Quando: Terça-feira, 4/11 — 17h-19h
Onde: Sala 14 da Sociais
Mediação: Anderson Gonçalves (DTLLC)
Esta apresentação propõe-se a analisar o romance Em Câmara Lenta (1977), de Renato Tapajós, como uma manifestação precursora e fundamental do "realismo feroz" ou "brutalismo" na literatura brasileira da segunda metade do século XX. Essa forma literária, que eleva a violência de tema a nexo estruturante da narrativa, emerge no esteio da repressão da Ditadura Militar, da explosão da violência estatal e urbana e da corrupção do Estado em diversos níveis pelo crime. Nesse sentido, o romance de Tapajós, escrito por um ex-guerrilheiro, utiliza uma perspectiva narrativa imediata e uma arquitetura fragmentária, empregando recursos cinematográficos como o slow motion e a montagem modernista para abordar a brutalidade política, especialmente a tortura e a repressão. Ao mesmo tempo, realiza um balanço das perspectivas da esquerda de seu tempo. Demonstra-se que, com isso, Em Câmara Lenta antecipa a crueza descritiva e a imersão na mente da violência, constituindo um registro do colapso da sociedade brasileira nos anos 1970 ao mesmo tempo em que antecipa tendências estéticas que marcariam as últimas décadas do século.
Palavras-chave: Renato Tapajós; Realismo feroz; Brutalismo; Ditadura militar; Violência.
A presente comunicação busca estabelecer algumas bases para o estudo comparativo de duas narrativas do escritor carioca Antonio Callado (1917–1997), um dos principais representantes da literatura de resistência produzida durante a ditadura civil-militar. Partimos da hipótese de que obras como Quarup (1967) e Reflexos do Baile (1976), embora distintas em muitos aspectos, compõem um projeto ficcional integrado cujo objetivo é jogar luz sobre aquilo que os jornais e a história oficial deixaram nas sombras. Nesse sentido, buscamos analisar de que modo as transformações da matéria social — como o recrudescimento da repressão e da censura, a derrota da esquerda armada, o avanço da indústria cultural e o caráter contraditório da modernização conservadora — traduziram-se em impasses formais que a escrita de Callado procurou encaminhar esteticamente por meio de recursos à fragmentação e à alegoria. Por fim, considerando esse conjunto de elementos, pretendemos também examinar em que medida a obra do autor, concebida nas décadas de 1960 e 1970, mantém sua relevância para o leitor contemporâneo.
Palavras-chave: Antonio Callado; Quarup; Reflexos do Baile; História; Romance; Ditadura Militar.
A partir da hipótese de que Zulmira Tavares trabalha em muitas de suas narrativas com um jogo de olhares e espaços, a presente comunicação pretende discutir a forma com a qual a autora opera o mapeamento da casa de “O tapa-olho do olho mágico”, ficção inscrita em O japonês dos olhos redondos (Paz e Terra, 1982), como uma maneira de empreender uma investigação acerca do “significado oculto, a significação subjacente” em relação às situações e às personagens da história durante um período de autoritarismo político — a ditadura civil-militar de 1964-1985. Para tanto, utilizaremos como aporte teórico principalmente as considerações traçadas por Gaston Bachelard em La poétique de l’espace (Presses Universitaires de France, 1992) e o conceito de paisagem trabalhado por Michel Collot (2016). A comunicação é baseada no artigo de minha autoria publicado em 2024 na Revista Geografia, Literatura e Arte (USP), sob o título “De olho na paisagem: A construção do espaço em ‘O tapa-olho do olho mágico’ e ‘O japonês dos olhos redondos’, de Zulmira Ribeiro Tavares”.
Palavras-chave: Zulmira Ribeiro Tavares; Espaço; Paisagem; Ditadura civil-militar brasileira.