Histórico do município de Caratinga


“Pode-se dizer que não encontramos nada de proveito”. Com estas palavras o navegante Américo Vespúcio, a serviço da Coroa Portuguesa, após exploração de nosso litoral, definiu a terra chamada Brasil.

Havia profundas diferenças entre as índias recém-incorporadas ao comércio europeu, onde Portugal desenvolvia condições altamente satisfatórias ao mercantilismo (civilização adiantada, produção em larga escala, comércio tradicional) e o núcleo colonial americano, onde as condições às relações capitalistas eram as mais precárias possíveis (territórios escassamente povoados por tribos nômades, hostis, não conheciam os metais e viviam no paleolítico).

Desta forma, explica-se o relativo abandono a que o Brasil foi relegado nos primeiros anos após a descoberta.

Em 1530, chega ao Brasil a expedição de Martin Afonso de Souza, que entre seus objetivos, deverá enviar para o interior do país homens em busca do metal precioso, (visto as notícias chegadas dos territórios americanos pertencentes à Espanha serem incentivadoras).

Sucessivas “entradas” foram realizadas, mas quase sempre de resultados desanimadores.

As primeiras expedições que atingiram a região do Rio Doce, que se tem registro, deveu-se a Sebastião Fernandes Tourinho que, partindo de Porto Seguro (Bahia), em torno de 1572/73, chegaram às terras de Minas. Subindo em uma primeira entrada, os rios Jequitinhonha e Araçuaí, numa segunda, remontou o Rio Doce com 400 homens, atingindo também os Rios Santo Antônio e Guanhães. Avançou, então, até o Pico de Itambé, nas cercanias de Serro Frio.

Em terras atualmente caratinguenses, a expedição de Tourinho deixou alguns registros, ainda que confusos, devido ao natural desconhecimento da área que estava sendo desbravada. Parece, porém haver concordância, quanto ao fato de que o referido entradista teria sido o fundador da Casa da Casca, hoje Cuité, sobre tal expedição, há acertado suposições de que a área onde esta situada Caratinga passou a ser vasculhada por levas sucessivas de colonizadores.

A partir das informações de Fernando Tourinho, Antônio Dias Adorno organizou outra entrada, com auxílio do governador do Norte, Luiz de Brito Almeida, subindo pelo Rio Caravelas em 1574. Chegou à leste de Minas Gerais, onde encontrou amostras mineiras e voltou à Bahia.

Outras expedições seguiram-se como as de Jorge Dias, Aspicuelta Navarro, João Coelho de Souza e Marcos de Azevedo Coutinho.

Só no último quartel do século XVII, surgiram as primeiras notícias da existência de ouro brasileiro. A façanha da descoberta coube aos “bandeirantes”, grupos de homens, quase sempre paulista (São Vicente).

A História de Caratinga começa com estas expedições que usaram o Rio Doce como referência e trilha. No vale deste rio encontra-se hoje a cidade de Caratinga.

O Rio Doce foi a fonte de referência para os “bandeirantes”, que seguiam o seu leito e aventuravam-se pelas matas existentes.

Por aqui passaram várias expedições, das quais temos registrado: a de Sebastião Fernandes Tourinho – fundador da Casa da Casca, hoje Cuieté: a de Marcos de Azeredo Coutinho – antecessor de Fernão Dias Paes; a de Antônio Rodrigues Arzão – que ficou famoso em razão da sua Casa da Casca, denominação já encontrada quando de sua ocupação em 1693.

Arzão era natural de Taubaté e viajou muito em busca de aventuras que lhe trouxeram fortunas. Seu nome entrou para a história como sendo descobridor de ouro em Minas Gerais, apresentando 10,5 gramas à Câmara da Vila do Espírito Santo, onde se fundiram e lavaram três medalhas, com uma das quais ele voltou para São Paulo.

Foi a primeira medalha cunhada no Brasil Português.

Vejamos o que os historiadores registram sobre Arzão:

“Foi Rodrigues Arzão, natural de Taubaté, o que primeiro descobriu ouro na Província de Minas Gerais. Tinha Subido o Rio Doce; penetrara nos desertos de Cuieté , quando voltou, no ano de 1695, apresentou três oitavas de ouro à municipalidade (Câmara) da vila da capital da Província do Espírito Santo”.

Em breve, bandos de Paulistas deixaram sua pátria para irem à procura de ouro; e como se encontrava esse metal, por assim dizer, por todos os lados, deu-se à região o nome de Minas Gerais, que significa uma longa seqüência de minas.

Chegavam bandos de aventureiros de todas as partes. A desordem se introduziu com a sua chegada; todas as paixões pareciam desencadeadas, e dois partidos se formaram: o dos Paulistas que se julgavam os legítimos senhores das minas e o partido dos estrangeiros ou forasteiros, que os primeiros, por injúria, chamavam Emboabas. Houve um combate perto do Rio dos Martes; os paulistas foram vencidos e os forasteiros deram a seu chefe Manoel Nunes Viana o título de Governador da Província.

“Antônio Rodrigues Arzão, homem sertanejo, conquistador do gentio dos sertões da Casa da Casca, que a maior parte dos autores antigos e modernos considera, bem ou mal, o primeiro bandeirante a revelar o ouro das Gerais. Dele se afirma que “se tinham descoberto em São Paulo, em Curitiba e Paraguá”, fez certos exames com pratos de pau ou estanho, apurando ao todo três oitavos de ouro. E mais teria alcançado se não fora o gentio que o forçou a romper o sertão com seus homens, rumo à Capitania do Espírito Santo, de onde se passou para São Paulo, achacado e enfermo. Como, por essas razões, lhe fossem impossível retomar a empresa, cometeu-a a Bartolomeu Bueno de Siqueira, seu cunhado, que logo organizou uma entrada com o fito expresso de descobrir ouro, o que de fato descobriu e não já na Casa da Casca, mas nas barrancas de Itaperava”.

(Holanda, Sérgio Buarque – História Geral da Civilização Brasileira, Tomo I, A Época Colonial, 2º Volume, Difusão Européia do Livro, 3º Edição, São Paulo, 1973).

O êxito das primeiras expedições teve grande repercussão histórica. Foram encontrados pedras semipreciosas, esmeraldas e ouro – o que divulgou a região como promissora, sendo um convite para outros exploradores.

O mundo inteiro tomou conhecimento do ouro existente nas Gerais, dando curso ao “ciclo de ouro” e a formação da Capitania das Minas Gerais.

A primeira missa na região das minas foi celebrada pelo então bandeirante e desbravador dos sertões mineiros, o Pe. João de Faria Fialho, em 1699, em uma capela que recebeu como patrono São João.

A Casa da Casca tornou-se famosa pela descoberta do ouro levado ao governo da Capitania do Espírito Santo.

Era um lugarejo de poucas almas, situado no lugar hoje denominado Cuiete, não muito distante do Rio Doce.

