Criação - Genesis 1-1 a 2-3

Criação – Genesis 1-1 a 2-3

Para entendermos a Bíblia, devemos ter a disciplina de examinarmos primeiramente os objetivos do escritor, e o contexto que rodeava o autor. Cada livro da Bíblia tem um autor(es) inspirado pelo Espirito Santo, que escreve à sua audiência sobre um tópico especifico, e num contexto próprio.

No caso do livro de Genesis, Moises, o autor, escreve ao povo de Israel, que tinha sido liberto da escravidão, e se encaminhava a Terra Prometida. Moises, sabendo que não iria com o povo a Terra Prometida, e inspirado por Deus, escreve não somente Genesis, mas os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, chamado Pentateuco, que formam a base da teologia histórica. Até aquele momento na historia, só existiam tradições passadas oralmente, de geração em geração, mas que não eram documentadas. Com a criação do Pentateuco, Deus estabelece e proporciona o fundamento necessário ao povo de Israel, em antecipação aos futuros desafios da jornada, e também a compreender a sua real identidade como povo de Deus. E importante que ao abordarmos esta passagem, entendamos que Genesis não foi escrito como um documento cientifico, mas como uma base para historia teológica. Algum conteúdo de Genesis até pode ser usado para entendermos alguns fatos científicos, mas não foi esse o proposito Divino ao inspirar sua autoria.

Os desafios encontrados pelo povo de Israel foram únicos porque esse povo era monoteísta, num mundo de povos politeístas. Eles criam em um único Deus, enquanto todas as outras nações criam em muitos deuses simultaneamente. Um dos objetivos desta passagem foi ajuda-los a entender a exclusividade que gozavam entre os demais povos, que por sua vez faziam ídolos de coisas criadas. Nas Escrituras vemos que Deus existe além da criação, e permanece sobre ela. O Seu povo não adora a criação, mas sim o Criador. Ele também escreve a um povo cuja vida parecia caótica e fora de controle. Essa sociedade pré-industrial consistia de pastores e agricultores que dependiam completamente dos ciclos naturais. Na descrição contida em Genesis vemos um Deus que transformou confusão em ordem, e que tem controle total através de seu plano.

Com esses importantes conceitos em mente, encontramos vários desafios nesta passagem no tocante a criação. Pode o Senhor ter criado o mundo em sete dias? E a teoria da evolução? A terra tem 1 bilhão de anos ou dez mil anos? A Bíblia e ciência colidem? Ao tentar responder a essa perguntas, cristãos de todas as épocas tiveram varias teorias, todas completamente distintas da evolução ateística. Todas as teorias cristãs afirmam que existe um Deus que criou o universo, e cada uma tenta explicar o tópico baseando-se em passagens bíblicas. Apresentamos aqui algumas dessas teorias.

Criacionismo Histórico – Esta perspectiva propõe que a terra é antiquíssima, mas na sua forma presente é mais recente, entre 7.000 e 30.000 anos. Esse calculo se baseia na genealogia descrita em Genesis, incluindo intervalos subentendidos na narração. Neste caso, Genesis 1 e 2 não descrevem a criação do universo total, mas da disposição da terra permitindo a prosperidade do ser humano. Deus renovou a terra até então inabitada, para permitir que o ser humano existisse, e levou seis dias – literalmente - para fazê-lo.

Teoria do Intervalo (Gap) – Semelhante ao criacionismo histórico, esta perspectiva propõe um intervalo entre Genesis 1-1 e 1-2. Num passado muito distante, Deus tudo criou (1-1), e a terra era sem forma e vazia. Alguns creem que isto resulta da rebelião de Satanás e seus anjos que destruiu a terra originalmente criada. Bilhões de anos podem ter passado até que no verso 2, quando o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas, transformou o inabitável em habitável em seis dias, literalmente. Na teoria do intervalo, a matéria e o universo são antiquíssimos, mas a terra renovada é relativamente jovem.

Criacionismo da Terra Jovem – Esta perspectiva propõe que Deus criou o universo e todo ser vivente em seis dias – literalmente, e repousou no sétimo dia. Tudo foi criado relativamente recente, entre 7.000 e 30.000 anos. Evidencia geológica e registros fosseis que parecem ser bem mais antigos resultam do diluvio, além do fato de Deus ter criado seres já com idade adulta. Adão aparece na descrição já como homem adulto.

Teoria do Dia/Era – Esta perspectiva propõe que os dias mencionados em Genesis não se referem a períodos de 24 horas, mas sim a eras e épocas. Consequentemente, o universo pode ter bilhões de anos. Defensores desta perspectiva citam que a palavra “dia” em Hebreu não se refere a um período de 24 horas. De fato, em Genesis 2-4, a criação inteira e caracterizada como “No dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus...”

Evolução Teistica – Esta perspectiva propõe que Deus é a origem da evolução, um processo que Ele orquestrou para criar a terra. Tais proponentes não se preocupam com a precisão da linguagem incluída em Genesis 1 e 2. Creem que Deus iniciou o processo de evolução, que prosseguiu deste então.

Criação Progressiva – Proponentes desta versão creem que a terra é bem antiga, e que a criação ocorreu num longo período. Ao contrario dos evolucionistas teisticos, rejeitam uma macro evolução, reconhecendo as escrituras onde Deus criou cada espécie singularmente, assim como rejeitando transições de espécies, encontrados em registros fosseis. Desta forma, Deus introduziu continuamente novas criaturas através dos tempos.

Perspectiva da Estrutura Literária – Alguns estudiosos bíblicos creem que demasiada importância e dada à palavra “dia” nesta passagem, e explicam que Genesis 1 foi escrito em estilo poético comum na época. Todos estudiosos, independente de suas perspectivas, concordam que Genesis 1 foi escrito em forma poética, de acordo com o estilo costumeiro daquele período. Recentes descobertas da literatura Acadica e Ugarítica da mesma época, em regiões próximas, demonstram características semelhantes aos sete dias consecutivos como uma marca de perfeição. Desta forma, a tese que Genesis 1 seguiu esta estrutura significa que a criação da terra por Deus e um ato divino, perfeito, e não necessariamente que tudo ocorreu em sete dias literais. Além disso, mencionam o balanço entre os primeiros três dias da criação com os últimos três: Dias Um e Quatro descrevem a Luz, Dois e Cinco as aguas, Três e Seis a terra firme, vegetação, e seus habitantes.

Todas essas perspectivas declaram que Deus criou o mundo, mas obviamente variam nos detalhes dessa criação. Não temos uma preferencia particular por uma ou outra. O que concordamos e afirmamos com base no que se encontra em Hebreus 11-3, é que “Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus”.

Indice