Manuel Querino

Nascimento: Santo Amaro da Purificação (Bahia, Brasil), 28 de julho de 1851.

Falecimento: Salvador (Bahia, Brasil), 14 de fevereiro de 1923, aos 71 anos, vítima da malária.

Nacionalidade: Brasileiro.


Formação: Cursou Francês e Português no Colégio Vinte e Cinco de Março, na Bahia em 1871; diplomado Desenhista pela Escola de Belas Artes, na Bahia em 1882; iniciou graduação em Arquitetura na Academia de Belas Artes, na Bahia no ano de 1883, mas, não chegou a concluir.


Área de atuação: Foi um intelectual afrodescendente, foi pintor, decorador, desenhista, artistas, professor de desenho, jornalista, funcionário público, pesquisador, líder abolicionista, militante no movimento liberal, historiador, folclorista, escritor, etnógrafo, foi pioneiro nos registros antropológicos, valorizou a cultura baiana, foi aluno e um dos fundadores do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia e também da Escola de Belas Artes, e deu ênfase ao papel do africano como civilizador.

Filiações: Concentração no contexto histórico-cultural dos afrodescendentes, foco no protagonismo e inclusão do negro na sociedade. Seguiu ideias de Gilberto Freyre, que também foi um intelectual que defendeu a cultura negra no Brasil.

Prêmios e Títulos:

Manuel Querino foi premiado em concursos promovidos pela Academia de Belas Artes, com menção honrosa, como aluno (1880) e, posteriormente (1882 e 1883), como expositor externo, com duas medalhas de prata. Fora também nomeado membro do júri da Exposição da Academia de Belas Artes de 1885.

Biografia


Manuel Raimundo Querino foi o pioneiro da ciência antropológica no Brasil. Nasceu em Santo Amaro da Purificação, no dia 28 de julho de 1851, e faleceu em 14 de fevereiro de 1923, em Salvador, aos 71 anos, vítima da malária. Era filho de carpinteiro José Joaquim dos santos e Luzia da Rocha Pita. Seus pais biológicos morreram quando Manoel Querino tinha 4 anos de idade, tornando-se órfão, ele encontrou conforto na casa de uma amiga da família que o levou para salvador, onde recebeu como tutor, o bacharel Manoel Correia Garcia, professor aposentado da Escola Nacional. Essa tutela de Manoel Garcia garantiu uma boa formação, aprendeu a ler, ensinado pelo seu tutor. Foi etnólogo, historiador, colecionador, observador, crítico, e militante das causas populares que envolviam especialmente interesses das populações trabalhadoras e escravizadas. Foi casado com Alzira Querino, com que teve 4 filhos com ela, ficou viúvo, e anos depois se casou com a também viúva Laura Pimentel Barbosa, com a qual não teve filhos.

Sua trajetória começou a ser incentivada pelo seu tutor Manoel Garcia, que o incentivou a aprender o oficio de pintor, sendo dessa forma que, Manuel Querino desenvolveu habilidades como artista plástico, mais também passou a atuar como decorador. Foi nesse mesmo período, que estudou no Liceu de Artes e Ofícios. Muito importante destacar, que a tutela do bacharel Manoel Garcia, em relação a Manuel Querino, durou até os 16 anos, uma vez que, entre os 16 e 17 anos, Querino viajou pela região do Nordeste, em busca de oportunidades de trabalho. Nesse percurso, se deslocou para o estado de Pernambuco, de lá, terminou-se deslocado pelo exército, em 1868, aos 17 anos, para servi como escrivão na guerra do Paraguai, o Piauí foi remanejado para permanecer no Rio de Janeiro de 1868 a 1870, com a missão de servir escrevendo sobre o seu batalhão durante a guerra.

Em 1871, voltou para Salvador, voltando também a trabalhar como pintor e decorador. Prosseguiu à sua formação escolar, ao fazer os cursos de francês e português. Nos anos seguintes, Quirino percebeu ao longo do tempo que tinha talento com desenho geométrico, terminou se matriculando na escola de Belas artes (UFBA), obtendo um diploma de desenhista em 1882 aos 31 anos. Sendo em seguida, aprovado para o curso de arquitetura, no qual se destacou recebendo medalhas e obtendo menções honrosas pelo trabalho apresentado como aluno na Academia.

Em sua trajetória profissional, Querino é tido como cofundador da história da arte baiana, juntamente com outros artistas, como Marieta Alves, Carlos Ott e Germain Bazin. Preocupado com o descuido que a nossa nação tinha em relação ao nosso patrimônio social, histórico e cultural, teve o receio de que tanto as obras, quanto as próprias biográficas de artistas baianos do passado fossem apagadas para sempre, sem deixar nenhum vestígio de existência, ele não só preservou, como também, propagou as artes dos artistas baianos dos séculos XVIII e XIX. Ciente da necessidade de preservar e valorizar a história, em 1906, publicou um artigo sobre o título: “Artistas Baianos”. Sendo de grande importância até hoje.

A sua trajetória política foi atuando em ativismo sócio-político, ele também foi abolicionista e republicano, se ingressou na política através de uma militância a favor das causas sociais, operárias e artísticas. Querino atuou na política partidária, na tentativa de seguir o caminho na realização de uma política autônoma e livre. A característica política de Manuel Querino sempre esteve mesclada ao seu tino antropológico, pois era através da sua circulação em diversos espaços sociais com negros, sendo esses lugares como festas, nos terreiros, nas igrejas, nas associações artísticas, e no meio intelectual, que ele analisava o ser humano como um ser biológico, social e cultural. Ele organizou as áreas do conhecimento antropológico segundo os aspectos sociais, políticos e culturais. Inclusive sua pesquisa de campo associada ao seu conhecimento técnico, serviu para travar grandes debates em oposição as ideias racistas de alguns teóricos da época.