A história registra outra expedição à Zona do Rio Doce e que poderia ter pisado em terras caratinguenses. Era comandada por Mathias Barbosa, conhecido como Mestre-de-Campo, e que por aqui pode ter apartado em 1732, a fim de combater os índios bárbaros do Rio Doce, responsáveis pela decadência da idade do ouro.

Mathias Barbosa entrou pela floresta guerreando até chegar em Aimorés.

André de Melo Castro, Conde das Gáveas, era o governador da Capitania, a quem coube a reação oficial contra os nativos que prejudicavam a mineração de interesse da Metrópole, o que vale dizer que as antigas minas de Cuiete, situadas em regiões longínquas, eram dominadas pelos ferozes índios Botocudos.

Com o passar do tempo, novos governadores envolveram-se na luta pelo restabelecimento da idade do ouro.

Luiz Diego Lobo da Silva (1773...), D. Antônio de Noronha (1775 a 1778) e D. Rodrigo José de Menezes (1779 a 1781), são exemplos do interesse da Coroa – que contava com a colaboração do Coronel João da Silva Tavares, por indicação de D. Antônio de Noronha.

O Coronel Tavares era grande conhecedor da região, homem destemido e decidido, a quem coube gerir os interesses do governo, administrando, por ordem de D. Antônio, a construção de estradas e pontes, especialmente uma sobre o Rio Doce, entre Jacutinga e Inferno.

A estrada passaria pelo Quartel do Sacramento e atravessaria os Rios Bugre e Rancho da Picada (Caratinga e Preto), formadores do Rio Cuiete, passariam pelos arraiais da Pinguela e do Pega Bem, atravessaria o Riacho da Comprida, chegando à Conquista do Cuieté.

Seriam 180 quilômetros de estrada construída.

D. Antônio de Noronha foi o último governador de reinado de D. José I e não pôde terminar a empreitada porque seu mandato era de apenas três anos e seus homens trabalhavam apenas na época da seca.

Mesmo depois de substituído no poder, D. Antônio de Noronha, que pensava haver concluído a obra, experimentou a fadiga da inspeção do Trabalho realizado e constatou a realidade, para ele muito triste.

O brilhante D. Rodrigo José de Menezes continuou a obra, concluindo-a e visitando Cuiete em agosto de 1781, passando por Arrepiados (Viçosa) e Ponte Nova, sendo recebido com o temor de alguns e as horas de outros.

Como surto de febre era comum no local, o governo acabou por enviar ao Cuiete elementos indesejáveis capturados em toda a Capitania, dando-lhes a oportunidade de exploração dos pontos onde possivelmente pudessem encontrar ouro: Escadinha, Bueno, Ribeirões, Santana, Santo Estevam, Alvarenga, Santo Antônio e Bananal.

“Os Presídios (fortes militares foram, em grande parte, mantidos e desenvolvidos às custas do trabalho de desclassificados. Localizavam em terras remotas, as conquistas, e foram feitos para combater o extravio do ouro, para inspecionar e impedir o avanço dos índios, sobretudo Botocudos. Em muitos deles viviam gentios catequizados e pacíficos, e era freqüente possuírem campos de lavoura cultivados pelos criminosos desocupados. Os mais citados são o de Abre Campo, o de Peçanha, o do Cuiete, que ao que tudo indica é a mesma localidade que algumas vezes surge designada como Casa da Casca. Situada no lado Sul do Rio Doce. Era cortada por vários córregos, ribeiros e rios menores, e em suas margens encontrava-se ouro; mas havia um grande problema: Índio bravo, Botocudo”....

D. Rodrigo José de Menezes pensou em aproveitar economicamente o Cuieté com atividades outras que a mineração: o aproveitamento de madeiras e o cultivo de algodoeiros. Para tal, ordenou aos comandantes distritais que enviassem os vadios que conseguissem apanhar para a cadeia de vila Rica, onde, na formulação feliz de Diogo de Vasconcellos “escolheriam ou a farda para o Rio Grande, ou a foice para o Cuiete”.

(Melo e Souza, Laura de – Desclassificados do Ouro: a pobreza mineira no século XVIII, Edições Graal, 2ª edição, Rio de Janeiro, 1986).

Muitas atrocidades foram cometidas por autoridades da época, que remetiam ao Cuiete até réus crimes menos graves, expondo-os à fúria antropófaga Botucudo, além de sujeitá-los às doenças comuns na localidade.

Em compensação, alguns presos de São Gonçalo do Rio Abaixo só seriam remetidos para o presídio de Abre Campo, caso ficasse flagrante a sua vadiagem. Mas, se provada uma profissão ou um trabalho, seriam soltos em sete dias.

Até o instituto do “sursis” foi utilizado, quando os presos por embriagueis, ou outra infração pequena, deveriam apresentar-se de três em três meses, com uma certidão de bem-viver-sem o que sua sorte seria o Cuiete.

Segundo Monir Ali Saygli: em sua obra “História de Caratinga”:

Em fins do século XVIII, ao declinar a produção aurífera das Minas Gerais, afrouxa-se a política restritiva do governo colonial, que chega mesmo a incentivar uma campanha de pacificação dos índios “nas áreas proibidas”, na região norte da Encosta Planaltina.

Também, na região que estamos tentando mostrar, passado algum tempo, sem obtenção de sucesso, o governo acabou de afastar-se da procura e deu ampla liberdade aos moradores de optarem pela continuação ou não na busca do precioso metal.

Como não se cuidava de plantar, apenas de mineirar, a fome sobreveio aos arraiais, fazendo que muitos abandonassem a região, alguns para sempre. Outros ficaram.

Foi aí que um grupo de descontentes-índios ou portugueses - ateou fogo à ponte construída por D. Antônio de Noronha, isolando a região, como primitivamente era. A partir de então, o local ficou conhecido por Ponte Queimada.

Em 1806, o governador Pedro Maria Xavier de Athaíde e Melo fechou questão contra os Botocudos e, pela Carta Régia de 1808, declarou-lhes guerra, ordenando a seus comandados do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais o cumprimento da árdua tarefa de combate.

Foram nomeados comandantes das seis divisões instituídas, todos com patentes e soldos de alferes, os seguintes: Antônio Rodrigues Taborda, João do Monte da Fonseca, José Caetano da Fonseca, Lisardo João da Fonseca, Januário Vieira Braga e o cidadão conhecido apenas por Arruda, morador no Rio Pomba.

Entendendo a gravidade do problema, a Igreja Católica, intervém, criando em 1810 a paróquia Nossa Senhora da Conceição do Cuiete, como ação repressora do uso de armas, mas os resultados não foram os melhores.

Em 15 de fevereiro de 1820, Guido Tomaz Marliere foi encarregado da Inspetoria das Regiões Militares do Rio Doce, imprimindo-lhes novos e inteligentes rumos.

Substituiu a força pelo carinho e as armas pela pacificação e catequese, meios humanitários que o tornaram grande amigo da civilização e credor da Pátria.

