Baruch Spinoza

Dados Biográficos

"É o medo que cria, mantém e alimenta as superstições." (Spinoza)

Baruch Spinoza (1632-1677) nasceu em Amsterdã, na Holanda, em uma família de judeus ortodoxos. Mas, ao contrário dos pais, não tinha qualquer identificação com a religião. Tanto, que foi expulso da comunidade judaica por expressar ideias contrárias. Para Spinoza, os judeus não eram o povo escolhido e nem a Bíblia uma verdade revelada, mas compilação de textos, escritos por autores diversos, ao longo dos anos. Esta postura rendeu-lhe o título de "o mais radical dos pensadores modernos". Morreu jovem, com 35 anos, de tuberculose.

Spinoza é um caso complexo, porque depende de Descartes. Esforça-se por apresentar uma solução diferente — para a relação espírito matéria — daquela dada por Descartes. Quer dar uma solução diferente, mas seguindo os passos de Descartes. Assim, a essência da filosofia de Spinoza é o seu sistema totalizante, que tudo abarca. Tal sistema, concebido matematicamente, entende Deus como Natureza (Deus sevi Nature). A partir de suposições básicas (definições e axiomas) e uma série de demonstrações geométricas constrói o universo que vem ser igualmente Deus.

Descartes ensinava que o universo é feito de duas espécies de substância: o espírito e o corpo. Esse dualismo não satisfaz Spinoza. Ele pergunta: como o espírito se relaciona com a matéria? Ensina que há apenas uma substância que constitui todo o universo. A isso chamou Deus. Vista de certo modo é corpo, vista de outro é espírito. A uma, Spinoza chamou extensão; a outra, espírito. A substância é absolutamente independente de tudo, pois representa tudo. É infinita, causada por si mesma e autônoma. Essa concepção unificadora é conhecida como panteísmo. Muito apegado a essa teoria, muitos a ele se têm referido como inebriado de Deus.

O corpo não afeta o espírito nem este àquele. Ambos, porém, são manifestações de uma única e mesma realidade universal, Deus. A árvore é um atributo de Deus; o pensamento que nos ocorre neste momento é um atributo de Deus. Tudo o que acontece no corpo, acontece também no espírito. É o que se chama paralelismo psicológico, isto é, o corpo e o espírito são sempre paralelos, pois constituem dois aspectos de uma só e mesma realidade. No homem o espírito percebe os seus próprios atos, é consciente. Quer dizer, a substância do espírito é mais complexa do que a substância do corpo, embora todas façam parte de uma única substância.

O sistema filosófico de Spinoza é determinista. Tudo no universo segue alguma coisa, mas numa cadeia causal definida, cujos elos se acham necessariamente ligados ao antecedente e ao consequente. A alma não pode ser imortal num sentido individualista; tem na realidade, imortalidade com um modo de Deus que, da mesma maneira que Deus, não pode ser destruída.

Spinoza: Em Forma de Palestra

"Um homem livre é aquele que vive sob os ditames da razão, não se conduz pelo medo; em vez disso, deseja seguir diretamente o bem."
Ética

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Dados Pessoais. 3. Considerações Iniciais. 4. Deus ou Natureza: Única Substância. 5. Corpo e Espírito. 6. Spinoza e Espiritismo. 7. Tratado Teológico-Político. 7. Ética. 8. Correção do Intelecto. 9. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

Quem foi Spinoza? Que legado nos deixou no campo filosófico? Como entender a posição panteísta de Spinoza? Qual é o seu ponto de partida? 

2. DADOS PESSOAIS 

Spinoza, Baruch (1632-1677). De família judia portuguesa, o filósofo Baruch Spinoza nasceu em Amsterdã, Holanda. Estudou o hebreu, o Talmude e a Bíblia. Aprendeu espanhol, português, holandês e francês. Como ofício, Spinoza ganhava a vida fabricando e polindo lentes, mas dedicou-se também ao estudo das ideias, correspondendo-se durante muitos anos com outros escritores dos campos da ciência e da filosofia. Acusado de judeu e de ateu, de ímpio e de fatalista, tentou explicar o seu ponto de vista sobre a religião.  

