Eleições 2012 - Textos

2. A crise da Democracia

Democracia não se resume ao ritual de votar. Ela deve ser compreendida no sentido mais amplo, vinculada diretamente às conquistas sociais, econômicas e culturais, à ampliação da noção de cidadania. Estas conquistas só serão reconhecidas e implementadas se da parte da sociedade acontecer uma vigília permanente das ações do poder público. O cidadão é chamado à sua responsabilidade não somente no momento das eleições, mas constantemente.

Vista desta forma pode-se afirmar que vivemos uma pseudo-democracia, onde a imensa maioria das pessoas limita a sua participação política ao ato de votar e não se preocupa ou não encontra formas para influenciar nas decisões de governo. Em contrapartida, toda população sofre o peso destas decisões.

O modelo de democracia representativa se revela, portanto, excludente, fazendo com que os governos nem sempre atendam às aspirações e necessidades da grande maioria do povo a quem deveria servir.

Este modelo de democracia liberal gera uma crescente descrença no processo de escolha de seus representantes, pois uma vez eleitos, não há forma de garantir o cumprimento dos compromissos de campanha.

Somado a isso, há uma crescente perda de confiança da população em acionar a classe política. O comportamento excessivamente conjuntural, relativista e eleitoreiro da classe política e dos partidos, contribui para a generalização desta desconfiança. Sendo assim, os cidadãos não devem aceitar que a condução dos processos democráticos e a implementação de políticas públicas fiquem somente nas mãos da classe política e seus partidos.

No modelo atual de democracia representativa :

  • O povo exerce o poder político no momento em que, travestido de eleitor (a) aperta a tecla final “CONFIRMA”. Neste momento finaliza sua função;

  • Tudo funciona como uma liturgia, um ritual;

  • Tudo se limita ao cumprimento do rito de votar;

  • Tudo parece se resolver com a existência de uma adequada e bela legislação.

3.Um Novo Estado, uma Nova Democracia

Estes sujeitos constituem a imensa maioria da população mundial. A essa multidão o Estado que temos e a Democracia que o constitui não mais respondem. Mas surgem luzes no fim do túnel mediante uma nova ética. Essa nova ética quer substituir o utilitarismo individualista pela ética da alteridade, do cuidado, inclusive para com a Natureza.

4. No Município

A crise do Estado da Democracia se manifesta mais claramente no Município, quer seja pela proximidade das pessoas com a classe política, principalmente nos municípios menores, quer seja pelo fato das ações de governo serem sentidas mais rapidamente pelas pessoas.

Além disso, a responsabilidade pela execução da maior parte das políticas públicas está a cargo dos municípios. A Constituição de 1988 colocou nas incumbências das quais nem sempre está preparado para dar conta.

Em grande parte dos municípios brasileiros, os programas sociais são sempre dependentes direta ou indiretamente do Estado ou do Governo Federal, sendo a sua burocracia apenas repassadora de verbas.

Há municípios que não têm, praticamente, receita própria, vivendo apenas da parte que têm direito no Fundo de Participação dos Municípios. Em alguns municípios, pequenos empresários são, praticamente, os únicos empregadores de mão de obra, fator que potencializa a prática de ações paternalistas e dominadoras dos grupos políticos no poder.

Infelizmente, também no nível municipal a corrupção se faz presente, quer seja através das licitações e seus aditamentos, nas verbas recebidas (transferências e projetos), nas contratações de lixo, no aluguel de equipamentos, nas empresas de segurança, no transporte coletivo, entre outros.

A atuação do Poder Legislativo Municipal (Câmara de Vereadores) merece especial atenção em nossa análise, pois em muitos municípios os vereadores não cumprem a sua função de legislar (elaborar leis). E quando o fazem, se limitam a apresentar projetos que concedem títulos e homenagens a pessoas de seu interesse ou dão denominações de lugares públicos que possam agradar ao eleitor nas próximas eleições.

Ainda mais grave é o fato de muitos vereadores entenderam que sua atuação está submetida diretamente aos interesses do Executivo. As licitações, os atos administrativos e a obrigação da sua publicidade, a análise de projetos orçamentários e sua execução, a celebração e cumprimento dos contratos assinados não são fiscalizados devidamente, ora por falta de conhecimento e incompetência técnica, ora por falta de interesse.

Não raras vezes o Legislativo se transforma em “balcão de negócios”, onde seus membros negociam o zoneamento da cidade, as mudanças do perímetro urbano, mudanças no Código de Posturas e se tornam intermediários de vitórias em licitações de cartas marcadas.