Realizou um trabalho extraordinário, alterando completamente o modo de vida da triste população, merecendo entrar para a história da região.

Sugeriu a construção de nova ponte, lugar da que foi queimada, fez plantar gêneros alimentícios em todos os pontos beligerantes das matas do Rio Doce, para o sustento dos índios Botocudos, além de muitas outras indicações, inclusive homenageando D. Pedro I, denominando Pertersdorf o local até então conhecido por Sacramento Grande.

Junto às sedes das Divisões, formaram-se diversos quartéis: o de Leopoldo em Cachoeira Escura, o da Barra de Cuiete e o de D. Manoel.

Com as garantias oferecidas pelas Divisões Militares, iam-se povoando as margens do Rio Doce, formando núcleos habitacionais de que hoje nos damos conta como grandes cidades”.

Basta dizer que o grande herói da época foi Guido Tomaz Marliere que, além de pacificar os índios do Rio Doce e ter fundado vários núcleos, ajudou no desenvolvimento de outros.

A ele se credita a fundação de Ubá, Cataguases, Miradouro (Glória), além de outros, que as povoações de São Miguel da Pomba, Visconde do Rio Branco, Ponte Nova, Viçosa e Abre Campo, foram os pontos de origem de formação e expansão dessa importante e rica região.

Pelo menos dois municípios receberam denominação em sua homenagem: (Guidoval e Marliéria).

Também algumas aldeias foram formadas na margem meridional do Rio Doce, com a participação de alguns grandes amigos de Guido, sendo algum deles: Pocrane, Paulo Carahiba, Oratinon e outros, todos sempre citados nas correspondências expedidas por Guido, sabendo-se que Pocrane, índio Botocudo, foi o seu mais fiel e enérgico auxiliar, o qual vivia às margens do Manhuaçu e faleceu em Antônio Dias em 1843, com apenas 44 anos de idade.

Outra dificuldade para povoar a Zona da Mata foi a resistência dos Goitacazes, índios terríveis, que derrotaram as tribos Coropós e as incorporavam à sua - dominando toda a região, desde as margens do Paraíba até às do Chopotó, não permitindo a entrada do homem civilizado.

Apenas o fazendeiro Domingos Álvares Peçanha, morador nas margens do Paraíba, conseguiu conquistá-los e alojá-los em sua fazenda, encerrando a era de fúria e de domínio dos mesmos.

Surgiu, também, o desinteresse do governo pelas terras do Rio Doce, já que o mesmo não é navegável, sabendo-se, entretanto, que particulares e até mesmo uma Companhia estrangeira exploravam a retirada da madeira como meio de enriquecimento.

Foi aí que os aventureiros do povo seguiram seus rumos e conquistaram grandes extensões de terra, como Abre Campo, Rio Casca, Carangola e confinações do Rio Doce, alguns se apossando delas por ocupação, outros por compra aos ocupadores.

No vale do Manhuaçu, o latifundiário era Antônio Dutra de Carvalho, este adquiriu as terras de Joaquim Ferreira Bueno de Paiva, em 1845, e de Joaquim Gonçalves Pina, em 1847, sendo esta última por doação.

Estava aí aberto o caminho para o ingresso nas matas de Caratinga, já que as dificuldades de entrada pelo Norte, pelo Leste e pelo Oeste desanimavam os colonizadores, pelas complicações já expostas neste trabalho.

O sul, através da mata de Matipó e do Sacramento, oferecia não mais vantagem, mas menor risco e maior oportunidade aos “bandeirantes” da região.

Desde 1837, iniciara-se o povoamento do atual município de Raul Soares e, mais ou menos nessa época, Casimiro e Domingos Fernandes de Lana, se apossaram das matas virgens do Boachá, em direção ao rio Caratinga, que foi alcançado em 1848 por João Caethano do Nascimento, João Carlos da Cunha, João José Gomes (ou da Silva) e João Antônio de Oliveira.

O pioneirismo no desbravamento do território do atual Município de Caratinga é atribuído, portanto, a Domingos Fernandes de Lana, nascido no arraial de Araponga, município de Viçosa, Minas Gerais, filho de F. de Lana, Capitão do Distrito do Descoberto.

Lana antecedeu aos Joões, as quais é atribuída a fundação da cidade de Caratinga, especialmente João Caethano do Nascimento, o mais lembrado deles.

O “poaeiro” , como era chamado Domingos Fernandes de Lana, fazia-se acompanhar de amigos, de escravos, bem como de índios catequizados, e tinha como único objetivo em sua passagem por estas bandas a exploração da poaia (ipecacoanha), produto abundante na região e que, pela sua grande procura no mercado medicinal, constituía apreciável fonte de renda.

Segundo Lázaro Denizart do Val, em seu livro; “Cronologia da Região do Caratinga: “Poaia é um tubérculo alimentício chamado pelos índios de Caratinga (cará-branco), que era encontrado, em grande quantidade em torno da atual cidade, deram aos montes que a esta domina, o nome de serra da Caratinga, origem da denominação da cidade”. Por ser um tubérculo muito duro de comer, os índios os denominaram de “cara” e “tinga” por ser esbranquiçado.

Portanto, coube a Domingos Fernandes de Lana o batismo da região com o nome de Caratinga, segundo Monir Ali Saygli, em seu livro “História de Caratinga”, a página 20.

Domingos de Lana teria dado pouca importância às terras, já que o seu negócio era a poaia, mas parentes seus teriam registrado algumas sesmarias de terras em seus nomes, para depois vendê-las a outrem.

A história registrara os nomes de Casimiro de Lana e de sua esposa D. Joaquina Maria dos Prazeres, em 1844, e de Francisco Fernandes de Lana, em 1856. Pode ser que Domingos de Lana tenha deixado a região em razão de prisão que sofrera por ordem de Guido Tomaz Marliere, encarregado da Inspetoria das Regiões militares do Rio Doce, sendo Domingos recrutado para prestar o serviço militar e acusado de maltratar os índios.

Acredita-se que o explorador tenha permanecido nas terras de Caratinga, desde o princípio de 1841 até junho de 1847, quando deixou de vez o local.

Na mesma época, o cidadão de nome João José da Silva surgiu na intenção de continuar a abertura da estrada até o Cuieté, aproveitando, em alguns trechos, a picada já aberta por Domingos de Lana, para a colheita da poaia.

O capitão João José da Silva (ou Gomes) era fazendeiro do distrito de Abre Campo, sócio e amigo de João Caethano do Nascimento a quem se atribuiu a fundação de Caratinga.

Aparecem, também, na região, outros Joões: João Antônio de Oliveira e João Carlos da Cunha, posseiros de sesmarias de terras na Freguesia de São João do Caratinga.

Passado algum tempo da chegada dos Joões, João José da Silva fixou-se nas margens do ribeirão denominado Papagaio, afluente do Sacramento, constituindo sociedade com Reginaldo Lopes.