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 

Spinoza é um racionalista, tal qual Descartes. Ele pretende dar uma solução ao dualismo deixado por Descartes, ou seja, a dicotomia que havia entre res cogitans e res extensa. Para isso, formula um panteísmo pelo qual se postula uma única ordem racional, uma identificação entre ser de Deus e o ser do mundo.  

Espinosa é um caso complexo, porque depende de Descartes. Esforça-se por apresentar uma solução diferente - para a relação espírito matéria - daquela dada por Descartes. Quer dar uma solução diferente, mas seguindo os passos de Descartes. Assim, a essência da filosofia de Espinosa é o seu sistema totalizante, que tudo abarca. Tal sistema, concebido matematicamente, entende Deus como Natureza (Deus sevi Nature). A partir de suposições básicas (definições e axiomas) e uma série de demonstrações geométricas constrói o universo que vem ser igualmente Deus. 

4. DEUS OU NATUREZA: ÚNICA SUBSTÂNCIA  

Descartes ensinava que o universo é feito de duas espécies de substância: o espírito e o corpo. Esse dualismo não satisfaz Espinosa. Este ensinava que há apenas uma substância que constitui todo o universo. A isso chamou Deus. Vista de certo modo é corpo, vista de outro é espírito. A uma, Espinosa chamou extensão; a outra, espírito. A substância é absolutamente independente de tudo, pois representa tudo. É infinita, causada por si mesma e autônoma. Essa concepção unificadora é conhecida como panteísmo. Muito apegado a essa teoria, muitos a ele se têm referido como inebriado de Deus

Para Spinoza, da definição de Deus como substância (aquilo que não precisa de nada para existir) decorre uma série de considerações: Deus é único, perfeito, auto-suficiente, dotado de infinitos atributos, que só em parte os homens conseguem perceber e compreender. Spinoza sustenta que Deus é a natureza e a natureza é Deus. E, posto que Deus é infinito, assim também deve ser a natureza, não obstante nos pareça finita e determinada. (Nicola, 2005) 

5. CORPO E ESPÍRITO 

O corpo não afeta o espírito nem este àquele. Ambos, porém, são manifestações de uma única e mesma realidade universal, Deus. A árvore é um atributo de Deus; o pensamento que nos ocorre neste momento é um atributo de Deus. Tudo o que acontece no corpo, acontece também no espírito. É o que se chama paralelismo psicológico, isto é, o corpo e o espírito são sempre paralelos, pois constituem dois aspectos de uma só e mesma realidade. No homem o espírito percebe os seus próprios atos, é consciente. Quer dizer, a substância do espírito é mais complexa do que a substância do corpo, embora todas façam parte de uma única substância. 

6. SPINOZA E ESPIRITISMO 

O professor São Marcos, em Noções de História da Filosofia, diz: "Espinosa quebra a rigidez panteísta desmembrando em dois momentos o conceito: Natura Naturans ou Natura Naturata, isto é, Natureza Criadora e Natureza Criada: "Deus sive substância sive natura". Espinosa realiza a ideia embrionária existente no espírito de Descartes: Um Deus imanente na Criação, isto é, não uma individualidade dirigindo de fora o universo, mas aquela entidade suprema que, imanente em todas as coisas, nelas palpita e as mantém". 

O panteísmo de Espinosa leva-nos à questão n.º 1 de O Livro dos Espíritos, na qual Allan Kardec define Deus como "Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Disto resulta que uma Inteligência ou Entidade que abarca tudo o que existe, não pode estar de fora, pois, não há espaço em que não esteja. Embora confuso para muitos de seus críticos, o panteísmo de Espinosa clareia a intuição de Deus naquilo que é possível de ser absorvida pela nossa limitação humana. (São Marcos, 1993, p. 82 e 83) 

