Nas demonstrações de igualdades com probabilidades, recomendo a aplicação repetida dos seguintes procedimentos, geralmente pela ordem em que estão indicados:
0) Substituir o acontecimento diferença pela interseção do primeiro acontecimento com o contrário do segundo:
(X-Y e X\Y, são simplesmente duas notações diferentes para representar o acontecimento diferença.)
1) Aplicar a fórmula da probabilidade condicionada:
2) Aplicar as regras geralmente usadas na resolução de equações:
2.a) Reduzir todos os termos ao mesmo denominador.
2.b) Cancelar o denominador comum (o que corresponde a multiplicar ambos os membros da igualdade pela expressão que surge em denominador, cujo valor assumimos ser diferente de zero).
2.c) Cancelar parcelas (termos) com sinais opostos no mesmo membro.
2.d) Cancelar parcelas com o mesmo sinal em membros opostos (o que corresponde a subtrair essa quantidade a ambos os membros).
2.e) Mudar um termo negativo para o outro membro, passando a positivo (o que corresponde a somar a ambos os membros da igualdade a quantidade que surgia a subtrair).
(Este procedimento é usado geralmente em articulação com o procedimento 5: procurar somas de probabilidades de acontecimentos incompatíveis.)
2.f) Aplicar outras regras de cálculo (simplificação de expressões com parênteses recorrendo à propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição, lei do corte para simplificar produtos de frações, etc.).
3) Aplicar o teorema da probabilidade do acontecimento contrário:
3.a) Aplicação direta do teorema:
3.b) Conjugar este teorema com uma das leis de De Morgan para simplificar a probabilidade de uma reunião de contrários:
3.c) Conjugar este teorema com uma das leis de De Morgan para simplificar a probabilidade de uma interseção de contrários:
4) Aplicar o teorema da probabilidade da reunião:
5) Aplicar o axioma relativo à probabilidade da reunião de acontecimentos incompatíveis:
Se X e Y são incompatíveis (isto é, se
) então .
5.a) Caso particular:
Se X e Y são incompatíveis, e se
e , então Z e W também serão incompatíveis, pelo que .
5.b) Caso particular do anterior:
Sabe-se que
e , sejam quais forem os acontecimentos T e V. Consequentemente,
Se X e Y forem incompatíveis, então
e também serão, logo .
5.c) Caso particular do anterior:
e são incompatíveis, por isso e serão sempre incompatíveis (sejam quais forem os acontecimentos T e V), logo
6) Em cada acontecimento cuja probabilidade está a ser calculada, aplicar as propriedades das operações com conjuntos, nomeadamente as seguintes:
6.a) Propriedades que resultam da definição de acontecimento contrário:
(a reunião é o acontecimento certo, identificado com o espaço de resultados).
(os acontecimentos contrários são incompatíveis).
(o contrário do contrário de um acontecimento é o próprio acontecimento).
6.b) Propriedades distributivas:
da reunião em relação à interseção:
da interseção em relação à reunião:
6.c) Leis de De Morgan:
6.d) Propriedades do acontecimento certo:
6.e) Propriedades do acontecimento impossível:
6.f) Propriedades associativas:
6.g) Propriedades comutativas:
6.h) Idempotência:
6.i) Simplificação de reuniões e interseções quando um dos acontecimentos está contido no outro:
Se então .
Se então .
7) Aplicar outros axiomas e teoremas das probabilidades:
7.a) A probabilidade do acontecimento certo é 1:
7.b) A probabilidade de qualquer acontecimento é não-negativa:
7.c) O acontecimento impossível tem probabilidade nula:
7.d) Comparação das probabilidades de dois acontecimentos, quando um deles está contido no outro:
Se
então .
Note-se que, nas fórmulas apresentadas acima, cada letra maiúscula pode representar qualquer acontecimento... possivelmente construído a partir de outros usando as operações com conjuntos. Por exemplo: fazendo
e na equação 1 (fórmula da probabilidade condicionada), obtemos
(Curiosidade/ sugestão de trabalho: supondo que e usando a igualdade anterior, prove que o valor de não depende de A e de B.)
A demonstração pode ser estruturada de um dos seguintes três modos:
A) Tratar a igualdade como uma equação.
Aplicando as regras listadas acima, escrevemos igualdades equivalentes até obtermos uma igualdade que seja inequivocamente verdadeira (levando a simplificação até ao fim acabaremos sempre por obter a igualdade 0=0, mas não precisamos de ir tão longe: a igualdade
, por exemplo, já é suficientemente óbvia). Como todas as igualdades que escrevemos são equivalentes (admitindo que aplicámos corretamente as regras acima referidas), se a última igualdade obtida é verdadeira então a primeira também tem de ser verdadeira.
Com este método, a estrutura da demonstração é:
B) Simplificar um dos membros, escrevendo sucessivas expressões iguais à expressão de que partimos, até se obter a expressão que surgia no outro membro.
Com este método, a estrutura da demonstração é:
C) Simplificar ambos os membros até se obter o mesmo resultado em ambos os casos.
Com este método, a estrutura da demonstração é:
O método A pode sempre ser usado mas obriga-nos a escrever muito, pois em cada passagem tudo o que aparece em algum dos membros da igualdade tem de ser copiado ou simplificado; quando há poucas ou nenhumas simplificações a efetuar num dos membros, estaremos a copiá-lo desnecessariamente.
O método B é bastante eficiente quando um dos membros da igualdade é "complicado" e o outro é "simples", mas não permite por exemplo cancelar denominadores ou trocar o sinal dos termos negativos mudando-os para o outro membro; além disso, mesmo quando um dos membros da igualdade é simples, podemos ter dificuldade em "reconhecê-lo" na fórmula que se obteve ao simplificar o outro membro.
O método C pode ser bastante eficiente mesmo quando ambos os membros têm de ser simplificados, mas também não permite cancelar denominadores ou trocar o sinal dos termos negativos mudando-os para o outro membro; além disso, as fórmulas obtidas ao simplificar ambos os membros podem ter aspetos diferentes e a sua igualdade não ser óbvia.