Possuía, ainda, terras de cultura no Rio Preto, em sociedade com João Caethano do Nascimento e grandes extensões territoriais na Cabeluda, nas cabeceiras do Vermelho e no Ribeirão de São Lourenço.

João Antônio de Oliveira, casado com Rita Sebastiana de Jesus, possuía terras de cultura no lugar denominado Barreira, a Fazenda São Roque, onde é hoje a cidade. Também era proprietário no Macaco Pequeno e no Vermelho.

João Caethano do Nascimento possuía a fazenda de Santo Antônio no Vermelho, terras no Jacutinga, na cabeceira do Cuiete, no Galho, em Manhuaçu e na cabeceira do Óculo, além de seu trabalho para povoamento de Caratinga, onde deixou filhos administrando seus interesses.

Para Antônio Caethano do Nascimento, filho de João Caethano do Nascimento, no seu relatório da cidade de Caratinga, escrito em 10 de fevereiro de 1814. Domingos Fernandes de Lana teria partido da atual cidade de Abre Campo, penetrando nos sertões das regiões dos Rios Matipó e Sacramento Grande, alcançando as nascentes do Rio Caratinga, passando pelas terras da atual cidade de igual nome, dobrando pelas águas do Rio Manhuaçu, chegando até ao legendário Cuiete, a antiga Casa da Casca, de Antônio Rodrigues Arzão.

Diz, ainda, Antônio Caethano do Nascimento, em seu manuscrito histórico, que em 1848, entrou João Caethano do Nascimento, com seus filhos maiores, muito patriotas e de relação com Domingos Fernandes de Lana, aqui iniciando os trabalhos de construção de uma nova comunidade.

Dentre os muitos serviços realizados, fez em parceria de seus filhos e amigos, um caminho do Vermelho Velho ao Destacamento de Montanhas do Rio Cuiete. E acrescenta: Não foi esta a única diligência de João Caethano, que andou por longes terras convidando gente para a ocupação da localidade promissora.

Em outras palavras, com a saída de Domingos Fernandes de Lana, divulgou-se a notícia da descoberta da vastíssima região, rica e de grandes possibilidades, fácil conquista, tendo-se em conta que os índios que a habitavam, os Bugres, eram mansos e facilmente catequizáveis, apesar do medo improcedente de alguns acompanhantes dos exploradores que sucederam ao “Poaeiro”.

A corrida começou com o desejo rápido enriquecimento e a fácil conquista, sendo patente que João Caethano do Nascimento, João Antônio de Oliveira, João José da Silva (ou Gomes) e João Carlos da Cunha aqui chegaram procedentes de diferentes cidades, no final de 1847 ou princípios de 1848, não se podendo precisar a data, a não ser pelo manuscrito de Antônio Caethano-que afirma ter sido em 1848, quando comemoram o dia de São João Batista acendendo uma enorme fogueira (23 de junho de 1848).

No mesmo dia, reservaram um pedaço de terra, que ofereceram a São João Batista, sendo ali construída, em 1873, a primeira igreja da cidade, estando ainda firme a capela, hoje, tombada pelo Patrimônio Histórico de Caratinga.

Os bravos pioneiros vieram de mudança, trazendo suas famílias, alguns serviçais e diversos animais necessários ao trabalho e ao sustento, armando desde logo suas tendas provisórias até que fossem escolhidos os melhores lugares para edificação de casas mais seguras e onde as terras fossem mais férteis.

Assim foi feito.

E, unidos, penetraram na mata em busca do objetivo comum, tendo como orientação geográfica o Rio Caratinga, recurso lógico mais empregado na época.

Na viagem, experimentaram vários climas e estudaram muitas regiões, e que havia de melhor eram as margens do Rio Preto e de Jacutinga, isto, depois de passarem pelo Manhuaçu, Cuiete e Rio Doce.

De todos, apenas João Caethano do Nascimento optou por fixar-se nas nascentes do Lages e do Rio Preto, seguindo os demais na busca de outras regiões, atrás da sonhada felicidade.

João Antônio de Oliveira dirigiu-se para o lugar denominado Gavião, ou Santana do Tabuleiro, enveredando, posteriormente, por Caputira (Santa Helena do Manhuaçu), São Pedro da Cabeluda (Avaí), Sacramento, Matipó e Abre Campo, permanecendo nessa região.

João José da Silva pode ter se dirigido para Sapucaia, indo para São Silvestre, Ribeirão do Boi (Entre Folhas), Quartel do Sacramento, retornando ao Cuiete (Degredo), sem, contudo, firmar-se em qualquer localidade.

Sozinho João Caethano iniciou os trabalho de derrubada e preparação da terra para o plantio de cereais, frutas e legumes, além da criação de pequenos animais e aves, legitimando, como posseiro, imensas sesmarias e requisitando parentes e amigos para o trabalho, e até mesmo sociedade, formando o primeiro núcleo habitacional que, em junho de 1848, foi elevado à categoria de Paróquia e Conselho Distrital, subordinado à Comarca de Mariana, assim permanecendo até 1860, tendo posteriormente, pertencido também a Ponte Nova, Abre Campo e Manhuaçu, da qual se desmembrou em 06 de fevereiro de 1890, pelo Decreto Estadual nº 16, pouco após a Proclamação da República, por decreto do inolvidável estadista Dr. José Cesário de Faria Alvim que, muitos anos depois, veio merecer seu nome como patrono da principal praça da cidade de Caratinga.

Outro grande colaborador de João Caethano na fundação de Caratinga foi João Carlos da Cunha, que era sesmeiro com João Caethano.

João Caethano do Nascimento era filho de Manoel Caethano do Nascimento e de Margarida Mendes Coura, tendo nascido em Ponte Nova, ano de 1806. Era casado com sua parenta generosa Maria da Costa, com quem teve dez filhos: Maria, Carlota, Firmiana, Francisca, Manoel, Francisco, Antônio, Domiciano e Liberato.

Faleceu, ao que tudo indica, no ano de 1868, em sua fazenda denominada Santo Antônio, no distrito de Vermelho Velho.

Além dos posseiros, participaram da formação da atual cidade, na condição de pioneiros, as seguintes pessoas: Delfino Rodrigues Ferreira, no lugar denominado Macaco e no Ribeirão da Barreira: Bento Coelho Leal, no Macaco: Antônio Tomaz de Oliveira, na Barra do Criciúma; Manoel Cardoso Machado e Francisco Balbino, na Serra do Caratinga; Francisco Xavier Pereira, no Sacramento e na Serra do Caratinga; Mariano da Silva Pereira (ou Teixeira); Severino Pereira Guimarães e Manoel José Pires, na Serra do Caratinga; Manoel Antônio Machado, também na Serra do Caratinga; Bento José de Alvenaz, às margens do Rio Caratinga; Joaquim Gomes Pereira, no Córrego de São Bernardo (Entre Folhas); Antônio Pinto de Miranda, Luiz de Lana, Francisco das Chagas e Modesto Gonçalves Leal, todos dividindo com Joaquim Gomes Pereira; Joaquim Lino da Silva, Joaquim Pereira Bacelar, Capitão Manoel da Costa Pereira, José Francisco e Pedro Dias, todos no Rio Preto, propriedades vizinhas a Serra do Caratinga; João Pereira Barbosa, Manoel Ferreira Veloso, Maria José Fundança, Major Antônio Vieira da Silva Pinto e Luiz Fernandes, todos no Galho, José Francisco Gomes da Silva, no Córrego Boa Esperança- águas do Cuiete; Manoel José Pires, na Serra do Caratinga.