7. TRATADO TEOLÓGICO-POLÍTICO 

“As opiniões de Spinoza sobre religião apareceram impressas pela primeira vez em seu Tratado teológico-político, publicado de forma anônima em 1670 e banido em 1674, por ter ofendido as autoridades religiosas. Na obra, ele sugere que a Bíblia deveria ser interpretada apenas por meio do estudo cuidadoso e não de forma a sustentar doutrinas ou ideias preconcebidas, admitindo que assim poderia ser revelado o caráter falso de muitas crenças sobre Deus e o universo. Além disso, afirma que Deus age somente de acordo com as leis de sua natureza, sem ter propósitos específicos em mente. Contribuindo, portanto, para o argumento da tolerância religiosa, suas ideias não eram nada populares em certos lugares, conforme esperado”. (Levene, 2013) 

7. ÉTICA 

“Ainda mais controversa foi a obra Ética (1677), que só pôde ser publicada após a morte de Spinoza. Cada uma das suas cinco partes é tratada como um problema matemático, abrindo com uma série de definições e axiomas a partir dos quais o autor deduz teoremas ou provas. Rejeitando o dualismo cartesiano mente-corpo, ele conclui que existe apenas uma substância, que é ao mesmo tempo Deus e natureza. Isso equivale ao panteísmo: a crença de que Deus pode ser identificado com a natureza e de que a natureza é uma manifestação de Deus. Para Spinoza, a natureza é infinita e perfeita. Todas as coisas, inclusive os seres humanos, representam aspectos da natureza, que opera - de novo - de acordo com sua própria necessidade. Isso significa que ideias como acaso ou livre-arbítrio não existem; alguém que acredita possuir livre-arbítrio simplesmente não entende as causas que determinam suas ações. Tampouco existe um bem ou mal objetivo - ambos dependem do ponto de vista. A felicidade jamais será alcançada por meio do acúmulo de posses ou das emoções. Uma vida guiada pela razão é o caminho a seguir, e o bem supremo vem a partir do conhecimento de Deus”. (Levene, 2013) 

8. CORREÇÃO DO INTELECTO 

Espinosa se coloca diante do mundo e daquilo que é motivo de cobiça dos seres humanos, quais sejam as honras, as riquezas e os prazeres. Em suas reflexões, acaba descobrindo que a procura desses bens é vão e fútil, porém muitas vezes necessária. Apela para a sua inteligência, no sentido de buscar o verdadeiro bem e a suprema felicidade. Quer criar um método, um caminho, que ele chama de “Tratado da Reforma da Inteligência”. 

O caminho consiste em analisar os tipos de percepção que as pessoas têm. Segundo Espinosa, há quatro tipos, a saber: 1) percepção que temos pelo ouvir ou por algum outro sinal que designa convencionalmente; 2) percepção que se adquire pela experiência vaga; 3) percepção em que a essência de uma coisa se conclui de outra, mas não adequadamente; 4) Finalmente há uma percepção em que uma coisa é percebida só pela sua essência ou pelo conhecimento da sua causa próxima. 

Para Espinosa, o verdadeiro método é o caminho, e conhecer exatamente a nossa natureza é o que nos leva à perfeição. Assim, deveríamos nos basear no conhecimento reflexivo ou na ideia da ideia. Quer dizer, deveríamos fazer um esforço para separar a idéia verdadeira das outras percepções e impedir a mente de confundir com as verdadeiras as que são falsas, fictícias ou duvidosas. Com isso, entende-se, também, que quanto mais conhecimento o sujeito absorve mais se lhe apura a sua visão de mundo, e facilita a captação de percepções mais refinadas. 

Ninguém poderá chegar à mais alta sabedoria sem uma correção do intelecto. A emendatio é uma correção da inteligência. Na verdade, é fruto da nossa própria inteligência. Quanto mais conhecimento tivermos, mais se nos apresentará a ideia do ser perfeito. O nosso esforço deve se basear na obtenção de idéias claras e distintas, idéias que não sejam produzidas pelos movimentos fortuitos do corpo, mas que se produzem no pensamento. Ele disse: “A nossa felicidade ou infelicidade depende de que espécie de coisas damos o nosso amor; somente o amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma (animus) de puro gozo". (Espinosa, 2004) 

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

ESPINOSA, Baruch. Tratado da Reforma da Inteligência. Tradução de Lívio Teixeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. 

NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das Origens à Idade Moderna. Tradução de Margherita De Luca. São Paulo: Globo, 2005.

