A Comunidade e a Filosofia

A Comunidade com a Filosofia – Em três momentos

Pedro Luiz de Oliveira

Cidadão, Educador, Professor em Química

Evento: Ciclo de Debates - Filosofia e Educação – PET Filosofia UFMG*

Mesa Política de Inserção da Filosofia no Ensino Médio – 03/05/2011

Pedro Luiz - Contraponto Comunidade

Momento Primeiro: Pontuando

Eu, cientista das químicas, educador como professor de química, cidadão, agente social em políticas sociais na educação, na saúde, na segurança, na assistencia social etc.

Há lideranças competentes socialmente, mas desorientadas filosoficamente.

Há necessidade de filosofia na comunidade.

A comunidade humana carece de significação.

A ciência, assim como a política, a filosofia e a sociedade em suas vertentes culturais, nas naturais, nas religiosas, nas relacionais, nas afetivas etc, não devem ser tratadas como pessoa.

- elas não fazem nada, mas provocam transformações. São coisas, não sujeitos.

Já o sujeito de ciência, de política, de filosofia, de sociedade, precisa da consciência de:

- que é ele quem aciona essas ferramentas.

- que ele somente tem poder de transformação, porque encontra identidade no Outro, dentro ou junto destas ferramentas que são apenas pensamentos.

O povo precisa entender:

- que é ele, o sujeito de governo e que os representantes são apenas imagens platônicas.

- que ele não precisa pedir nada ao governo (que já está virando mendigar)

- que ele é o governo em ação, enquanto sujeito, com a ferramenta da Política, da ciência, da sociedade, da filosofia etc.

Uma alusão regional:

- o povo não é tropa de burros, o povo é tropeiro.

- burros são providos de pensamentos e tropeiros são providos de inteligência.

- os burros são seres pensantes e os tropeiros são seres “raciocinantes” e podem ser reflexivos, e é aqui que necessita do professor de filosofia.

Professor em geral colabora para diferenciação entre o treinamento como descoberta com a Coisa, o ensino como descoberta com o Outro e a educação como descoberta consigo mesmo.

O professor em geral precisa ser pedagógico enquanto caminho, mas também precisa ser filosófico enquanto busca. É um caminhante solitário, mas não é sozinho.

O ser humano é o único ser que precisa perguntar, para se situar como pessoa, mas precisa refletir com o Outro, para transcender como humanidade.

Momento Segundo: A Comunidade carece de Filosofia

Há nas lideranças atuais sociais, o predomínio de adultos de outra época, ou seja, da ausência da filosofia na escola, o que acarreta uma deficiência de criticidade.

É por isso que, mesmo com muita experiência em movimentos sociais, nem sempre, os chamados líderes, resistem às intervenções ideológicas das políticas coronelistas, ficando à mercê dos currais eleitorais.

Um efeito educacional, que promete, é que algumas lideranças comunitárias resolveram fazer o EJA - Educação de Jovens e Adultos e têm a oportunidade atual de encontrarem com a filosofia.

A comunidade a que eu pertenço, conseguiu mobilizar os moradores e perturbar o prefeito, a ponto de o mesmo visitá-la e prometer um centro de saúde.

Passaram-se três meses dessa visita, um vereador, enquanto presidente da comissão de saúde da Câmara de Vereadores, inventou sem necessidade, uma audiência pública, apenas para ver se a comunidade queria o mesmo centro de saúde. Não satisfeito, inventou outra, um ano depois.

Nesta investida, ele conseguiu na eleição 2010, algo próximo de 2000 votos na região, sendo que em eleição anterior, em 2006, ele mesmo afirmou que não obteve nenhum voto e até hoje nada de concreto do centro de saúde, mas continuamos persistindo...

Momento Terceiro: A Filosofia no Social

Atualmente sou morador da comunidade do bairro glória, da regional noroeste de Belo Horizonte.

Como cidadão, sou pai de família e de alunos, sou cientista através da química, sou educador e estou como professor de educação através da química. Participo há anos em fóruns sociais na educação, na saúde, na segurança, na assistência social, em ONGs, em conferências, audiências e reuniões de políticas sociais públicas e particulares também.

No meu entendimento, líder é uma falha social, que ocupa o lugar político, não ocupado pelo cidadão consciente, ele facilmente é usado pelo poder de controle, poder que somente existe, pela mesma razão. O mesmo acontece com a polícia enquanto falha social. Até viciamos na idéia de ser, "um mal necessário".

Atrevo-me a dizer, que o professor e o juiz se encaixam perfeitamente, neste lugar político, como formador e cuidador de conduta humana consciente, respectivamente e com todo respeito às excelências, o juiz cuida apenas das distorções do processo de formação.

Ambos precisam apenas de suporte da filosofia e é por esse motivo, que estou aqui e em fóruns sociais, para reclamar este suporte filosófico.

Do ponto de vista social vejo dois tipos de filósofos. Assim como químicos e cientistas da química, existem formados em filosofia e filósofo de fato. A academia não garante o surgimento do filósofo, assim como a filosofia não garante despertar dos sujeitos, mas considero a Educação como o fiel dessas balanças.

O Filósofo parece não saber o seu lugar, mas não o culpo por isso, pois, provavelmente o professor não teve ainda condições educacionais para despertá-lo enquanto em seu processo de formação na educação. Daí, estamos, neste círculo vicioso que somente a crítica filosófica poderá romper. Filósofo nasce do professor e professor nasce do filósofo. A questão do ovo e da galinha já foi resolvida pela ciência, mas esta outra, apenas a reflexão filosófica dará conta, é o que eu espero.

Uma sugestão social para a filosofia:

- que cada formado em filosofia ou filósofo se aproxime de um representante social, pelo menos uma hora por mês.

- em dois anos, teremos uma outra sociedade...

Pedro Luiz de Oliveira - Maio/2011

*PET – Programa de Educação Tutorial - Filosofia UFMG