Constituído o arraial de São João de Caratinga, contam-se entre os primeiros moradores da localidade: Capitão David Ferreira da Costa (primeira autoridade); Manoel da Costa Soares (pessoa muito atuante, na época) O proprietário da fazenda São Roque, adquirida a João Antônio de Oliveira, localizada onde se formou a atual cidade; dono, também da Fazenda Barreira, ambas no Ribeirão do Bugre (lembrando-se que o Ribeirão do Bugre é o atual Rio Caratinga, sendo a denominação Bugre prevalente até 1878. Também o Rio Caratinga toma o nome de Cuiete após receber o seu principal afluente- o Rio Preto; e Manoel Luiz da Cunha (tabelião).

Mais tarde, na formação do distrito, contavam-se mais os seguintes moradores, dentre outros: Joaquim José de Moura, no Macaco; Mariano da Cruz Alves, no Rio Preto; Joaquim José Ribeiro (muito influente), João Rodrigues da Silva e Joaquim Ferreira da Costa, no rio Caratinga; Vicente Ferreira da Silva, no Córrego de São João.

(Pela Lei nº 1381, de 14 de novembro de 1866, assinada pelo presidente Joaquim de Saldanha Marinho, o povoado foi elevado a distrito de paz, com a denominação de São Roque de Caratinga).

Posteriormente, José Teixeira de Siqueira e sua mulher Maria Teodora da Silva e Domiciano Teixeira de Siqueira, no Córrego de São João, os quais venderam a propriedade a Antônio José Botelho Braga.

Em 1º de dezembro de 1873, pela lei provincial nº 2027, foi criado o Distrito (e Freguesia). Também nesta época foi criada a Paróquia de São João Batista (1873).

Muito dos habitantes da terra promissora permaneceram pouco tempo na localidade, vendendo suas propriedades e transferindo suas residências para outras comunidades.

Os próprios Joões venderam muitas propriedades, a ponto de aqui permanecer apenas Antônio Caethano do Nascimento (Santo Antônio do Manhuaçu), na condição de sucessor do pai João Caethano do Nascimento.

Outros, poucos, passaram toda a existência na terra, deixando descendentes até os nossos dias, famílias tradicionais de que todos nós temos notícias.

Ainda, dentre os primeiros, podemos citar: José Lopes da Costa, comerciante, filho de Joaquim Lopes da Costa e de Antônia Rodrigues da Costa. Nasceu em São Miguel do Anta, em 1835, e faleceu em Caratinga, no dia 27 de fevereiro de 1909. Em 1891, exerceu as funções de Juiz de Paz.

Outro morador foi Silvestre José Ribeiro, filho de Joaquim José Ribeiro e Ana Ribeiro de Andrade, tendo nascido em Mar de Espanha e falecido em Caratinga, no dia 9 de maio de 1912. Farmacêutico, conhecido como Dr. Silvestre.

O primeiro sacerdote a celebrar em Caratinga foi o padre Maximiano João da Cruz, natural de São Januário de Ubá, vigário da Paróquia de São Francisco de Assis-do Ribeirão Vermelho, falecido em Santo Antônio do Matipó, em 1906.

Possuidor de diversas propriedades na localidade, com idéias progressistas, não fora bem compreendido pela comunidade, se afastando em definitivo no ano de 1893, precisamente no mês de novembro, praguejando contra tudo e contra todos, tamanho o ódio que invadia sua alma, em razão da injustiça que julgara ter sofrido.

Sucedeu-lhe o padre Fortunato de Souza Carvalho, cujo destino não foi diferente, graças às suas revolucionárias idéias contra o casamento civil, contrariando o disposto no Decreto 5.604 e no Decreto 181- este último de 24 de janeiro de 1890, motivando inquérito presidido pelo subdelegado da vila de Caratinga, Francisco José Gonçalves.

A primeira Igreja Matriz de São João de Caratinga teve seus trabalhos iniciados no último quartel do século XIX.

Em 1880, membros da comunidade, sob a denominação Mesa Deliberativa, composta pelos cidadãos Antônio Gonçalves de Carvalho, Sebastião Florentino da Costa e Francisco Cyriaco, assinaram contrato com o construtor Bernadino Antônio de Santana, com fiança de Cláudio Alves Fernandes para a construção da primeira igreja matriz de Caratinga, no local denominado Largo da Barreira, hoje Praça Cesário Alvim.

Este templo serviu para o culto católico até 1930, quando foi demolido, dando lugar à suntuosa matriz de São João Batista, hoje conhecida de todos.

Os primeiros párocos de Caratinga foram:

1º Padre Maximiano João da Cruz (1873 a 1885); 2º Padre Fortunato de Souza (1886 a 1892); 3º Padre Antônio Ildefonso Bittencourt da Silva (1892 a 1901); 4ºPadre Modesto Augusto Vieira (1902 a 1912) em 1912 foi sagrado Bispo de São Luís de Cáceres.

O Padre Modesto era natural de Mariana, não chegando a tomar posse com bispo, faleceu em 1916, com 51 anos de idade, era auxiliar de Dom Silvério Gomes Pimenta, arcebispo de Mariana.

A Diocese de Caratinga, filiada à Arquidiocese de Mariana, foi criada em 10 de dezembro de 1915, pela Bula “Pastorale Romani Pontifici Officium” do Papa Bento XV e abrange 44 paróquias mineiras, distribuídas em 53 municípios: Caratinga, Alto Caparaó, Alto Jequetibá, Bugre, Caiana, Caputira, Chalé, Córrego Novo, Dom Cavati, Durandé, Fervedouro, Luisburgo, Martins Soares, Mutum, Orizânia, Pedra Dourada, Piedade de Caratinga, Pocrane, Reduto, São Domingos das Dores, São João do Oriente, São Sebastião do Anta, Santana do Manhuaçu, São José do Mantimento, São João do Manhuaçu, Taparuba, Manhuaçu, Lajinha, Raul Soares, Tarumirim, Bom Jesus do Galho, Carangola, Conceição de Ipanema, Divino, Espera Feliz, Faria Lemos, Iapu, Inhapim, Ipanema, Manhumirim, Santa Margarida, São Francisco do Glória, Simonésia, Tombos, Santa Bárbara do Leste, Santa Rita de Minas, Ubaporanga, Ipaba, Imbé de Minas, Vargem Alegre, Entre Folhas e Vermelho Novo.

