Quando: Quarta-feira, 5/11 — 15h-17h
Onde: Sala 24 da Sociais
Mediação: Cláudia Vasconcellos (DTLLC)
A montagem de Macunaíma (1978) pelo Grupo Pau-Brasil, sob direção de Antunes Filho, foi considerada pela crítica da época um ponto de inflexão da história teatral brasileira, marco inaugural do nosso teatro contemporâneo, da ‘renovação’ do teatro nacional. Estruturava-se ali uma diferenciação em relação ao trabalho teatral engajado que assumiu expressões diversas desde o final da década de 1950 e que, nos anos 1970, criava um drama de tipo burguês, porém estranho, livre, em agonia com o impasse histórico dos anos pós AI-5. A importação de modelos cênicos da vanguarda internacional articula-se, em Macunaíma, a uma reelaboração formal da tradição como resposta à crise dessa experiência do teatro brasileiro. Nesta exposição, pretende-se discutir o modo como a nova cena refuncionaliza procedimentos épicos experimentados no ciclo de politização anterior para criar uma espécie de anti-épica da imagem. Daremos ênfase à forma dos Coros – que conduzem toda a peça por meio da constituição de quadros plásticos – para investigar como o “herói sem nenhum caráter” é reinterpretado pelo espetáculo.
Palavras chave: Macunaíma; Teatro; Épico; Coro; Trabalho.
A apresentação terá como foco comentar sobre o desenvolvimento da pesquisa sobre duas peças teatrais de Lima Barreto: “Os negros”; “Casa de poetas”. O intuito será demonstrar como as dramaturgias barretianas demonstram o modernismo negro elaborado em seu projeto de literatura militante, no qual a fuga não é só tema da primeira peça, mas é uma recusa à modernidade e a síntese da “história da escravidão negra e sua influência na nossa nacionalidade”. Com isto será possível notar como o debate literário e intelectual no qual Lima estava atuando, segue atual: a recepção às autorias negras ao longo do século XX e na contemporaneidade demonstram por um lado a rejeição às formas estéticas negras por essas, por outro lado, se fundamentarem em matrizes africanas, a partir de territórios negros e linguagens que recusam a modernidade, a colonialidade e a matriz grega. A dramaturgia barretiana é a esquiva e a recusa da mimetização da brancura na estética.
Palavras chave: Lima Barreto; Fuga; Literatura militante.
O segundo longa de Affonso Uchôa, Arábia (2017), co-dirigido com João Dumans, ao mesmo tempo catalisa e se afasta de tendências principais na produção cinematográfica brasileira dos últimos quinze anos. Nesta apresentação, tentaremos discernir quais dessas tendências mais gerais são retomadas e como são reformuladas pelo filme, concentrando o foco da leitura em alguns pontos centrais, onde elas se cruzam e se enfeixam. Em primeiro lugar, a nível formal, será comentada a armação narrativa do longa, em que a história de Cristiano é recontada em voz over pelo próprio personagem, através de um relato lido por seu turno pelo jovem André, um perfeito desconhecido do protagonista. Quais as implicações estéticas e políticas dessa estrutura, como que a formalização de um encontro inesperado a soldar uma comunidade de solitários? Mais adiante, trataremos da própria narrativa de Cristiano e a articulação muito nítida nela entre trabalho e circulação. Veremos que essa combinação pode nos introduzir a um universo de valores inesperado, distante dos preconceitos do progressismo urbano. Afinal, não será por meio dessa articulação certamente precária, e por causa de sua precariedade, que aventura e trabalho se mesclam? Como pensar essa mistura de liberdade de movimentos e sujeição? No percurso que propomos, tentaremos sugerir que tais elementos se insinuam desde o plano dos temas até contagiar a própria configuração do longa.
Palavras-chave: Cinema brasileiro contemporâneo; Affonso Uchôa; Trabalho; Circulação.