PIUS FELIX INVICTUS

PIUS FELIX INVICTUS

José Maurício Guimarães

Feliz Natal, feliz Ano Novo.

O que significa isso?

NATAL é uma palavra relativa ao dia de nascimento. Mas, 25 de dezembro é uma tradição pagã que marca a vitória do Sol no solstício de inverno (hemisfério norte) entre os dias 21 e 25 de dezembro. Os camponeses primitivos temiam que o Sol jamais voltasse por causa da nevasca. E sacrificavam bois e touros para o “Sol Invictus”, o Deus Sol invencível. Mais tarde, esse culto agrário do “Sol Invictus” foi adotado em homenagem ao governante ideal “pius felix invictus” pio, feliz e invencível. O Mitraismo deu origem à tauromaquia, combate ou sacrifício do touro (símbolo da Terra). Depois, propagou-se pela península ibérica na forma de touradas. Foi o imperador Aureliano que acolheu o culto solar em 270 d.C. e Constantino, falsamente convertido ao cristianismo, incentivou oficialmente o “Sol Invictus” como data máxima para celebrar a “paz” entre cristãos e cidadãos romanos. Assim, surgiu o 25 de dezembro como Natal. Portanto, esse Natal "Cristão" em 25 de Dezembro foi inventado para fazer frente às solenidades de Mitra, cujo nascimento mitológico era comemorado no Solstício de inverno. O Cristianismo, legalizado pelo Edito de Milão, obteve o status de religião monoteísta oficial no Império Romano. Os diáconos cristãos tomaram o lugar dos sacerdotes pagãos que foram degolados em nome de Deus. Todavia, a nova religião manteve as festividades, antigos rituais e liturgia. O papa cristão passou a exercer as funções do Pontífice do Mitraismo e a figura de Cristo substituiu o símbolo do Sol. Constantino, por sua vez, permaneceu devoto de Mitra e fez que todos, inclusive sua mãe, Flávia Júlia Helena, também conhecida como Santa Helena, acreditassem numa conversão de sua parte. Lactâncio, autor cristão que viveu de 240 a 320 de nossa era, inventou uma história narrada em "Lucii Caecilii liber ad Donatum Confessorem de Mortibus Persecutorium" sobre a visão de Constantino do lábaro com a inscrição IN HOC SIGNO VINCES que o converteu ao cristianismo. Que achado!

Depois, foi só acrescentar um Papai Noel (Saint Klaus, ou Saint Nikolas) com seu gracioso trenó puxado por oito renas buliçosas e serelepes: Vixen, Prancer, Donder, Dasher, Cupid, Blitzen, Comet e Dancer.

- Sempre coloco uma lupa nesse assunto, pois as Boas Festas são convenções e desvirtuação do verdadeiro sentimento cristão, místico e religioso. Nada nos garante que Jesus tenha, pelo menos por coincidência, nascido em 25 de dezembro. Nem estamos certos de que é no dia 31 de dezembro que termina o ano velho para recomeçar, novinho em folha, em 1o de janeiro. Hoje, tudo isso é trapaça do consumismo.

ANO é o intervalo de tempo correspondente a uma revolução da Terra em torno do Sol. O calendário da História e a história do calendário não coincidem em nada. Em 46 a.C., Sosígenes, astrônomo do observatório de Alexandria, atendendo ao decreto de César, tentou colocar ordem na bagunça dos calendários existentes. O antigo sistema romano era tão desregulado que o ano anterior às reforma teve 445 dias e foi chamado o “ano da confusão”. O novo calendário, chamado Juliano em homenagem a Júlio César, não considerava que o ano solar mede 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46,7 segundos. Resultado: a diferença entre essa cifra e o calendário estabelecido por Sosígenes (365 dias e 6 horas) fez com que o ano civil ficasse, ano após ano, atrasado em relação ao curso do Sol. No ano 312, a Igreja adotou o ciclo de Constantino (outra vez esse incômodo Constantino, arre!). Mas, em 730, um monge chamado Beda demonstrou por a+b que o calendário estava errado em 11 minutos e 14 segundos, resultando numa diferença de um dia a cada 128 anos. Pânico geral!

Retomaram os cálculos; o Papa ordenou as “indicações romanas” usando números de ordem de 1 a 15, juntamente com o número áureo e o ciclo solar, tendo assim o chamado Cômputo Eclesiástico. Tão simples como comer um quindim. Só que a forma de datar passou a variar entre hereges e fiéis. As datas do litoral eram diferentes do interior; variavam também do vale para a montanha, das cidades para as vilas, de reino para reino. Impaciente com a desordem nos documentos de seu chefe-de-gabinete, Carlos Magno adotou o Cômputo Eclesiástico para a França no século IX, enquanto a Igreja já o havia imposto três séculos antes; a Alemanha, resmungando sempre, resolveu acompanhar a mudança no século X; a Espanha, no ano 1100; a Áustria e Portugal muitos tempo depois. Caos! Ninguém mais sabia quando começava o ano. Só na península italiana havia meia dúzia de começos de ano diferentes: 1o de março para Veneza; 16 de março para Pavia e Lombardia; 25 de março para Toscana e Florença. Roma, sede do Vaticano, endoidou de vez e marcava 25 de janeiro ou 25 de março conforme o bom ou mau humor do Sumo Pontífice. A escolha de um bom calendário, a marca do início e duração do ano andaram aos solavancos até Gregório XIII (1572) que “corrigiu” o tempo deletando 10 dias da história para alcançar a correria do Sol. E tudo ficou resolvido neste que, segundo a ironia de Voltaire, "é o melhor dos mundos".

- Só teremos nova dor de cabeça no ano 4.910 quando, os que chegarem até lá, terão que eliminar um dia da História da humanidade. E tudo voltará ao normal.