Nos quase noventa anos de sua existência a Diocese de Caratinga teve sete bispos:

Dom Joaquim Mamede da Silva Leite e Monsenhor Nogueira Duarte, que não chegaram a assumir (este último, nem mesmo chegou a sagrar-se Bispo); Dom Carloto Fernandes da Silva Távora (1920-1933); Dom José Maria Parreira Lara (1935-1936); Dom João Batista Cavati (1938-1956); Dom José Eugênio Corrêa (1957-1978); Dom Hélio Gonçalves Heleno (desde 1979).

Hoje, na circunscrição eclesiástica da Diocese de Caratinga estão localizadas 794 igrejas e capelas sendo, 750 capelas e 44 matrizes e 4 escolas católicas; o Seminário maior Nossa Senhora do Rosário, com os cursos de Filosofia e Teologia, um colégio das Freiras em Carangola, outro em Manhumirim e o Instituto Monte Carmelo – em Caratinga.

A Arquidiocese de Mariana foi, simultaneamente, com a de São Paulo, o 6º Bispado criado no Brasil (anteriormente o de Salvador em 1551; Rio de Janeiro em 1676; Olinda e Recife em 1676, São Luís do Maranhão, em 1677 e Belém do Pará em 1719).

A Arquidiocese de Mariana foi desmembrada de São Sebastião do Rio de Janeiro, pelo papa Bento XIV, em 6 de dezembro de 1745. Possui, hoje, as Dioceses de Caratinga, Governador Valadares (1956), Itabira e Coronel Fabriciano, ambas em 1965.

Merece destaque um fato ocorrido em 1860, na história da Diocese de Caratinga, que fala da fé e do misticismo de nosso povo. O acontecimento deu-se na cidade de Entre Folhas, que foi distrito de Caratinga. Assim nos relata Monir Ali Saygli, em sua obra “História de Caratinga”, página 76.

Em 1860, passando por esta região, um sargento de nome Reis da divisão de Cuiete, cansadíssimo da penosa viagem que fazia conduzindo prisioneiro de Ouro Preto e Cuiete, deitou-se ao solo e dormiu profundamente, iniciando-se aí o fato que nos permitiu contar um pouco da história de Entre Folhas e dos Presídios, sobre os quais já falamos.

Ao acordar, o sargento Reis viu, assombrado, entre as folhas, onde encostara a cabeça para o seu repouso, uma enorme cobra venenosa, que nenhum mal lhe causou.

Caindo de joelhos agradeceu a proteção divina reconhecendo tratar-se de milagre de Nossa Senhora do Rosário, da qual era devoto e a qual sempre recorria e honrava pela recitação do terço.

Fez um voto de dar uma imagem e um sino para a igrejinha que iam levantar naquele arranchamento.

E assim aconteceu.

Em 1862, o sargento Reis conseguiu que o próprio Imperador, D. Pedro II, fizesse a doação da imagem e do sino para a Igreja.

A Igreja matriz de Entre Folhas conservou, por longos anos, esta preciosa imagem de Nossa Senhora do Rosário e o velho sino, no qual encontraram-se gravadas as Armas Nacionais do Império.

Em 15 de agosto de 1930, era lançada a pedra fundamental da nova Catedral de São João Batista, no local onde estava a anterior. Deve-se este trabalho ao Monsenhor Aristides Marques da Rocha. O Monsenhor Rocha ganhou e aproveitou sobras e restos de construção de Estrada de Ferro Leopoldina.

Em 20 de abril de 1935, a Catedral foi sagrada pelo Bispo Dom José Maria Parreira Lara.

Caratinga passou pela seguinte evolução política:

O Distrito (e Freguesia) de Caratinga foi criado pela Lei provincial nº 2027, de 1º de dezembro de 1873.

Em 6 de fevereiro de 1890, pelo Decreto Estadual nº 16, assinado pelo Presidente de Minas Gerais, Dr. José Cesário de Faria Alvim, surgiu o Município (e Vila), desmembrado de Manhuaçu, com sede no povoado denominado de São João de Caratinga.

A Lei Estadual nº 2, de 14 de setembro de 1891, confirmou a criação do distrito - sede do Município de Caratinga, cuja instalação verificou-se a 12 de maio de 1892.

Pela Lei Estadual nº 23 de 24 de maio de 1892, a Vila foi elevada cidade.

A Comarca foi criada pela Lei nº11, de 13 de novembro de 1891, sancionada pelo Dr. José Cesário de Faria Alvim.

Instalada em 07 de maio de 1892, foi suprimida em 17 de dezembro de 1912 e restaurada em 1917, pela Lei nº 4.874.

Merecem destaque na campanha da emancipação política de Caratinga: Sinfrônio Fernandes, José Cristino da Silveira e o Coronel Joaquim José dos Santos Mestre, português, que estabeleceu no distrito de entre Folhas, com seu comércio. Era respeitado e amado por todos os cidadãos.

Para Ouro Preto (capital mineira), deslocaram-se o Coronel Santos Mestres e José Cristino para cobrarem do governador de Minas, Dr. Cesário Alvim (1890) a emancipação de Caratinga. Só retomaram trazendo em mãos o jornal oficial, contendo a publicação do decreto de emancipação.

Na época, Caratinga possuía uma área de 10.572 km2 e uma população de 25.000 habitantes.

Os primeiros administradores do município foram eleitos em 31 de janeiro de 1892.

O Cel. Sinfrônio Fernandes foi escolhido Presidente da Câmara, tendo ao seu lado os vereadores: Agnelo Carlos Quintela, Joaquim José dos Santos Mestre, José da Costa Ferraz, (Cel. Pico), Manoel Ribeiro Viana e A.Coutinho.

Foi uma administração pouco próspera devido à crise nacional e, especialmente enchentes na localidade.

Mesmo assim, com os poucos recursos de que dispunha, Sinfrônio Fernandes marcou sua passagem por esta terra.

Após a gestão de Sinfrônio Fernandes, novos administradores foram escolhidos para o município, tendo à frente o Cel. Santos Mestres, Presidente e Agnelo Carlos Quintela, vice.

Em 1930, com o advento do Governo Vargas, Jorge Coura Filho, é indicado para ser o 1º Prefeito de Caratinga, no período de1931 a 1932.

A Comarca de Caratinga instalada em 07 de maio de 1892 teve como seu 1º Juiz de Direito o Dr. João Joaquim Fonseca Albuquerque.

Entre revoltas e crimes ocorridos no final do século XIX e início do século passado, destacamos a “destruição dos Livros do Cartório de Paz”. O cartório foi invadido por um grupo de desordeiros e todos os livros de registros foram retirados da sede do Cartório, que ficava na residência do escrivão Francisco José Ferreira Braga, o Chico Maria, português de nascimento, que exerceu os cargos de agente do correio e de Juiz de Paz.