SÃO MARCOS, M. P. Noções de História da Filosofia. São Paulo: Feesp, 1993.

São Paulo, maio de 2013. 






Notas de Livro

Spinoza parte do princípio de que Deus é a origem de tudo, tal qual o motor imóvel de Aristóteles. A ética, sua principal obra, é um livro sobre Deus e o mundo. Trata-se de um livro sobre Deus no mundo e sobre o mundo em Deus. Uma espécie de panteísmo.

Baruch Spinoza (1632-1677), filho de judeus, educado no judaísmo, muda sua ortodoxia depois entrar em contato com a concepção do mundo de Copérnico, Kepler, Galileu, segundo a qual todos os processos no mundo possuem causas naturais e obedecem a leis da natureza. Tendo como base a matemática, associou os conceitos de Deus à ideia de uma ordem racional do mundo matematicamente explicável, e, com isso, abandonou os fundamentos da fé judaica.

Sintetizemos algumas das influências que recebeu dos pensadores precedentes. Dos pré-socráticos, do atomismo e do estoicismo, a crença de que o cosmo era governado por uma única razão de mundo; de Platão, a teoria das ideais; de Aristóteles, a noção de “substância” e do “motor imóvel”; de Giordano Bruno, que o universo era infinito; de René Descartes, o racionalismo e as noções de “res extensa” e “res cogitans”; De Galileu Galilei, o método teórico-experimental da ciência.

Para Spinoza, Deus não está fora do mundo, e tudo é regido pela lei de causa e efeito. Em se tratando de Deus, Deus é a causa de si mesmo. Ele não é pessoal, nem antropomórfico. Por isso, as suas ideias desagradaram substancialmente a Igreja. Os amigos publicaram, em 1677, suas obras com o título Opera Posthuma, incluindo A ética, mas em 15 de junho de 1678, como previra, o livro foi proibido pela censura.

No período clássico da literatura e da filosofia alemãs, entre 1770 e 1830, foi impregnado pelo espírito espinosiano. Lessing, Goethe e Herder eram declaradamente partidários de Spinoza. Fichte e Schelling, mas, particularmente, Hegel, se basearam em Spinoza, em que a ideia de uma razão de mundo permeada pela realidade tornou-se o ponto de partida da filosofia do idealismo alemão.   

A tese de Spinoza acerca de Deus aproxima-se do conceito de Deus em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Possivelmente, se tivesse a noção de perispírito, poderia também ter feito a ligação entre corpo e espírito.

ZIMMER, Robert. O Portal da filosofia: Uma Breve Leitura de Obras Fundamentais da Filosofia Volume 2. Tradução Rita de Cassia Machado e Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2014.


Panteísmo Espinosiano

Copiado de (1)

Sendo a essência da substância o ser causa de si mesmo, portanto, conceitos idênticos, a noção de substância equivale a Deus. Assim, em última análise, só Deus – que, em Espinosa, é um Ser que consta de um número infinito de atributos todos perfeitos – pode perfazer completamente o conceito de substância. Deus é a única e verdadeira substância. Tudo existe em Deus, fora de Deus nada pode existir, pois Ele esgota todas as possibilidades existenciais.

É aí que aparece o Panteísmo Espinosiano, porém, Espinosa quebra a rigidez panteísta desmembrando em dois momentos o conceito: Natura Naturans ou Natura Naturata, isto é, Natureza Criadora e Natureza Criada: "Deus sive substância sive natura". Espinosa realiza a ideia embrionária existente no espírito de Descartes: Um Deus imanente na Criação, isto é, não uma individualidade dirigindo de fora o universo, mas aquela entidade suprema que, imanente em todas as coisas, nelas palpita e as mantém.

Este panteísmo de Espinosa constitui a forma mais precisa de compreensão da existência de uma "Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Uma Inteligência ou Entidade que abrange a totalidade de tudo quanto há e pode haver, e, como abrangente de tudo, não pode estar de fora, pois, não há espaço em que não esteja; é um panteísmo que clareia a intuição teológica de Deus no que tem de possível. 

(1) SÃO MARCOS, M. P. Noções de História da Filosofia. São Paulo: Feesp, 1993, página 82 e 83.