influenciaram-no sobremaneira. As suas inspirações vinham deles. A sua tese educativa visava a formação do juízo (particular e moral) mais do que a do juízo científico. Para Montaigne, a filosofia é a arte de conhecer para aprender a “viver bem” e a “morrer bem”. 

Cada pessoa é única. Montaigne, por exemplo, foi o primeiro filósofo a inaugurar os ensaios sem classificação alguma. A sua única preocupação era a de registrar a tensão formada em seu ser, em seu pensamento. 

Montaigne, em suas viagens pelo mundo, alerta-nos para o principal entrave ao bom entendimento do comportamento dos outros povos: a incapacidade de cada pessoa colocar-se no lugar da outra. 

4. O QUE É QUE EU SEI? 

Toda a filosofia de Montaigne está condensada no lema socrático: Que sais-je? ("O que é que eu sei?"), que ele mesmo mandou cunhar numa moeda. Este lema explica-se pelo ceticismo. Trata a filosofia como um saber presunçoso. "A presunção é nossa doença natural e original", e a filosofia em seus altos voos metafísicos, é apenas um produto da vaidade humana. A razão, pensa Montaigne, não pode alcançar certeza alguma, mas o homem tem de se acostumar a viver na incerteza, e suportá-la estoicamente. 

5. O MORALISMO 

O objetivo dos Ensaios era deixar com amigos e conhecidos um retrato mental dele próprio, inclusive com os seus defeitos, sem método de classificação dos assuntos. O tema central é o conhecimento de si mesmo. Quer, através desses escritos, proporcionar aos outros normas práticas que permitam uma vida razoável. Ele dizia: “Não pinto o ser, pinto a passagem, não a passagem de uma idade a outra, de sete em sete anos, como diz o povo, mas dia a dia, minuto a minuto”. Partia de si mesmo, tentando uma generalização do ser humano. Aproveitava o ensejo para combater o egoísmo e o preconceito que grassava na sociedade. 

6. PODER DO COSTUME 

Embora acenasse para uma volta sobre si mesmo, não queria de modo algum esquecer o poder dos costumes. Segundo ele, há uma universalidade do costume, que se torna uma segunda natureza; o que não é universal é o conteúdo desse costumes. Criticava, assim, a redução de nossos sistemas de crenças a meros costumes e opiniões pessoais. 

7. ALGUNS PENSAMENTOS EXTRAÍDOS DOS ENSAIOS 

“Duvidar, negar mesmo, não é deixar de aprender”; “Por diversos meios chega-se ao mesmo fim”; “As ações julgam-se pelas intenções”; “Nas terras ociosas, embora ricas e férteis, pululam as ervas selvagens e daninhas, e para aproveitá-las cumpre trabalhá-las e semeá-las a fim de que nos sejam úteis”; “Uma mesma linha de conduta pode levar a resultados diversos”; “O homem não cede a outrem a glória que conquistou”. 

8. CRÍTICA SOBRE MONTAIGNE 

Segundo a crítica, Montaigne é um naturalista sem pretensão, que se compraz nas observações de cada dia. Longe de ser um estado doloroso da alma, a dúvida é, para ele, o seu estado ordinário, uma espécie de crepúsculo psicológico cheio de uma forma indecisa, e que gosta de prolongar porque se sente à vontade, independente e desligado. Quando suspendia o juízo não era para desanimar as boas vontades: reservava o seu juízo para momento mais propício, pois nada lhe custava ficar na incerteza. 

9. HIPOCRISIA DO SER 

Michel de Montaigne, em seus Ensaios - Da Vaidade, procura visualizar a hipocrisia do ser, quando os filósofos propõem regras que excedem a nossa prática e as nossas forças. Ele diz: “Vejo frequentes vezes proporem-nos modelos de vida que nem quem os propõe nem os seus auditores têm alguma esperança de seguir ou, o que é pior, desejo de o fazer. Da mesma folha de papel onde acabou de escrever uma sentença de condenação de um adultério, o juiz rasga um pedaço para enviar um bilhetinho amoroso à mulher de um colega”. 

10. A MORAL DE MONTAIGNE  

“Quem acusa os homens de estarem sempre dependendo de coisas futuras, e nos ensina a nos apossarmos dos bens presentes e nos mantermos tranquilos nessa posse, já que não podemos exercer nenhum poder sobre o que virá, até menos do que sobre o passado, toca no mais comum dos erros, sempre e quando se possa chamar de erro alguma coisa que a natureza nos encaminha para favorecer a continuação de sua obra, produzindo em nós, com maior cuidado de nossas ações do que de nosso conhecimento, essa falsa imaginação entre tantas outras. Sempre estamos mais além, nunca estamos em nós mesmos. O medo, o desejo e a esperança nos impulsionam para o futuro, e nos escondem o sofrimento e a consideração do que é, para nos distrair com o que será, mesmo num tempo no qual já não existiremos. [...] Este grande preceito é invocado com frequência nas páginas de Platão: “Cumpre as tuas tarefas e conhece-te a ti mesmo”. As duas constituem a totalidade do nosso dever e cada uma delas pressupõe a outra. Quem deve cumprir com seu dever verá que sua primeira lição é conhecer o que é e aquilo que lhe é próprio. E quem se conhece não tomará como próprio o que não lhe diz respeito: acima de tudo, amará a si mesmo e cultivará seu espírito, recusará as ocupações supérfluas e evitará os pensamentos e julgamentos inúteis.” (Ensaios

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

EDIPE - ENCICLOPÉDIA DIDÁTICA DE INFORMAÇÃO E PESQUISA EDUCACIONAL. 3. ed. São Paulo: Iracema, 1987.

MONTAIGNE, Michel. Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. Porto Alegre: Globo, 1961.

TEMÁTICA BARSA - FILOSOFIA. Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005.