Tudo aconteceu em razão da acirrada luta política entre as facções Liberal e Conservador, havendo um grupo de baderneiros, cerca de 300 pessoas, invadindo a residência do escrivão e se apoderado dos livros que foram queimados em praça pública.

Foram atos de selvageria, desrespeito ao patrimônio público e desacato às autoridades, tudo em oposição ao Decreto 5.604, cuja execução sempre tivera a resistência do Padre Fortunato Souza de Carvalho, Vigário local.

Além de atearem fogo aos livros, os membros simpatizantes do partido Liberal destruíram várias residências de opositores, especialmente a do Sr. José Lopes da Costa, comerciante, chefe do partido Conservador.

Como hoje, o crime ficou impune, sendo castigadas apenas as pessoas mais humildes; os líderes e mandantes ficaram impunes.

O principal opositor ao Decreto, como dito anteriormente, era o Padre Fortunato Souza de Carvalho, ardoroso partidário da Monarquia, pregando até dentro da igreja as suas idéias revolucionárias.

Era nascido em Ouro Preto, ordenou-se aos 23 anos de idade, sendo secretário do bispado, vigário da localidade denominada Meia Pataca (hoje Cataguases); servindo também em Manhuaçu, comunidade que lhe deve meritórios serviços na sua elevação à cidade.

Em 1886, passou a residir em Caratinga, como Vigário Geral, e faleceu em 1902, em Manhuaçu.

Em junho de 1901 assumiu a Comarca de Juiz de Direito, Dr. Feliciano José Henriques. Sua passagem por Caratinga marca um dos episódios de lutas políticas importantes do início do século passado.

A seu respeito, assim se expressou o jornal “O Caratinga”, edição de 16 de junho de 1901:

“O ilustre magistrado é uma ótima aquisição que faz a comarca. O Dr. Feliciano José Henriques tem os melhores precedentes, que o tornam digno da admiração de todos aqueles que sabem apreciar os são caracteres”.

Encontrando acesa a luta dos partidos políticos e nela se vendo envolvido, com seu temperamento combativo, o Dr. Henriques acabou entrando em conflito com a situação política dominante.

Entre boatos de sua saída a pedido do Agente Executivo Coronel Rafael da Silva Araújo e o uso de seu pulso forte mandando prender os desafetos, o Dr. Henriques viveu momentos de grande tensão na comarca, mas não deixou intimidar pela força política.

Duas correntes se formaram: uma dos amigos do Agente Executivo, outra dos amigos do Juiz.

Um choque armado de não pequenas proporções parecia inevitável entre os dois grupos adversários.

Estabeleceram-se barricadas ou trincheiras na praça Cesário Alvim e Municipal, onde moravam, respectivamente, o Agente Executivo e o Juiz.

É certo que houve luta armada, mas a paz acabou por ser conseguida pela ação enérgica do Alferes Egídio Rosa que, com reforços, conseguiu normalizar a vida da cidade.

O Dr. Feliciano José Henriques sofreu dos atentados contra sua vida: o primeiro em 15 de outubro de 1903 e o segundo em 23 de dezembro de 1903.

Talvez como conseqüência de tantas lutas, uma Lei Estadual de 19 de setembro de 1903 determinava a supressão da Comarca de Caratinga assim que vagasse o cargo de Juiz, o que se efetivou em 17 de dezembro de 1912, com a disponibilidade do Juiz de Direito, por Acórdão do Tribunal de Remoção de Magistrados, assinado pelos Juízes Saraiva, Coelho júnior e Bias Fortes”.

Assim nos relatou Monir Saygli, em sua obra História de Caratinga:

O início do século XX foi marcado também por uma fase de grande riqueza agrícola e ao mesmo tempo de grande prejuízo para os produtores, devido a falta de estradas para o escoamento da produção.

A questão do transporte só foi resolvida no final de 1930, com a extensão do ramal de Raul Soares até nossa cidade, ou seja, de Estrada de Ferro Leopoldina.

A implantação do ramal deve-se a luta do Dr. Agenor Ludgero Alves, que consegui junto ao Presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos, a assinatura (1927) do contrato entre a Estrada de Ferro Leopoldina e o Estado de Minas Gerais.

A Leopoldina marcou época na história de nossa cidade além do transporte de passageiros, serviu de escoadouro para a produção agrícola do município. A ferrovia forçou o crescimento da cidade com a abertura de ruas e transformou as imediações do Barro Branco, em grande centro comercial.

Dois anos após a implantação da ferrovia era notável as transformações e o progresso de Caratinga, que lhe foi atribuído o título de “Princesa da Mata”.

O escritor Lázaro Denizart do Val, relata em sua obra “Cronologia da Região de Caratinga”, a criação do “Partido Presidencial”, quando a Constituição Brasileira não exigia a existência de Partidos políticos a nível nacional:

“Era Governador de Minas o Dr. Raul Soares de Moura em 1923. Pessoa que já acompanhava a vida política de Caratinga, desde os tempos em que ocupava uma secretaria do governo Bernardes”.

Julgando que em Caratinga faltava um partido regularmente organizado (em tempos passados existiam os Bacuraus e os Caranguejos), Raul Soares determinou a criação da nova agremiação que ficou conhecida como Partido Presidencial, tendo como marco histórico o dia 06 de abril de 1924”.

Os acontecimentos republicanos de 1930 tiveram grande repercussão em Caratinga.

Estes serão narrados por Lázaro Denizart do Val, em sua obra “Cronologia da Região de Caratinga”:

“Em 03 de outubro de 1930, rebentava contra o Governo Washington Luiz a revolução chefiada pelos governos dos Estados de Minas, Rio Grande e Paraíba. Constituiu-se em Caratinga uma Junta Governativa Municipal, presidida pelo Cel. Antônio Fernandes a qual logo se apossou da Câmara em 06 de outubro de 1930. Alguns boatos necessariamente infundados chegaram, à Junta e ao próprio Governo do Estado de que preparava uma resistência armada à revolução em nosso município, no distrito do Imbé, onde era chefe de grande prestígio o Capitão Joaquim Cândido da Silva. Era como se vê, uma fraca possibilidade, mas naquele tempo, tudo servia de justificativa ao pleno transbordamento dos ódios recalcados.

A junta apressou-se, pois, em mandar prender aqui o famoso caudilho, cabendo tal encargo ao delegado Silvério Lourenço da Silva que era também um dos homens mais imbuídos do fanatismo político local. A polícia e outros elementos que o acompanharam nessa missão foram recebidos à bala ao cercarem a casa de Joaquim Cândido em Imbé e afinal obrigados a retrocederem, com um de seus homens ferido. Nova investida foi feita com maiores reforços e finalmente a prisão de um empregado de confiança de Joaquim Cândido, foi efetuada. Obtiveram desse empregado informações sobre o esconderijo de seu patrão que foi preso, seviciado e fuzilado sumariamente em praça pública. Igual sorte tiveram outros seus companheiros ou afeiçoados. Desencadeou- se em Imbé uma terrível onda de violência. Foi a esse ambiente que o ilustre jurista Estevam Pinto em um folheto de defesa chamou de “demência coletiva em Caratinga”, onde chefes locais, sendo escolhido para candidatos e deputados, interesse transbordaram da simples competição para o choque local dos grupos adversários, e à medida que se aproxima o pleito, o paroxismo se exacerbava, os boatos, comentários, rixas e violências se sucediam em excessos crescentes; o ambiente se fazia nimiamente de guerra “... Daí os acontecimentos a que já nos referimos. Com a vitória dos Liberais de 30, os revolucionários locais tiveram uma grande decepção, ou seja, a nomeação de um prefeito estranho, motivando violentos protestos através de telegramas ao Presidente do Estado, Olegário Maciel.