Importante lembrar que é no Município que uma Democracia Participativa pode se tornar realidade, pois as necessidades concretas das pessoas são mais percebidas e o conhecimento e a proximidade com a classe política é maior. Isto proporciona maior possibilidade de controle das ações do poder público nas suas decisões.

1. A crise do Estado

O Estado perdeu soberania e tem se mostrado presa dos poderes paralelos- do capital globalizado, dos fluxos de informação, de consumo e de produção. A impressão que se tem é a de que muitas vezes o Estado fica refém destes poderes paralelos e também se coloca deliberadamente a serviços dos mesmos.

  • O capital domina o Estado a partir de seus movimentos;

  • Em quase todos os Estados as grandes coroporações são, hoje, superioras em poder político, econômico e logístico;

  • Alguns grupos econômicos que detêm o controle da mídia já dominam todo o mercado mundial, desenvolvendo visões que não podem ser impedidas pelo Estado;

  • O processo de globalização também alcançou o crime, o qual, de forma organizada pode perpassar o Estado e o colocar a seu serviço, bem como os setores do capital financeiro.

O Estado Brasileiro vive esta mesma crise, que é fruto dos mesmos fatores aos quais somam-se elementos particulares da nossa formação histórica. Afinal, nascemos como uma empreitada mercantilista da burguesia portuguesa, numa colonização exploratória e predatória de grupos particulares que se entendem como o Estado. O Brasil nasce e cresce à luz do tripé: privado sem Estado + trabalho escravo + monopólio da terra. Não houve aqui o desenvolvimento do espaço público.

Após a independência o Estado brasileiro forma-se como um Estado plutocrático, seletivo, das elites e a seu serviço. O povo é eliminado das decisões já que não é considerado portador de direitos, a não ser nas relações de compadrio, no patrimonialismo e no coronelismo. Toda manifestação sociopolítica de segmentos do povo é considerada “revolta”, baderna, ingratidão, maldade, casos de polícia ou de exército.

A partir da década de 20, vamos ver o surgimento de um novo sujeito político: as classes populares, que vão se entendendo criticamente como portadores de um outro projeto para o Brasil, no qual uma exigência básica é o fortalecimento do Estado.

O Estado brasileiro entra, então, em disputa!

  • Novos sujeitos político-sociais não mais aceitam o caráter de classes subalternas, de objeto no cenário nacional.

  • Uma estrutura burocrática patrimonialista faz do aparelho de Estado escada de ascenção econômico-social.

  • Aliança elite econômica-grande mídia, em projeto contrário às classes populares.

  • Classes médias deslocadas, em contraposição à ascenção das classes populares e às políticas públicas a seu favor.

  • Um Estado “espremido” entre oligarquias que exigem a manutenção de seus privilégios seculares e classes populares com um projeto de nação que parta dos interesses do povo como sujeito do processo.

A Igreja Católica Apostólica Romana, através do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CBLB), Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP) e Pastorais Sociais, lançou uma publicação alusiva ao pleito de 7 de outubro denominado “Eleições Municipais 2012: Cidadania para a democracia”. O site publica, em etapas estes textos que, de fato, apresentam a importância da eleição municipal e como deve se portar o eleitor na sua missão de escolher aqueles que o representarão. Vale acompanhar. “Ver”, o primeiro tema:

Ver

Desde as últimas décadas do século XX estamos vivendo um momento crítico da história da humanidade. Alguns chamam a este momento de “Mudança de Época”. Estamos na travessia de uma era, ou como alguns chamam, na travessia de uma civilização para a outra.

Este momento de transição deve ser entendido na sua íntegra, como um movimento duplo; pois, se por um lado estamos deixando a estabilidade do já conhecido que gera certa insegurança, por outro lado estamos vivendo a oportunidade de gestar o novo. Um novo que pode e deve ser mais condizente com nossos anseios e utopias. O lema do Fórum Social Mundial aponta para esta ideia: "Um outro mundo é possível”, uma nova realidade que pode, sim, ser mais humana, justa, fraterna e sustentável.

O Estado e o atual modelo de Democracia Representativa também dão mostras desta crise de transição e revelam a necessidade de serem repensados.

Dizemos que uma instituição está em crise quando não mais consegue responder aos novos questionamentos. Assim, o momento da crise é o momento de construção de novas estruturas.