Ele foi intelectual negro de formação progressista, estava atento e mantendo uma linha de produção cientifica combativa sobre as enormes influências das teorias do etnólogo Nina Rodrigues, o mesmo defendia teorias que serviam de base para as ações racista que menosprezava os negros na sociedade. Já Manuel Querino enfatizou as qualidades dos negros, o valor, e a contribuição do negro que é inegável na constituição da nossa nacionalidade. Querino foi muito ativo em sua trajetória, sendo também um grande filantropo, participou de diversos espaços e instituições sendo sócio benfeitor.

Querino se posicionou como um guardião de todo o acervo que tinha ao seu dispor, das diversas e complexas contribuições africanas e afrodescendente para o engrandecimento social, cultural e político da nação brasileira naquele momento. Como militante engajou-se nos movimentos associados as discussões que envolviam as questões de políticas de classes artísticas e operárias durante e após a abolição e a Proclamação da República. Atuou no movimento abolicionista, tendo participado dos debates e acompanhando os acontecimentos, também publicou artigos na imprensa em defesa dos negros. De fato, ele foi o que mais se empenhou pelo levantamento das artes na Bahia. Além de ter feito a união da classe operária de modo que ela atuasse como uma grande força na luta de seus direitos na coletividade. Fez denúncias do quanto a cultura popular que estava sendo ignorada pela civilização e afastada do progresso da nação.

Manuel Querino morreu reivindicando o lugar do negro e seus descendentes para que vivessem em uma sociedade justa, inclusiva e cidadã. Reuniu ao longo da vida um acervo diversificado, transformando sua residência em um verdadeiro museu aberto a visitações.

Obras


QUERINO, Manuel. Os artistas Baianos. Salvador-Bahia: Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 1905.


QUERINO, Manuel. Contribuição das artes da Bahia. Salvador-Bahia: Revista IGHB,1908.


QUERINO, Manuel. Teatros da Bahia. Salvador-Bahia: Revista do IGHBA, 1909.


QUERINO, Manuel. Contribuição para a história das Artes na Bahia, os quadros da catedral. Salvador-Bahia: Revista do IGHBA, 1910.


QUERINO, Manuel. Episódio da Independência I. Salvador-Bahia: Revista IGHBA, 1913.


QUERINO, Manuel. A Bahia e a campainha do Paraguay. Salvador-Bahia: Jornal de Notícias, 1913.


QUERINO, Manuel. As Cavalhadas. Salvador-Bahia: Jornal de Notícias, 1913.


QUERINO, Manuel. A litografia e a gravura. Salvador-Bahia: Revista IGHBA,1914.


QUERINO, Manuel. Primórdios da Independência. Salvador-Bahia: Revista IGHBA, 1916.


QUERINO, Manuel. Candomblé de Caboclo, ligeiras notas a propósito de uma oferta feita ao intuito pelo Coronel Arthur Atahyde de objetos pertencentes a um famoso Candomblé de Caboclo da cidade de Salvador. Salvador-Bahia: Revista IGHBA, 1919.


QUERINO, Manuel. Notícia histórica sobre o 2 de julho de 1823 e sua comemoração na Bahia. Salvador-Bahia: Revista IGHBA,1913.


QUERINO, Manuel. Os homens de cor preta na História. Salvador-Bahia: Revista IGHBA,1923.


QUERINO, Manuel. Um bahiano ilustre, Veiga Murici. Salvador-Bahia: Revista IGHBA, 1923.


QUERINO, Manuel. Desenho linear das Classes Elementares. Salvador-Bahia,1913.


QUERINO, Manuel. As artes da Bahia. Escorço de uma contribuição histórica. Salvador-Bahia: Typ. E Encadernação do Lyceu de Artes e Officios, 1909.


QUERINO, Manuel. As artes da Bahia. Escorço de uma contribuição histórica. Salvador-Bahia: 2.ed. Officinas do Diário da Bahia, 1913.


QUERINO, Manuel. Artistas Baianos, indicações biográficas. Rio de Janeiro: ilustrações no texto e 6 estampas no fim, 1909


QUERINO, Manuel. Artistas Baianos, indicações biográficas. Salvador-Bahia: 2.ed.Bahia: Officina de Empresa ”A Bahia”, 1911.


QUERINO, Manuel. Elementos de Desenho Geométrico, comprehem-dendo noções de perspectiva linear, teoria da sombra e da luz, projeções e arquitetura. Salvador-Bahia: Bahia: papelaria e tipografia Babtista Costa, 1911.


QUERINO, Manuel. Bailes Pastoris. Salvador-Bahia, 1914.


QUERINO, Manuel. A Bahia de Outrora, Vultos e Fatos Populares. Salvador-Bahia: Bahia: Econômica, 1916.


QUERINO, Manuel. A Bahia de Outrora, Vultos e Fatos Populares. Salvador-Bahia: 2. Ed. Aumentada, 1922.


QUERINO, Manuel. A arte culinária da Bahia. Salvador-Bahia: livraria progresso editora,1951.


QUERINO, Manuel. Costumes Africanos no Brasil. Rio de Janeiro: livro ilustrado, 1938.


QUERINO, Manuel. Costumes Africanos no Brasil. Recife: 2.ed. ampliada e aumentada. Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massagana,1988.