Quando: Sexta-feira, 7/11 — 17h-19h
Onde: Sala 172 da Letras
Mediação: Lindberg Souza Campos (DLM)
St. Ives, na Cornualha, é o paraíso perdido de Virginia Woolf. Foi nesse lugar, em uma casa chamada Talland House, que a autora inglesa passou os verões de sua infância até a morte de sua mãe, Julia Stephen, em maio de 1895 – Virginia tinha, à época, 13 anos. Tanto Woolf quanto seus irmãos só são capazes de retornar a esse lugar tão repleto de memórias em 1905. Em meio a uma atmosfera por vezes onírica, a viagem é relatada em um dos diários de juventude de Virginia Woolf. Contudo, St. Ives constitui parte tão importante da vida de Woolf que retorna às páginas da escritora no célebre romance “Ao farol” (1927), transfigurada na Ilha de Skye, na Escócia. E ainda, anos depois, permeia toda a sua narrativa autobiográfica “Um esboço do passado”, que configura um dos últimos escritos da autora. Assim sendo, St. Ives é receptáculo de recordações, vivências da pessoa Virginia Woolf, mas é também fonte de criação para a escritora Virginia Woolf. É lugar para o qual sua imaginação retorna com o objetivo de criar novos ambientes e personagens, que possuem suas próprias lembranças. E é lugar para o qual sua memória retorna com o objetivo de escrever sobre si antes que se esqueça de sua própria história. Tem-se, então, o sentimento de que St. Ives, de alguma maneira, acaba por representar algo muito caro à Woolf, a relação intrínseca entre vida e literatura. Nesta apresentação, portanto, objetiva-se traçar um panorama de como St. Ives pode, em certa medida, transfigurar-se em elemento capaz de demonstrar como Virginia Woolf trabalha em seus escritos, ficcionais e memorialísticos, o entrelaçamento de vida e criação literária.
Palavras-chave: Virginia Woolf; Realidade; Ficção; Romance; Escrita de si.
Na trajetória literária do norte-americano Henry James (1843-1916), sua migração para a Europa é central. O contato com a vanguarda realista francesa, capitaneada por Flaubert, foi decisivo em suas experimentações técnico formais envolvendo o ponto de vista narrativo; a partir da longa maturação da técnica perspectivista flaubertiana, foi possível a ele abrir caminho para a ficção modernista do século XX em seus trabalhos tardios. Sem desconsiderar a lição europeia, essa comunicação quer, no entanto, chamar atenção para outra: a local, ligada ao seu torrão de origem. Entra em cena o provinciano e moderno, puritano e democrático, Estados Unidos de meados dos oitocentos, cujos artistas, embora empenhados na realização de um romance (novel) americano, viam-se confrontados por uma configuração social, a um só tempo retrógrada e moderna, desencorajadora e promissora - distinta da européia, em suma -, que lhes inviabilizava o esforço. Nessa direção, pretendemos nos centrar nas linhas gerais da escrita novelística de Nathaniel Hawthorne (1804-1864). Aclamado pelos contemporâneos como o maior ficcionista local, precursor direto do trabalho de James, Hawthorne reteve contradições e impasses os quais, ainda que tenha tentado solucioná-los à sua maneira, encontrou encaminhamento distinto e moderno, por assim dizer, em seu sucessor. Ao assinalar o débito de James a Hawthorne buscamos, então, entender os termos em que consiste o salto qualitativo do primeiro operado em relação ao segundo; trata-se de melhor esquadrinhar o lugar que James ocupa na tradição novelística estadunidense como escritor responsável por desprovincializar a experiência local antes confinada ao romance.
Palavras-chave: Literatura norte-americana; Nathaniel Hawthorne; Henry James; Roberto Schwarz.
Propomos analisar a relação entre sinceridade, metaficção e consciência narrativa no conto “Octeto”, de David Foster Wallace. Em “Octeto”, um narrador pede para que o leitor se imagine como um escritor de ficção que quer escrever algo muito urgente – e enfatiza que, para isso, ele precisa ser “100% honesto” e abordar o leitor diretamente, sem barreiras. No conto, parece haver um movimento contraditório entre um desejo utópico de que o texto aponte para fora, que chegue ao leitor de carne e osso; um desejo de dissolução de barreiras e de transparência que, ao mesmo tempo, a cada barreira “transposta”, se depara com o reconhecimento de uma nova barreira que ameaça todo o edifício da comunicação. O conflito entre ironia e sinceridade, ficção e verdade, entre autor e leitor, entre comunicação verdadeira e linguagem como manipulação – esses conflitos centrais para a obra de Wallace encontram-se no primeiro plano de “Octeto”. Acreditamos que a análise do conto poderá iluminar o modo como essas dinâmicas aparecem formalmente na obra de Wallace, em especial em seus narradores.
Palavras-chave: David Foster Wallace; Metaficção; Narrador; Sinceridade; Formas breves.
Embora seja mais lembrada por seu último romance, Wide Sargasso Sea (1966), Jean Rhys iniciou sua produção literária décadas antes desse marco. Sua trajetória como escritora teve início em meados de 1920, com a publicação de seus primeiros contos. Entre eles, “Vienne” ocupa um lugar central, tendo sido publicado pela primeira vez em 1924 na revista literária Transatlantic Review. A narrativa é profundamente marcada pelo sentimento de desagregação característico do período entre guerras, o que reverbera não apenas na dinâmica das relações entre personagens, mas na própria estrutura formal. A partir da leitura atenta a esse texto ainda pouco estudado, esta comunicação buscará examinar a tensão entre elementos internos e externos à obra. O objetivo é inicialmente situar a literatura de Rhys em meio à de seus contemporâneos modernistas e, posteriormente, suscitar hipóteses a respeito dos primeiros traços que conduziram à escrita e à publicação de seu romance mais célebre.
Palavras-chave: Jean Rhys; Vienne; Conto; Forma.