Segundo Denizart do Val um deles afirmava “que ainda havia muito sangue para derramar”. O novo prefeito Jorge Coura Filho, tomou posse sob a proteção de um grande efetivo policial, enviado da Capital.

Caratinga passou por ciclos de grande desenvolvimento com a chegada da linha férrea em 1930 e a implantação do escritório do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC) nos anos 50.

Este escritório foi a âncora para o desenvolvimento da produção cafeeira na região. Caratinga tornou-se pólo da cafeicultura, com limites que iam das divisas dos Estados do Rio de janeiro à Bahia.

Na década de 60 e 70, aconteceu a expansão do café na região, através do Plano Trienal, do IBC que foi constituído com a remoção dos cafezais, combate à ferrugem e o funcionamento de novos plantios.

A produção atual aproxima de 500mil sacas anualmente, representando cerca de 10% do leste Mineiro.

A principal espécie produzida é a “arábica”, o mais consumido em todo o mundo. Destaca-se também nossa cidade na produção do café tipo “bebida dura”, que tem maior índice de exportação no Brasil.

Nosso café tem forte sabor e consistência, sendo cultivado em áreas montanhosas, portanto é classificado como “café de montanha”.

A nossa hortifruticultura merece destaque produzindo, anualmente, um milhão e duzentos e setenta e dois mil reais.

É bastante expressiva também a produção pecuária leiteira, com uma média de 30 mil litros diários.

Na área de indústria possuímos importantes estabelecimentos na produção de alimentos, produtos farmacêuticos, perfumaria e outros.

Na prestação de serviços, importantes empresas: de transporte de passageiros com mais de 150 linhas urbanas, intermunicipais e interestaduais; de eletrificação rural e urbana, autopeças e outras.

Possui também uma pujante rede de comércio com quase 4000 estabelecimentos.

No campo educacional, Caratinga possui numerosas escolas de 1º e 2º graus e duas Instituições de Ensino Superior: Centro Universitário de Caratinga UNEC e as Faculdades Integradas de Caratinga- FIC.

No setor cultural e de lazer, destacamos: inúmeros jornais, revistas, bibliotecas, museu, banda de música, corais de música clássica, erudita e religiosa, clubes sociais e esportivos SESIMINAS, cachoeiras e lagoas. Possuímos também a “Estação Biológica de Caratinga” EBC, situada na Fazenda de Montes Claros de Propriedade de Feliciano Miguel Abdala. Com uma floresta de 890 hectares, uma das últimas remanescentes da Floresta Atlântica. É povoada pelo “mono-carvoeiro” ou “muriqui”, o maior primata das Américas. A reserva é considerada em todo o mundo como um “verdadeiro laboratório vivo”.

Fazem parte da tradição de nossa gente as festas religiosas e populares, como: o Dia de São João Batista (24 de junho) onde se comemora o aniversário da Cidade com desfile cívico e diversas programções culturais e inaugurações, a festa do Maió e Mió São João de Minas, que no momento encontra-se desativada, desfile cívico no dia 07 de setembro, baile de fantasias - thiapo thia thiapo, Salão Internacional do Humor e a Feiraso- Feira de Ação Social, aos finais de semana e uma vez por ano, o Concurso “Trem Bão é Buteco” atualmente denominada “Buteco é coisa nossa”

Caratinga possui várias emissoras de rádio, um canal de TV e repetidoras dos principais canais do Rio e São Paulo, com suas imponentes antenas situadas na Pedra Itaúna.

O município tem seu nome também projetado em nível nacional, por ser o berço natal ou por adoção de filhos ilustres nas Artes, Literatura, Ciência, Comunicação e Política: Ziraldo Alves Pinto, Agnaldo Timóteo Pereira, Zélio Alves Pinto, Miriam Leitão, Denis Moreira de Carvalho, Rui Castro, Manoel Caetano Mayrintz, Flávio Anselmo, João Pena, Nilo Aparecida Pinto, Augusto Ferreira Neto, Marilene Godinho, Max de Figueiredo Portes, Archimedes Theodoro, Pedro Abdala, Etiene Arregy Filho, Antônio Olyntho Filho, Giancarlo Leghi, Márcio Andena, Gilson Fonseca, Salatiel de Rezende Fernandes Neto, Sylvio Abreu, Eduardo Côrtes e João Pena. Uma das filhas mais ilustre de Caratinga, Stael Abelha, que sagrou-se Miss Caratinga, Minas Gerais e posteriormente Mis Brasil (1961). Era a época do grande glamour dos concursos de misses.

O município localiza – se a 19º 37’30” de latitude sul e 42º 09’ 00” de longitude oeste. Faz parte da região denominada Rio Doce e na microrregião homogênea da mata de Caratinga, e é pólo regional”.

A sede municipal está a uma altitude média de 578m e o ponto mais elevado com 1.516m na Serra do Rio Preto. A área do município é de 1258,69 Km2 contra os 10.572 km2 da época de sua emancipação. Possui 81.000 mil habitantes e 10 distritos fora a sede: Dom Modesto, Dom Lara, Santa Efigênia, São Cândido, Sapucaia, Santa Luzia, Santo Antônio do Manhuaçu, São João do jacutinga, Cordeiro de Minas e Patrocínio.

Suas temperaturas variam no período de verão a média de até 27º C e no inverno uma média de 16º C. Caratinga dista de Belo Horizonte 320 Km e de Vitória (ES) 342 Km. É servida por duas importantes Rodovias: BR-116 e a BR -262 e outras menores.

Concluímos este trabalho usando os versos de Marilene Godinho do seu poema “Cultivando a Memória”:

“Minha terra, meu berço. Minha saudade, minha volta.

Sempre te cultuei em sonhos e canções, em risos e poemas.

Nas trovas de alma, te compus mil versos do coração. Até na lágrima das tristezas irremediáveis, eu te chorei sorrindo. Luando noites no céu.

Cercada de montanhas, tua paisagem, no silêncio da Itaúna, é festa de ipês floridos no aceno das palmeiras.

Abraçando o tempo, tuas ruas centenárias buscam lembranças nos paralelepípedos enfileirados.

Como soldados vigilantes guardando, seremos nossa memória...

Lourdes Aparecida Rodrigues

Historiadora