Rousseau [Educação-01]

A educação para a liberdade segundo Rousseau

Leone José Mateus

Jean-Jacques Rousseau é um dos principais representantes do iluminismo francês. Em 1742, o filósofo de Genebra se instala em Paris como professor de música, mas não se saiu bem. Rousseau estabeleceu um laço de amizade com Diderot, que o convidou para escrever artigos de música para a Enciclopédia, foi assim que entrou em contato com os filósofos enciclopedistas. Em 1749, despertou como filósofo ao escrever sua primeira obra: Discurso sobre as ciências e as artes, através dela ganhou o prêmio de um concurso e deu início a um pensamento desarmônico e polêmico dentro da corrente iluminista, pois criticava o progresso e a civilização. Em 1762 publicou Emílio e Do contrato social, obras que o forçaram a fugir de Paris para não ser preso, pois foram consideradas ofensivas pelas autoridades. Voltando a Paris, em 1776 seu estado de saúde se agravou, vivia isolado e ao lado da pobreza. O filósofo passou os últimos dias de sua vida estudando e catalogando plantas, até falecer deixando uma vasta obra na área da política, moral, educação, música, teatro e botânica, além de uma autobiografia.

Rousseau em todas as suas obras se preocupava com os processos educativos, tanto quanto as relações sociais, que são afrontados com a noção de liberdade. Rousseau afirma que: “… ‘todos nascem homens e livres’; a liberdade lhes pertence e renunciar a ela é renunciar à própria qualidade de homem. Ninguém como ele afirmou que o princípio da liberdade como direito inalienável e exigência essencial da própria natureza espiritual do homem” (ARBOUSSE-BASTIDE, MACHADO, 1978, p. XVIII ).Ele queria uma sociedade em que as pessoas fossem não apenas livres e iguais, mas também soberanas, que exercessem um papel ativo dentro do contexto. Para que isso acontecesse, além de um contrato justo, seria necessário ensiná-las a serem livres, autênticas e autônomas. Essa seria uma tarefa de “civilizar a civilização”, ou seja, deveria iniciar com a educação das crianças. O filósofo se dedicou a esta tarefa escrevendo um tratado pedagógico em forma de romance cuja obra-prima é Émilio, o nome da personagem principal. A tese fundamental de Rousseau é a de que o ser humano é naturalmente bom, mas foi corrompido pela sociedade. Portanto, conforme afirmam Reale e Antiseri (2004, p.287),

Não se deve treinar uma criança quando não se sabe conduzi-la aonde se quer, somente através das leis do possível e do impossível, cujas esferas, sendo-lhe igualmente desconhecidas, podem ser ampliadas ou restringidas diante dela como melhor convier. Pode-se prendê-la, impedi-la ou detê-la sem que ela se dê conta, somente através da voz da necessidade. E pode-se torná-la mansa e dócil somente através da força das coisas, sem que nenhum vício tenha condições de germinar em seu coração, porque as paixões nunca se acendem quando são vãs em seus efeitos.

Deste modo, a criança que foi criada numa sociedade civilizada vai perdendo o contato com seus instintos naturais e sentimentos à medida que eles vão sendo reprimidos ou à medida que ela aprende, através de uma série de normas e conceitos abstratos, a não revelar certas emoções e a fingir outras. O resultado é a perda de contato consigo mesma e a necessidade de mostrar-se diferente do que realmente é. Depois vêm a falsidade, a hipocrisia e todos os outros vícios: “Um homem abandonado a si mesmo, desde o nascimento, entre os demais seria o mais desfigurado de todos. Os preconceitos, a autoridade, a necessidade, o exemplo, todas as instituições sociais em que nos achamos submersos abafariam nele a natureza e nada poriam no lugar” (CHALITA, 2004, p.282).

Em Emílio, Rousseau usa como exemplo o homem natural e defende uma pedagogia que siga a natureza. Na obra o personagem Emílio é afastado da sociedade corrupta até os 15 anos de idade, evitando qualquer corruptura da sociedade. Rousseau criou uma técnica inovadora: ao invés de reprimir as crianças ou discipliná-las como era feito na época, propõe uma educação que procura incentivar a expressão das tendências da criança. Dever-se-ia realizar essa educação no seio da família usando de amor e carinho para essa prática. E deixaria o aspecto teórico e racional para segundo plano.

Assim, o pensamento de Rousseau teve grande influência no desenvolvimento da pedagogia, a sua filosofia libertária foi uma das principais fontes de inspiração da Revolução Francesa. Repercutiu em diversas áreas como nos ideais políticos do comunismo e do anarquismo, nascidos no século XIX. Rousseau por valorizar as emoções, foi reconhecido o grande precursor do Romantismo, que é o movimento literário surgido no início do século XIX e que se caracterizou pelo predomínio dos sentimentos e da imaginação em relação à razão.

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Referências

ARBOUSSE-BASTIDE, Paul; MACHADO, Lourival Gomes. Vida e Obra. In: ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os pensadores. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. 2 ed. São Paulo: Atual, 2004.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. Volume 4. São Paulo: Paulus, 2004.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os pensadores. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.